QUINTAREALCAXIAS. Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Património Escultórico



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Transcrição:

QUINTAREALCAXIAS Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Património Escultórico

Ficha técnica da edição Título Quinta Real de Caxias Restauro do Património Escultórico Textos Carlos Beloto, Filomena Serrão, Filipa Thedim e Maria Isabel Soromenho Edição Câmara Municipal de Oeiras, 2009 Coordenação editorial GC/NC DPHM Catarina Miranda Design gráfico GC/NC Vera Elvas e Susana Ferreira Impressão ISBN 978-989-608-093-8 Depósito legal Agosto 2009 Ficha técnica da Intervenção de consolidação, restauro, moldagem e elaboração de cópia das esculturas Responsável Carlos Beloto (Prof. Coordenador de Conservação e Restauro do Instituto de Artes e Ofícios - Universidade Autónoma de Lisboa) Escultor Jorge Coelho Equipa - Hugo Miguel Leite de Oliveira, Magda Sofia Abrantes Gonzaga, Maria Manuel Agostinho de Sousa Ferro Barão, Raquel Carrelhas David de Albuquerque Emiliano, Daniel Wolter Martins e Teresa Raquel de Sousa Carvalho Pinto.

Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Patromónio Escultórico 03 Têm sido vários os aspectos através dos quais o município de Oeiras tem tido a oportunidade de se evidenciar, no contexto nacional e até fora de portas, tanto pela quantidade de iniciativas, quer pela qualidade das mesmas. Um deles, que ocupa há muito um lugar cimeiro no vasto e diverso âmbito de actuação da autarquia, é a recuperação do património histórico. E são múltiplos os exemplos. Vão da recuperação da emblemática Fábrica da Pólvora de Barcarena (porventura a maior já alguma vez realizada por um município deste país), à reabilitação e atribuição de novas valências do Palácio Anjos, em Algés, ou, muito recentemente, à recuperação do Palácio do Egipto, no centro histórico da vila de Oeiras. Destaco, ainda, os esforços que temos desenvolvido no sentido de se proceder a uma reabilitação integral de todo o espaço ocupado pela antiga Quinta do Marquês de Pombal, incluindo o Palácio, entretanto adquirido pela Câmara e a zona onde é produzido o vinho Conde de Oeiras, hoje sob administração da autarquia ou, igualmente, todo o trabalho levado a cabo a nível do património religioso, como é o caso concreto do restauro das pinturas em tela na Igreja Matriz de Barcarena. É neste âmbito que se incluí a presente intervenção nos Jardins da Quinta Real de Caxias, com a recuperação do seu valioso património artístico, designadamente os grupos escultóricos em terracota, da autoria do genial Machado de Castro, magnificamente enquadrados pelo conjunto que compõe a Cascata Real. Mas este é apenas um primeiro e significativo passo para o que se pretende que venha a ser um maior (e melhor) usufruto deste espaço pelas populações, designadamente as locais. É nesse sentido que estamos agora a investir na abertura de novas vias de circulação pedonal, incluindo mesmo uma nova ponte sobre a Ribeira de Barcarena, criando um percurso que transformará o Jardim num espaço verdadeiramente próximo das pessoas. De realçar ainda os projectos já em marcha para a criação de novos pólos de interesse na Quinta, como é o caso dos futuros Jardins Efémeros, entre outros, que oferecerão a este local histórico uma maior capacidade de atracção de visitantes. Assim, conseguiremos dar em breve uma nova vida à nossa Quinta Real de Caxias. O Presidente Isaltino Morais

Quinta Real de Caxias A Real Quinta de Caxias é actualmente considerada um dos elementos de maior interesse histórico e arquitectónico do Concelho de Oeiras. Embora, como em tantos outros casos, os desígnios da sua história a tenham votado ao abandono e à utilização indevida durante décadas, o reconhecimento do seu valor como objecto patrimonial levou a que no final do século passado se tenham desenvolvido esforços, em particular por parte do município de Oeiras, no sentido de fazer renascer toda a sua linguagem e grandeza. No panorama da Arte dos Jardins em Portugal, o jardim do Paço Real da Caxias pode ser considerado como um exemplar único, não tanto pela sua organização espacial comum a muitos outros jardins, mas sim pelo valor arquitectónico, escultórico e alegórico do conjunto da cascata, miradouro e grupos escultóricos. Estes elementos são valorizados pela esplanada que os canteiros de buxo definem, pelo que o jardim tem que ser entendido como um todo, organizado e interdependente. Propriedade da Casa do Infantado, a Quinta Real de Caxias, com o respectivo palácio, foi mandada edificar na primeira metade do séc. XVIII pelo Infante D. Francisco, filho de D. Pedro II e D. Maria Sofia de Neuborg, prolongando-se a sua construção até ao início do séc. XIX. Das obras da 2ª metade do séc. XVIII datam a construção da Cascata monumental e organização do jardim, bem como os grupos escultóricos em terracota da autoria de Machado de Castro (1731-1822), considerado o maior escultor português da época. O conjunto dos jardins e Quinta real sofreu várias fases de construção, tendo a propriedade aumentado por sucessivas incorporações de outros casais, unificando as várias parcelas primitivamente separadas por muros. Situado mesmo à beira-mar, este pequeno Jardim Le Nôtre, como Branca Colaço o classifica nas suas Memórias da Linha de Cascais, é bem um exemplo da sofisticada vida social do Séc. XVIII. A moda do Jardim Francês e a grandiosidade e espectacularidade dos jardins do padre de Versailles, concebidos pelo grande mestre André Le Nôtre, especialista de jardinagem do Rei Sol, Luís VIX, foi copiada e imitada por todas as Cortes Europeias da época. Toda a pompa dos salões é transferida para os jardins, através de geometrismos e de uma rigorosa oposição de cenários e elementos escultóricos, arquitectónicos e naturais (estátuas, pavilhões, palmeiras e araucárias). O Jardim transforma-se num agradável espaço onde os jogos e os espectáculos de índole cultural, como o teatro, música ou o bailado desenrolavam-se como em autênticos salões ao ar livre, podendo desfrutar-se de vistas sobre a entrada da Barra de Lisboa, do Bugio e das várias fortalezas como a de S. Julião.

Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Patromónio Escultórico 05 Machado de Castro reclama a autoria das estátuas que adornam a Cascata e os jardins, transformando-os num gigantesco palco. Podemos transcrever parte da sua carta escrita a 3 de Fevereiro de 1817, pouco antes de morrer: quem fez a grande quantidade de estátuas de barro, e do tamanho natural corpulento, que estão na Quinta de Caxias ( ) senão os infelizes acusados desta desgraçada repartição?.... Defendia-se nesta carta, o nosso grande escultor, da acusação de preguiçoso por não executar as encomendas com a rapidez desejada. As estátuas representam uma cena mitológica grega, segundo a qual a deusa Diana vinha tomar banho junto da gruta onde o seu amado pastor Endimião dormia num sono eterno, não o tocando o envelhecimento ou a morte, privilégio concedido pelo Senhor do Olimpo. Subitamente é surpreendida por Atião. Furiosa com a audácia do intruso, lança-lhe água à cara. Atião, lentamente, transforma-se em veado, mantendo uma mão e um pé humanos e os restantes membros já moldados como patas, ao mesmo tempo que é devorado pelos cães da deusa caçadora. É todo este dramatismo que Machado de Castro transmitiu ao barro que, ainda hoje e apesar do estado de mutilação em que se encontravam as estátuas depois de anos de abandono e vandalismo, nos podemos aperceber do espanto expressivo das ninfas que saem do banho no Lago da Cascata, tapando a sua nudez com lençóis. De algumas das estátuas partiam jogos de água, emprestando ainda mais movimento aos figurantes deste gigantesco palco Wagneriano. Pormenor da escultura fontenária representando o Inverno Foto: CMO /GC, 2009 Os dois faunos proclamam o poder da deusa, soprando por búzios de onde saíam jactos de água, e da ponta da lança de Diana elevava-se altaneiro repuxo, simbolizando talvez a água vingativa da curiosidade de Atião. Entre 1826 e 1832, a quinta esteve desocupada até ser, nesse ano, temporariamente habitada por D. Miguel. Com a incorporação dos bens da Casa do Infantado nos bens da coroa em 1834, o Palácio institui-se como residência de verão da Família Real. Em 1908, D. Manuel II assina um decreto no qual autoriza o parcelamento da Quinta e a sua partilha por duas entidades. Ao então Ministério da Guerra, são atribuídos o Palácio, o jardim de aparato e a Cascata, tendo-se ali estabelecido mais tarde os Altos Estudos Militares que ocuparam as instalações até 1956. A restante área de pomares, pátio do Jogo da Bola e conjunto escultórico Pormenor da escultura fontenária representando o Outono e o Inverno. Foto: CMO /GC, 2009

de Hércules, ficaram na posse do Ministério da Justiça. É neste espaço, conjuntamente com a área da cerca e Convento da Cartuxa, que se vai instalar o Instituto Padre António de Oliveira (Reformatório de Caxias, estabelecimento de educação de menores delinquentes). A partilha deste espaço levou em 1922 à construção do muro que actualmente rodeia o Jardim da Cascata e secciona a Rua de Hércules (um dos eixos mais significativos da Quinta), quebrando a coesão e uniformidade da antiga propriedade. Em 1953, os jardins, as esculturas e duas salas com pinturas decorativas do Palácio, foram classificados como imóvel de Interesse Público através do Decreto 39.175 de 17 de Abril. Jardim da Quinta Real de Caxias com cascata ao fundo (Foto: Filipa thedim) Em 1956, o Instituto de Altos Estudos Militares, afecto ao Ministério da Defesa Nacional, que se encontrava sediado na Quinta, é transferido para Pedrouços e com ele todo o suporte operacional que até então mantinha e conservava o conjunto edificado e ambiental. Inicia-se então um longo processo de degradação que a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) tenta conter com a realização, em 1969, de algumas intervenções de conservação no Palácio, com a reparação do torreão lateral nascente. Embora para a Cascata e Jardins estivessem também previstas obras de recuperação, elas não foram levadas a cabo. Perante o riquíssimo património em presença e a relevância histórica e estratégica da sua localização no município, a Câmara Municipal de Oeiras estabeleceu com o Ministério da Defesa Nacional um protocolo de cedência, para a recuperação, manutenção e utilização dos Jardins e Cascata. À data de assinatura deste protocolo, o jardim da Quinta Real de Caxias encontrava-se em avançado estado de degradação, quer no que respeita à vegetação e pavimento, quer no referente aos seus elementos arquitectónicos. Com o crescimento desordenado da vegetação, os desenhos dos jardins de buxo perderam-se, os lagos secaram e degradaram-se, as esculturas de terracota danificaram-se, e a Cascata e os terraços laterais cederam a problemas estruturais. Todo o espaço se encontrava ocupado por barracas, galinheiros e hortas. Cascata da Quinta Real de Caxias Foto: Augusto Xavier Moreira, Álbum Lisbonense, c 1865-1868

Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Patromónio Escultórico 07 Desde a assinatura do Protocolo que a Câmara Municipal de Oeiras tem desenvolvido esforços no sentido de recuperar o espaço, repondo-o tanto quanto possível à sua época de origem. A procura sistemática de informação em documentos que descrevam a vida da corte nos dias de Verão na Quinta, a interpretação das cartas do escultor Machado de Castro ou a descrição dos elementos vegetais e produtivos aí existentes, têm servido de referência para a tomada de decisão sobre as opções de restauro e conservação da Cascata, pavilhões e conjuntos escultóricos, bem como nos desenhos do jardim de buxo. Com a obtenção de um prémio, em 1993, na sequência da candidatura ao Projecto Piloto de Conservação do Património Arquitectónico Europeu, promovido pela Comissão das Comunidades Europeias, desenvolveu-se um novo ciclo e incentivo na recuperação do jardim, dando possibilidade à consolidação dos desenhos de buxo, com a reposição do traçado decorativo da época da sua construção, à iluminação dos seus caminhos e à adaptação de um novo sistema hidráulico de alimentação dos repuxos, fontes e Cascata através da reciclagem da água. As estátuas de Machado de Castro e de todo o aparato cenográfico desenvolvido pela fértil imaginação do escultor na descrição mitológica do Banho de Diana, que não se restringe à decoração da Cascata mas que se expande por todo o jardim, tem-se revestido da maior complexidade. Cascata da Quinta Real de Caxias Pormenor da cena do Banho de Diana Foto: Biblioteca Nacional de Lisboa, c.1865-68 A recolha dos fragmentos das estátuas que se encontravam dispersos, a dificuldade na análise e interpretação das formas para as fazer corresponder com as respectivas esculturas, a opção pela reprodução de partes que se encontravam em falta e que só foi possível realizar através do visionamento de fotografias antigas, a transferência definitiva das peças originais para locais de interior devido à fragilidade em que se encontravam e que impossibilitavam a sua recolocação nos jardins, ou mesmo a selecção dos materiais mais adequados para a execução de réplicas que reproduzissem fielmente a obra do escultor, têm definido o trabalho de restauro ao longo de vários anos. Em 2008, devido ao conhecimento de uma combinação de várias matérias primas à base de resinas que provaram poder reproduzir fielmente as formas das estátuas e garantir enorme resistência durabilidade, foram adjudicadas ao Instituto de Artes e Ofícios da Jardim da Quinta Real de Caxias com cascata ao fundo Foto: Arquivo da DGEMN c.1900.

Universidade Autónoma de Lisboa, as obras de recuperação e consolidação de algumas estruturas da Cascata que se encontravam danificadas, a conclusão do restauro de algumas das estátuas cujos trabalhos tinham tido início em 1994, e a execução de 8 réplicas das esculturas que foram entretanto concluídas. O Guarda Romano, as esculturas fontenárias que representam a Primavera, o verão, o Outono e o Inverno, o Jupiter e a Ceres tomarão o lugar que as esculturas originais de Machado de Castro tinham nos jardins, para o ambiente cénico se mantenha. As estátuas da autoria de Machado de Castro encontram-se em exposição do Pavilhão da Casa da Nora. Todo o processo de restauro e cópia das estátuas, bem como o processo de recuperação e consolidação da Cascata, foram devidamente documentados e fundamentados, tendo por base uma pesquisa documental rigorosa, e será objecto de uma edição, acessível ao público, em forma de monografia. Este novo ciclo de recuperação dos Jardins da Quinta Real de Caxias, dedicado à estatuária, estará concluído com a reposição integral de todo o conjunto escultórico, incluindo a cena mitológica do Banho de Diana que adorna a Cascata. O cumprimento do protocolo assumido pela Câmara Municipal em 1986, tem exigido um enorme esforço em meios técnicos e financeiros, que ascendeu já até ao momento ao valor de 1.737.657,00, incluindo obras de restauro da cascata, estatuária, pavilhão da cegonha, rede de rega e de electricidade, manutenção dos jardins, obras de delimitação da propriedade, segurança e limpeza, bem como da realização de visitas guiadas e de recriações históricas. Na sequência da execução do Plano de Ordenamento da Real Quinta de Caxias elaborado por técnicos da Autarquia, onde se pretende devolver à propriedade a grandiosidade e o brilho que esteve na sua génese através das sucessivas fases de recuperação e valorização de todo o conjunto para adaptação a espaço cultural, lúdico e didáctico com destino à fruição pública, foram entretanto diligenciados outros protocolos, desta vez com o Ministério da Justiça, que resultaram na cedência do pavilhão octogonal norte (Casa da Nora) em 1987, e mais recentemente em Março do corrente ano, de uma significativa área de terreno que abrange a margem esquerda da Ribeira de Barcarena, e de terrenos adjacente aos Jardins da Cascata. Área cedida à CMO por Protocolo com o Ministério da Defesa, 1986 Área cedida à CMO por Protocolo com o Ministério da Justiça, 2009 Ortofotomapa da área da Quinta Real de Caxias. Foto: CMO/DPHM

Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Patromónio Escultórico 09 O Guarda Romano O Guarda Romano apresenta-se em posição frontal, envergando couraça sobre túnica e tiras de couro, largo manto caído dos ombros e pés calçados com crepidas. Munido de escudo e, provavelmente, segurando o gládio, o Guardião do recinto sagrado onde se encontrava a deusa Diana, localizava-se precisamente na transição da clareira frente à cascata e o jardim de buxo. Apesar da adequação do tema ao cenário representado, em 1798, ainda não era inventariado. Guarda romano Foto: Arquivo da DGEMN, 1961 Guarda romano Foto: Arquivo da DGEMN, 1990 Guarda Romano, restaurado e consolidada. Foto: CMO / GC, 2009

Escultura Fontenária representando a Primavera Grupo escultórico de dois meninos e uma menina, envoltos em flores, que neste caso particular, se resumem a rosas, atributos da Primavera. Na base deste conjunto de escultura fontenária, sita num dos quatro lagos do parterre, encontram-se representados em baixo-relevo os signos do zodíaco relativos a esta Estação: Carneiro, Touro e Gémeos. Escultura fontenária representando a Primavera Foto: Arquivo da DGEMN, 1990. Escultura fontenária representando a Primavera Foto: Arquivo da DGEMN, 1961 Escultura fontenária representando a Primavera, restaurada e consolidada. Foto: CMO/GC, 2009

Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Patromónio Escultórico 11 Escultura Fontenária representando o Verão Grupo escultórico de três meninos, que seguram uma cornucópia repleta de frutos, alusiva à fartura desta época estival. Na base deste conjunto de escultura fontenária, sita num dos quatro lagos do parterre, encontram-se representados em baixo-relevo os signos do zodíaco relativos a esta Estação: Caranguejo, Leão e Virgem. Escultura fontenária representando o Verão Foto: Arquivo Militar, Direcção de Infra-estruturas do Exército, 1952 Escultura fontenária representando o Verão Foto: João Pancada Correia, década de 80, do século XX Escultura fontenária representando o Verão, restaurada e consolidada. Foto: CMO/GC, 2009

Escultura Fontenária representando a Outono Grupo escultórico de três meninos, tendo um deles um cesto de uvas à cabeça e os outros cachos de uvas, atributo do Outono. Um dos meninos segura um saco das colheitas, evocando os afazeres do campo próprios desta altura do ano. Na base deste conjunto de escultura fontenária, sita num dos quatro lagos do parterre, encontram-se representados em baixo-relevo os signos do zodíaco relativos a esta Estação: Balança, Escorpião e Sagitário. Escultura fontenária representando o Outono Foto: Carlos Beloto, 2007. Escultura fontenária representando o Outono Foto: Arquivo Militar, Divisão de Infra-estuturas do Exército,1952. Escultura fontenária representando o Outono, depois da intervenção de restauro e consolidação. Foto: CMO/GC, 2009

Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Patromónio Escultórico 13 Escultura Fontenária representando o Inverno Grupo escultórico de três meninos segurando um prato com uma cabeça de javali, que evoca as carnes fumadas, entre outras, reservadas para esta época do ano. Na base deste conjunto de escultura fontenária, sita num dos quatro lagos do parterre, encontram-se representados em baixo-relevo os signos do zodíaco relativos a esta Estação: Capricórnio, Aquário e Peixes. Escultura fontenária representando o Inverno Foto: arquivo DGEMN, 1961 Escultura fontenária representando o Inverno Foto: João Pancada Correia, 1990 Escultura fontenária representando o Inverno depois da intervenção de restauro e consolidação. Foto: CMO/GC, 2009

Júpiter Júpiter, senhor do Céu e deus supremo do Olimpo, conta entre as suas conquistas a ninfa Calisto, uma virgem do séquito de Diana, conhecida por neste contexto ter sido revelada a sua gravidez. Realizado aquando do primeiro núcleo, ou seja, antes de 1798, a estátua representando uma figura do género masculino, sita no lago de Diana, parece aproximar-se disfarçada do recinto das ninfas. Júpiter Foto: Carlos Beloto, 2007 Júpiter Foto: Arquivo da DGEMN, 1961 Júpiter, depois da intervenção de restauro e consolidação. Foto: CMO/GC, 2009

Jardim da Quinta Real de Caxias Recuperação do Patromónio Escultórico 15 Ceres Ceres, deusa da agricultura, encontra-se coroada com uma coroa de espigas e segura com o braço esquerdo um molho de espigas, seus atributos. Realizada depois de 1798 no Laboratorio de Joaquim Machado de Castro, não pertence ao núcleo de estátuas da cascata, tendo sido colocada no eixo principal do jardim de buxo da Quinta Real de Caxias. Ceres Foto: Arquivo da DGEMN, 1961 Ceres Foto: Arquivo da DGEMN, c. 1990 Ceres, depois da intervenção de restauro e consolidação. Foto: CMO/GC, 2009

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