Logo, se conclui que imputar é atribuir a responsabilidade de um fato a alguém que tenha condições de discernimento do seu ato.



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Conceito Em princípio, todos são responsáveis pelos seus atos e por suas condutas, devendo receber a devida sanção penal quando praticam atos tidos como criminosos. A exceção se dá com os inimputáveis, isto é, aqueles que não podem responder por suas ações ou omissões, pois lhes falta a capacidade de discernimento para entender o caráter ilícito do fato ou porque ainda não atingiram a plena capacidade para suportar os encargos de uma ação penal e uma futura condenação. É a responsabilidade do agente de responder pelo crime cometido. A isso se chama de imputabilidade, embora alguns prefiram distinguir os termos. Assim, os imputáveis respondem pelas consequências de suas condutas, enquanto os inimputáveis, em regra, não responderão, de acordo com sua incapacidade penal. A imputabilidade penal faz parte da culpabilidade, que é um dos pressupostos para a imposição da pena. Isto é, somente será imposta a pena se se constatarem as condições para que o agente responda por sua conduta. Logo, se conclui que imputar é atribuir a responsabilidade de um fato a alguém que tenha condições de discernimento do seu ato. Inimputabilidade A inimputabilidade penal decorre de alguns fatores específicos da culpabilidade, sendo prescrita nos artigos 26 ao 28 do Código Penal. Pelo artigo 26 do Código Penal 1 já dá para perceber que o legislador tratou de maneira diversa aquele que não tem qualquer tipo de entendimento sobre o caráter ilícito de sua conduta e aquele que possui o entendimento, embora compreenda de maneira incompleta. 1 Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- -se de acordo com esse entendimento. Redução da pena: Parágrafo Único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 95

Disso se conclui que temos três formas de aferir a capacidade do agente: Total: quando o agente era, à época do delito, totalmente capaz de entender o caráter criminoso do que realizou, responderá por sua conduta. É imputável. Parcial: quando o agente era, à época do delito, parcialmente capaz de entender o caráter criminoso do fato e/ou parcialmente capaz de determinar-se de acordo com esse entendimento, responderá como semi-imputável. Nula: quando o agente era, à época do delito, totalmente incapaz de entender o caráter criminoso do fato e/ou totalmente incapaz de determinar-se de acordo com esse entendimento, será irresponsável. É inimputável. Métodos, critérios ou sistemas de inimputabilidade Pode-se dizer que há três métodos, critérios ou sistemas destinados a aferir a inimputabilidade do agente, quanto ao seu desenvolvimento mental. O primeiro é o biológico ou etiológico no sentido de que basta a existência da doença mental ou anomalia psíquica para se tornar inimputável, retirando-se o segundo elemento da inimputabilidade, que é a autodeterminação (libertas consilii). Tal critério é totalmente falho. O segundo critério é o psicológico, no sentido de que se verificam as condições pessoais do agente, afastando-se qualquer indagação a respeito da existência de doença mental ou de distúrbio psíquico patológico (libertas judicii). Tal critério também é totalmente desprezível e afastável. O terceiro, que é o aceito pelo Código Penal, é o biopsicológico ou biopsicológico normativo ou misto, sendo aquele que necessita indagar se, ao tempo da ação ou omissão, o agente não possuía condições de entender sua conduta porque estava privado do sentido biológico ou etiológico (libertas consilii) e, também, porque não detinha o elemento psicológico (libertas judicii) para compreender o sentido de sua atitude. 96

Elementos que compõem a inimputabilidade Imputabilidade penal A lei fala em doença mental, que é uma expressão vaga e imprecisa, abrangendo todo o tipo de alterações mórbidas da saúde do agente, sendo que essas doenças podem ser orgânicas (paralisia progressiva, sífilis cerebral, tumores cerebrais etc.), tóxicas (psicose alcoólica, psicose proveniente da ingestão de drogas, lícitas ou ilícitas) e funcionais (psicose senil etc.). No entanto, em todos os casos dependerá sempre de comprovação pericial, nos termos do artigo 149 do CPP 2, como psicoses funcionais, psicoses maníacodepressivas, epilepsia, sífilis cerebral, arteriosclerose cerebral, psicose alcoólica, paralisia progressiva etc. De outro lado, a lei fala em desenvolvimento mental incompleto, no qual devem ser considerados aqueles que não conseguiram atingir a maturidade penal, especialmente os menores de 18 (dezoito) anos, que são objeto de dispositivo penal próprio (CP, art. 27). Porém, os silvícolas, não adaptados ao meio social urbano, ou seja, à civilização, também entram nessa categoria, assim como os surdos-mudos que não receberam educação ou instrução suficiente, chegando a interferir na libertas judicii. A lei complementa-se com o desenvolvimento mental retardado, que são aqueles que possuem um estado mental oligofrênico, como a debilidade mental, imbecilidade e idiotia, incapazes de entender o caráter ilícito do fato. Aproxima-se esse conceito do conceito de doente mental. Os efeitos de um e de outro são idênticos. 2 Dispõe o Código de Processo Penal do exame de insanidade mental do acusado, nos artigos 149 ao 154. Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja esta submetido a exame médico-legal. 1.º O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente. 2.º O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento. Momento da aferição da imputabilidade A inimputabilidade penal deverá ser aferida no momento em que o agente pratica a conduta (ação ou omissão), eis que a lei penal diz, era, ao tempo da ação ou da omissão. São os peritos judiciais que dirão se o agente tinha, naquele momento, condições de verificar a faculdade de entender (libertas judicii) e, se tinha essa primeira faculdade, se possuía, também, a faculdade de autodeterminar-se (libertas consilli). Poderá ocorrer situação em que o agente se coloque, propositadamente, em situação em que não deseje responder pela ação ou omissão, mas 97

sua conduta seja premeditada ou desejada, advindo o resultado. O exemplo clássico é do vigia que, à noite, cônscio da ação planejada por larápios para a subtração da empresa, embriaga-se para dormir profundamente, deixando de acionar o alarme quando o prédio é invadido. Assim, de nada valerá a argumentação da actiones liberae in causa, sive ad libertatem relatae (ações livres em sua causa), respondendo o vigia pelo delito. 3 Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração, o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o 2.º do art. 149. 1.º O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro estabelecimento adequado. 2.º O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença. Se o agente vier a adquirir a doença mental ou alguma patologia mencionada durante o curso do processo criminal o juiz deverá suspender o andamento do processo, até que o acusado se restabeleça, tudo conforme o artigo 152 do Código de Processo Penal. 3 Consequências da inimputabilidade penal Se o fato criminoso foi produzido por uma pessoa que não tem condições de entender o caráter ilícito de sua conduta, a consequência natural é a absolvição do agente, eis que falece um dos elementos que compõem a estrutura do tipo penal, qual seja, falta a culpabilidade. Mas, quando o fato for punível com reclusão, o juiz determinará sua internação (CP, art. 97, caput, 1.ª parte). Se o crime for punido com detenção, poderá o agente ser submetido a tratamento ambulatorial. Da culpabilidade diminuída Quando se trata de semi-imputabilidade, nos termos do parágrafo único do artigo 26 do CP, não há a total inimputabilidade penal, o agente, nesse caso, possui uma perturbação de sua saúde mental ou possui desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Mantém o agente um pouco do seu discernimento e a capacidade de entender o caráter ilícito do fato, pois também mantém uma parte da sua capacidade intelectiva. Não é o caso de absolvição. Será o caso de condenação, com a possibilidade de ter sua pena reduzida de um a dois terços. Ademais, o semi-imputável não está obrigado à internação, eis que poderá ser submetido a tratamento ambulatorial, conforme está disposto no artigo 98 do Código Penal. 98

Menores de dezoito anos Imputabilidade penal Ao contrário de inúmeros países que tratam da maioridade penal, o Brasil elevou ao plano constitucional o limite de responsabilidade penal ao estabelecer, no artigo 228 da Constituição Federal, a inimputabilidade penal 4. Tal preceito já existia no artigo 23 do Código Penal de 1940 e manteve-se a mesma disposição na Parte Geral com a reforma do Código Penal de 1984 5. Alguns países consagram outras idades para a responsabilidade penal, verbi gratia, Grécia, Malásia (17 anos), Filipinas, Israel (16 anos), Índia, Honduras, Síria, Iraque (15 anos). Porém, a grande maioria prefere os 18 anos, como Argentina, Holanda, França, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, México, Uruguai e Noruega. A Inglaterra não mais utiliza o critério de idade fixa, podendo aplicar penas severas àqueles que cometeram crimes graves. 4 Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. 5 Art. 27. Os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Diferença entre maioridade civil e penal Há necessidade de se diferenciar a maioridade civil da maioridade penal, eis que, nem todo maior civil tem maioridade penal, embora todo maior penal tem, no mínimo, a relativa maioridade. É importante observar que alguém pode contrair matrimônio com idades inferiores a 18 (dezoito) anos: 17, 16, 15, 14 ou 13, ou até menos do que isso, dependendo da realidade local de cada ponto do Brasil. Porém, não é o fato da pessoa ter adquirido a maioridade civil, pelo casamento, por exemplo, que a torna apta a suportar os percalços de uma persecução criminal. Mesmo casado, o menor com 16 (dezesseis) anos, por exemplo, continuará sendo inimputável para a legislação penal e constitucional. Curiosamente, o jovem entre 16 e 18 anos pode eleger o presidente da República; poderá até ajuizar ação popular contra ele, contra o governador, contra o prefeito etc. Basta apresentar prova de que é cidadão, ou seja, eleitor, com todos os seus direitos políticos em dia. Porém, não poderá ser responsabilizado criminalmente. O jovem nessa mesma idade pode comerciar, porém, não pode sofrer condenação criminal, caso tenha sua falência decretada, posto que não tem maturidade suficiente para entender o caráter ilícito de sua conduta. 99

Diante disso, tem ele capacidade para ser eleitor, para se casar, para exercer o comércio etc., porém, não poderá responder pelos seus atos criminosos. Ficará sujeito ao estatuído pela Lei Federal 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente ECA). Contagem da idade penal O jovem poderá ser sujeito à prática da conduta exatamente a partir do primeiro minuto do dia em que completar os 18 (dezoito) anos de idade, independentemente do horário em que o mesmo tenha nascido. Essa idade segue a regra do artigo 10 do Código Penal, não do Código Civil. Exemplo: supondo que o menor tenha nascido no dia 10 de maio de 1980, às 23h00, no dia 10 de maio de 1998, às 10h00, no pátio da escola, esfaqueia um desafeto, matando-o. Responderá ele pela sua conduta, independentemente de ter completado, efetivamente, os 18 anos. Outro exemplo: um menor nascido em 10 de maio de 1981, à 00h10, no dia 09 de maio de 1999, às 23h58, quando estava próximo de completar os 18 anos, esfaqueia um desafeto, o qual é socorrido, sendo levado ao hospital, onde é operado, porém, vem a falecer no dia 12 de maio de 1999, quando o agente já tinha completado os 18 anos. Nesse caso, resolver-se-á pela regra do artigo 4.º do Código Penal, valendo o momento da conduta. Nesse momento o agente era considerado inimputável e, portanto, não responderá pela sua conduta. 6 Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal: I - a emoção ou a paixão; Embriaguez: II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. 1.º É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- -se de acordo com esse entendimento. 2.º A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Emoção e paixão e a embriaguez Pela regra do artigo 28 do Código Penal 6 não há a exclusão do crime, seja pela emoção, seja pela paixão e, muito menos, pela embriaguez, seja ela voluntária ou culposa. Emoção e paixão A emoção é o estado afetivo atual, forte, produzido de maneira repentina e violenta, perturbando o estado de espírito do agente, desestabilizando o equilíbrio psíquico da pessoa humana. Na emoção há uma fase aguda e de curta duração, um rompante do espírito. Exemplos de emoção são a alegria, a vergonha, a raiva, o medo, a surpresa, a coragem etc. A paixão é o estado afetivo mais profundo e duradouro, que perdura por um tempo maior como se se tratasse de uma força interior estável, guar- 100

dada e constantemente lembrada, que muitas vezes leva o agente à prática da conduta criminosa. Na paixão há uma exacerbação crônica e estável. São exemplos clássicos de paixões o amor e o ódio, duas faces do mesmo indivíduo, caracterizadores muitas vezes dos crimes mais nefandos. Aquele mesmo indivíduo que ama fervorosamente sua mulher a mata violentamente, produzindo-lhe os mais graves e retumbantes golpes. A cupidez, a ambição, o patriotismo, a piedade e a inveja são facetas da mesma história de paixão. Seja uma emoção passageira e momentânea, seja uma paixão duradoura e profunda, tanto num caso como no outro não haverá a exclusão da imputabilidade penal. Divisão das paixões Os positivistas dividem as paixões de forma a demonstrar o grau de cada uma, embora todas sejam penalmente irrelevantes. São paixões sociais o amor, a piedade, o patriotismo etc. São paixões antissociais o ódio, a inveja, a ambição, a raiva etc. Frise-se, somente haverá possibilidade de alguém ser declarado inimputável na hipótese do agente sofrer de um estado patológico, quando então enquadrar-se-á nas hipóteses do artigo 26 do Código Penal. Jamais se excluirá a condenação sobre o argumento vil e tosco de uma paixão ou emoção. Redução da pena no caso de emoção De outro lado, a nossa legislação não deixou de contemplar situações em que a emoção se torne motivo de redução de pena, como se vê nos artigos 121, 1.º e 129, 4.º do Código Penal, desde que, aliado à emoção, esta tenha sido violenta, ou seja, intransponível, insubstituível. Além disso, é necessário, ainda, que tenha existido injusta provocação da vítima. Sem que esse binômio se encontre presente, não se poderá falar em violenta emoção. Embriaguez Dispõe a lei penal, claramente, que não se excluirá a imputabilidade penal quando o agente tiver cometido o crime valendo-se de embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. Porém, 101

poderá haver isenção ou redução, quando se tratar das hipóteses previstas nos 1.º e 2.º do mesmo artigo 28 do Código Penal. Como se sabe, a embriaguez é a intoxicação aguda e transitória provocada pelo álcool ou substâncias de efeitos análogos que privam o agente de sua capacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta. A embriaguez decorre de três situações diversas, que a lei prevê, dando a cada uma definição própria e sua correspondente qualificação. A primeira forma de embriaguez é a voluntária ou culposa. O agente, por livre e espontânea vontade, embriaga-se, não necessariamente para cometer crime, mas pratica o delito depois de ingerir bebidas alcoólicas. O agente que desejava apenas beber, e se excedeu, ou quis beber somente para embriagar-se e, depois, pratica uma conduta criminosa, responderá pela conduta, posto que o agente se colocou sponte sua na condição de ébrio. A segunda forma de embriaguez é a preordenada, para o fim de cometer crimes. Aquele agente que não tem a coragem necessária de praticar uma conduta encoraja-se na bebida, vindo a praticar o crime. Nesse caso, sua conduta é penalmente relevante e não haverá qualquer beneplácito. A terceira forma de embriaguez é a embriaguez acidental ou fortuita, onde o agente não quer embriagar-se ou não fica embriagado porque deseja. A embriaguez decorre do caso fortuito ou do motivo de força maior. Não podem responder pela conduta aqueles que deixam de agir num caso fortuito, ou por motivo de força maior. Por caso fortuito entenda-se como aquilo que não é previsível, quando não seja ele inevitável, aquilo que se aproxima sem ser esperado, algo que não se pode presumir. Tudo que seja estranho à vontade do homem e que este não pode impedir, tendo, como exemplo, o fato da pessoa ser extremamente sensível aos efeitos do álcool e acaba por ingerir um determinado líquido que contém álcool, sem o saber. Já o motivo de força maior é aquele em que o agente não tem condições de se desvencilhar para a realização de uma ação ou omissão. Um exemplo clássico é a coação física irresistível. Se a coação for resistível, servirá apenas como forma de diminuição da pena, nos termos do artigo 65, III, c do Código Penal. Ambas são circunstâncias que tornam a ação ou omissão atípicas perante o direito. São os chamados casus, que interferem diretamente na formação 102

da culpabilidade do autor do delito. Porém, não basta que o agente alegue que embriagou-se, para tentar excluir a imputabilidade. É obrigatório e decorre da nossa lei que o agente fique num estado de embriaguez completa. Tratando-se de embriaguez fortuita incompleta, na qual o agente, ao tempo do crime, tem plena capacidade de entendimento e autodeterminação, há imputabilidade pela existência ainda dessa possibilidade de entender e querer. Como o agente continua com a capacidade de entender e querer, porém, diminuída, pode o juiz operar uma redução da pena de um a dois terços (CP, art. 28, 2.º). A Lei das Contravenções Penais pune, no artigo 62, o fato de apresentar- -se alguém, publicamente, em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia. Se, porém, houver crime e contravenção, estará esta absorvida pelo crime. Questões para debates 1. Discrimine as formas de imputabilidade penal. 2. Qual é a solução para o caso de reconhecimento de semi-imputabilidade penal? 3. Distinga a emoção da paixão. 4. Em que condições não se reconhece a punibilidade pela embriaguez? 5. Distinga a diferença da embriaguez que se dá por força maior e caso fortuito. Atividades de aplicação 1. (Cespe) Acerca do direito penal, julgue o item subsequente. Nos termos do Código Penal, é inimputável aquele que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento. 2. (Cespe) Tarso, embriagado, colidiu o veículo que dirigia, vindo a lesionar gravemente uma pessoa. Nessa situação hipotética, a respeito da imputabilidade penal de Tarso, assinale a opção correta. 103

a) Pela teoria da actio libera in causa, Tarso não poderá responder pelo crime, pois não era capaz de se autodeterminar no momento da ação criminosa. b) A responsabilidade de Tarso depende de a embriaguez ser voluntária ou culposa. c) Caso a embriaguez de Tarso tenha sido preordenada, ele responderá pelo crime, mas de forma atenuada. d) Caso seja comprovado que Tarso sofre da doença do alcoolismo, sua pena será apenas o tratamento médico. e) Se Tarso estava completamente embriagado por ter sido obrigado a ingerir uma garrafa inteira de uísque por um desafeto seu, que lhe apontava uma arma e intencionava humilhá-lo, então, nesse caso, Tarso será isento de pena. 3. (Cespe) Quanto à culpabilidade e à imputabilidade penal, julgue o próximo item. Considere a seguinte situação hipotética. Em uma festividade de calouros de determinada faculdade, João foi obrigado, por vários veteranos, mediante coação física, a ingerir grande quantidade de bebida alcoólica, ficando completamente embriagado, uma vez que não tinha costume de tomar bebida com álcool. Nesse estado, João praticou lesões corporais e atentado violento ao pudor contra uma colega que também estava na festa. Nessa situação, trata-se de embriaguez acidental decorrente de força maior, devendo ser excluída a imputabilidade de João, que fica isento de pena pelos delitos que praticou. Dica de estudo Observar que a imputabilidade penal é diferente da maioridade civil. Lembrar que a inimputabilidade pode ser completa ou incompleta. No primeiro caso, é caso de absolvição do agente, com aplicação de medida de segurança, enquanto que no segundo haverá a aplicação de pena, reduzida, podendo ser cumulada com outra medida qualquer. 104

Referências FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1986. GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Volume 1, Tomo I. 4. ed. São Paulo: Ed. Max Limonad, 1958. HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Volume 1, Tomo I. Rio de Janeiro: Forense, 1953. JESUS, Damasio Evangelista de. Direito Penal. Volume I, Parte Geral. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. MAGALHÃES NORONHA, Edgard de. Direito Penal. Volume I. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1963. MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller, 1997. MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2008. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume I, Parte Geral, arts. 1.º a 120. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal Parte General. Buenos Aires: Ediar, 1977. Gabarito Questões para debates 1. A imputabilidade penal é a capacidade que cada agente tem de responder pela sua conduta penalmente considerada como crime ou contravenção penal. Ela começa aos 18 anos quando se tratar de pessoa física. 2. Quando houver o reconhecimento de semi-imputabilidade penal o juiz deverá condenar o agente, mas com redução de pena, determinando a aplicação de alguma medida de segurança, quando se tratar de crime apenado com reclusão, ou se o fato for punido com detenção apenas submetê-lo a tratamento ambulatorial. 105

3. A emoção é menos intensa que a paixão. Na emoção há um estado afetivo atual, forte, produzido de maneira repentina e violenta, perturbando o estado de espírito do agente, desestabilizando o equilíbrio psíquico da pessoa humana. Na emoção há uma fase aguda e de curta duração, um rompante do espírito. Exemplos de emoção, a alegria, a vergonha, a raiva, o medo, a surpresa, a coragem etc. Já na paixão há um estado afetivo mais profundo e duradouro, que perdura por um tempo maior como se se tratasse de uma força interior estável, guardada e constantemente lembrada, que muitas vezes leva o agente à prática da conduta criminosa. Na paixão há uma exacerbação crônica e estável. São exemplos clássicos de paixões o amor e o ódio, a cupidez, a ambição, o patriotismo, a piedade, a inveja etc. 4. Não se reconhece a punibilidade pela embriaguez quando se tratar de embriaguez acidental, ou fortuita, ou seja, quando o agente não quer embriagar-se ou nem fica embriagado porque deseja, decorrendo de caso fortuito ou de motivo de força maior. 5. A embriaguez que se dá por caso fortuito é quando não é ela previsível, quando não seja inevitável, ou seja, não era esperado, algo que não se pode presumir. Exemplo é o fato da pessoa ser extremamente sensível aos efeitos do álcool e acaba por ingerir um determinado líquido que contém álcool, sem o saber. Ocorre o motivo de força maior quando o agente não tem condições de se desvencilhar para a realização de uma ação ou omissão. Um exemplo é a coação física irresistível, onde o agente é obrigado a ingerir bebida alcoólica com um revólver apontado para si. Gabarito Atividades de aplicação 1. Certo 2. E 3. Certo 106