INDICAÇÃO CME nº 01/2011 Interessado: Gestores das Escolas de Educação Infantil com Classes de tempo integral. Assunto: Normatiza o atendimento de crianças da Educação Infantil nas escolas municipais e conveniadas em tempo integral no Município de São José do Rio Preto. Relatores: Conselheiros Andréia Gasparino Fernandes, Cenira Blanco Fernandes Lujan, Luiz Tadeu Pessutto e Silvia Cristina Borges. Histórico da Educação Infantil no município de São José do Rio Preto Período Integral No início, as creches eram mantidas por entidades filantrópicas, de caráter privado, vinculado de alguma forma a grupos religiosos. Na década de 50, foi criada a primeira creche do Município, creche Noemia Raduan, funcionando no antigo Lar Nossa Senhora de Fátima. Em 1982, teve início o funcionamento de três creches públicas mantidas pela Prefeitura e administradas pela então Secretaria do Bem Estar Social, contava-se com uma equipe de três assistentes sociais, um terapeuta ocupacional e um educador doméstico. Em 1984 foi inaugurada a primeira creche municipal, Dom José Joaquim Gonçalves E assim, sucessivamente, tanto em decorrência da necessidade da família contar com uma instituição que se encarregasse do cuidado e da educação de seus filhos pequenos, quando os pais trabalhavam fora, como pelos argumentos advindos das ciências que investigavam o processo de desenvolvimento da criança, foram sendo criadas novas creches. Estas destinavam-se, exclusivamente, ao atendimento de crianças de 3 meses a 6 anos e 11 meses de idade, em período integral, cuja mãe ou responsável exercesse atividade extra-lar, comprovadamente. No decorrer dos anos, as novas instituições passaram a contar com uma equipe multiprofissional para suporte técnico no âmbito da saúde e higiene, composta de uma psicóloga, uma nutricionista, um médico e um dentista sob coordenação de um assistente social. Nessa época, as creches públicas eram filiadas sobretudo com recursos municipais e com algum auxílio da LBA, e as privadas (beneficentes) com recursos próprios oriundos de promoções, doações, contribuições de associados, subvenção municipal pela FRAS(Fundação Rio Pretense de Assistência Social) ou de forma direta, além de repasses financeiros per capita através de convênios firmados com a LBA(Legião Brasileira de Assistência) 1
Nos anos 90, o governo municipal da época deu início ao sistema de parcerias com entidades sem fins lucrativos, na administração das creches municipais. A partir de 1997, as parcerias foram ampliadas, também com entidades filantrópicas que administravam as creches privadas beneficentes. Em 20 de dezembro de 1999, as creches passaram a ser responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação, conforme Decreto Municipal nº 10.494/99 e por determinação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)e sob nova concepção de formação da personalidade e do desenvolvimento da criança, transformando-se em equipamentos educativos, com base nos conteúdos do Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (MEC, 1998). Desde 2006 iniciou-se o atendimento em tempo integral a crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em algumas Unidades Escolares Municipais e vem sendo ampliado o número de classes em tempo integral a cada ano, conforme demanda manifesta, se estendendo a várias Unidades Escolares da Rede Municipal de Ensino. Pré-Escola: Período Parcial A primeira pré-escola municipal de São José do Rio Preto foi o Recanto Infantil Monteiro Lobato, fundado em 1957. Em função da demanda, foram criadas várias unidades no período compreendido ente 1957 e 1968, denominadas por Recantos Infantis e caracterizadas pela recreação, cujos nomes extraídos dos clássicos da literatura infantil, tais como: Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida. Nesse período as classes chegavam a ter oitenta crianças por recreacionista, sem discriminação de faixa etária. As atividades eram marcadamente de natureza corporal, e se utilizavam rodas cantadas e jogos. A partir de 1968, um novo olhar pedagógico teve início, enfatizando atividades voltadas para a oralidade, linguagem e criatividade nas artes plásticas, objetivando-se preparação para a 1ª série do ensino fundamental. Na década de 90, com o desenvolvimento de uma proposta construtivista pelas escolas, houve um grande avanço, não só em relação aos objetivos educacionais e pedagógicos, mas também passou-se a observar o aluno como um ser pensante, aceitando-o na prática como sujeito da aprendizagem. Em 1998, passou-se a discutir e implementar na Secretaria Municipal da Educação a linha pedagógica adotada no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (MEC, 1998). No Brasil, em especial nos últimos anos, a atenção às crianças de zero a seis anos passou por grandes transformações. Os cuidados e a educação da criança pequena deixaram de ser vistos como filantropia destinada à mãe trabalhadora e sua família, e passaram a ser considerados como direitos das próprias crianças. 2
Mérito A Constituição Federal de 1988 concretizou o atendimento da educação infantil primeira etapa da educação básica, em creches e pré-escolas, como direito social das crianças, reconhecendo a Educação Infantil como dever do Estado com a Educação: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; II -... III -... IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. 1º... 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. Esses direitos e deveres foram regulamentados por meio da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) que trouxe várias inovações em relação à Educação Básica, integrando as creches nos Sistemas de Ensino. Desde então as creches e as pré-escolas, passam a compor a primeira etapa da Educação Básica, com atendimento gratuito pela Educação e não mais pela Assistência Social. A referida Lei apresenta um capítulo específico para a Educação Básica: Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;(...) Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na 3
competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. A Educação Infantil, frente a todas essas mudanças, instituídas pelo poder das leis e vontade da sociedade brasileira, vive em intenso processo de transformações sobre concepções da educação de crianças em espaços coletivos e de seu desenvolvimento como cidadãos, para tanto, tais espaços devem garantir em seus aspectos físico e organizacional: educação, proteção, cuidado, saúde e interação, contemplando atendimento às especificidades de cada faixa etária, onde as experiências de aprendizagem refiram-se às dimensões da corporalidade, aos conhecimentos, à socialização, à comunicação, à autonomia e à criatividade. Deve-se buscar ações intersetoriais efetivas, contando com a participação dos representantes de todos os segmentos para definições de propostas integradas para atuação na comunidade local nos aspectos: educacionais, sociais, de saúde etc. No ano de 2007 a Lei nº 11.494, que regulamentou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação FUNDEB e o Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007, estabeleceram que a partir de 1º de janeiro de 2012, o Município só receberá recursos do Fundo, se for atendida a legislação em vigor, de acordo com 3º do artigo 8º da Lei nº 11.494/2007 A distribuição de recursos que compõem os Fundos, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, dar-se-á, entre o governo estadual e os de seus Municípios, na proporção do número de alunos matriculados nas respectivas redes de educação básica pública presencial, na forma do Anexo desta Lei. 1º... 2º... 3 o Admitir-se-á, pelo prazo de 4 (quatro) anos, o cômputo das matrículas das pré-escolas, comunitárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, conveniadas com o poder público e que atendam às crianças de 4 (quatro) e 5 (cinco) anos, observadas as condições previstas nos incisos I a V do 2 o deste artigo, efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado até a data de publicação desta Lei. e artigo 13 do Decreto nº 6.253/2007 Admitir-se-á, a partir de 1 o de janeiro de 2008, para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, o cômputo das matrículas efetivadas na educação infantil oferecida na pré-escola para crianças de quatro e cinco anos por instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o poder executivo competente. 1 o Para os fins do disposto no caput, será considerado o censo escolar de 2006. 4
2 o As matrículas serão consideradas para os efeitos do FUNDEB em consonância com o disposto no 3 o do art. 8 o e no art. 31, 2 o, inciso II, da Lei n o 11.494, de 2007, observado o disposto no 1 o, conforme a seguinte progressão: I - 2008: dois terços das matrículas existentes em 2006; e II - 2009, 2010 e 2011: a totalidade das matrículas existentes em 2006. 3 o Em observância ao prazo previsto no 3 o do art. 8 o da Lei n o 11.494, de 2007, as matrículas das instituições referidas no caput não serão computadas para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB a partir de 1 o de janeiro de 2012. 4 o Para os fins do art. 8 o da Lei n o 11.494, de 2007, as matrículas computadas na forma deste artigo serão somadas às matrículas da rede de educação básica pública, sob a responsabilidade do Município ou do Distrito Federal, conforme o caso. A educação infantil é um direito social assegurado pela Constituição Federal e será garantida para todas as crianças de 0 a 5 anos de idade nas creches e pré-escolas do município de São José do Rio Preto. Com o atendimento das crianças de quatro e cinco anos pela rede oficial de ensino, o Município vem assumindo esta demanda nas escolas da rede municipal de ensino. Para implantação desta política pública no Município, faz-se necessário a reorganização da rede física e dos recursos humanos. No ano de 2009, foram implementadas algumas ações para que a Rede Municipal pudesse atender as crianças de quatro e cinco anos, de acordo com a Indicação CME nº 01/2009 e Deliberação CME nº 02/2009. Desde o ano de 2010 as crianças que antes eram atendidas nas Escolas Conveniadas estão sendo gradativamente assumidas pelas escolas da Rede Municipal. Como essas crianças estavam nas Escolas Conveniadas e eram atendidas em tempo integral, resguardou-se a permanência das mesmas em jornada de tempo integral nas Escolas da Rede Municipal. Com todas essas mudanças e em curto espaço de tempo, sabemos que aconteceram grandes problemas, como adequações físicas não satisfatórias e outras questões ligadas a recursos humanos e materiais pedagógicos adequados à educação infantil. As necessidades específicas da Educação Infantil deverão ser atendidas para que as crianças tenham seus direitos preservados de acordo com o artigo 227 da Constituição Federal É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. e o artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. 5
A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Conclusão Recomendamos atenção especial às crianças que necessitam do atendimento em tempo integral para que sejam preservados a permanência e o convívio familiar e propomos ao Conselho Pleno a aprovação do Projeto de Deliberação anexo. Contribuíram na elaboração deste documento as professoras: Adriana Rambaiolo, Eliane Ragonha e Rosycarmen Pontes Gestal. A presente Indicação foi aprovada por unanimidade pelos Conselheiros titulares em reunião realizada na data supracitada. Presentes os Conselheiros: Andréia Gasparino Fernandes, Cenira Blanco Fernandes Lujan, Eugênio Maria Duarte, Maria Carolina Cosenza Araújo, Silvia Cristina Borges e Vera Lucia Morais Bechuate. Encaminhe-se ao Gabinete da Senhora Secretária, São José do Rio Preto, 10 de março de 2011. Vera Lucia Morais Bechuate Presidente 6