"Os salários do prefeito, vice-prefeito e dos secretários são determinados pela Câmara, mas a Prefeitura poderia ter encaminhado uma proposta para que se houvesse uma redução dos gastos do município. Isso só pode ser feito de um ano para o outro. Ainda dá tempo de os vereadores deste mandato votarem uma redução desses salários para o próximo ano", afirmou o prefeito eleito, Guga de Paula. Em entrevista exclusiva ao JORNAL DA REGIÃO, o prefeito eleito de Cantagalo, Guga de Paula, que vai administrar a cidade pela terceira vez, destaca as primeiras ações a serem adotadas a partir de janeiro, entre elas a redução dos subsídios pagos a secretários, redução na quantidade de secretarias municipais e a reapresentação do projeto de readequação da planta genérica de valores, que corrigirá os valores cobrados no IPTU, rejeitada duas vezes pela Câmara na atual gestão do prefeito Saulo Gouvêa. Precisamos cortar gastos e trabalhar pelo aumento da arrecadação, adianta Guga de Paula, que também anuncia a criação de um tributo sobre a queima de resíduos industriais por parte das fábricas de cimento, projeto já apresentado na gestão do ex-prefeito Geraldo Guimarães e que acabou sendo retirado, antes da votação, pelo governo da época. JORNAL DA REGIÃO (JR) Por que decidiu disputar novamente uma eleição municipal em Cantagalo e como é a sensação de ser novamente prefeito de sua cidade, e pela terceira vez? Guga de Paula (GP) Resolvi ser candidato novamente porque me sentia culpado por ter indicado um candidato que foi eleito e não correspondeu às expectativas da população. O atual prefeito é um homem honesto, honrado, mas não fez um bom governo. Fui muito cobrado pela população por essa indicação, por isso me senti na obrigação de me candidatar novamente. Sobre a eleição, tenho que agradecer muito à população de Cantagalo por ter sido eleito pela terceira vez, com quase 70% dos votos. Vou trabalhar com muita responsabilidade, muito pé no chão para poder fazer um bom governo e corresponder às expectativas do povo cantagalense. 1 / 6
JR Qual será o seu diferencial nessa nova administração? GP Vou priorizar saúde e educação. Fiz muitas obras nas outras gestões e já consegui algumas emendas. Estou lutando por outras (emendas parlamentares) para terminar os calçamentos nos bairros São José, Novo Horizonte e São Pedro. Vou fazer a obra da entrada de Euclidelândia e o Centro Cultural Amélia Thomaz, mas meu carro-chefe serão os investimentos em saúde e educação. JR O Estado está com graves problemas financeiros e a economia brasileira praticamente paralisada. Esses problemas afetam diretamente o município. Como você pretende enfrentar os problemas logo nos primeiros meses de administração? GP Apesar de a arrecadação do município não ter caído, a despesa aumentou muito. Foi a previsão orçamentária que caiu, porque as despesas aumentaram. Muitos desses aumentos dos gastos do município também se devem a algumas práticas desse último governo, como o aumento dado sobre as gratificações dos funcionários. No meu governo, o aumento era apenas sobre o salário. Mas, para mim, o que realmente desequilibrou a Prefeitura foram os gastos excessivos com festas, principalmente o primeiro carnaval do atual governo e a festa dos 200 anos da cidade. A crise da atual administração não começou agora, começou logo após à festa dos 200 anos. Vamos ter que fazer cortes para reequilibrar as contas públicas e vamos trabalhar para aumentar a arrecadação. JR É verdade que pretende reduzir o número de cargos comissionados, principalmente de secretarias municipais? Como você está montando sua equipe para assumir o governo em janeiro? GP Ainda estamos estudando quais cortes poderão ser feitos e quais secretarias poderemos juntar para que possamos economizar recursos sem prejudicar os serviços oferecidos à população. Estamos avaliando as modificações que serão necessárias nos salários e cargos 2 / 6
para que o município equilibre as contas antes de fecharmos toda a equipe. Por enquanto, a Secretaria de Educação é a única com nome certo, que será a professora Carla Guimarães. O advogado Jorge Braz (servidor da Prefeitura) também é um nome certo da equipe, mas ainda não defini a secretaria que ele irá ocupar. JR As medidas de redução de gastos da folha feitas pelo atual prefeito foram muito criticadas pela população, por terem tirado as horas extras de servidores com salários baixos e gratificações de cargos pequenos, e não ter chegado ao alto escalão do governo. O que você achou dessas medidas? GP Jamais faria esses tipos de cortes. Horas extras e insalubridades são direitos do trabalhador, nisso não se mexe. Os salários do prefeito, vice-prefeito e dos secretários são determinados pela Câmara, mas a Prefeitura poderia ter encaminhado uma proposta para que se houvesse uma redução diante dos gastos do município. Isso só pode ser feito de um ano para o outro. Ainda dá tempo de os vereadores deste mandato votarem uma redução desses salários para o próximo ano. Nos meus governos, os servidores tiveram aumento anual. O primeiro foi de 28%. Criei o 14º salário, o ticket alimentação, comprei um ônibus novo, com ar condicionado, para transportar os funcionários, comprei um clube para o lazer dos servidores e suas famílias. Sempre tive atenção com todos os servidores, mas vou precisar fazer muitos cortes e reduções agora no início dessa gestão para equilibrar as contas, mas vou fazer de cima para baixo, cortando os cargos mais altos, para não prejudicar os pequenos. JR Você tem defendido a recriação da associação dos municípios na região. Por que e qual seria a finalidade desta entidade? GP A finalidade é tornar a região mais forte. Quando a associação existia, era mais fácil conseguir verbas com o Governo do Estado. Um bloco tem peso de negociação e para reivindicar. Quero que os prefeitos sejam mais unidos para melhorarmos nossa região. JR E o projeto do parque de eventos na Fazenda do Gavião, você pretende tentar realizá-lo novamente nessa gestão? 3 / 6
GP O projeto do parque de eventos no Gavião foi a única promessa de governo que eu não consegui cumprir nos meus outros mandatos. Não por falta de tentativas, mas por problemas da propriedade na Justiça. É um projeto que, se as questões judiciais forem resolvidas, os proprietários ainda tiverem interesse em vender parte da propriedade e o município tiver condições financeiras, eu pretendo realizar. JR Sobre o projeto de readequação do IPTU proposto pelo atual prefeito, e que foi rejeitado pela Câmara, você pensa em reapresentá-lo? GP Pretendo sim. Acho que faltou o prefeito ir à Câmara e explicar para os vereadores e a população que a proposta era uma readequação, não um aumento para todos. Temos imóveis no bairro São José, por exemplo, pagando mais imposto que casas no Centro. O IPTU tem que ser calculado pelo valor de venda do imóvel e isso não está sendo feito corretamente em Cantagalo. Nos meus primeiros dias de governo, eu vou fazer uma reorganização no setor de IPTU da nossa cidade, melhorando a entrega dos carnês, propondo uma renegociação das dívidas para os moradores e reapresentando à Câmara a proposta de readequação dos valores cobrados. JR Alguns moradores fazem a relação entre o aumento do número de habitantes e o desenvolvimento de uma cidade, além de verem também a industrialização como uma resposta para o progresso. Qual é sua visão a respeito dessas questões? GP Nos meus primeiros governos, tentei implementar vários projetos para viabilizar a vinda de fábricas para cá, mas nossa posição no mapa rodoviário não favoreceu a vinda de indústrias. Em várias tentativas e experiências, pude concluir que, mesmo com incentivos, as indústrias se concentram perto das áreas de produção de suas matérias-primas e de locais estratégicos em termos de logística. O caminho para nossa cidade crescer é lutar para que os impostos das empresas que estão instaladas aqui sejam pagos corretamente. As cimenteiras, por exemplo, em várias situações já conhecidas da população, deixaram de pagar o que era devido ao nosso município e eu lutei pessoalmente para que fosse feito corretamente. 4 / 6
Quero adiantar que vou criar um imposto sobre a queima de resíduos nas fábricas de cimento (projeto apresentado na gestão do ex-prefeito Geraldo Guimarães e retirado da Câmara antes da votação final, na gestão de 2001 a 2004). Como os vereadores da gestão anterior não proibiram essa queima de resíduos aqui, o único caminho que nós temos para controlar essa situação é a criação desse imposto e também lutar para que os deputados estaduais aprovem uma lei que proíba a queima de resíduos vindos de fora do estado. Uma vez que a fiscalização do que é queimado hoje é de responsabilidade do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), essa restrição garantiria um pouco de controle sobre o que é queimado aqui também. JR O desentendimento com o atual prefeito, Saulo Gouvêa, poderá provocar problemas na transição de governo? E como imagina encontrar a Prefeitura de Cantagalo quando assumir o cargo em janeiro? GP Não considero que tivemos um desentendimento, apenas não concordei com as decisões administrativas que ele tomou. Deixei a Prefeitura com várias licitações aprovadas, materiais em estoque e dinheiro em caixa. Espero encontrar o mesmo que deixei, mas realmente não sei. Só a partir no final de novembro é que vamos saber, através da equipe de transição, qual a situação real. JR Guga, você é de uma família tradicional na política cantagalense. Além do seu pai, que foi prefeito duas vezes, você também já teve tios que foram vereadores e secretários municipais. Alguém da sua família manifesta o interesse em dar continuidade a essa história política? GP Nenhuma das minhas filhas, nem minha esposa, manifestaram até hoje o desejo de entrar na vida política, mas, como todo mundo sabe, tenho dois primos que foram eleitos vereadores, o professor João Bôsco e Manuela do Paraíba, que podem dar continuidade à história da família na política administrativa também, se assim o desejarem. JR O último candidato que você apoiou não atendeu às expectativas da população, como você mesmo nos relatou, fazendo com que você se sentisse culpado por isso. Diante disso, você pensa em apoiar outro candidato, uma vez que você não haverá reeleição? 5 / 6
GP Não me arrependo de ter apoiado o atual prefeito. Ele não fez um bom governo, mas eu o apoiei por acreditar que ele pudesse fazer. Com certeza, vou apoiar alguém do grupo que se elegeu comigo. Elegemos dez vereadores, pessoas competentes, que terão experiência de vida pública para concorrerem ao cargo de prefeito, se assim o desejarem. JR Em entrevista à Rádio 94 FM, você disse que irá convocar três vereadores para o Executivo. Quem são eles e por que esta decisão? GP Estou fazendo os convites, não estão definidos quais serão ainda. Tomei essa decisão porque alguns dos vereadores eleitos têm pretensão de serem candidatos a prefeito e, sendo secretários, vão ter a experiência administrativa para fazerem um bom governo. JR O que a população de Cantagalo pode esperar do novo governo de Guga de Paula GP Primeiro, peço que tenham um pouco de paciência, porque não sei em que situação encontrarei a Prefeitura. Vou ter que tomar algumas atitudes politicamente difíceis, mas que serão em benefício do município, como os cortes nos cargos altos. Vou mexer de cima para baixo para não prejudicar o servidor municipal. Vou lutar para aumentar a arrecadação da cidade. O povo pode esperar de mim muito trabalho. 6 / 6