Sensoriamento remoto e SIG



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Transcrição:

Multidisciplinar Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal Allan Arnesen Frederico Genofre Marcelo Curtarelli Matheus Ferreira

CAPÍTULO 6 Conceitos básicos de cartografia e SIG 6.1.Introdução Juntamente com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), as Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) são mecanismos importantes para conservação e uso sustentável dos recursos naturais. Propostas pelo Novo Código Florestal (CF) (Lei Nº 12.651/2012) as CRAs têm por objetivo fornecer uma alternativa, além da recuperaçãoda área degradada, a proprietários rurais, e empreendimentos que buscam licenciamento ambiental para suas atividades. Por meio das CRAs é possível compensar a ausência de Reserva Legal, com áreas florestais de outro imóvel. A nova Lei florestal define CRA em seu Art. 44: Art. 44 (...) Cota de Reserva Ambiental - CRA, título nominativo representativo de área comvegetação nativa, existente ou em processo de recuperação: I - sob regime de servidão ambiental, instituída na forma do art. 9º-A da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de1981;

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal II - correspondente à área de Reserva Legal instituída voluntariamente sobre a vegetação que exceder ospercentuais exigidos no art. 12 desta Lei; (...)Art.12 I - localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). III - protegida na forma de Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, nos termos do art. 21 da Leino 9.985, de 18 de julho de 2000; IV - existente em propriedade rural localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio públicoque ainda não tenha sido desapropriada. As diretrizes para a criação das CRAs, bem como os documentos necessários são apresentados no Art. 45 da Lei Nº 12.651/2012: Art. 45. A CRA será emitida pelo órgão competente do Sisnama em favor de proprietário de imóvel incluído no CAR que mantenha área nas condições previstas no art. 44. 1o O proprietário interessado na emissão da CRA deve apresentar ao órgão referido no caput proposta acompanhada de: I - certidão atualizada da matrícula do imóvel expedida pelo registro de imóveis competente; II - cédula de identidade do proprietário, quando se tratar de pessoa física; III - ato de designação de responsável, quando se tratar de pessoa jurídica; IV - certidão negativa de débitos do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR; V - memorial descritivo do imóvel, com a indicação da área a ser vin- 114 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental culada ao título, contendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado relativo ao perímetro do imóvel e um ponto de amarração georreferenciado relativo à Reserva Legal. Adicionalmente, outros documentos e procedimentos podem ser solicitados pelo órgão ambiental competente, como por exemplo, a elaboração de um laudo de vistoria da área. Mais detalhes são apresentados na cartilha Cotas de Reserva Ambiental: O que são, como cria-las e como negocia-las elaborada pela Bolsa Verde do Rio de Janeiro (BVRio) e anexa à esta apostila. 6.2. Sensoriamento remoto da vegetação: conceitos básicos para o mapeamento da cobertura florestal A quantificação da cobertura florestal é o primeiro passo para o estabelecimento das CRAs. Esta informação está presente no Cadastro Ambiental Rural (CAR) do imóvel e pode ter sido obtida de diversas formas, dentre as quais se destacam o sensoriamento remoto e os Sistemas de Informação Geográfica (SIGs).Além de possuir as características espectrais necessárias para detecção de florestas, as imagens de satélite proporcionam uma visão sinóptica e multitemporal de grandes áreas da superfície terrestre. Para extrair o máximo de informação sobre a cobertura florestal de uma cena ou imagem de satélite é necessário conhecer alguns princípios básicos sobre o comportamento espectral da vegetação. A seguir, este tema será abordado por meio de uma série de exemplos ilustrativos. 6.2.1 Comportamento espectral da vegetação Para entender como a vegetação é representada em uma imagem de satélite é essencial conhecer o processo de interação da radiação eletromagnética (REM) com as plantas. Primeiramente é importante conhecer a estrutura interna de O portal do agroconhecimento 115

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal uma folha (Figura 1). Na face ventral encontra-se a epiderme superior, precedida por uma camada de tricomas e ceras conhecida como cutícula. Na sequência, está localizado o parênquima, ou tecido fundamental, onde ocorrem os processos de fotossíntese, respiração e transpiração. O parênquima pode ser divido em paliçádico, composto por células ricas em cloroplastos (organelas fotossintéticas) dispostas perpendicularmente à superfície foliar, e esponjoso, constituído de células com formato irregular sem uma organização definida. Por fim, seguindo em direção à face dorsal surge mais uma camada de cutícula e os estômatos, estruturas responsáveis por realizar as trocas gasosas entre a folha e a superfície exterior. Reflexão, transmissão e absorção são os três principais fenômenos que descrevem a interação da REM com a folha. Um feixe de radiação monocromático referente à região do visível (0,4-0,7 µm) ao atingir a superfície adaxial, dependendo do comprimento de onda, pode ser absorvido e participar do processo de fotossíntese, ou, refletido, atribuindo à folha sua cor característica. Caso este feixe pertença à região do infravermelho próximo (0,7-1,1 µm), ele não será absorvido por organelas fotossintetizantes e seguirá em direção ao parênquima esponjoso onde sofrerá espalhamento múltiplo e deixará o interior da folha. 116 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental Figura 42. Estrutura interna de uma folha. Fonte: Taiz e Zeiger (2010). Agora, sendo o feixe referente ao infravermelho médio (1,1-2,5 µm), sua interação será dominada pela absorção decorrente da água líquida existente no interior das células ou em espaços intercelulares. Embora haja variações na concentração de pigmentos, água e estrutura de folhas de diferentes espécies, o comportamento espectral de uma folha verde, segue um padrão bem definido (Figura 43). Figura 43. Curva de reflectância típica de uma folha verde Fonte: Ponzoniet al. (2012). O portal do agroconhecimento 117

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal Além do efeito das próprias folhas, ao nível de dossel, o processo de interação da REM com a vegetação é influenciado por outros fatores. Entende-se por dossel o conjunto de elementos da vegetação (folhas e galhos) que formam o estrato superior das plantas. Vários fatores influenciam o seu comportamento espectral, regido pela função de distribuição da reflectância bidirecional (BRDF). Dentre eles destacam-se o Índice de Área Foliar (IAF), Distribuição Angular de Folhas (DAF), reflectância do substrato e os efeitos geométricos (iluminação e visada). Para que a vegetação seja detectada em uma imagem de satélite, é necessário que as bandas do sensor estejam posicionadas em porções do espectro eletromagnético onde ocorram processos de reflexão e absorção da REM. A Figura 44 mostra a posição das bandas do sensor ThematicMapper(TM) a bordo do satélite Landsat-5, bem como a curva típica de uma folha verde. Figura 44. Curva de reflectância típica de uma folha verde e posição das bandas do sensorthematicmapper a bordo do satélite Landsat-5. 118 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental Picos de reflectância e absorção são causados por parâmetros bioquímicos (pigmentos e água) e biofísicos (estrutura interna) da folha. Percebe-se que os valores mais altos são encontrados na região do infravermelho próximo e de ondas curtas, onde estão posicionadas as bandas TM4 e TM5, respectivamente. A combinação destas bandas para formação de imagens coloridas é importante para correta interpretação da cobertura florestal. A seguir, serão apresentados alguns conceitos básicos sobre interpretação de imagens de sensoriamento remoto, visando à detecção de tipologias florestais. 6.2.2 Interpretação da vegetação em imagens de satélite O mapeamento da cobertura florestal podeser em muitos casos, realizado por interpretação visual, o que requer do intérprete conhecimento sobre como áreas com vegetação (principalmente APPs e RLs) se expressam nas imagens de satélite. Primeiramente, é importante reconhecer alguns elementos de interpretação como, por exemplo, tonalidade, cor, forma e textura. A tonalidade, conhecida também como brilho, está relacionada à quantidade de radiação refletida por um determinado alvo em certa região espectral (banda). Os valores de brilho dos pixels de uma banda ou imagem são representados por tons de cinza, quanto maior a energia refletida naquele canal, mais a tonalidade vai tender ao branco. Dessa forma, pixels que possuam cobertura vegetalapresentarão altos valoresna banda 4 do sensor TM (infravermelho próximo), conforme a figura abaixo: O portal do agroconhecimento 119

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal Figura 45. (a) Imagem Landsat TM, banda 4 (infravermelho próximo) (b) curvas espectrais da vegetação, solo e água. Considerando que as imagens de sensoriamento remoto são adquiridas em diversas bandas, cada uma comtemplando uma região do espectro eletromagnético, é possível realizar combinações entre elas para formar composições coloridas que realçam certo alvo. Em particular, as composições ditas falsa-cor fornecem ao intérprete informações mais úteis para o mapeamento da cobertura florestal. Além disso, o olho humano tem melhor capacidade de distinção de cores do que tons de cinza. 120 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental Figura 46. Diferentes composições coloridas de imagens Landsat-TM 5 de uma área de reflorestamento de eucalipto no município de Itatinga, centro-sul do estado de São Paulo. A Figura 46 mostra diferentes composições coloridas de uma mesma área de reflorestamento de eucalipto. Na composição cor verdadeira (R3 G2 B1) é difícil O portal do agroconhecimento 121

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal distinguir diferenças entre os talhões oriundas da data de plantio. Já nas composições coloridas, talhões com árvores mais jovens apresentam tons mais claros de verde e vermelho, nas composições R5 G4 B3 e R4 G5 B7, respectivamente. Além da cor, outro elemento importante para interpretação de formações florestais em imagens de satélite é a textura. Áreas de floresta nativa apresentam dossel altamente heterogêneo em termos estruturais, cansando a formação de sombras devido àsdiferenças de altura entre as árvores, o que confere a essas áreas uma textura rugosa. A Figura 47 apresenta um exemplo de floresta nativa e povoamento equiâneo de eucalipto. Figura 47. Composição colorida de uma imagem Landsat-TM 5, mostrando as diferenças em termos de textura de uma floresta nativa e uma plantação de eucalipto. A forma é um elemento de interpretação importante para distinguir APPs de curso d água e RLs. Normalmente em áreas agrícolas bem desenvolvidas e com 122 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental histórico de ocupação não muito recente, a cobertura florestal estará disposta em fragmentos, que poderão apresentar formas geométricas (polígonos), indicando áreas de RL, ou padrão dendrítico acompanhando rios sendo, por tanto, APPs. 6.2.2 Mapeamento da dinâmica da cobertura florestal Imagens de satélite são obtidas em intervalos de tempo regulares que variam de acordo com a taxa de revisita ou resolução temporal do sensor. O satélite Landsat-5, por exemplo, obtêm dados de uma mesma região a cada 16 dias. Várias imagens de uma mesma área, adquiridas em épocas distintas, formam as chamadas séries multitemporais, utilizadas para a quantificação das mudanças de uso e cobertura da terra, cujas causas podem ser antrópicas ou não. A principal aplicação das séries multitemporais para as Cotas de Reserva Ambiental é o mapeamento da regeneração florestal. Por meio de técnicas de processamento de imagens e SIG é possível detectar áreas de regeneração a serem incluídas em futuras CRAs. Isso pode auxiliar o poder público na identificação de propriedades rurais com incremento de florestas nativas e aperfeiçoar ações de conservação dessas áreas. A seguir será apresentado um exemplo prático para detecção de áreas de regeneração em uma região agrícola bem desenvolvida, localizada na porção oeste do estado de São Paulo. 6.2.2.1 Mapeamento da dinâmica da cobertura florestal: exemplo prático Neste exemplo prático será apresentada uma metodologia que utiliza séries multitemporais de imagens e técnicas de processamento digital para o mapeamento de áreas de florestas com ênfase na detecção de regeneração. O objetivo é gerar um mapa da cobertura florestal em que são discriminados remanescentes e regeneração. O portal do agroconhecimento 123

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal 2.2.1.1 Área de estudo A área de estudo corresponde ao trato de sobreposição das cenas World Reference System (WRS/TM) 222/075, que cobrem parte do Bioma Mata Atlântica no estado de São Paulo (Figura 48). Figura 48. Localização da área de estudo para o exemplo prático. Fonte: Ferreira (2012). A história de ocupação da região foi marcada por diversos ciclos econômicos baseados em atividades agrícolas.a expansão dessas áreas associada ao desrespeito à legislação ambiental criou uma paisagem muito antropizada com pequenos fragmentos de floresta distribuídos de forma esparsa e sem conectividade. Atualmente, o cultivo de cana-de-açúcar e a pecuária de corte são as atividades que predominam. 124 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental 6.2.2.1.1 Material e Métodos Foi utilizada uma série multitemporal de 23 anos de imagens Landsat-5 TM, conforme Tabela 14. A data de aquisição das imagens depende da disponibilidade e qualidade das cenas (porcentagem de cobertura de nuvens), sendo priorizadas imagens do verão, estação em que a atividade fotossintética da vegetação é maior, facilitando sua detecção remota. Tabela 14. Passagens da cena WRS TM 222/075 WRS 222/075 Data de aquisição TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 26/07/1986 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 25/03/1988 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 21/05/1991 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 10/05/1993 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 27/04/1994 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 14/04/1995 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 26/11/1996 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 18/03/1997 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 16/11/1998 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 21/12/1999 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 07/12/2000 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 17/01/2004 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 08/03/2005 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 28/04/2006 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 30/03/2007 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 27/11/2008 TM (Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) 29/09/2009 O portal do agroconhecimento 125

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal Além das imagens foram utilizados dados do Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica: período 2005-2008 (SOS Mata Atlântica; INPE, 2009), um projeto da Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Essas instituições vêm mapeando a cobertura florestal do Bioma Mata Atlântica desde os anos 1980, em intervalos de tempo regulares, por meio de imagens de satélite e interpretação visual. Os dados são disponibilizados no formato vetorial (shape file) e podem ser facilmente acessados no portal eletrônico da Fundação SOS Mata Atlântica (http://mapas.sosma.org. br). Para este exemplo, foi utilizado somente o mapeamento de remanescentes referente ao ano de 2009. A Figura 49 apresenta os fragmentos florestais da área de estudo. Figura 49. Remanescentes florestais da área de estudo. Fonte: Adaptado de SOS Mata Atlântica (2009) Uma inspeção visual das imagens multitemporais de alguns fragmentos, revelou a ocorrência de áreas sem cobertura florestal em 1986 no interior de atuais re- 126 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental manescentes mapeados pela Fundação SOS Mata Atlântica, o que foi um indício da ocorrência de regeneração natural. A Figura 50 mostra um exemplo destas áreas. Nota-se que a porção central da imagem de 1986 é dominada por pastagem, que nessa composição colorida apresenta-se com coloração azulada. Após 23 anos, a mesma região apresenta-se com cor avermelhada e textura rugosa, características de áreas com cobertura florestal. Figura 50. Ocorrência de regeneração florestal na área de estudo. Áreas com cobertura vegetal apresentam-se na cor vermelha nesta composição colorida. As imagens são do satélite Lansat-5 TM. As áreas de regeneração localizadas no interior de fragmentos florestais fornecem a possibilidade de identificação de seu comportamento espectral ao longo da série multitemporal. Dessa forma, é possível utilizar esse padrão na detecção de áreas de regeneração em toda uma cena. Primeiramente, por meio de classificações não-supervisionadas (por exemplo, algoritmo k-médias) áreas de regeneração são identificadas no interior de fragmentos florestais, tendo como dados de entrada toda a série multitemporal de imagens, conforme Figura 51. O portal do agroconhecimento 127

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal Figura 51. Identificação de áreas de regeneração no interior de remanescentes florestais mapeados pela Fundação SOS Mata Atlântica. Para realçar áreas sem cobertura florestal existentes no interior de remanescentes em 1986, as imagens foram transformadas pela aplicação do Modelo Linear de Mistura Espectral (SHIMABUKURO et al., 1997). Após a classificação não-supervisionada, em que seu utilizou o algoritmo k-médias com três classes e a série multitemporal de imagens fração solo, identificou-se até três classes no interior dos remanescentes, sendo uma delas representativa de regeneração florestal. Na sequência, utilizou-se a resposta espectral dessas classes como amostras de treinamento para uma classificação supervisionada, pelo algoritmo de Máxima Verossimilhança (MAXVER), para detecção de remanescentes e regeneração por toda área de estudo. Com alguns procedimentos de pós-classificação, como remoção de pixels espúrios e validação das áreas de regeneração com imagens Google Earth, o mapa final foi gerado. A Figura 52 ilustra esse processo. 128 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental Figura 52. Identificação de áreas de regeneração para toda uma cena de satélite, utilizando-se como amostras de treinamento para uma classificação supervisionada classes de remanescentes e regeneração localizadas no interior de remanescentes florestais mapeados pela Fundação SOS Mata Atlântica. Para maiores detalhes sobre os procedimentos metodológicos e análise dos resultados sugere-se a leitura dos seguintes materiais: 1) Dissertação de mestrado de Matheus Pinheiro Ferreira, disponível em: http://mtc-m19.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtcdoc/publicacao.pdf m19/2012/03.13.20.54/ 2) Artigo publicado na revista Regional Environmental Change, disponível em: http://link.springer.com/article/10.1007%2fs10113-014-0652-6 6.3. Negociação de CRAs Atualmente existem mecanismos disponíveis para facilitar o processo de adequação ambiental, por meio da negociação de CRAs. A Bolsa Verde do Rio de Janeiro (BVRio, http://www.bvrio.org/site/), por exemplo, é uma iniciativa que O portal do agroconhecimento 129

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal disponibiliza uma plataforma de negociação de ativos ambientais, dentre os quais CRAs, conhecida como BVTrade (http://www.bvtrade.org). Nesta plataforma é possível vender ou comprar CRAs, através de um simples cadastro. Existem dois mercados de crédito em que é possível negociar CRAs, os de Unidades de Conservação (UCs) e as ditas CRAs futuras. O mercado de créditos em UCs é destinado basicamente ao cumprimento de medidas compensatórias de impacto ambiental no âmbito de processos de licenciamento ambiental, em que o titular de propriedades localizadas no interior de UCs podem vender suas terras e, assim, evitar um processo de desapropriação. Além disso, esses créditos também podem ser utilizados para compensar a falta de Reserva Legal. Maiores informações podem ser obtidas na cartilha Imóveis Privados em Unidades de Conservação de Domínio Público, produzida pela BVRio e anexa à apostila. Os mercados de CRAs para entrega futura a comercialização de áreas com vegetação natural, em processo de recuperação, que exceda o percentual obrigatório de Reserva Legal previsto em Lei, maiores detalhes podem ser encontrados no documento Perguntas e Respostas elaborado pela BVRio e anexo à apostila. 6.4 Referências bibliográficas SOS MATA ATLÂNTICA; INPE. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica: período 2005-2008. São Paulo, 2009. FERREIRA, M. P.; ALVES, D. S.; SHIMABUKURO, Y. E. Forest dynamics and land-use transitions in the Brazilian Atlantic Forest: the case of sugarcane expansion. Regional Environmental Change, p. 1-13, 2014. FERREIRA, M. P. Análise da dinâmica da cobertura florestal no Oeste do Estado de São Paulo utilizando imagens de satélite. 2012. 105 p. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos 130 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental Campos, 2012. Disponível em: <http://urlib.net/8jmkd3mgp7w/3bgq64l>. SHIMABUKURO, Y. E. et al. Segmentação e classificação da imagem sombra do modelo de mistura para mapear desflorestamento na Amazônia. INPE, 1997. Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/panamazon/panamazonia/port/mistura_prodes.pdf> BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm> TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant Physilogy.5. Ed. Sinauer Associates, 2010.782 p. PONZONI, F.J.; SHIMABUKURO, Y.E.; KUPLICH, T.M. Sensoriamento remoto da vegetação, 2012. 160 p. O portal do agroconhecimento 131

Currículo do Professor-autor Allan Arnesen Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal Allan Saddi Arnesen é Engenheiro Sanitarista e Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE sendo sua pesquisa voltada ao mapeamento de inundações com técnicas de sensoriamento remoto e SIG. Atualmente é engenheiro da Superintendência de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). 132 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental Currículo do Professor-autor Frederico Genofre Frederico Genofre é Engenheiro Sanitarista e Ambiental graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2010). Atua como consultor nas áreas de Saneamento e Planejamento de Recursos Hídricos utilizando Sistemas de Informação Geográfica e Sensoriamento Remoto. Atualmente trabalha na elaboração de Planos Municipais de Saneamento e com geoprocessamento aplicado aos Planos Municipais de Saneamento, Unidades de Conservação e Gestão Municipal. O portal do agroconhecimento 133

Sensoriamento remoto e SIG aplicados ao novo Código Florestal Currículo do Professor-autor Matheus P. Fereira Engenheiro Florestal graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR, 2010), com formação complementar na Universidade de Freiburg/Alemanha e Mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2012), onde desenvolveu sua pesquisa sobre a dinâmica da cobertura florestal do Estado de São Paulo. Atualmente é aluno de doutorado em Sensoriamento Remoto no INPE (2013-Atual), sendo sua linha de pesquisa voltada para análise e processamento de dados hiperespectrais visando o estudo da biodiversidade em florestas tropicais. 134 IEPEC

Capítulo 6 Cotas de Reserva Ambiental Currículo do Professor-autor Marcelo Curtarelli Marcelo Pedroso Curtarelli é Engenheiro Sanitarista pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2010) e Mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2012). Atualmente é aluno de doutorado em Sensoriamento Remoto no INPE (2012-Atual), sendo sua pesquisa voltada para o estudo das emissões de gases de efeito estufa em reservatórios hidrelétricos. Atua principalmente na área de planejamento e gestão de recursos hídricos com ênfase no monitoramento ambiental de reservatórios de usinas hidrelétricas. Possui ampla experiência em sensoriamento remoto e sistemas de informação geográfica. O portal do agroconhecimento 135

O Instituto de Estudos Pecuários é um portal que busca difundir o agroconhecimento, realizando cursos e palestras tanto presenciais quanto online. Mas este não é nosso único foco. Com o objetivo principal de levar conhecimento à comunidade do agronegócio, disponibilizamos conteúdos gratuitos, como notícias, artigos, entrevistas entre outras informações e ferramentas para o setor. Através dos cursos online, o IEPEC oferece a oportunidade de atualização constante aos participantes, fazendo com que atualizem e adquiram novos conhecimentos sem ter que gastar com deslocamento ou interromper suas atividades profissionais. w w w. i e p e c. c o m