CONHECIMENTO DA CONTAMINAÇÃO PRESENTE NAS MOLDAGENS ODONTOLÓGICAS PELOS PROFISSIONAIS DOS LABORATÓRIOS DE PRÓTESE DE CASCAVEL Rosana Izabela Spiller 1 Rosana Aparecida dos Santos INTRODUÇÃO: Com a propagação das doenças infecto-contagiosas, entre elas principalmente a Síndrome da Imunodeficiência adquirida (AIDS), têm se aumentado a preocupação com a prevenção das infecções cruzadas.assim a desinfecção de ambiente e equipamentos, esterilização de instrumentais, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e cuidados com procedimentos de higiene pessoal são procedimentos a serem realizados com o intuito de eliminar, ou pelo menos reduzir a possibilidade de infecção cruzada(guandalini,1996).o cirurgião-dentista e sua equipe, assim como os funcionários dos laboratórios de prótese estão expostos a infecções potencialmente letais, como a Hepatite B e C e a AIDS, bem como a outras menos graves como Influenza,Tuberculose,Caxumba,Herpes,Pneumonia.As moldagens que foram retiradas da cavidade oral do paciente podem estar contaminadas com microorganismos patogênicos. POWELL et al. (1990) demonstraram que 67% dos trabalhos que chegam do consultório para o laboratório, entre eles as moldagens, apresentam microorganismos patogênicos como o Enterobacter cloacae, Escherichia coli, e Klebsiella oxytoca entre outros.apesar da possibilidade de contaminação através das moldagens odontológicas, os cuidados com biossegurança dentro dos laboratórios de prótese não tem recebido uma atenção adequada.se procedimentos de desinfecção não forem implantados, os 1 Acadêmica do 5 Ano de Odontologia, Unioeste Campos de Cascavel, Rua: Arquitetura, n.1157, Apart. 9. Telefone: (45) 3325 2240 e-mail: roispiller@yahoo.com.br
microorganismos poderão ser transmitidos de pacientes para profissionais dos laboratórios, desencadeando uma infecção cruzada. LANGENWALTER et al. (1990), avaliaram as alterações dimensionais de materiais de moldagens após terem sido submetidos à desinfecção e concluíram que as alterações dimensionais que podem ocorrer são clinicamente insignificantes. A escolha correta da solução desinfetante é de extrema importância, afinal a estabilidade dimensional dos moldes odontológicos pode ser afetada caso seja utilizado uma solução desinfetante inadequada e por um tempo de exposição inadequado.cada material de moldagem possui características individuais que determina qual será a solução desinfetante mais adequada para a sua desinfecção. O sucesso da desinfecção dos moldes requer eficácia antimicrobiana pela solução desinfetante, tempo de exposição mínimo destes à solução e a manutenção das propriedades físico-químicas dos materiais de moldagem.permitindo assim, uma proteção contra infecção cruzada e a manutenção das características do molde. OBJETIVOS: detectar através das respostas obtidas nos questionários, qual o conhecimento que os profissionais dos laboratórios possuem sobre a contaminação nas moldagens, o risco de infecção cruzada e sobre a importância da utilização de equipamentos de proteção individual e métodos de desinfecção de moldagens.além de informar e conscientizar sobre a importância da prevenção doenças através da utilização dos equipamentos de proteção individual(epis) que funcionam como uma barreira contra microorganismos e que auxiliam na proteção contra infecção cruzada.orientar que existem métodos de desinfecção de moldagens adequados para cada material e que estes são simples e fáceis de serem realizados, podendo ser adotados sem que venham a atrapalhar o andamento do trabalho dentro do laboratório de prótese. METODOLOGIA: constitui-se de uma primeira etapa denominada de revisão bibliográfica, onde as informações adquiridas foram pesquisadas em livros e artigos científicos.num segundo momento foi realizada uma coleta de dados nos laboratórios de prótese dentária da cidade de Cascavel que possuíam autorização da Vigilância Sanitária
do município para estarem funcionando.estes dados foram coletados a partir da aplicação de um questionário contendo dez questões fechadas e uma questão aberta, completando um total de onze questões a serem respondidas.as questões que compõem o questionário da pesquisa são direcionadas a temas como: infecção cruzada, desinfecção de moldes e utilização de equipamentos de proteção individual pelos funcionários em questão.os questionários foram entregues nos laboratórios, para serem respondidos através da participação como voluntários, por todos os funcionários presentes, incluindo: técnico de prótese dentária, auxiliar de técnico de prótese dentária, e demais funcionários.foi anexado ao questionário o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, constituído de uma explicação objetiva e de fácil compreensão sobre o motivo e objetivos da pesquisa.além de conter explicações sobre a participação voluntária do funcionário, e das possibilidades deste, deixar de fazer parte da pesquisa, ou obter informações sobre o andamento da mesma, em qualquer momento, caso seja de sua vontade. As respostas obtidas com o preenchimento dos questionários serão analisadas segundo a metodologia estatística, com o auxilio de planilha eletrônica (Microsoft Excel). RESULTADOS: Foram distribuídos 75 questionários em 12 laboratórios de prótese dentária do município de Cascavel, 17% deles não foram respondidos. Dos 62 funcionários que responderam o questionário, 85% afirma que realiza a desinfecção das moldagens recebidas, enquanto que 15% não o fazem. Com relação ao tipo de solução desinfetante utilizada para fazer a desinfecção, os funcionários utilizam a mesma solução desinfetante para todos os tipos de material de moldagem, sendo que, 70% utilizam solução de hipoclorito de sódio, 13% utilizam álcool 70%, 17% afirmam que utilizam outros métodos, nenhum funcionário faz uso da solução de glutaraldeído. No que diz respeito à desinfecção das moldeiras antes de devolvê-las para o consultório, 72,5% não a realizam, contra apenas 27,5% que realizam a desinfecção. Todos os funcionários que preencheram os questionários afirmaram que tem conhecimento sobre quais são as
doenças que podem contrair durante a manipulação de moldagens odontológicas, correspondendo portanto a 100% do entrevistados.contudo nem todos costumam utilizar equipamentos de proteção individual(epis) quando realizam suas atividades laboratoriais, o que equivale a cerca de 30% deles, os outros 70% fazem a utilização de EPIs, sendo que 84% dos funcionários costumam usar jaleco, enquanto que 16% não.o gorro não é utilizado por nenhum dos funcionários entrevistados.com relação à máscara de proteção, ela é usada em 20% dos casos, já a maioria, 80%, não tem o costume de utilizá-las.as luvas não são usadas por 77,3% dos entrevistados, apenas 22,7% as utilizam.os óculos de proteção são usados por 56,8% dos funcionários que fazem uso de EPIs, enquanto que cerca de 43,2% dos funcionários não o usam. A vacinação foi realizada em 77% dos funcionários, ficando 23% deles sem a proteção da vacina. Das vacinas realizadas, 71% foram contra a Hepatite B, 14% contra Hepatite B e Febre Amarela, 10% apenas contra Febre Amarela e 4% afirmaram ter realizado outras vacinas que não as citadas.cerca de 8% dos funcionários que responderam ao questionário, já tiveram conhecimento de alguém que foi contaminado por alguma doença em laboratório de prótese, enquanto que 92% desconhecem qualquer ocorrido.dos funcionários que relataram conhecerem casos de contaminação, todos relataram que a doença contraída foi a Hepatite B. Quando questionados se acreditavam na possibilidade de ocorrer contaminação através de moldagens odontológicas contaminadas, 98% dos funcionários responderam que sim, e apenas 2% disseram que não. CONCLUSÃO : A contaminação cruzada pode ocorrer dentro dos laboratórios de prótese através da manipulação de moldes.apesar de 100% dos funcionários entrevistados afirmarem que tem conhecimento das doenças que podem contrair quando manipulam as moldagens odontológicas, o uso de equipamento de proteção ficou na sua maioria limitado ao jaleco, seguido de óculos de proteção.enquanto que o uso do gorro não é feito por nenhum funcionário e o uso de máscara e luvas não é habitual, sendo que 80% e 77,3%, respectivamente, nunca os usam.estes valores são preocupantes, pois
confirma a necessidade de uma maior atenção por parte dos profissionais dos laboratórios com os cuidados com biossegurança.dos entrevistados, 85% acreditam que desinfetam as moldagens, no entanto, as técnicas utilizadas são inadequadas.muitos dos procedimentos de desinfecção realizados quando não utilizam soluções inócuas, ou seja, sem nenhuma eficiência antimicrobiana, utilizam, a mesma solução desinfetante para todos os tipos de material de moldagem, não levando em consideração que cada material reage de forma diferente frente a uma solução desinfetante.através de uma atuação mais efetiva dos técnicos em prótese e demais funcionários dos laboratórios no controle das medidas de biossegurança dentro do ambiente laboratorial, como a adoção de medidas simples de biossegurança, entre elas, criar o hábito de fazer uso dos equipamentos de proteção individual, e adotar métodos de desinfecção de moldes simples, fáceis e que não comprometam a integridade do molde, como a desinfecção de hidrocolóide irreverssível, hidrocolóide reverssível e poliéter através de spray de hipoclorito de sódio a 1% por dez minutos e moldes de silicona de adição e condensação e polissulfetos, por imersão em solução de glutaraldeído 2% também pelo tempo de dez minutos, os profissionais dos laboratórios de prótese odontológica podem contribuir para evitar a contaminação direta e cruzada em seu ambiente de trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DURR, D. P., NOVAK, E.V. Dimensional stability of alginate impressions immersed in disinfecting solutions. J Dent Child, v. 54, p. 45-48, Jan/Feb. 1987. GUANDALINI, S. L. Bio Segurança. J Bras Orto Ortop Facial, v. 1, p. 5-8, Nov/Dez. 1996.
GUANDALINI, S. L., MATHIAS, A. L., MATHIAS, S. A. Detecção de Pontos Críticos no Controle de Infecção em Laboratórios de Prótese. Jornal Brasileiro de Odontologia Clínica, v. 2, p. 51-57, Mar./Abr. 1998. KIMONDOLLO, P. M. Guidelines for Developing a Dental Laboratory Infection- Control Protocol. The International Journal of Prosthodontics, v. 5, p. 452-456, Nov. 1992. LANGENWALTER, E. M.; AQUILINO, S. A.; TURNER, K. A. The dimencional stability of elastomeric impression materials following disinfection. J Prosthet Dent, v. 63, p. 270-276, Mar. 1990. MATYAS, J. et al. Effects of disinfectants on dimensional accuracy of impression materials. J Prosthet Dent, v. 64, p. 25-31, July. 1990. POWELL, G.L. et al. The presence and identification of organisms transmitted to dental laboratories. J Prosthet Dent., v. 64, p. 235-237, Aug. 1990.