1 RESPOSTAS BIOMÉTRICAS EM MUDAS DE DUAS ESPÉCIES LENHOSAS DA CAATINGA À SALINIDADE DO SOLO M. C. Bessa 1 ; M. S. Pereira 2 ; J. E. S. Sousa 3 ; F. P. Nogueira Filho 3 ; C. F. de Lacerda 4 ; A. M. E. Bezerra 4 RESUMO: Dos estresses abióticos, um dos que mais limita a produção agrícola é a salinidade, por causar danos ao crescimento e desenvolvimento vegetal. Com este trabalho objetivou-se avaliar respostas biométricas de duas espécies nativas da caatinga em função dos níveis de salinidade do solo, sob condições controladas. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, Fortaleza-CE, utilizando-se duas espécies lenhosas, ipê roxo [Tabebuia impetiginosa (Mart. ex. DC.) Standl.] e sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth), em cinco níveis de CE es (1,2; 2,7; 4,7; 6,7; 8,4 ds m -1 ), compondo um esquema de parcelas subdivididas, com cinco repetições, em um delineamento experimental de bloco ao acaso. As variáveis avaliadas aos 90 dias após a repicagem (DAR) foram: Altura, diâmetro e número de folhas. A interação significativa entre as duas espécies ocorreu somente para a variável altura, sendo o sabiá a espécie mais sensível sofrendo uma redução de 34,40%. Para o diâmetro do coleto e número de folhas houve uma tendência ao decréscimo nas médias com o incremento no nível de sal no solo, as plantas de ipê roxo e sabiá sofreram, respectivamente, uma redução de 2,29 e 28,22% em diâmetro, e 9,63 e 26,09% em número de folhas entre a menor e a maior salinidade do solo aos 90 dias após a repicagem. Os fatores espécie e salinidade, isoladamente, apresentaram significância em todas as variáveis estudadas. A espécie ipê roxo se mostrou mais tolerante à salinidade que a espécie sabiá. PALAVRAS-CHAVE: solos degradados, estresse salino, espécies nativas. EFFECT OF SOIL SALINITY ON GROWTH OF NATIVE SPECIES OF INITIAL CAATINGA ABSTRACT: Of abiotic stresses, one of the most limiting agricultural production is salinity, to cause damage to plant growth and development. This work aimed to evaluate biometric responses of two native species of the caatinga in terms of levels of soil salinity under controlled conditions. The experiment was conducted in a greenhouse, Fortaleza, using two woody species, purple ipe [Tabebuia impetiginosa (Mart. ex. DC.) Standl.] and thrush (Mimosa caesalpiniifolia Benth), five levels CEes ( 1.2, 2.7, 4.7, 6.7, 8.4 ds m-1), forming a split plot with five replications in a randomized complete block at random. The variables evaluated at 90 days after Mestranda em Engenharia Agrícola/DENA/UFC. CEP: 60.455-760, Fortaleza, CE. (85) 9655-9215.michele_bessa@hotmail.com; 2 Bolsista DTI-C/CNPq, UFC; 3 Graduando em Agronomia; 4 Prof. Dr. Depto de Eng. Agrícola/DENA/CCA/UFC, bolsista de produtividade do CNPq.;
transplanting (DAR) were: Height, diameter and number of leaves. The significant interaction between the two species occurred only for the variable height, and the thrush the most sensitive species suffer a reduction of 34.40%. For the stem diameter and leaf number was a tendency to decrease with the increase in the average level of salt in the soil, plants purple ipe and thrush suffered, respectively, a decrease of 2.29% and 28.22 in diameter, and 9.63 and 26.09% in number of leaves between the lowest and highest soil salinity to 90 days after transplanting. The species and salinity factors alone were significant in all variables. The species purple ipe was more tolerant to salinity than the thrush species. KEYWORDS: degraded soils, salinity, native species INTRODUÇÃO Em regiões áridas e semiáridas um problema frequentemente detectado é o processo de salinização do solo, ocorrido principalmente em áreas irrigadas e com manejo inadequado. O problema da salinidade traz como principal conseqüência a limitação da produção agrícola, reduzindo a produtividade das culturas a níveis antieconômicos. (RIBEIRO, 2010) Os plantios planejados de espécies arbóreas nativas de regiões áridas e semiáridas podem resultar em grandes avanços para resolver o problema da inutilização de áreas salinizadas (MORA; GARCIA, 2000). A tolerância das culturas à salinidade varia com condições climáticas, de solo, além de diversas práticas de cultivo, o que implica na possibilidade de desenvolvimento das plantas sem grandes reduções na produção mesmo sendo cultivadas em solo salino ou irrigadas com água salina (LACERDA et al, 2010) Na caatinga é possível encontrar espécies predominates de elevado potencial madeireiro e medicinal, entre elas, as espécies nativas: Ipê roxo Tabebuia impetiginosa (Mart. ex. DC.) Standl.; e Sabiá Mimosa caesalpiniifolia Benth (PEREIRA, 2011). Com este estudo objetivou-se avaliar respostas biométricas das duas espécies em função dos níveis de salinidade do solo, sob condições controladas. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Núcleo de Ensino e Pesquisa em Agricultura Urbana (NEPAU) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, CE, localizado a uma latitude de 3 44 S e longitude 38 33 W. O solo utilizado no experimento foi classificado como Neossolo Flúvico (EMBRAPA, 2006), obtido a partir de diferentes pontos coletados no Perímetro Irrigado de Morada Nova, após uma série de análises de condutividade elétrica realizadas em campo e laboratório. Os cinco pontos amostrados revelaram os valores de condutividade elétrica no extrato de saturação do solo a serem utilizados nos tratamentos, sendo : 1,2; 2,7; 4,7; 6,7; 8,4 ds m -1. O solo foi destorroado, peneirado e disposto em vasos com capacidade de 5 litros utilizados para cultivar duas espécies nativas, ipê roxo e sabiá, em casa de vegetação com 50% de sombreamento, em um período experimental de 90 dias a partir da repicagem das mudas. As mudas foram produzidas em bandejas de isopor com 128 células e após o estabelecimento, aos 20 dias após a semeadura (DAS), foram repicadas para os vasos contendo os solos com diferentes níveis de salinidade. Para reduzir o choque salino, especialmente nos
tratamentos com maiores níveis de salinidade, foi adicionado um volume adequado de areia lavada de rio nas covas feitas nos vasos de transplantio. Ao longo do estudo, as plantas foram irrigadas com água de poço, com salinidade inferior a 1,0 dsm -1, utilizando um sistema automático de irrigação localizada. O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso, no esquema de parcelas subdivididas, tendo na parcela as duas espécies, e na subparcela, os cinco níveis de salinidade do solo, com cinco repetições, totalizando 50 unidades experimentais. Cada unidade experimental foi composta por 2 vasos, contendo uma planta cada um. Aos 90 dias após a repicagem (DAR) foram realizadas observações da altura de plantas com auxílio de uma régua, do diâmetro do coleto com um paquímetro digital e do número de folhas. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão, utilizando-se o software ASSISTAT/UFCG 7.6. As comparações entre as espécies foram feitas utilizando-se o teste de Tukey a 1% (**) e 5% (*) de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados apresentados na Tabela 1 mostram que não houve efeito significativo de bloco. A variável altura de planta apresentou efeito significativo para interação entre espécie e salinidade, o que é representado pela figura 1 A. Nas figuras 1B e C são observados os valores médios das espécies para cada nível de salinidade, não havendo interação significativa. O fator espécie, individualmente, mostrou efeito altamente significativo para todas as variáveis, enquanto que o fator salinidade isolado mostrou também significância para todas as variáveis, porém com significância maior para altura de plantas. Comprando-se as respostas em altura, verifica-se que a espécie sabiá foi bem mais sensível à salinidade do que o ipê roxo (Figura 1A). Verifica-se redução de mais de 34,40% na altura das mudas de sabiá no último nível salino, em relação ao menor nível, enquanto o ipê roxo praticamente não sofreu influência. Para as variáveis diâmetro do coleto e número de folhas não houve ajuste a uma equação definida, embora, com o incremento no nível de sal no solo, haja um decréscimo nas médias de ipê roxo e sabiá, respectivamente, representado por um percentual de 2,29 e 28,22 % em diâmetro, e 9,63 e 26,09% em número de folhas, entre a menor e a maior salinidade do solo aos 90 DAR. O crescimento celular é provavelmente a resposta mais sensível das plantas ao estresse hídrico causado pela salinidade, sendo esperado que a manutenção do influxo de água em níveis compatíveis com o metabolismo celular sejam determinantes para a expansão celular, consequentemente, para o crescimento das plantas em tratamentos com alta salinidade, de acordo com Silva et al. (2005). Estes mesmo autores observaram na espécie florestal Favela (Cnidosculus phyllacanthus Pax & K. Hoffm) um ganho no crescimento em altura de plantas em 70% em relação ao controle (1 ds.m -1 ) quando tratadas com salinidade da água até 3 ds.m -1, o que, segundo Viegas (1999), ocorreu possivelmente devido à ação de íons que em determinadas concentrações, podem induzir o crescimento da planta, como é o caso do sódio, conseqüentemente, ultrapassando esse limite a planta reduz o crescimento, fato que corrobora com resultados obtidos no presente estudo, onde entre os níveis 1 e 2 de salinidade não foram observadas grandes alterações em crescimento de plantas.
Segundo Moreira e Moreira (1996) o diâmetro do coleto é uma variável reconhecida como um dos melhores indicadores padrão de qualidade de mudas, sendo sugerida por Daniel et al. (1997) como o mais indicado para determinar a capacidade de sobrevivência de mudas no campo. CONCLUSÃO A salinidade provocou redução nas variáveis biométricas avaliadas, sendo que a interação entre salinidade e espécie somente foi verificada para a variável altura. Considerando como critério de avaliação de tolerância à salinidade a altura das plantas, conclui-se que a espécie ipê roxo é mais tolerante à salinidade que a espécie sabiá. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq e ao INCTSal pelo financiamento desta pesquisa e ao CNPq, à CAPES e à FUNCAP pela concessão das bolsas de estudo. REFERÊNCIAS CUNHA, A.O.; ANDRADE, L.A. de; BRUNO, R. de L.A.; SILVA, J.A.L. da; SOUZA, V.C de. EFEITOS DE SUBSTRATOS E DAS DIMENSÕES DOS RECIPIENTES NA QUALIDADE DAS MUDAS DE Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex D.C.) Standl. R. Árvore, Viçosa-MG, v.29, n.4, p.507-516, 2005 DANIEL, O.; VITORINO, A. C. T.; ALOVISI, A. A.; MAZZACHIN, L.; TOKURA, A. M.; PINHEIRO, E. R.; SOUZA. E. F. Aplicação de fósforo em mudas de Acacia mangium willd. Revista Árvore, v.21. 1997. EMBRAPA. Centro Nacional e Pesquisa em Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasilia: Embrapa-SPI; Rio de Janeiro: Embrapa-Solos, 2006. 306 p. LACERDA, C.F.de; COSTA, R.N.; BEZERRA, M.A.; GHEY, H.R. Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura. In: GHEY, H.R.; DIAS, N.S da; LACERDA, C.F. Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados. Fortaleza-CE, INCSal, 2010. 472 p. MORA, A.L; GARCIA, C.H. A cultura do eucalipto no Brasil, São Paulo, SBS, p.112, 2000. MOREIRA, F.M.S.; MOREIRA, F.W. Características de germinação de 64 espécies de leguminosas florestais nativas da Amazônia, em condições de viveiro. Acta Amazônica, v. 26, n.1, 2. 1996. PEREIRA, M.S. Manual técnico: Conhecendo e produzindo sementes e mudas da caatinga. Fortaleza-CE, Associação Caatinga, 2011. 86 p. RIBEIRO, M.R. Origem e classificação dos solos afetados por sais. In: GHEY, H.R.; DIAS, N.S da; LACERDA, C.F. Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados. Fortaleza, INCSal, 2010. 472 p. SILVA, M.B.R; BATISTA, R.C.; LIMA, V.L.A de; BARBOSA, E.M.; BARBOSA, M. de F.N. Crescimento de plantas jovens da espécie florestal Favela (Cnidosculus phyllacanthus Pax & K. Hoffm) em diferentes níveis de salinidade da água. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 5, n.2. 2005 VIEGAS, R. A. Assimilação de Nitrogênio e acumulação de solutos em plantas de cajueiro (Anacardium occidentale L.) em reposta ao estresse salino. Fortaleza: UFC, 1999. 85f. Tese - Universidade Federal do Ceará.
Número de folhas Altura de plantas (cm) Diâmetro do coleto (mm) M. C. Bessa et al. Tabela 1. Resumo da análise de variância para altura de plantas (ALT), diâmetro do coleto (DIAM) e número de folhas (NF) para plantas de Ipê roxo e Sabiá, aos 90 DAR, em solo com diferentes níveis de salinidade. FONTES DE VARIAÇÃO GL QUADRADOS MÉDIOS ALT DIAM NF BLOCOS 4 64,63275 ns 0,5065 ns 1,81611 ns ESPÉCIE A 1 33011,65125 ** 98,58888 ** 1345,07554 ** RESÍDUO A 4 58,58550 ns 0,33757 ns 4,10611 ns SALINIDADE B 4 343,90688 ** 1,71408 * 12,8425 * INTER AXB 4 285,43188 * 1,54204 ns 8,99917 ns RESÍDUO B 32 104,609120 ns 0,68233 ns 6,96458 ns CV% A - 21,93 12,33 21,35 CV% B - 29,31 17,53 27,80 **significativo a 1 % pelo teste F; *significativo a 5 % pelo teste F; ns = não significativo. A 80 60 40 20 0 y = -3,7349x + 78,293, R² = 0,9455 IPÊ ROXO SABIÁ y = -0,2083x + 10,187, R² = 0,5162 0 1,2 2,4 3,6 4,8 6 7,2 8,4 CEes (ds m -1 ) B 8 7 6 5 4 3 IPÊ ROXO SABIÁ 2 0 1,2 2,4 3,6 4,8 6 7,2 8,4 CEes (ds m -1 ) C 20 15 10 5 0 IPÊ ROXO SABIÁ 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 CEes (ds m-1) Figura 1 Altura (A), diâmetro do coleto (B) e número de folhas (C) de plantas de ipê roxo e sabiá, aos 90 DAR, em substrato salinizado.