DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA TEMPERATURA E DIÂMETRO DO GRÃO DE CAFÉ (Coffea arábica) EM ARATUBA-CE Thereza Cristina de Assis Botelho 1, Francisco Ivan Carlos de Oliveira 2, Luana Martins da Silva Alexandre 3, Fred Denilson Barbosa da Silva 4, Rafaella da Silva Nogueira 5 RESUMO: A variabilidade das condições climáticas, caracterizadas pela distribuição irregular de chuvas, causam estresses hídricos que promovem oscilações e reduções na produção de grãos de café. O presente trabalho avaliou a distribuição espacial da temperatura basal e superior do café na fase de granação, o diâmetro dos grãos e sua correlação com a temperatura no município de Aratuba-Ce. A medição da temperatura foi realizada em duas partes (Basal e Ápice) com o auxílio do termômetro digital, em espaçamento de 10 m entre plantas georreferenciadas com uso do GPS. Coletou-se 10 grãos de cada planta e mediram-se os comprimentos e larguras. Os mapas de isolinhas foram interpolados por meio da Krigagem no software Surfer 8.0. A temperatura média na base foi inferior a do ápice e o diâmetro comprimento foi em média superior a largura. Observou-se baixa correlação de Pearson entre temperatura média, comprimento e largura do fruto. A distribuição espacial indicou a existência de maiores temperaturas na direção Leste-Oeste e Sul. Não se observou padrão espacial possível de ser associado aos mapas de temperatura, indicando que é necessário analisar outras variáveis para melhor compreender a dinâmica do fruto fase de granação. PALAVRAS-CHAVE: geoprocessamento, krigagem, granação. SPATIAL DISTRIBUTION OF TEMPERATURE AND DIAMETER OF COFFEE GRAIN (Coffea arabica) IN ARATUBA-CE ABSTRACT: The variability of the climatic conditions, characterized by the irregular distribution of rains, causes water stresses that promote oscillations and reductions in the production of coffee beans. The present work evaluated the spatial distribution of the basal and upper coffee temperature in the granulation phase, the grain diameter and its correlation with the temperature in the city of Aratuba-Ce. The temperature measurement was performed in two parts (Basal and Apex) with the aid of the digital thermometer, spaced 10 m between georeferenced plants using GPS. Ten grains of each plant were collected and the lengths and widths were measured. The isoline maps were interpolated using Kriging in Surfer 8.0 software. The mean temperature at the base was less than the apex and the diameter length was on average greater than the width. Pearson's low correlation was observed between mean temperature, length and width of the fruit. The spatial distribution indicated the existence of higher temperatures in the East-West and South direction. No spatial pattern was possible to be associated with the temperature maps, indicating that it is necessary to analyze other variables to better understand the dynamics of the fruit granulation phase. KEYWORDS: geoprocessing, kriging, granulation. 1 Graduanda em Agronomia, Instituto de Desenvolvimento Rural, UNILAB, CEP 62790-000, Redenção, CE. E- mail: therezacrisbotelho@gmail.com 2 Graduando em Agronomia, Instituto de Desenvolvimento Rural, UNILAB, Redenção, CE; 3 Graduanda em Agronomia, Instituto de Desenvolvimento Rural, UNILAB, Redenção, CE; 4 Prof. o Doutor, Instituto de Desenvolvimento Rural, UNILAB, CEP Redenção, CE; 5 Prof.ª Doutora, Instituto de Desenvolvimento Rural, UNILAB, Redenção, CE.
INTRODUÇÃO A variabilidade das condições climáticas, caracterizadas por episódios de seca ou distribuição irregular de chuvas, causam estresses hídricos que promovem oscilações e reduções na produção de grãos de café (Camargo, 2010). Os elementos climáticos que mais influenciam no processo de produção do café são a temperatura do ar e a precipitação e em menor escala, os ventos, a umidade relativa do ar e a insolação (Camparoutto, 2012). As relações entre os parâmetros climáticos e a produção agrícola são bastante complexas. Na cultura do café, os fatores ambientais afetam o crescimento e desenvolvimento das plantas sob diferentes formas, durante todas as suas fases fenológicas (Camargo, 2001). Em relação às exigências hídricas, o cafeeiro arábica se desenvolve bem em precipitações anuais de 1.200 a 1.800 mm bem distribuídos, principalmente na florada e granação (Thomaziello et al., 2000). Tal cenário é bastante preocupante tendo em vista o aumento das mudanças climáticas, pois, o café é um dos mais tradicionais produtos da agricultura brasileira (Carvalho, 2002). O Estado do Ceará e em específico a região do Maciço de Baturité possui um grande potencial para produção de café orgânico do tipo arábica de alta qualidade (Oliveira Filho, 2011). O atual cenário do Maciço de Baturité indica que muitas propriedades rurais ainda mantém o cultivo do café em meio a vegetação nativa. Apesar de reduzida, a cafeicultura ainda se mantém resiliente na região. Diante do exposto, objetivou-se avaliar a distribuição espacial da temperatura basal e superior da planta de café na fase de granação, e do diâmetro dos grãos assim como sua correlação com a temperatura no município de Aratuba-CE. MATERIAL E MÉTODOS O município de Aratuba situa-se ao Norte do Estado do Ceará com aproximadamente 130 km de distância de Fortaleza. Com clima predominante Tropical Sub-quente Úmido e temperaturas médias entre 24 C a 26 C, altitude média de 830 m e precipitação média de 1.753,1 mm (Ipece, 2016). Segundo o Ibge (2016) Aratuba apresentou uma produção de 140 ton de café arábica no ano de 2015 e 22 ton em 2016, com área colhida de 300 ha e 18 ha, respectivamente. A propriedade em estudo situa-se a cerca de 5 Km da sede do município. A mesma é constituída por vegetação nativa e por frutíferas, dentre elas o café que abrange uma área de 3.046 m². As principais culturas de interesse econômico são a banana (Musa spp), onde sua
comercialização é feita nos centros de abastecimento e o café, que não tem comprador definido. A propriedade faz limites com vegetação nativa ao Norte e ao Sul pela CE-065. A medição da temperatura nas plantas de café foi realizada em duas partes (Basal e Ápice) com o auxílio do termômetro digital infravermelho com mira, com espaçamento de 10 m entre plantas utilizando o sistema de posicionamento global (GPS), equipamento da marca Garmin e modelo GPS map60csx. Foi realizado o levantamento em 3 transectos, espaçados a cada 10 m, a fim de obter um grid regular e caracterizar melhor a área. Foram coletados 10 grãos de cada planta para obtenção dos diâmetros, totalizando 270 grãos. O comprimento e largura foram mensurados com o auxílio do escalímetro digital caliper (0-200 mm). As variáveis estudadas foram submetidas a análise de correlação de Pearson no programa Microsoft Excel 2010. A análise da dependência espacial foi realizada com o auxílio do software Surfer 8.0. Os mapas de isolinhas foram interpolados por meio do método de krigagem para visualizar e detectar a distribuição espacial da temperatura e diâmetro de fruto do café. RESULTADOS E DISCUSSÃO A temperatura basal (TB) variou de 20,3 a 23,5ºC e a temperatura do ápice de 20,8 a 26,3ºC (Tabela 1). A temperatura média da base foi de 22,04ºC e do ápice (TA) de 23,13ºC (P=0,0002). Tais resultados refletem que a temperatura foi maior no ápice da planta provavelmente pela maior incidência de radiação solar quando comparado à parte basal. Tabela 1. Análise descritiva das variáveis temperatura basal ( C), temperatura no ápice, comprimento e largura do fruto de café em Aratuba, CE. Medidas Tb ( C) Ta ( C) Comprimento (mm) Largura (mm) Média 22,04 23,13 15,7 11,6 Mínimo 20,3 20,8 13,9 10,6 Máximo 23,5 26,3 16,9 12,6 Desvio padrão 0,76 1,26 0,72 0,47 Apesar do sombreamento das plantas de ingazeira reduzir o efeito da temperatura do ar, a arquitetura da planta de café pode influenciar de forma significativa a temperatura no dossel. Associar esta diferença de temperatura do dossel com a produção de frutos podem resultar em informações mais precisas para realizar o manejo da poda dos ramos plagiotrópicos para alterar a temperatura do ar no interior da copa do café. O comprimento dos frutos variaram mais em torno da média que a largura (Tabela 1). Os valores médios do comprimento e largura foram inferiores às medidas obtidas na fase de
maturação, pois as mesmas foram realizadas na fase de granação que ocorre quando os líquidos internos se solidificam, dando formação aos grãos (Camargo & Camargo, 2001). As distribuições espaciais da temperatura apresentaram o predomínio de classes com temperaturas basais e apicais mais elevadas (Figuras 1A e 1B). Verifica-se que há menor variabilidade espacial na região central, limitados na direção Leste-Oeste quando comparado a porção norte (Figuras 1C e 1D). Essa maior variabilidade, e menores temperaturas nessa região, pode estar sendo influenciada pela área de mata nativa localizada na adjacência. Na extremidade sul também se observou um pico de temperaturas mais elevadas identificadas no mapa na tonalidade marrom (23 C) para TB e vermelho (24 C) para TA. É possível que a rodovia CE-065 esteja influenciando a elevação da temperatura na porção sul. (A) (B) (C) (D) Figura 1. Distribuição espacial da temperatura basal (TB) em C, temperatura do ápice (TA) em C, comprimento (DH) em mm e largura (DV) em mm no município de Aratuba-CE. Tais resultados podem indicar que é necessário a adoção de práticas que promovam uma maior redução da temperatura, pois temperaturas médias anuais superiores a 23 C associadas à seca na época do florescimento provocam abortamento floral o que implica na quebra de produção, principalmente nos anos em que a estação seca é mais longa ou atrasada (Thomaziello et al., 2000). Além disso, antecipação da maturação dos frutos pode ocorrer em temperaturas elevadas e chuvosa (Pereira et al., 2008). Isto repercute diretamente na qualidade do produto. Em regiões com temperatura média anual acima de 25 C e de clima seco, os cafeeiros são propensos ao abortamento das flores e redução da frutificação (Moreira, 2008).
A distribuição espacial da largura e comprimento apresentaram maiores valores na direção leste, contudo não foi possível identificar nenhum padrão espacial capaz de ser associado aos mapas de temperatura. O baixo coeficiente de correlação de Pearson (-0,13) entre temperatura média, comprimento do fruto (-0,13) e largura (-0,07) indicam que as variações no tamanho dos frutos não estão relacionados as temperaturas estudada no cafeeiro. CONCLUSÕES A distribuição espacial indicou a existência de maiores temperaturas na direção Leste- Oeste e porção sul, contudo não observou-se nenhum padrão espacial possível de ser associado aos mapas de temperatura indicando que é necessário analisar outras variáveis para melhor compreender a dinâmica do fruto na fase da granação do café. REFERÊNCIAS CAMARGO, A. P. de; CAMARGO, M.B.P. de. Definição e esquematização das fases fenológicas do cafeeiro arábica nas condições tropicais do Brasil. Bragantina, v. 60, n. 1, p. 65-68, 2001. CAMARGO, M. B. P. The impact of climatic variability and climate change on arabic coffee crop in Brazil. Bragantina, v. 69, n. 1, p. 239-247, 2010. CAMPAROTTO, L. B. Regiões climáticas e qualidade de cafés naturais do tipo arábica no Estado de São Paulo. São Paulo, 2012. 93p. Tese (Doutorado em Agricultura Tropical e Subtropical) - Instituto Agronômico de Campinas, IAC. CARVALHO, G. R. Avaliação de sistemas de produção de café na região Sul de Minas Gerais: um modelo de análise de decisão. Piracicaba, 2002. 84 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - Universidade de São Paulo, USP. IPECE. Perfil Básico Municipal. Ceará: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, 2015. 17p. IBGE. Produção Agrícola Municipal lavoura permanente. Ceará: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2016. MOREIRA,A. C. História do café no Brasil. 1.ed. São Paulo: Magma Editora Cultural, 2008. OLIVEIRA FILHO, F. A. de. Produção e efetivo do café no nordeste. [s.l.]: Banco do Nordeste, 2011. 5 p. (Informe Rural, n. 1). PEREIRA, A. R.; CAMARGO, A. P.; CAMARGO, M. B. P. Agrometeorologia de Cafezais no Brasil. 1.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 2008. 127 p.
THOMAZIELLO, R. A.; FAZUOLI, L. C.; PEZZOPANE, J. R. M.; FAHL, J. I.; CARELLI, M. L. C. Café arábica: cultura e técnicas de produção. Campinas: Instituto Agronômico, 2000. 82 p. (Boletim técnico, 187).