Eliane Patricia Grandini Serrano (PG UNESP/Araraquara Bolsa CAPES)

Documentos relacionados
SEMIÓTICA DA IMAGEM PERCURSO DE ANÁLISE

TÍTULO: O INTELIGÍVEL E O SENSÍVEL EM ENTRE AS LINHAS DE SÉRGIO SANT ANNA.UMA ABORDAGEM SEMIÓTICA

CONSTRUÇÃO DA IRONIA EM TIRINHAS POR SUA UNIDADE DE SENTIDO

Semiótica visual: a função poética na fotografia das mãos sobre a planta

A DEFESA DA INTERNET COMO DIREITO FUNDAMENTAL AOS JOVENS

A CONSTRUÇÃO DA ACTANTE TARPÉIA EM TITO LÍVIO PROPÉRCIO, UM ESTUDO COMPARATIVO Prof. Me. Marco Antonio Abrantes de Barros Godoi (UERJ)

PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO E GÊNEROS TEXTUAIS NO ENSINO: UM OLHAR SEMIÓTICO

SEMIÓTICA, INTERTEXTUALIDADE E INTERDISCURSIVIDADE. 3º. Encontro

Entre as diferentes teorias que observam as manifestações sensíveis disponíveis na sociedade, a Semiótica parece ser a mais complexa delas

A PRÁTICA LITERÁRIA E A ANÁLISE DISCURSIVA NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS

ASCESE-MORTE VERSUS PRAZER-VIDA NO CARME 5 DE CATULO: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA. Prof. Me. Marco Antonio Abrantes de Barro (UERJ)

PIETROFORTE, A. V. S. O sincretismo entre as semiótica verbal e visual. Revista Intercâmbio, volume XV. São Paulo: LAEL/PUC-SP, ISSN X, 2006.

NÃO É TUDO PRETO NO BRANCO

CONTAR UMA HISTÓRIA É DAR UM PRESENTE DE AMOR.

A SEMIÓTICA NA PROPAGANDA POLÍTICA BRASILEIRA Miguél Eugênio Almeida (UEMS)

Semiótica do discurso científico: um estudo sobre novas perspectivas para a análise documental de conteúdo

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Prêmio Expocom 2009 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

O PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO APLICADO À ANÁLISE DE LETRAS DE CANÇÃO DE PROTESTO NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL ( )

A NARRATIVIZAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA À LUZ DA SEMIÓTICA: A FRONTERA IDENTITÁRIA DE GLORIA ANZALDÚA

Os Meandros da Análise Semiótica de Texto Publicitário 1. Valdirene Pereira da Conceição 2 Universidade Federal do Maranhão UFMA

Ementas das Disciplinas CURSO DE ESCRITA CRIATIVA

Narrativa: Elementos Estruturais (1)

O PAPEL DO ENSINO ESCOLAR E OS CONFLITOS DE IDEOLOGIA

A EDUCAÇÃO ESCOLAR CHARGEADA, UM PERCURSO DO RE(S)SENTIDO

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Artefatos culturais e educação...

ESTUDOS AVANÇADOS Em Arte Visual

Evento online: Uma análise semiótica

Juliano Desiderato ANTONIO*

UMA LEITURA SEMIÓTICA DE A ÚLTIMA CRÔNICA DE FERNANDO SABINO

Qual Garoto? : A Utilização da Ambiguidade no Anúncio Publicitário 1. Cleiton Marx CARDOSO. Lucas MEDES

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER EM UM PERCURSO HISTÓRICO NAS CAPAS DA REVISTA CAPRICHO.

H003 Compreender a importância de se sentir inserido na cultura escrita, possibilitando usufruir de seus benefícios.

A REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO NA CULTURA DOS CORDÉIS

Um olhar semiótico sobre as várias maneiras de desenhar um cubo

Miguel Eugênio Almeida (UEMS)

Linguagem como Interlocução em Portos de Passagem

Análise de software. 1 o software analisado: Workshop Vila Sésamo

OS DISCURSOS CORPORAIS CONSTRUÍDOS NA MODA

Como vimos, as dimensões semióticas da imagem são estabelecidas em:

Linguagem e Ideologia

Critérios de Avaliação de Educação Artística - 1º ano Ano letivo: 2018/2019

Introdução à Direção de Arte

As produções de sentido em A Gazeta na Sala de Aula 1. Marilene Lemos Mattos Salles 2 Faculdades Integradas São Pedro FAESA

Não Me Pergunte Por Quê

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. Plano de Ensino

B Características sensoriais e mentais que constituem o raciocínio nos processos de expressão gráfica.

Anais do 14º Encontro Científico Cultural Interinstitucional ISSN

TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

série GRUPO II Competências para realizar GRUPO III Competências para compreender GRUPO I Competências para observar

Primeiridade, Secundidadee Terceiridade. Charles Sanders Peirce

A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS. Patrícia Cugler 1 Nathalia Azevedo 2, Lucas Alencar, Margareth Mara 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. Plano de Ensino

A Moda na Imprensa: percursos da manipulação

OS METAPLASMOS NO GÊNERO TEXTUAL CHARGE

Critérios Específicos de Avaliação do 1º ano Educação Artística Artes Visuais Domínios Descritores Instrumentos de Avaliação

Ficha de acompanhamento da aprendizagem

CELM. Linguagem, discurso e texto. Professora Corina de Sá Leitão Amorim. Natal, 29 de janeiro de 2010

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE EXPRESSÕES ARTÍSTICAS E FÍSICO MOTORAS (1.º ano/1.ºciclo)

ANÁLISE SEMIÓTICA: CAMPANHA PUBLICITÁRIA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE NO COMBATE À DENGUE

A REPRESENTAÇÃO GRÁFICA: A LINGUAGEM DO MAPA. Prof. Clésio

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO 1.º CEB - 2.º ANO Ano Letivo de 2018/2019

A ESTRUTURA COMPOSICIONAL DA SENTENÇA JUDICIAL CONDENATÓRIA: PLANOS DE TEXTOS E AS SEQUÊNCIAS TEXTUAIS

Foi Ela/Ele Que Começou

Figuratividade, narratividade e linguagem: análise semiótica da narrativa interativa Framed 1

PALAVRAS-CHAVE: semiótica, comodificação, percurso gerativo, sobrecapa publicitária.

Descrição da Escala Língua Portuguesa - 5 o ano EF

L ngua Portuguesa INTRODUÇÃO

DISCIPLINA: PORTUGUÊS

Análise do percurso gerativo de sentido no conto Um Apólogo de Machado de Assis

A LITERATURA COMO PRODUÇÃO DE SENTIDOS: UMA ANÁLISE DO CONTO FITA VERDE NO CABELO: NOVA VELHA ESTÓRIA DE GUIMARÃES ROSA

3º ANO 4º ANO PRODUÇÃO TEXTUAL 4. BIMESTRE / 2018 PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL

Introdução 1 Língua, Variação e Preconceito Linguístico 1 Linguagem 2 Língua 3 Sistema 4 Norma 5 Português brasileiro 6 Variedades linguísticas 6.

- Página 3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Já nos primeiros anos de vida, instala-se a relação da criança com o conhecimento

ITINERÁRIO DE CONTEÚDOS 2017/2018

SEMIÓTICA VISUAL: A FUNÇÃO POÉTICA NA FOTOGRAFIA DAS MÃOS SOBRE A PLANTA RESUMO. Nome do Autor: Irene Zanette de Castañeda

1º PERÍODO (Aulas Previstas: 64)

O Percurso Gerativo de Sentido e a prática cinematográfica1

UMA BREVE ANÁLISE DO PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO EM UMA TIRA DE MAGALI

uma vez... não era não era uma vez... contos clássicos recontados REcontados clássicos contos projeto pedagógico

Metas de aprendizagem Conteúdos Período

ESTESIA E CINESTESIA

FILOSOFIA e LITERATURA um tema e duas perspetivas. Fernanda Henriques Capela do Rato 2018

ITINERÁRIO DE CONTEÚDOS 12ºAV 2018/2019

Professora: Daniela 5 ano A

Sumário. Introdução, 1. 1 Português jurídico, 5 1 Linguagem, sistema, língua e norma, 5 2 Níveis de linguagem, 11 Exercícios, 24

CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE AVALIAÇÃO DO 1.º CICLO

A semiótica e princípios da construção teatral

Síntese da Planificação da Área de Português - 1º Ano

U F R N. Instruções. Identificação do Candidato. Discursiva > 1º. 3. Escreva as respostas e os rascunhos com a caneta entregue

Quando a ideologia vem à tona: elementos do nível discursivo no texto publicitário 1

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO 1.º CEB - 1.º ANO Ano Letivo de 2018/2019

Descrição da Escala Língua Portuguesa - 7 o ano EF

APRENDENDO A LER NO MUNDO ENCANTADO DE OZ. Projeto PIBID Curso: Pedagogia Fundação Educacional de Fernandópolis

PLANIFICAÇÕES 2º Ano. Titulares de Turma de 2.º Ano

OS SENTIDOS DA GESTUALIDADE: TRANSPOSIÇÂO E REPRESENTAÇÃO GESTUAL SENSES OF GESTURAL LANGUAGE: GESTURAL TRANSPOSITION AND REPRESENTATION

Vânia Warwar Archanjo Moreira 2, José Bernardo de Azevedo Junior 3

o menino transparente

Transcrição:

1 A IMAGEM DO IMAGINÁRIO EM O MENINO QUE ESPIAVA PRA DENTRO SOB A PERSPECTIVA SEMIÓTICA (THE IMAGINE OF THE IMAGINARY IN O MENINO QUE ESPIAVA PRA DENTRO UNDER A SEMIOTIC PERSPECTIVE) Eliane Patricia Grandini Serrano (PG UNESP/Araraquara Bolsa CAPES) ABSTRACT: This study aims develop a semiotical analysis based on some narrative schemes found in the visual images contained in a book could O menino que espiava pra dentro, by Ana Maria Machado. KEYWORDS: text; visual text; image; ilustration; semiotic. FICHA TÉCNICA O menino que espiava pra dentro por Ana Maria Machado ilustrações de Flávia Savari Rio de Janeiro/Nova Fronteira, 1983. Atualmente, o código verbal vem sendo largamente amparado pelo código visual, ou seja, o imagético vem ganhando espaço em muitos textos literários, publicitários, televisivos, jornalísticos, musicais, etc. Isso deve-se ao fato de que pela imagem é possível comunicar a mensagem, com diferentes sentidos, a um número maior de leitores, já que esta é uma linguagem universal. Na literatura infanto-juvenil, as ilustrações assumem um papel tão importante quanto o do texto verbal. O texto visual garante o suporte necessário ao texto verbal, com suas representações que comunicam amplamente a mensagem e ainda produz efeitos de sentidos pelos quais a Semiótica mantém um interesse particular. O livro O menino que espiava pra dentro de Ana Maria Machado é um texto vastamente ilustrado por Flávia Savari, possui vinte e oito páginas e as ilustrações estão em vinte e quatro delas e ainda há a capa. São dois textos, o que constitui dois discursos de naturezas diferentes, um verbal e outro visual. A análise desses textos se aprofundará no visual através de uma leitura semiótica. Pode-se, ainda, pensar em um terceiro texto que seria aquele produzido pelo receptor-leitor que, no processo de uma decodificação dinâmica, produz outro sentido. Os desenhos de Flávia Savari não estão separados do texto verbal, estão inseridos nele, e em uma relação de simultaneidade recupera, através das imagens, toda a narrativa enunciada; a do contador da história e do personagem, provocando dois discursos em contextos produtivos diferentes. O do narrador situa-se no real; o do personagem, no imaginário. As cores registram tais diferenças: a daquele com ausência de cor, e desse com o colorido.

2 Jean Marie Floch (1985), ressalta a presença da semiótica plástica na linguagem publicitária e desenvolve a análise de uma propaganda, articulando diversos elementos como jogos de contrastes ou de rítmos, tratamento cromático, gráfico, análise de formantes do discurso profundo do enunciado, discurso tímico e outros. Através do texto de Floch pode-se perceber que todo texto visual (publicidade, desenho, pintura, etc) pode ser interpretado à luz de uma semiótica plástica. As ilustrações de O menino de espiava pra dentro são textos visuais que possibilitam tal estudo, visto que são formas plásticas determinantes da significação textual; assim, elas podem ser estudadas separadamente do texto verbal e justificar, segundo Floch, o estudo das qualidades visuais como qualidades de expressão (p.154). O efeito de sentido provocado pelos desenhos do livro é sistematizado principalmente pela composição cromática organizada pelo contraste de cor e não cor. Este tipo de organização denota ao texto um caráter dinâmico de leitura, pois determina situações cromáticas diferenciadas nos momentos narrativos do real e do imaginário, que reafirmam a dupla focalização: uma do sujeito da enunciação e outra do sujeito enunciado. Os dois modos de ver que aparecem no livro são cromaticamente diferenciados, o primeiro é sempre representado por um desenho sem cor e o segundo sempre colorido, constituindo, dessa maneira, o caráter tímico do texto. A visão do enunciador sempre ligada à realidade remete à um estado disfórico e a visão do enunciatário apresentada por desenhos coloridos revelam estados eufóricos relacionados ao mundo do sonho, da fantasia. As área coloridas ou não, colocadas em contraste durante todo o livro, são as marcas sensíveis do plano da expressão que se manifestam e garantem a produção de sentido podendo ser representado pelo percurso gerativo da significação (Floch, 1985, p.194). O percurso gerativo vai contribuir para a melhor compreensão de como o efeito de sentido é organizado dentro do texto. Floch, em suas análises, utiliza-se do modelo semiótico oferecido por A.J. Greimas que, propõe uma análise estrutural, e mostra as diferentes camadas do texto: as estruturas discursivas e as semio-narrativas. Essas estruturas podem ser dividas em três níveis: 1- fundamental ou profundo, 2- narrativo, 3-discursivo. O profundo e o narrativo estão dentro da camada semio-narrativa e são invariantes; o discursivo pertence à estrutura discursiva que em qualquer texto pode ser variável Atualmente, a semiótica tem se preocupado em buscar, principalmente, os programas narrativos de base que estão dentro da estrutura semio-narrativa do texto através da manipulação, da competência, da performance e da sanção; já que a narratividade é uma característica humana, visto que o homem tem a necessidade de narrativizar o mundo para melhor compreendê-lo. Este trabalho limitou-se a buscar somente esquemas narrativos em que evidenciassem a transformação de estado do sujeito, através das ilustrações do livro O menino que espiava pra dentro. No enunciado elementar do texto: Lucas quer ficar olhando pra dentro para sempre; há o S O e depois do percurso do sujeito, que busca a transformação, tem-se S O. Este enunciado é visualmente percebido na página que apresenta um diálogo imaginário de Lucas com seu amigo Tatá, o desenho colorido de Lucas, verbalizando a vontade do menino, é transformado pelo diálogo com seu amigo que

3 pondera a questão do tempo em que Lucas pretende ficar no mundo imaginário, ou seja pondera que para sempre é tempo demais. Lucas concorda, e resolve passar um tempo determinado. Neste texto, podem ser encontrados diversos Programas Narrativos, porém serão vistos apenas três deles: o PN1 do sujeito partindo em busca do mundo imaginário; PN2 do sujeito voltando para o mundo real e o PN3 do adjuvante, que está diretamente ligado ao PN2. PN1: a)manipulação: Lucas manipula a avó os pais e consegue por em prática seu plano de se transportar para o mundo imaginário; consegue uma maçã, engasga e começa sua viagem pra dentro. b)competência: Lucas possui o saber para conseguir o objeto modal (maçã) e adquire o poder. c)performance: Com o poder adquirido pelo objeto modal, Lucas realiza a ação e transporta-se para o mundo de sonhos. d)sanção: Este percurso da viagem pra dentro obteve uma sanção positiva, Lucas viu muitas coisas pra dentro. PN2: a)manipulação: Aqui começa o PN do adjuvante. Lucas está sozinho, e não tem ninguém para manipular e conseguir sair do mundo de dentro. b)competência: Lucas possui o saber, ele sabe que se alguém lhe desse um beijo ele acordaria; porém, não possui o poder. c)performance: O sujeito realiza a ação. Lucas consegue voltar para o mundo real com a ajuda do adjuvante que é a sua mãe. d)sanção: Se encontra com a sanção positiva do adjuvante. PN3: (Do adjuvante que dá competência ao Sujeito) a)manipulação: A mãe de Lucas possui o dever. Ela deve acordá-lo para a realidade. b)competência: A mãe possui o saber e o poder para acordar o filho. c)performance: A mãe executa a ação: ajuda o sujeito. d)sanção: Positiva ( A mãe sanciona o sujeito que volta ao mundo real, porém o vê com outros olhos, há cor na realidade) (ilustração da página 25). Através desses Programas Narrativos é possível perceber uma sequência organizada das ações textuais que dão o efeito de sentido pressuposto no texto. Articulada em torno da performance do sujeito e da sua competência chega-se à relação sujeito/objeto que é a desencadeadora de toda narrativa. A partir do reconhecimento dessa relação principal, descobre-se também outras relações importantes para a identificação de efeito de sentido do texto: porém, é preciso chegar até a camada profunda, uma camada mais abstrata do que as outras pois articula elementos da significação textual através de dois tipos de relação: a contradição e a contrariedade. Assim, chega-se ao quadrado semiótico que é a representação, visual, das relações que entrelaçam os traços distintivos que constituem uma mesma categoria semântica, uma mesma estrutura. (Floch, 185, p.198)

4 Várias relações poderiam ser colocadas no quadrado semiótico, a partir da análise do livro O menino que espiava pra dentro, porém apenas uma delas será exemplificada. Entende-se que uma dessas relações centra-se na questão da euforia e disforia, onde num primeiro momento a visão do personagem Lucas é eufórica e do narrador disfórica: após a transformação do sujeito as visões também se transformam, ocorrendo o contrário e o contraditório nessas relações, que podem ser encontradas no quadrado semiótico. Foi visto que, através do texto visual, o caráter tímico pode ser percebido através da organização cromática das ilustrações: daí, surgem duas oposições que poderiam ser representadas visualmente pelo quadrado semiótico, da seguinte maneira: foria eufórico disfórico não-disfórico não-eufórico aforia Segundo Greimas (1979), a categoria tímica é motivada pelo sentido da palavra tímia (cf. grego thymós, disposição afetiva fundamental ) e serve para articular o semantismo diretamente ligado à percepção que o homem tem de seu própio corpo. A categoria tímica articula-se, por sua vez, em euforia/disforia, tendo aforia (estado de inconsciência) como termo neutro e foria (estado de consciência) como elemento complexo. Procurou-se, neste trabalho, mostrar a intensidade tímica do texto visual, considerando não apenas seus aspectos positivos e negativos, mas os estados de tensão do sujeito diante do enunciado posto. As tensões vividas (conflito com a realidade) pelo sujeito em relação ao objeto o levam a vivenciar um processo modal (transporte para um mundo imaginário) em que passa a adquirir certa competência para atingir o objeto valor (permanecer no mundo imaginário). Porém, ainda sob à luz da semiótica Greimasiana, onde a categoria tímica é primitiva, proprioceptiva, verificadora da sensação e reação do destinatário, ser vivo que, integrado num contexto, se transforma em um sistema de atrações e repulsões, diante de determinada mensagem. Como o sujeito de O menino que espiava pra dentro, que passou por estados de transformação. Quando sentiu-se atraído pelo mundo dos sonhos, seu estado foi de euforia, pela sensação de liberdade e prazer, o que é visto no enunciado; e, de disforia, pela sensação de mesmice da realidade. Todavia, ao permanecer por um tempo maior dentro de seu mundo interior, começou a emergir o estado disfórico daquela nova situação, o sujeito começou a perder-se a até mesmo a anular-se diante um mundo de sonhos sem repertórios novos. Repertórios esses conseguidos somente através de uma vida real; a partir daí, o sujeito resgata uma nova euforia diante da realidade e realiza seu programa narrativo fundindo o mundo real com o mundo imaginário.

5 RESUMO: Este artigo pretende desenvolver uma análise semiótica, através de alguns esquemas narrativos, encontrados nas ilustrações do livro O Menino que espiava pra dentro de Ana Maria Machado. PALAVRAS-CHAVE: texto; texto visual; imagem; ilustrações; semiótica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FLOCH, Jean-Marie. Petites mythologies de l oeil et de l esprit. Pour une sémiotique plastique. Editions Hadès-Benjamins. Paris-Amsterdam, 1985. GREIMAS, A.J./COURTÉS, J. Dicionário de Semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima e outros. Ed. Cultrix. São Paulo.1979. LOBO, Danilo. O inter-relacionamento entre textos e ilustrações nos livros de literatura infanto-juvenil. In: Itinerários - Revista de Literatura. N. 14. Faculdade de Ciências e Letras PósGraduação em Letras Estudos Literários. Araraquara SP, 1999. MACHADO, Ana Maria. O menino que espiava pra dentro. Ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro. 1983 SILVA. Ignácio Assis Silva. Figurativização e Metamorfose O Mito de Narciso. Ed. Unesp. São Paulo, 1995. WERNECK, R.Y. A importância da imagem nos livros, In: Laura C. Sandroni e Luiz Raul Machado. A criança e o livro: guia prático de estímulo à leitura. Ed. Ática, São Paulo,1991