Universidade do Extremo Sul Catarinense Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais



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Transcrição:

Universidade do Extremo Sul Catarinense Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais ESTUDO DA QUALIDADE MICROBIOLOGICA DO AR EM AMBIENTE HOSPITALAR CLIMATIZADO E SUA RELAÇÃO COMO ELEMENTO DE RISCO PARA O AUMENTO DE INFECÇÕES: ESTUDO DE CASO DO HOSPITAL REGIONAL DE ARARANGUÁ, SC Vera Lucia Arruda Criciúma, SC 2009

Vera Lucia Arruda ESTUDO DA QUALIDADE MICROBIOLOGICA DO AR EM AMBIENTE HOSPITALAR CLIMATIZADO E SUA RELAÇÃO COMO ELEMENTO DE RISCO PARA O AUMENTO DE INFECÇÕES: ESTUDO DE CASO DO HOSPITAL REGIONAL DE ARARANGUÁ, SC Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense para obtenção do Título de Mestre em Ciências Ambientais. Área de Concentração: Ecologia e Gestão de Ambientes Alterados Orientador: Prof. Dr. Robson dos Santos Criciúma, SC 2009

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação A779e Arruda, Vera Lucia. Estudo da qualidade microbiológica do ar em ambiente hospitalar climatizado e sua relação como elemento de risco para o aumento de infecções: estudo de caso do Hospital Regional de Araranguá, SC / Vera Lucia Arruda; orientador: Robson dos Santos. Criciúma: Ed. do Autor, 2009. 62 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado) Universidade do Extremo Sul Catarinense, Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, 2009. 1. Ar Controle de qualidade. 2. Ar - Poluição. 3. Ar condicionado. I. Título. CDD. 21ª ed. 628.53 Bibliotecária: Flávia Caroline Cardoso CRB 14/840 Biblioteca Central Prof. Eurico Back UNESC

Dedico a minha família: João, Marcelo e Regina, os grandes amores de minha vida.

AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, que sempre me deu força e coragem nos momentos mais difíceis, para que nunca desanimasse na superação dos desafios. A direção do Hospital Regional de Araranguá por possibilitarem a realização desta pesquisa. Aos meus orientadores professores doutores Robson dos Santos e Ernandes Benedito Pereira pela confiança, paciência e conhecimentos. Ao grande amigo e professor Dr. Eduardo de Oliveira Nosse, por ter acreditado na minha capacidade profissional e incentivo nas horas de maiores dificuldades. As amigas, Cláudia, Tatiane e Thyrcia por percorrerem comigo este caminho, dividindo paciência, incentivos, conhecimentos e principalmente as alegrias nesta etapa de nossas vidas.

Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, de repente você estará fazendo o impossível. (São Francisco de Assis)

RESUMO A qualidade do ar em ambientes aclimatizados artificialmente, tem preocupado os ocupantes desses locais, bem como as instituições que atuam em saúde pública devido a influência no bem estar e na saúde dos indivíduos que desenvolvem atividades nestes ambientes. Nos ambientes hospitalares, devido a complexidade dos serviços oferecidos, a preocupação com saúde dos trabalhadores e usuários é maior, pois, a qualidade do ar pode estar relacionada as características internas e a insalubridade dos ambientes aclimatizados. Esses fatores aliados ao comprometimento da saúde dos pacientes podem influenciar na recuperação, aumentando os dias de internação e contribuindo para a ocorrência de infecções hospitalares. Esta pesquisa tem como foco principal os ambientes aclimatizados artificialmente, dando maior ênfase à qualidade do ar em hospitais, uma vez que, estes são ambientes complexos de uso público, que oferecem serviços que visam a promoção de saúde.o local escolhido para o estudo foi o Hospital Regional de Araranguá (HRA), localizado no extremo sul catarinense, no município de Araranguá, Santa Catarina, contribuindo dessa forma para a possibilidade de minimização dos problemas ocorridos com a saúde dos funcionários e usuários desses serviços. Para o desenvolvimento do presente estudo utilizou-se como parâmetro a exposição de placas e as classificações setoriais da portaria 196, instituída pela Comissão de Controle de Infecções Hospitalares em junho de 1983- MS, escolhendo-se setores onde os pacientes apresentam um estado de saúde comprometido, com maiores probabilidades a infecção hospitalar (bloco cirúrgico, a UTI e a central de esterilização de materiais), além de uma coleta do ar externo para monitoramento. Para determinar o perfil microbiológico de tais setores na pesquisa utilizou-se da amostragem passiva por sedimentação espontânea que consiste em expor as placas de Petri, contendo meio de cultura sólido. O estudo dos laudos das análises microbiológicas através do histórico dos últimos cinco anos no HRA, comprovou que o perfil microbiológico é semelhante a outros estudos citados em diversas literaturas, que citam o Staphylococcus aureus, Eschericlia coli, Pseudomona aeruginosa, Klebisiella pneumoniae, fungos e outros como principais agentes envolvidos na maioria das infecções hospitalares. Assim, o controle e a monitorização do ar tornam-se ferramentas indispensáveis nas ocorrências de infecções, bem como identificar falhas, nos procedimentos de limpeza e manutenção dos equipamentos de ar condicionado. Uma das melhores ferramentas em âmbito científico, são estudos que avaliem a microbiologia e o perfil epidemiológico do ar em ambientes interno, principalmente no âmbito da saúde hospitalar. O presente estudo concluiu que a concentração de microorganismos atende aos requisitos da Resolução n 9 da ANVISA, para todos os ambientes analisados. Não ficou evidenciado a presença de microorganismos patogênicos nas análises estudadas, principalmente de Staphilococcus aureus. Porém, novos estudos com outras técnicas e metodologias de maior sensibilidade e especificidade que estão em concordância com as legislações vigentes são necessários. Palavras-chaves: Ambientes aclimatizados artificialmente. Infecção hospitalar. Monitorização microbiológica do ar.

ABSTRACT The quality of the air in artificially acclimatized environments has become a source of worry for the occupants of institutions that work with public health due to the influence on the welfare and health of individuals who engage in these environments. In hospital settings, due to the complexity of services that are offered, exists a greater concern with the health of workers and users because the air quality may be related to internal characteristics and unhealthy acclimatized environments. These factors combined with the poor health of patients can influence the recovery, increasing the length of days the patient is supposed to stay in hospital and contributing to the occurrence of nosocomial infections. This research is focused in artificially acclimatized environments, and there is a greater emphasis on air quality in hospitals, since these are complex environments for public use, which offer services to promote health. The site chosen for the study was Araranguá Regional Hospital (ARH), located at the southern end of Santa Catarina, thereby contributing to minimize the possibility of problems in the health of employees and users of these services. The parameter used for the development of this study was: the display of boards and sectoral classifications of Ordinance 196, established by the Committee for Control of Hospital Infections in June 1983 Ministry of Health, choosing sectors where patients were health impaired, with greater chances of nosocomial infection (operating room, ICU and central sterilization of materials), plus a collection of external air for monitoring. In order to determine the microbiological profile of these sectors the survey made use of passive sampling by sedimentation that consists of exposing the Petri dishes containing solid medium. The study of reports of microbiological testing through the history for the past five years in the ARH, proved that the microbial profile is similar to other studies cited in several literatures, mentioning Staphylococcus aureus, Eschericlia coli, Pseudomona aeruginosa, Klebisiella pneumoniae, fungi and other main agents involved in the majority of nosocomial infections. Therefore, the control and monitoring of air become indispensable tools in the occurrence of infections, as well as to identify gaps in the procedures for cleaning and maintenance of the air conditioning equipment. It is noted finally that when it comes to indoor air control, many issues must be considered, such as the adoption of scientific methods to also attend the temperature, humidity and air velocity. Thus, one of the best tools in scientific context is presented in the form of studies that evaluate the microbiology and epidemiological profile of indoor air, especially in hospital settings. The present study it concluded that the concentration of microorganisms takes care of to the requirements of the Resolution n. 9 of the ANVISA, for all analyzed environments. He was not evidenced the presence of pathogenic microorganisms in the studied analyses, of Staphylococcus mainly aureus. However, new studies with others techniques and methodologies of bigger sensitivity and specificity that are in agreement with the effective legislation are necessary. Key words: Artificial acclimatized environments. Nosocomial infection. Microbiological monitoring of air quality.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 1.1 Justificativa... 11 1.2 Objetivos... 12 1.2.1 Objetivo Geral... 12 1.2.2 Objetivos Específicos... 12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 13 2.1 Aspectos Históricos sobre a Qualidade do Ar em Ambientes Hospitalares Climatizados... 13 2.1.1 Sistema de Ar Condicionado e seus Agravos à Saúde Humana... 16 2.1.2 A Questão da Qualidade do Ar em Ambientes Interiores dentro do Contexto Brasileiro... 18 2.2 O Hospital e seus Impactos de Origem Ambiental... 20 2.3 Infecção Hospitalar: Problema de Saúde Pública... 21 2.3.1 Infecção Hospitalar e os Riscos Biológicos no Ambiente Cirúrgico e nas Unidades de Terapia Intensiva... 24 2.4 Climatização Artificial e sua Relação com os Contaminantes Microbiológicos do Ar Interno e a Influência com a Saúde dos Ocupantes... 28 2.4.1 Doenças Referentes a Ambientes Internos... 33 2.5 Controle da Qualidade do Ar de Interiores... 35 3 MATERIAIS E MÉTODO... 40 3.1 O Ambiente de Estudo... 40 3.2 Metodologia... 40 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 44 5 CONCLUSÃO... 50 REFERÊNCIAS... 53

9 1 INTRODUÇÃO A poluição do ar representa um problema de esfera global, que afeta a saúde do homem, animais e plantas, sendo considerado um processo relacionado ao progresso das civilizações e do crescimento e urbanização das cidades. Nas ultimas décadas, a contaminação da atmosfera tem ocupado lugar de destaque, visto que atinge grande parcela da população, causando diversos agravos, tornando-se portanto, um problema de saúde pública, que prejudica de maneira muito séria a qualidade de vida em todo planeta (GONTYJO FILHO; SILVA; KRITSKI, 2000). A poluição do ar pode ser definida como a alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas da atmosfera que podem causar danos ou agravar a saúde de animais, plantas, ecossistemas, materiais e propriedades, afetando o cotidiano das populações e o seu bem estar (BELMAR et al., 1993). A origem dos problemas relacionados à qualidade do ar se fundamenta nos impactos a saúde das populações que concentram suas atividades em ambientes fechados e que estão expostos à quantidade de poluentes deletérios a saúde. Vários estudos têm atribuído a má qualidade do ar interior a incidência de relatos de queixas entre os ocupantes desses locais, relativa à saúde e o desconforto ambiental, tendo como conseqüência o absenteísmo, alterações de comportamento, insatisfação e baixo rendimento no trabalho (GIODA; NETO, 2003; HOJO et al., 2005) Dessa forma, os ambientes aclimatados artificialmente são considerados ambientes complexos em virtude da infinidade de componentes químicos (substâncias tóxicas, carcinogênicas radioativas) e biológicas (microrganismos patogênicos) emitidos por inúmeras fontes que, dependendo das condições físicas (umidade do ar e ventilação inadequada) do ambiente, podem interagir entre si. Encontram-se evidências em estudos que o ar dos ambientes fechados pode conter mais poluentes do que o ar exterior (LEE et al., 2006) Diante disso, o Ministério da Saúde publicou em 28 de agosto de 1998 a Portaria nº 3523 que aprovou o Regulamento Técnico, onde são citados medidas e procedimentos de limpeza e manutenção dos sistemas de climatização e os padrões referenciais para qualidade do ar de ambientes internos. Esta portaria é considerada um marco inicial para saúde, pois levanta questões importantes quanto a manutenção e programas de controle para os sistemas de ventilação.

10 Em outubro de 2000, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), publicou a Resolução nº 176, que complementa a portaria nº 3523/98, onde foram estabelecidos os padrões referências sobre qualidade do ar interior em ambientes públicos e coletivos climatizados artificialmente, o que vem contribuir para alertar a população sobre os agravos a saúde dos ocupantes de ambientes fechados. O controle da qualidade do ar interior analisa os danos provenientes do impacto dos ambientes fechados na saúde dos seus ocupantes. A poluição do ar interno, não se restringe apenas aos edifícios de escritórios (ZURAIMI et al., 2006). Incluindo-se também, ambientes não industriais observados nos estudos realizados em residências (ALMEIDA, 2004), escolas (ROMACHANDRAN et al., 2005), hospitais (LEUNG; CHAN, 2006), centros comerciais (COSTA; BRICKUS, 2000), meios de transporte (LAU; CHAN, 2003) e aeroportos (SILVEIRA et al., 2002). A preocupação com a qualidade do ar oferecido no ambiente hospitalar iniciou-se em 1865, quando se observou que o ar oferecido nas salas de operação influenciava na ocorrência de infecções. Joseph Lister, influenciado por Louis Pauster, estudou a relação do ar que soprava sobre as feridas propiciando à quadros infecciosos. Diante de tal fato, Joseph Lister usou o ácido carbólico para reduzir a contaminação do ar em ambientes, onde se realizavam as cirurgias, conseguindo assim, decréscimo na morbidade e mortalidade dos pacientes (EDMISTON et al., 1999). Além das fontes externas, a qualidade do ar no interior dos hospitais sofre a influência da contaminação interna, proveniente de partículas de origem biológica (bactérias, vírus e fungos) que se tornam elementos críticos quando representam risco potencial a saúde de seus usuários. Entretanto, a rotina da avaliação microbiológica em ambientes inanimados demonstra resultados polêmicos e contraditórios. Alguns autores mencionam a reduzida participação do ambiente nos casos de infecção hospitalar quando comparado com as demais fontes, apontando essa variável como responsável por 15% aproximadamente dos casos (SIQUEIRA, 2000; LACERDA et al., 2003). Apesar desses resultados, há uma correlação entre a incidência de infecções hospitalares e a qualidade do ar ofertada. Pois, este poderá alojar fontes de biocontaminantes, principalmente quando os pacientes estão imunodeprimidos e/ou em estado mais grave aos outros. É importante salientar que as principais causas de infecção hospitalar estão relacionadas a diversos fatores, como a imunidade do indivíduo, métodos de diagnósticos, terapia medicamentosa inadequada, fontes inanimadas que agregam poluentes de origens

11 diversas como os contaminantes químicos, microrganismos, material particulado que tem no sistema de climatização ambiental como uma de suas fontes, entre outras, que podem ser consideradas (FERNANDES et al., 2000). Portanto, quando se fala em infecção hospitalar deve-se considerar todas as possibilidades, mas no presente estudo, pretende-se abordar apenas a questão da qualidade do ar nas áreas consideradas críticas em ambientes climatizados no interior do Hospital Regional de Araranguá (HRA), Santa Catarina. 1.1 Justificativa O reconhecimento dos riscos biológicos, presentes no ambiente hospitalar, tem originado estudos nas várias áreas do conhecimento, embora de maneira incipiente. No entanto, a área que se destaca é a da saúde pública, onde os recursos são escassos e a procura por serviços de saúde é grande. Cabe aos hospitais efetivar medidas de preservação e controle das fontes ambientais de infecção para garantir a saúde e a qualidade dos serviços prestados. Nesse sentido, justifica-se esta pesquisa, diante da relevância do tema e pelo fato de existirem poucos estudos no Brasil. Ressalta-se a necessidade de se desenvolver pesquisas e estudos da qualidade do ar de interiores dentro de um contexto multidisciplinar, visando contribuir para melhor entendimento da questão e para o delineamento de indicadores que potencializem a saúde e o bem-estar dos ocupantes de tais ambientes. Em função da dimensão e complexidade da temática, este estudo procurará contextualizar a poluição do ar de ambientes interiores como fator de risco à saúde humana, fundamentando-se em diagnósticos da situação apresentada, que servirá para despertar a implantação de práticas e normas fundamentadas nas legislações vigentes, contribuindo dessa forma para a possibilidade de minimização dos problemas ocorridos com a saúde dos funcionários e usuários desses serviços.

12 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Avaliar por meio de estudo epidemiológico e análise da qualidade microbiológica do ar nas áreas críticas em ambientes climatizados no interior do Hospital Regional de Araranguá e sua eleição como fator de risco para infecções hospitalares. 1.2.2 Objetivos Específicos Avaliar os principais microrganismos presentes em laudos e pedidos de análise de material biológico nos últimos cinco anos; Identificar nas três áreas críticas a presença dos microrganismos selecionados e potencialmente causadores de doenças; Relacionar os resultados das coletas nas três áreas críticas com laudos da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar dos últimos cinco anos.

13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Aspectos Históricos sobre a Qualidade do Ar em Ambientes Hospitalares Climatizados Com base em Ricks (1982), várias pesquisas científicas nos diferentes campos da ciência e tecnologia, apresentam publicações referentes à qualidade do ar. Sendo que na década de 70 começaram a aparecer os primeiros relatos de queixas em relação à saúde e conforto dos ocupantes de ambientes interiores climatizados artificialmente. No entanto, a raiz desse assunto, encontra-se na década de 1930, quando surgiram os primeiros ambientes climatizados, onde temperatura e umidade do ar eram controladas, proporcionando conforto térmico para as pessoas que ali conviviam. Com a crise do petróleo e mudança dos materiais de construção ocorridos na década de 70, diminui-se o índice de renovação do ar, bem como o índice de umidade, pois para a redução da temperatura de um ambiente é necessária a evaporação da água presente. Como conseqüência direta tem-se: diminuição da concentração de oxigênio; diminuição da umidade do ar e lesão de vias respiratórias, pele e mucosas, constituindo risco eminente na transmissão de microrganismos em áreas hospitalares, pois a renovação do ar se faz presente em percentuais igual ou inferior a 10% (SIQUEIRA; DANTAS, 1999; BASENGE, 2001). Outra questão importante a se comentar, refere-se a crise de energia dos anos 70, que tem sido apontada como um dos fatores que propiciaram e evidenciaram os problemas relacionados a qualidade do ar (SPENGLER; SEXTON, 1983), devido a necessidade de se economizar energia. Pois, os aparelhos de condicionamento de ar trabalhavam menos e desprendiam menos gastos energéticos. No entanto, quando se tem menos gastos energéticos, os poluentes gerados no ambiente interno não são diluídos por quantidades suficientes de ar externo e nem levados para fora do prédio (eliminação da renovação do ar interno no ambiente, pois o consumo de energia é menor quando o aparelho apenas faz recircular o ar interno com pouca oscilação térmica) (SANTOS et al., 1992; JONES, 1999). Compreende-se que, a partir da década de 1970, tudo oscilou para que a qualidade do ar recebesse um olhar mais atento, considerando-se todas as suas complexidades. Finnegan et al. (1984) apontam que o primeiro estudo realizado sobre queixas relacionadas aos prédios de escritórios foi feito em 1983, mostrando as sintomatologias

14 associadas ao trabalho como cefaléia, letargia, irritação de mucosas (congestão, prurido nasal e ocular). Estas queixas eram mais freqüentes em funcionários que desenvolviam suas funções em edifícios com ar climatizado, quando comparados aos de ventilação natural. Pois, o grande número de horas de atividade realizadas por estes trabalhadores de ambientes internos justifica a preocupação em propiciar um ambiente saudável e seguro, onde as pessoas possam realizar suas funções (FISK; ROSENFELD, 1997; JONES, 1998; SUNDELL, 2004). Entretanto, o que se percebe é que a intenção de se obter um ambiente mais saudável, acabou muitas vezes se revertendo, onde foram detectadas as queixas associadas a qualidade do ar. Assim, passou-se a dar atenção maior ao assunto, com pesquisas e estudos relacionados. Em 1980, segundo Stolwijk (1984), foram realizados cerca de 5.000 estudos, onde tomou-se consciência da existência da chamada Síndrome dos Edifícios Doentes. Tal síndrome foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1983 com alta prevalência de sintomas em ocupantes destes prédios (WHO, 1983). Em acordo, Siqueira (2003, p. 3) discorre que: Detectada em meados da década de 70, e cognominada no início da década de 80, a expressão "Síndrome dos Edifícios Doentes" (SED) refere-se à relação de causa e efeito, entre as condições ambientais observadas em áreas internas, com reduzida renovação de ar e os vários níveis de agressão à saúde de seus ocupantes. Epidemiologicamente, estas condições ambientais adversas, tornaram-se importante área de estudo, decorrentes das agressões ao conforto e ao bem estar de quem vive em ambientes fechados, característica da sociedade contemporânea. Ainda, durante a década de 80, foi publicado estudo realizado pelo Grupo Holandês de Estudos de Ambientes de Interiores, com 4.369 funcionários de prefeituras holandesas, mostrando prevalência maior de sintomas (irritação de mucosas, cefaléia e astenia) no grupo com sistema de ar condicionado (VALBJORN et al., 1989; SKOV, 1992). Dentro desse contexto, no Brasil, são poucos os estudos da qualidade do ar interior. Sterling et al. (1991) publicaram uma revisão epidemiológica em relação a edifícios doentes. Em 1992, Santos et al. (1992) relataram estudo realizado com 312 bancários em São Paulo. Vários sintomas relacionados à irritação de mucosas foram evidenciados. Relataram também a alta taxa de absenteísmo (30%), em prédios com condicionamento de ar. Costa e Brickus (1999) demonstraram, através de estudo com perfil epidemiológico em um Shopping Center com climatização artificial no Rio de Janeiro, maior prevalência de sintomas e sinais referentes à Síndrome do Edifício Doente, entre os comerciantes desse estabelecimento quando comparado com comerciantes de lojas com ventilação natural. Foram

15 destacados 24 sintomas e sinais: 17 deles foram, cansaço, resfriado, gripe, rouquidão, dificuldade ao respirar, apatia ou desânimo, dor de garganta e cefaléia. O estudo apresentou diferenças estatísticas significativas entre os grupos estudados (p < 0,001). Queixas em relação ao desconforto ambiental, para as variáveis de iluminação, umidade relativa do ar e odor foram significativamente maiores entre os ocupantes dos ambientes aclimatados artificialmente. Em 1987, a National Research Council propôs que além da Síndrome do Edifício Doente, uma outra nomenclatura fosse estabelecida, ou seja, Doença do Ambiente Interno ou Doença Relacionada ao Prédio, ou Edifício Doente (Buildeng- Related llness), devido aos problemas específicos relativos à saúde dos ocupantes de tais ambientes. Assim, a Doença do Ambiente Interno compreende o relato de sintomas e sinais característicos da exposição a determinadas substâncias químicas (formaldeído, monóxido de carbono), bem como as doenças provocadas por vírus, bactérias e fungos, que podem ser identificadas através de metodologia específica no interior dos edifícios (SILVEIRA et al., 2001). Pode-se observar um exemplo de Edifício Doente, no ano de 1998, quando a biblioteca central da Fundação Oswaldo Cruz na cidade do Rio de Janeiro foi interditada por um longo período, devido à contaminação por fungos que se dispersavam pela precariedade do serviço de manutenção do sistema de ar condicionado central (STRAUZ et al., 2001). Outros fatores devem ser lembrados e tomados como elementos de risco em relação a qualidade do ar em interiores, como o aumento de fontes poluentes nestes ambientes (pesticidas e produtos de limpeza), e o número de pessoas por metro quadrado que nem sempre é respeitado, aumentando assim a carga microbiana oriunda dos próprios usuários e a necessidade de introdução do ar externo para diluir esses poluentes e os biocontaminantes (SIQUEIRA; DANTAS, 1999). Pois as alterações feitas nos ambientes confinados nem sempre respeitam pontos de iluminação, fontes de energia elétrica e difusores de ar, gerando um bolsão de ar não circulante e que, portanto, não é renovado. No Brasil, a preocupação com a qualidade do ar de interiores está relacionada com ações preventivas nos programas de manutenção nos sistemas de refrigeração e ventilação, referenciadas na portaria n 3523/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Conforme citado anteriormente, nesta encontram-se medidas e procedimentos de limpeza e manutenção dos sistemas de climatização e os padrões referenciais para qualidade do ar de ambientes internos.

16 Assim, muitas ações de controle e proteção da saúde em relação aos poluentes atmosféricos e os riscos de agravo à saúde dos trabalhadores e usuários de estabelecimentos com climatização artificial, nem sempre se propõem ao monitoramento da qualidade do ar, preocupando-se apenas com o cumprimento dos padrões estabelecidos pelas legislações vigentes. 2.1.1 Sistema de Ar Condicionado e seus Agravos à Saúde Humana A preocupação com a saúde e a redução dos fatores que a tornam sensíveis é antiga, remontam do ano 400 a.c., quando Hipócrates em sua obra Ares, Água e Lugares, estabeleceu a relação existente entre as condições do meio ambiente e a saúde das populações (ADAMS, 2007). Desta forma, surgiu a necessidade de adoções de medidas preventivas em relação à higiene pessoal e ambiental juntamente ao desenvolvimento de práticas e formas de tratamento das moléstias oriundas dessas situações de risco. Neste sentido, a procura pela saúde tem sido uma busca constante na história da humanidade, sendo que a doença e a morte são preocupações constantes. Na história do cuidado das pessoas que adoeciam, há registros de que as pessoas eram isoladas em locais sombrios, úmidos, sem luz natural, ausência de cuidados higiênicos e dietéticos, condições marcantes observadas nos sanatórios para hansenianos da Idade Média. Não havendo preocupação com os agentes patológicos o ambiente era insalubre, sem ventilação, os leitos coletivos, representando um risco potencial á saúde tanto dos pacientes como dos agentes cuidadores (PAULA, 2003). Florence Nightingale, em seu primeiro livro Notas de Enfermagem: O que é e o que não é, faz uma exploração aprofundada em relação ao fator ambiental e sua influência na saúde dos pacientes e relata que a renovação, a qualidade e a temperatura do ar são determinantes importantes e têm relação com a promoção e manutenção da saúde de quem permanece em determinado ambiente (NIGHTINGALE, 1989). Em meio a tantas questões voltadas para o ambiente, qualidade e bem estar, entre outras, apareceu em 1897, o primeiro aparelho de ar condicionado que foi idealizado por Joseph McCreaty, denominado de lavador de ar, pois o sistema se baseava no borrifamento de ar (SILVA, 2003).

17 Alguns anos depois, no início de 1902, Nillis Haviland Carrier foi o primeiro a demonstrar o controle de temperatura e umidade do ar (SILVA, 2003), inventando assim, o chamado aparelho de ar condicionado, com a finalidade de se climatizar o ambiente por meio do controle da temperatura e umidade do ar, proporcionando conforto térmico aos ocupantes de ambientes fechados (SIQUEIRA, 2000). Já em 1914, o Allegheny General Hospital, em Pisttsburg/USA, instalou o primeiro aparelho de ar condicionado hospitalar, com o objetivo de levar umidade a unidade de prematuros, ajudando a reduzir a mortalidade por, desidratação (SPRINGER CARRIER, 2002). Willis Carrier, em 1939, desenvolveu um sistema de dutos que distribuía o ar em alta velocidade através de dutos Wea Thermaster, suprindo as necessidades de ar condicionado e iniciando a era de edifícios completamente climatizados (SPRINGER CARRIER, 2002), porém não havia preocupação com a qualidade do ar interior, mas a prevenção de infiltração da poluição externa (STERLING; COLLET; RUMEL, 1991). Nos anos 30, discussões e relatos de histórias de infecções em feridas cirúrgicas poderiam estar vinculadas ao fator ambiental e o ar apontado como o elemento propagador, faz ressurgir a preocupação e tentativas de desinfecção do ar por meio de pulverização de produtos químicos utilizados após cirurgias contaminadas (LACERDA, 2003). Os primeiros estudos publicados sobre partículas aéreas carregadoras de bactérias e sua influência e relação com a infecção de feridas cirúrgicas foi em 1946, por Baurdillon e Colelerook (STACEY; HUMPHREYS, 2002), que descreveram os efeitos de um novo sistema de ventilação, com ar filtrado, pressão positiva e troca de ar total nas salas de troca de curativos em pacientes queimados graves. A pressão positiva em salas de operação iniciou-se no século XX, na década de 40, o que levou a redução do número de microrganismos presentes no ar, contribuindo para redução da taxa de sepsis em pós-operatórios (HOLTON; RIGWAY, 1993). Assim, neste período passou-se a ter um olhar mais atento aos condicionamentos de ar, buscando-se o aperfeiçoamento e estudos relacionados a melhor adequação destes. Nesta perspectiva, os primeiros filtros absolutos ou filtros HEPA (High Efficiency Particulate Air), surgiram em 1945. Estes filtros, com eficiência mínima de 99,97%, para retenção de partículas de até 0,3 micrometros, foram desenvolvidos inicialmente para reter contaminantes radioativos presentes no ar (CASIBA, 2004). Em 1950, a empresa Carrier iniciou a fabricação comercial dos filtros absolutos e dos climatizadores domésticos, conhecidos como aparelhos de janelas (SPRINGER CARRIER,

18 2002). Nesta década, nos Estados Unidos já se utilizavam como parâmetro de ventilação em salas de operação de 8 a 12 trocas totais por hora, com o ar 100% externo, temperatura média de 25 C e 55% de umidade (AFONSO, 2005). Em 1969 foi publicado o primeiro estudo mostrando as infecções cirúrgicas em ortopedia em cirurgias com próteses de quadril, relatando a concentração bacteriana no ar na sala de operação (CLEANAIR TECHNOLOGY, 2001). Em 1976, foi descrito o primeiro surto de infecção de pneumonia bacteriana com origens nos aparelhos climatizadores de ar. O fato aconteceu em uma convenção de legionários americanos na Filadélfia, classificando assim uma nova bactéria denominada Leoginella pneumophila (HART; MAKIN, 1991). Assim, gradativamente foram se detectando infecções sempre correlacionando com a qualidade do ar desses ambiente internos, mesmo com as inovações nos aparelhos de ar condicionado. 2.1.2 A Questão da Qualidade do Ar em Ambientes Interiores dentro do Contexto Brasileiro No Brasil, a preocupação com ambientes climatizados e qualidade do ar em interiores passou a ser uma preocupação dos órgãos governamentais, após a morte do Ministro Sérgio Mota em 1998, que foi acometido por pneumonia fúngica adquirida através do ar, do sistema de condicionador de ar de parede, presente em sua sala de trabalho. Dados da Organização Mundial da Saúde relatam que a maioria dos locais fechados, como empresas, cinemas, residências e hospitais, tem ar de má qualidade. Esse baixo padrão na qualidade de ar é causado principalmente por uma higienização inadequada dos aparelhos de ar condicionado, e a falta de controle periódicas das possíveis fontes de contaminação (WHO, 1998). Diante das preocupações crescentes e estudos que evidenciam a influência do ar principalmente em hospitais, onde a população usuária é susceptível a quadros de infecções, devido a diversos fatores, o Ministério da Saúde aprovou a portaria 3523/1998, que tem como objetivo minimizar o risco potencial à saúde de seus usuários e quantificar, reduzir e controlar a população de microrganismos em ambientes que fazem uso de climatização artificial. Estabelece os parâmetros físicos, químicos e biológicos, suas tolerâncias, métodos de controle

19 e pré-requisitos de projetos de instalação e execução de sistemas de climatização (BRASIL, 1998). Em 26 de outubro de 2000, a ANVISA definiu os padrões de qualidade de ar para prédios de uso coletivo, possibilitando que as vigilâncias municipais e estaduais possam avaliar os parâmetros toleráveis e aceitáveis do ar que circula em edifícios com sistema de ar condicionado, e se este tem relação com os agravos de saúde dos usuários destes locais (PAULA, 2003). Outra questão importante de se destacar é sobre os dados recolhidos por estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle de Qualidade do Ar em Interiores. Este estudo mostra que, em dois mil locais estudados de nove cidades brasileiras, 20% apresentaram ar impróprio para a saúde. Tal estudo e a análise foram direcionados a prédios públicos e comerciais que utilizavam ar condicionado. Notou-se elevado risco para os ocupantes em relação a doenças respiratórias diante de exposições constantes em ambientes com condições insalubres, ficando evidente que tais doenças têm estreita ligação com a poluição de ambientes interiores (LACERDA, 1999). A climatização artificial é um processo de tratamento do ar que objetiva controlar simultaneamente a temperatura, umidade relativa, pureza, distribuição e velocidade do ar. Seus efeitos nos ambientes fechados são reconhecidos, pois levam conforto térmico aos ocupantes, porém, são necessárias medidas de controle e padrões de referências ditados nas legislações específicas para que o ambiente não se torne uma ameaça à saúde e queda de produtividade para os ocupantes destes locais (PAULA, 2003). Várias pesquisas e estudos apontam o sistema de climatização artificial como um importante reservatório de microrganismos (bactérias, fungos, vírus, protozoários e algas) que são agentes com dispersão no ar e alojam-se nos sistemas de climatização artificial, tornandose elementos patogênicos que favorecerão a quadros infecciosos satisfatórios dependendo do ambiente que recebe estas cargas de microrganismos (SIQUEIRA, 2000). A detecção de todos estes tipos de eventos e conseqüências relativas à qualidade do ar em ambientes fechados tem contribuído positivamente para estes tipos de poluentes, e demonstram a necessidade de estudos conclusivos que determinem diagnósticos referenciados nos padrões legislativos, proporcionando melhoria na qualidade de saúde dos indivíduos confinados nestes locais. Portanto, a qualidade do ar é diretamente afetada pelas condições de conservação dos equipamentos do sistema de ar condicionado. Sendo assim, é necessária uma manutenção

20 preventiva e organização de procedimentos para operação desses equipamentos, baseando-se nos programas de monitoramento da qualidade do ar e na defesa da saúde. 2.2 O Hospital e seus Impactos de Origem Ambiental O homem no decorrer da sua história tem lutado através do conhecimento e geração de novas tecnologias em benefício próprio para garantir sua saúde prevenindo-se das doenças e afastando-se dos perigos de contaminação de diversas etiologias que se propagam através da água, do solo e do ar. Durante a trajetória da humanidade, a saúde tem se concentrado em atos de cuidados que tinham nas instituições promotoras de saúde, o local para a cura das moléstias da população. Os hospitais eram locais destinados ao abrigo e atendimento de pessoas pobres e idosas que a própria sociedade rejeitava. As primeiras mudanças ocorreram no século XVIII, onde os hospitais iniciaram práticas e ações terapêuticas efetivas, com o controle de transmissão de doenças infecciosas, abandonando o paradigma de que o hospital era um local destinado para a internação de pessoas para morrerem, para um local de cura e medicalização. A situação insalubridade dentro dos hospitais ainda persistiu até a metade do século XIX. As mudanças reais iniciaramse com a descoberta da bacteriologia por Pasteur e os conceitos de antissepsia de Lister (RODRIGUES et al., 1997). Folcault (1993) considera que a transformação do hospital foi decorrente da anulação dos impactos negativos, ou seja, como era um local de acúmulo de pessoas doentes, tornavase foco de doenças e ameaça para a sociedade. Com as transformações ocorridas em sua trajetória, o hospital contemporâneo assumiu outras missões ainda que preservando algumas características, as mudanças são visíveis no campo da administração, dos sujeitos nos instrumentos e processos de trabalho (PEREIRA, 2000). Diante disso, os hospitais são organismos complexos e exigem esforços para uma boa administração, apresentando-se como uma instituição social, no sistema de saúde voltada para a promoção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo. Então faz-se necessário o envolvimento de profissionais com saberes específicos para proporcionar o cuidado individualizado, diagnóstico e a adequação da terapêutica (RIBAS, 1999).

21 Pereira (2000) refere que as instituições hospitalares constituem um campo complexo e específico de gestão. Muitas destas instituições seguem modelos e padrões em antigos grupos religiosos, congregações de estrangeiros, atores que direcionavam a organização quase que inteiramente para as práticas do assistencialismo, ficando o controle administrativo a um patamar inferior. A complexidade dos serviços dos hospitais contribuíram para uma cultura conservadora com dificuldades em implementar processos positivos de mudanças. Porém, notam-se mudanças visíveis a fim de alterar tal situação, por meio de uma nova concepção de que o hospital é também um negócio que precisa se adequar aos novos rumos de administração empresarial, com o objetivo de promover sua própria sobrevivência (GONÇALVES, 2000). Os crescentes avanços tecnológicos na área da saúde, tornam o hospital um elemento complexo e de difícil gestão, que envolve atividades diversas, com necessidade de coordenação, elevado custo de insumos e geração de novas tecnologias médicas, para alcançar uma gestão mais eficiente. Isto não pode ser alcançado sem a participação efetiva de programas de prevenção das condições ambientais seguras do paciente e aos profissionais que desenvolvem suas atividades de trabalho (LACERDA, 1992). Neste sentido, observa-se que a preocupação com o meio ambiente hospitalar atravessou barreiras contidas no tempo. Em 1863, Florence Nightingale, enfatizava o cuidado com limpeza, odores, ruídos e ventilação. É possível evidenciar as transformações no atendimento à saúde, porém essas mudanças representam um processo lento e complexo (PAULA, 2003.) Com os estudos e a descoberta da bacteriologia médica no início do século XX, foi possível conhecer os mecanismos das doenças e formas de transmissão, transformando assim, o ambiente hospitalar em uma instituição preocupada com a recuperação e reabilitação da saúde dos indivíduos (RIBAS, 1999). 2.3 Infecção Hospitalar: Problema de Saúde Pública Os hospitais são instituições as quais os avanços científicos são utilizados em benefício dos pacientes, fornecendo serviços de diagnóstico e apoio terapêutico que facilitam

22 a cura e promovem uma terapia medicamentosa eficiente (COUTO, 2000; COUTO; PEDROSA; NOGUEIRA, 2003; VERONESI; FOCCACIA, 2002). Infecção hospitalar é a infecção adquirida após a admissão do paciente, e se manifesta durante a internação ou após a alta, então está relacionada a procedimentos hospitalares, conforme Portaria 2616/98 (BRASIL, 1998). Para que um quadro de infecção hospitalar se manifeste é necessário um desequilíbrio nos mecanismos de defesa do indivíduo em decorrência de doença grave, procedimentos invasivos e do contato com os agentes do ambiente hospitalar, podendo se manifestar durante a internação, ou após a alta do paciente (TORTORA; FUNKE; CASE. 2005). Dessa forma, as infecções hospitalares constituem um problema de saúde pública. Estão entre as principais causas morbidade e letalidade, sendo responsáveis pelo aumento no tempo de hospitalização e conseqüentemente elevados custos adicionais para o tratamento do doente (COUTO et al., 2003). Nos hospitais americanos estima-se que 5% dos pacientes internados desenvolvem doenças hospitalares, chegando a 88.000 mortes por ano. Em 1992 foi estimado um gasto de 4,5 bilhões de dólares por ano, com custos de saúde relacionados a tais infecções (VERONESI; FOCCACIA, 2004). Os primeiros relatos de infecção hospitalar no Brasil foram na década de 50. Estudos sobre e esterilização de materiais, limpeza, desinfecção e uso indiscriminado dos antimicrobianos foram descritos por Cristóvão e Francisconi respectivamente, ambos publicados na Revista Paulista de Hospitais (RODRIGUES et al., 1997). Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, as infecções hospitalares prolongam o tempo de hospitalização em média, quatro dias por infecção e aproximadamente 1% de todas as infecções são causa de morte, enquanto que 3% contribuem para esta. Sendo que neste país, cerca de dois milhões de pessoas contraem infecções hospitalares por ano, e mais de cem mil morrem como conseqüência, representando a quarta causa de mortes nos Estados Unidos, após doenças cardíacas, câncer e acidentes vasculares cerebrais (TORTORA; FUNKE; CASE, 2005). No Brasil, os primeiros dados coletados com metodologia adequada apontam que entre 5 e 15% dos pacientes internados adquirem infecção hospitalar e, destes, 5 a 12% evoluem para óbito. As infecções hospitalares estão situadas entre as seis principais causas de mortes no Brasil (FERRARI, 1984; RIBEIRO; 1989; KAPPSTEIN et al., 1991). A ausência de infecção hospitalar, a partir da década de 90, passou a ser um importante índice de qualidade da assistência hospitalar, sendo implantados os serviços de

23 prevenção a infecções hospitalares nestas instituições. Com isso, a epidemiologia hospitalar teve um grande avanço e a coleta de dados estatísticos passou a ser a ferramenta fundamental para o entendimento de muitos problemas (COUTO, 2000). No ano de 1983, ocorreram as primeiras intervenções governamentais e efetivas para o controle das infecções hospitalares. A portaria 196/1983 tornou obrigatória a implantação, em todos os hospitais de comissões de controle de infecção hospitalar pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1985). Dois anos após a implantação da lei, com o intuito de fiscalizar e orientar, foi criada a Comissão Nacional de Controle de Infecções Hospitalares com representantes de vários estados. Em pesquisa de dados, o Ministério da Saúde ainda na década de 90, relata que apenas 10% dos hospitais criaram comissões para o controle de infecções hospitalares, então em 1992, surgiu a necessidade de se instituir por meio da Portaria 930/1992 o Programa de Controle de Infecções Hospitalares. Tal programa foi definindo como um conjunto de ações sistemáticas que usam redução máxima possível da incidência e gravidade das infecções hospitalares (COUTO, 2000). Em um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde, foi comprovado que nos hospitais com programas de controle de infecção atuantes ocorreu uma queda de 32% nas taxas de infecção hospitalar, e nos hospitais sem um programa efetivo estes indicadores sobem para 18%. A partir desse fato, pode-se concluir que pelo menos um terço das infecções podem ser previníveis quando da existência de uma comissão responsável pelo controle das infecções hospitalares, as demais irão depender das condições intrínsecas do paciente. (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2000; APECHI, 2001). Em 1998, a portaria 26/1998 foi publicada pelo Ministério da Saúde, passando a nortear todo sistema de controle de infecção hospitalar nacional. Os pacientes predispostos a infecções hospitalares são aqueles que apresentam doenças graves, imunodepressão, politraumatizados, doenças cardiopulmonares, pacientes submetidos a procedimentos invasivos como cirurgias toráxicas ou abdominais, ou que necessitam de terapia respiratória e pacientes com grandes queimaduras (LACERDA et al., 2000). Sabe-se que as principais causas de infecção hospitalar estão relacionadas com maior suscetibilidade a infecção com os métodos de diagnóstico e terapêuticos usados, porém, não se pode deixar de envolver os fatores relacionados ao ambiente hospitalar que constituem um fator a mais para a incidência dessas patologias.

24 2.3.1 Infecção Hospitalar e os Riscos Biológicos no Ambiente Cirúrgico e nas Unidades de Terapia Intensiva Os ambientes hospitalares possuem características diferenciadas dos ambientes comuns, em relação a qualidade do ar, pois os serviços realizados em certas áreas necessitam que o ar seja isento de contaminantes. Os locais onde são realizados procedimentos de esterilização de utensílios necessitam de monitoração adequada do ar ofertado, para evitar os contaminantes de origem biológica, pois os procedimentos cirúrgicos que seguirem a esterilização podem carregar microrganismos por meio dos instrumentais médicos contaminados, favorecendo o aparecimento de infecções hospitalares através de transmissão cruzada de patógenos (LEDSON et al., 1988; HOFFMAN et al., 2002; GARDAM et al., 2002). Assim, quando as recomendações de limpeza e higienização são inadequadas, o meio ambiente se torna uma fonte de dispersão de microrganismos causadores de infecções hospitalares. Lowbury et al. (1971) sugeriram que Staphylococcus aureus poderia ser transmitido por ambas as vias, contato e aspersão no ar. Hambraeus (1973) demonstrou a dispersão de S. aureus em pacientes queimados, portadores de extensas lesões. Neste sentido, certos cuidados devem ser tomados quando é necessário realizar procedimentos invasivos cirúrgicos para prevenir danos ao paciente. É necessário um ambiente isento de riscos, o que Pierson (1997, p. 18) denominou de controle de risco, que pode ser definido como a maneira sistemática de detectar problemas e garantir segurança nos cuidados prestados ao paciente. No setor hospitalar merecem atenção especiais as Unidades de Tratamento Intensivos (UTIs) e os Centros Cirúrgicos que são ambientes classificados como áreas críticas, uma vez que nestes ambientes existe risco maior de transmissão de infecções, pois os procedimentos realizados nestes locais são invasivos e com alta complexidade. Sendo assim, o aspecto segurança ambiental abrange fontes potenciais de infecção, preocupando-se com a quantidade de microrganismos contidos nos materiais, equipamentos e no ar (LACERDA et al., 1999). O centro cirúrgico representa uma das áreas hospitalares que necessita de planejamento e atenção. O seu desenvolvimento é variável e dependerá da complexidade dos serviços médicos oferecidos. A estrutura física contém varias salas, equipamentos e materiais

25 adequados para os serviços destinados, garantindo a segurança e conforto para o paciente e para a equipe de trabalho (PAULA, 2003). No centro cirúrgico, três zonas são consideradas distintas: de proteção (área restrita), limpa (semi-restrita) e estéril (área restrita). A zona de proteção faz elo entre o sistema Hospitalar e a zona limpa, representada pelos vestiários femininos, masculinos e secretaria. A zona limpa é composta por um local de cuidados com o paciente e o processamento de artigos médico-hospitalares (ALMEIDA; CAVALCANTE, 1985). A sala de operação é um ambiente com necessidades especiais, sendo necessário um controle das partículas suspensas no ar, sejam de origem microbiana ou não, já que as mesmas podem dar origem a reações inflamatórias (LIMA FILHO, 2003). As fontes de partículas contendo bactérias em salas de operação incluem o paciente e a equipe cirúrgica (OWERS et al., 2004). O número de bactérias em partículas aéreas em salas de operação está relacionado à quantidade de pessoas na sala e de sua atividade, sendo que 98% das bactérias encontradas nas feridas operatórias tem origem no ar ambiente (GOSDEN et al., 1998). Eickoff (1994) chamou a atenção para as infecções estafilocócicas por partículas aéreas em hospitais que se manifestam principalmente nos centros cirúrgicos. Humphreys (1992) relata que a infecção pode ser prevenida em parte, melhorando a qualidade do ar durante as cirurgias. Nos últimos anos, a utilização do sistema de ar condicionado do centro cirúrgico tem demonstrado ser capaz de controlar e reduzir a quantidade de microrganismos do ambiente (LACERDA et al., 2003). A movimentação de microrganismos viabilizada pela ventilação, proporciona diminuição de índice de infecção (EVERETT; KIPP, 1991). Vários estudos demonstram que existe a possibilidade de que os casos de infecção hospitalar tenham relação com a qualidade do ar climatizado ofertado. Tais pesquisadores chegaram a essas conclusões, devido à presença de bioaerossóis nos locais onde o paciente permanece ou sofre procedimentos invasivos (EICKOFF, 1994). Entre unidades críticas do setor hospitalar, o centro cirúrgico é visto como um ambiente propício a ocorrência de um tipo de infecção hospitalar específico, que é a infecção de sítio cirúrgico devido à exposição do paciente no momento da cirurgia. Este tipo de infecção ocorre até o trigésimo dia do pós-operatório, ou até um ano quando existe a necessidade de implante de próteses (MACHADO, 2006). A contaminação por bactérias presentes no ar são as principais causas de infecção em sítio cirúrgico (MANGRAM et al., 1999; RUI; GUANGBEI; JHONG, 2008), constituindo uma das

26 principais causas de complicações pós-operatórias, contribuindo para aumento de 60% no período de internação (OLIVEIRA; CIOSAK, 2007). Em estudo realizado no estado de São Paulo com 357 pacientes que realizaram procedimentos cirúrgicos no trato digestivo, foram identificados 64 casos de infecções de sítio cirúrgico (18% dos pacientes). Estes índices confirmam outros estudos de Tortora; Funke; Case (2005), que apontavam a infecção de sítio cirúrgico (ISC) como a segunda causa de infecção hospitalar (OLIVEIRA; CIOSAK, 2007). Os centros de terapia intensiva são unidades desenvolvidas para atenção e suporte de vida a pacientes críticos, com falências orgânicas graves, que necessitam de monitoração intensiva. Tais centros, que constituem níveis de atendimento à saúde de alta complexibilidade, atuam de forma decisiva, fornecendo o tratamento apropriado quando existe instabilidade de órgãos e sistemas funcionais com risco de morte. As UTIs representam 10 a 15% dos leitos hospitalares, cuja demanda vem aumentando na última década (EGGIMANN; PITTET, 2001; CARVALHO, 2003). Nas unidades de terapia intensiva, existe elevada incidência de episódios de infecção hospitalar, devido ao uso de antimicrobianos e o surgimento de bactérias multiresistentes (CARVALHO, 2003). Os pacientes hospitalizados nas unidades de terapia intensiva encontram-se em situação de maior risco para adquirirem infecções hospitalares, pois estarão expostos aos microrganismos patogênicos quando são submetidos a procedimentos invasivos e equipamentos para suporte de vida (COUTO, 2000; CARVALHO, 2003). Eggimann e Pittet (2001) e Shuman e Ost (2005) relatam que as infecções ocorridas nas UTIs, representam 20 a 30% de todos os casos hospitalares. Em relação a outras unidades de internação dos hospitais, os pacientes de UTIs possuem risco cinco a dez vezes maior em adquirir infecções. Nas unidades de internação abertas, as infecções unitárias são as mais freqüentes, enquanto nas UTIs as do trato respiratório (COUTO; PEDROSA; NOGUEIRA; 2003; DAVID et al., 2004). Em conformidade com estes dados, o EPIC possui registro de que as unidades de terapia intensiva possuem altos índices de infecção hospitalar (22,6%). As bactérias grampositivas são os patógenos mais encontrados, sendo o estafilococos o de maior predomínio. Ressalta-se ainda o aumento de bactérias resistentes a antimicrobianos; o Staphylococcus aureus meticilino-resistente é responsável por 60% das infecções hospitalares em UTIs (DASCHNER, 1998).