PARECER JURÍDICO ASJUR/SUPRAM ASF Processo n.º 02020000295/12 Requerente: Geralda Serra Machado Maciel Fazenda Santo Agostinho Município: Pompéu/MG Núcleo Operacional: Pará Minas/ Pompéu PARECER Trata-se de requerimento de intervenção ambiental para supressão de vegetação nativa com destoca em uma área correspondente à 79,08,00 ha e corte de 654 árvores isoladas em uma área de 11,61,70 há no imóvel acima referido, registrado no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Pompéu - MG, sob o nº 6.256, doc. nos autos, visando a implantação agricultura. Em 28 de março de 2.012, foi protocolado requerimento de limpeza das referidas áreas, no entanto no curso do processo foi verificado que o objeto do pedido trata-se de supressão de vegetação com destoca, e corte de árvores isoladas, o que ensejou retificação do requerimento e nova análise do processo. Foram apresentados nos autos, os documentos necessários para análise do processo, inclusive o Inventário Florestal e o registro do imóvel com descrição da área em 120.00.00 há. De acordo com o FCE constante nos autos, fl 133 a 136, o empreendimento é passível de Autorização Ambiental de Funcionamento para as atividades de produção de carvão relativo ao material lenhoso provindo da requerida supressão. Sendo assim e tendo em vista que a atividade ainda não foi implantada, o requerente deverá regularizar sua atividade no início da operação, sob pena de autuação. Lei 20.922/2013 Em relação a supressão, vejamos o que dispõe a legislação florestal estadual: Da Exploração Florestal Art. 63. O manejo florestal sustentável ou a intervenção na cobertura vegetal nativa no Estado para uso alternativo do solo, tanto de domínio público como de domínio privado, dependerá do cadastramento do imóvel no CAR e de autorização prévia do órgão estadual competente. Art. 68. Não é permitida a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo no imóvel rural que possuir área abandonada ou não efetivamente utilizada. Neste sentido vale ressaltar, que apesar do artigo exigir o cadastramento no CAR, este ainda não se encontra instalado, no entanto, o presente imóvel encontra-se regularizado em relação à reserva legal, em área não inferior à 20% da propriedade, ou seja 24.00.00, além de não possuir área abandonada ou subutilizada. Pág. 1
Segundo o parecer técnico do analista ambiental, a propriedade está localizada no bioma cerrado, com fitofisionomia de cerrado e pertence à Bacia do Rio São Francisco. Outra questão importante é quanto o uso da área, pois a mesma já foi utilizada como pastagem, portanto não se trata de supressão para conversão em alteração do uso do solo com fim do plantio de cana de açúcar, o que é vedado pelo decreto Federal 6.961/2009, que aprova o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar e determina ao Conselho Monetário Nacional o estabelecimento de normas para as operações de financiamento ao setor sucroalcooleiro, nos termos do zoneamento. Anexo do referido decreto: O objetivo geral do zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar para a produção de etanol e açúcar é fornecer subsídios técnicos para formulação de políticas públicas visando a expansão e produção sustentável de cana-de-açúcar no território brasileiro.... Adicionalmente, foram excluídas: 1. as terras com declividade superior a 12%, observando-se a premissa da colheita mecânica e sem queima para as áreas de expansão; 2. as áreas com cobertura vegetal nativa; 3. os biomas Amazônia e Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai; 4. as áreas de proteção ambiental; 5. as terras indígenas; 4. remanescentes florestais; 6. dunas; 7. mangues; 8. escarpas e afloramentos de rocha; 9. reflorestamentos e 10. áreas urbanas e de mineração. Nos Estados da Região Centro-Sul (GO, MG, MT MS, PR e SP), foram também excluídas as áreas atualmente cultivadas com cana-de-açúcar no ano safra 2007/2008, utilizando-se o mapeamento realizado pelo Projeto CanaSat INPE. (Grifo nosso) Ademais, informa que foram encontradas espécies protegidas como Pequi e ipê amarelo. Concluiu-se, portanto, pelo deferimento do requerimento, com algumas recomendações para mitigação dos impactos e compensação das espécies protegidas. Assim, é importante mencionar a Lei nº 20.308/12 que alterou as Leis nº 10.883/1992 e Lei nº 9.743, de 15 de dezembro de 1988, as quais ditam sobre as espécies do pequizeiro e Ipê amarelo, senão vejamos, respectivamente: Art. 1º - Os arts. 1º e 2º da Lei nº 10.883, de outubro de 1992, passam a vigorar com a seguinte redação: Art. 1º Fica declarado de preservação permanente, de interesse comum e imune de corte no Estado o pequizeiro (Caryocar brasiliense). Art. 2º A supressão do pequizeiro só será admitida nos seguintes casos: I quando necessária à execução de obra, plano, atividade ou projeto de utilidade pública ou de interesse social, mediante autorização do órgão ambiental estadual competente; II em área urbana ou distrito industrial legalmente constituído, mediante autorização do Conselho Municipal de Meio Ambiente ou, na ausência deste, do órgão ambiental estadual competente; III em área rural antropizada até 22 de julho de 2008 ou em pousio, quando a manutenção de espécime no local dificultar a implantação de projeto agrossilvipastoril, mediante autorização do órgão 1º Como condição para a emissão de autorização para a supressão do pequizeiro, os órgãos e as entidades a que se referem os incisos do caput deste artigo exigirão formalmente do empreendedor o Pág. 2
plantio, por meio de mudas catalogadas e identificadas ou de semeadura direta, de cinco a dez espécimes do Caryocar brasiliense por árvore a ser suprimida, com base em parecer técnico fundamentado, elaborado em consonância com as diretrizes do programa Pró-Pequi, a que se refere a Lei nº 13.965, de 27 de julho de 2001, e consideradas as características de clima e de solo, a frequência natural da espécie, em maior ou menor densidade, na área a ser ocupada pelo empreendimento e a tradição agroextrativista da região. 2º O empreendedor responsável pela supressão do pequizeiro poderá, alternativamente à exigência prevista no 1º, optar: I pelo recolhimento de 100 Ufemgs (cem Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais), por árvore a ser suprimida, à Conta Recursos Especiais a Aplicar Pró-Pequi, de que trata o art. 5º-A da Lei n 13.965, de 2001, observados os seguintes requisitos: a) nos casos previstos no inciso I do caput deste artigo, o recolhimento previsto neste inciso poderá ser utilizado para até 100% das árvores a serem suprimidas; b) nos casos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo, o recolhimento previsto neste inciso poderá ser utilizado para até 50% (cinquenta por cento) das árvores a serem suprimidas; c) nos casos previstos no inciso III do caput deste artigo, quando se tratar de agricultor familiar ou empreendedor familiar rural, o recolhimento previsto neste inciso poderá ser utilizado para até 100% (cem por cento) das árvores a serem suprimidas, com desconto de 95% (noventa e cinco por cento) do valor a ser recolhido, podendo o pagamento ser parcelado ou transformado em contraprestação de serviços ambientais, na forma de regulamento e considerando o inciso I do art. 41 da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012; II pela criação ou regularização fundiária de reserva extrativista ou reserva de desenvolvimento sustentável, contendo o mesmo número de plantas adultas suprimidas no empreendimento, com área de, no mínimo, 1ha (um hectare) para cada conjunto de vinte árvores suprimidas. 3 Nos casos em que o recolhimento a que se refere o inciso I do 2º não corresponder a 100% (cem por cento) das árvores suprimidas, o empreendedor responsável fica obrigado a realizar o plantio previsto no 1º, relativamente ao número de árvores que não tenha sido objeto do recolhimento. 4º Caberá ao responsável pela supressão do pequizeiro, com o acompanhamento de profissional legalmente habilitado, o plantio das mudas ou a semeadura direta a que se refere o 1º e, pelo prazo mínimo de cinco anos, o monitoramento do seu desenvolvimento e o plantio de novas mudas para substituir as mudas ou a semeadura direta que não se desenvolverem, garantido o acesso da comunidade local aos frutos produzidos pelas árvores plantadas. 5º O plantio a que se refere o 1º será efetuado na mesma sub-bacia hidrográfica em que se localiza o empreendimento, em sistema de enriquecimento florestal ou de recuperação de áreas antropizadas, incluindo áreas de reserva legal e preservação permanente, ou como recuperação de áreas no interior de unidades de conservação de domínio público, conforme critérios definidos pelo órgão. (nr) Sobre o Ipê Amarelo Art. 3º Os arts. 1º e 2º da Lei nº 9.743, de 15 de dezembro de 1988, passam a vigorar com a seguinte redação: Art. 1º Fica declarado de preservação permanente, de interesse comum e imune de corte no Estado o ipê-amarelo. Pág. 3
Parágrafo único. As espécies protegidas nos termos deste artigo são as essências nativas popularmente conhecidas como ipê-amarelo e pau-d arco-amarelo, pertencentes aos gêneros Tabebuia e Tecoma. Art. 2º A supressão do ipê-amarelo só será admitida nos seguintes casos: I quando necessária à execução de obra, plano, atividade ou projeto de utilidade pública ou de interesse social, mediante autorização do órgão ambiental estadual competente; II em área urbana ou distrito industrial legalmente constituído, mediante autorização do Conselho Municipal de Meio Ambiente ou, na ausência deste, do órgão ambiental estadual competente; III em área rural antropizada até 22 de julho de 2008 ou em pousio, quando a manutenção de espécime no local dificultar a implantação de projeto agrossilvipastoril, mediante autorização do órgão 1º Como condição para a emissão de autorização para a supressão do ipê-amarelo, os órgãos e as entidades a que se referem os incisos do caput deste artigo exigirão formalmente do empreendedor o plantio de uma a cinco mudas catalogadas e identificadas do ipê-amarelo por árvore a ser suprimida, com base em parecer técnico fundamentado, consideradas as características de clima e de solo e a frequência natural da espécie, em maior ou menor densidade, na área a ser ocupada pelo empreendimento. 2º O empreendedor responsável pela supressão do ipê-amarelo nos termos do inciso I do caput deste artigo poderá optar, alternativamente à exigência prevista no 1º, pelo recolhimento de 100 Ufemgs (cem Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais), por árvore a ser suprimida, à Conta Recursos Especiais a Aplicar de que trata o art. 50 da Lei nº 14.309, de 19 de junho de 2002. 3º Caberá ao responsável pela supressão do ipê-amarelo, com o acompanhamento de profissional legalmente habilitado, o plantio das mudas a que se refere o 1º e, pelo prazo mínimo de cinco anos, o monitoramento do seu desenvolvimento e o plantio de novas mudas para substituir aquelas que não se desenvolverem. 4º O plantio a que se refere o 1º será efetuado na mesma sub-bacia hidrográfica em que se localiza o empreendimento, em sistema de enriquecimento florestal ou de recuperação de áreas antropizadas, incluindo áreas de reserva legal e preservação permanente, ou como recuperação de áreas no interior de unidades de conservação de domínio público, conforme critérios definidos pelo órgão Desta feita, verifica-se a determinação de compensação das árvores protegidas, devendo o empreendedor/requerente assinar o competente Termo de compromisso, na forma da proposta apresentada nos autos. Ainda, consta no parecer técnico, a estimativa do rendimento lenhoso, o que será dado aproveitamento em obediência à lei, ou seja madeira comum será para produção de carvão vegetal e madeira de lei destinação nobre. Sendo que a atividade de produção do carvão é de classe I, sujeita a AAF, Autorização Ambiental de Funcionamento, esta COPA é a competente para o julgamento da regularização da supressão. Senão vejamos Resolução Conjunta SEMAD/IEF nº 1905/2013: Pág. 4
Art. 12 - Compete a Comissão Paritária - COPA do Copam, autorizar as seguintes intervenções ambientais, quando não integradas ao processo de licenciamento ambiental (grifo nosso): I - supressão de cobertura vegetal nativa com destoca ou sem destoca para uso alternativo do solo; Quanto ao prazo de validade há que verificar o disposto na norma - Resolução SEMAD 1.905/2.013. Do Documento Autorizativo para Intervenção Ambiental - DAIA Art. 4º - Os requerimentos para intervenção ambiental não integrados a procedimento de licenciamento ambiental serão autorizados por meio de Documento Autorizativo para Intervenção Ambiental - DAIA. 1º As intervenções ambientais não integradas a procedimento de licenciamento ambiental são aquelas necessárias à construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos não passíveis de AAF ou licenciamento ambiental e para aqueles pertencentes às classes 1 e 2, conforme porte e potencial poluidor definidos na Deliberação Normativa Copam nº 74, de 9 de setembro de 2004. 2º O prazo de validade do DAIA de intervenções ambientais vinculadas à AAF será de até 04 (quatro) anos, sendo que o dia do seu vencimento não precisa coincidir com o da respectiva AAF. 3º Nos casos em que a AAF já houver sido emitida previamente ao DAIA, o prazo de validade deste Documento será de no mínimo 02 (dois) anos, respeitado o prazo máximo previsto no parágrafo anterior. Neste sentido o prazo de validade do DAIA será de 4 anos. Ante o exposto, em obediência às normas legais, considerando os elementos de fato e de direito constantes no processo, bem como as informações técnicas, sugerimos o deferimento do pedido de supressão de vegetação nativa com destoca em uma área correspondente à 79,08,00 ha e corte de 654 árvores isoladas em uma área de 11,61,70 há para implantação de agricultura, devendo ser obedecidas as observações técnicas e jurídicas para mitigação e compensação dos impactos ambientais. Importante ressaltar que o requerente, quando iniciar a operação da atividade de agricultura, deverá regularizar a atividade perante o órgão ambiental competente. Por fim, sendo acatados os presentes pareceres, pela COPA, antes mesmo da expedição do DAIA, deverá ser lavrado o competente Termo de Compromisso para assinatura do requerente/responsável, e ainda comprovar o pagamento dos emolumentos, bem como das taxas, cujo valor será proporcional ao material lenhoso. Prazo de Validade do DAIA 4 (quatro) anos. Divinópolis, 29 de janeiro de 2014. Sônia Maria Tavares Melo Analista Ambiental da SUPRAM MASP 486.607-5 OAB/MG 82.047 Pág. 5