PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA Edital 001/2014



Documentos relacionados
14/06/2013. Andréa Baêta Santos

DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS. Curso de Técnico em Transações Imobiliárias Curso Total

PROCURADORIA GERAL DA FAZENDA NACIONAL - PGFN

USUFRUTO. 1) Conceito:

Condições de Venda em Hasta Pública Unificada

PARECER CONJUR / MCIDADES Nº 1796/2007. Processo nº /

ACÓRDÃO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Gabinete de Consultoria Legislativa

REGULAMENTO DA PROMOÇÃO

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALEXANDRE LAZZARINI (Presidente) e THEODURETO CAMARGO.

1 de 5 03/12/ :32

A responsabilidade pelo pagamento das cotas condominiais em caso de aquisição do imóvel mediante arrematação judicial

Dados Básicos. Ementa

Dados Básicos. Legislação. Ementa. Íntegra

O registro no CADIN como elemento de interferência nas licitações e nos contratos administrativos

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS

Nota Técnica nº. 003/2015/GECOG Vitória, 02 de setembro de 2015.

PROVIMENTO CONJUNTO N.º 007/2014 CGJ/CCI

TERMO DE ADESÃO PARA INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES ELETRÔNICAS

Contratos em língua estrangeira

CONCORRÊNCIA Nº. 001/2010/SENAR-AR/RO

CONTRATO DE LOCAÇÃO DE IMÓVEL Nº 118DV/2015

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Lei nº , de (DOU )

Valdisio V. de Lacerda Filho)

PROJETO DE LEI Nº, de (Do Sr. Marcelo Itagiba)

PODER JUDICIÁRIO SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DÉCIMA CÂMARA

AS RESTRIÇÕES JUDICIAIS FACE ÀS TRANSMISSÕES DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA. Telma Lúcia Sarsur Outubro de 2011

A PORTABILIDADE DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO DA LEI FEDERAL N.º /2012 E SEUS REFLEXOS

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Registros Imóveis Perguntas e respostas. O que mudou no que se refere aos atos de Registros de Imóveis com a Lei Mineira nº 20.

Processo nº: ACÓRDÃO

Rio de Janeiro, 26 de julho de 2011.

PARECER PGFN/CRJ/Nº 2113 /2011

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador LUIZ HENRIQUE

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SAO PAULO - SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO. 30 a Câmara

Dados Básicos. Ementa. Íntegra

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E

11/11/2010 (Direito Empresarial) Sociedades não-personificadas. Da sociedade em comum

Estado do Rio de Janeiro PODER JUDICIÁRIO Conselho da Magistratura

ILUSTRÍSSIMO SENHOR ELMO VAZ BASTOS DE MATOS, PRESIDENTE DA COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DOS VALES DO SÃO FRANCISCO E DO PARNAÍBA CODEVASF.

Coordenação-Geral de Tributação

KÇc^iáema Q/Vacío^cUae Qjuótíca

DIREITO CIVIL: DIREITO DAS SUCESSÕES

PARCELAMENTO ORDINÁRIO DE TRIBUTOS FEDERAIS

Dados Básicos. Ementa. Íntegra

A previsibilidade legal da evicção consiste numa garantia de segurança do adquirente.

Validade, Vigência, Eficácia e Vigor. 38. Validade, vigência, eficácia, vigor

DA PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL NA PERSPECTIVA DO REGISTRO DE IMÓVEIS: CLÁUSULAS SUSPENSIVA E RESOLUTIVA, EXTINÇÃO E PUBLICIADE REGISTRAL

Lei n. o 7/2013. Regime jurídico da promessa de transmissão. de edifícios em construção. Breve introdução

(42/2015-E*l>go 40/2015-E = REGISTRO DE IMÓVEIS - FORMAL DE 11 PARTILHA - GRATUIDADE DE JUSTIÇA - Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça,

PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Corregedoria Geral da Justiça

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Protocolo de Compromisso de Interoperabilidade

ORDEM DE SERVIÇO PRFN 3ª REGIÃO Nº 004 de 16 de dezembro de 2009.

Desse modo, esse adquirente

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS, DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR

PREFEITURA MUNICIPAL DE JAGUARAÇU ESTADO DE MINAS GERAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

AULA 06 DA ADOÇÃO (ART A 1629 CC)

DOS CURSOS E SEUS OBJETIVOS

DO REFINANCIAMENTO DA DÍVIDA IMOBILIÁRIA COM TRANSFERÊNCIA DE CREDOR SUB- ROGAÇÃO

PORTARIA Nº 144 DE 07 DE NOVEMBRO DE 2007.

CENTRAIS ELÉTRICAS DE RONDÔNIA S/A COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO. Recorrente: SELL COMÉRCIO SERVIÇOS E CONSTRUÇÕES LTDA.

[Nota: os instrumentos de alteração contratual devem conter o número de registro da sociedade no CNPJ e o número de inscrição da sociedade na OAB/ES]

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

ACÓRDÃO. Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D.

MINISTÉRIO DA FAZENDA. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional PORTARIA PGFN Nº 79, DE 03 FEVEREIRO DE 2014

ESTADO DO PIAUÍ PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA

Aluguel O que é preciso saber sobre aluguel Residencial

Conselho Nacional de Justiça

ARTIGO: Efeitos (subjetivos e objetivos) do controle de

PROVIMENTO Nº 29/2005

TÍTULO I DAS ENTIDADES

NOVO CPC INTRODUZ A USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL NO PAÍS

TRASLADO DE CERTIDÕES DE REGISTRO CIVIL EMITIDAS NO EXTERIOR

Guia prático de procedimentos para os. Administradores de Insolvência.

Superior Tribunal de Justiça

RESUMO DA TABELA DE EMOLUMENTOS E TFJ DE 2015 EM VIGOR PARA ATOS PRATICADOS A PARTIR DE 1º DE JANEIRO DE 2015

Estado de Goiás PREFEITURA MUNICIPAL DE ANICUNS Adm / 2016 EDITAL CHAMAMENTO PÚBLICO QUALIFICAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

Válida até 30/03/2011

PROVIMENTO Nº 22/2015. A Corregedora-Geral da Justiça, Desembargadora Regina Ferrari, no uso das

A responsabilidade do inquilino pelo pagamento do IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano, relativo ao imóvel locado.

PORTARIA N 003/2009 CONSIDERANDO

1º ENCONTRO REGINAL DO CORI/MG EM VARGINHA

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MARCOS RAMOS (Presidente), ANDRADE NETO E ORLANDO PISTORESI.

SOCIEDADE LIMITADA. Sociedade Limitada. I - responsável integralmente e ilimitadamente pelas dívidas assumidas em seu próprio nome

RESOLUÇÃO ADMINISTRATIVA N /2011

PODER JUDICIÁRIO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ACÓRDÃO

Manual de utilização do módulo de Indisponibilidade de bens

CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

RESOLUÇÃO AGE Nº 335, DE 23 DE JULHO DE (Texto Consolidado)

OFÍCIO CIRCULAR N.º 205/2008-CGJ/DOF (Id /08) Favor mencionar este número Cuiabá, 25 de setembro de 2008.

Peça prático-profissional

Pernambuco. O DESEMBARGADOR JONES FIGUEIRÊDO ALVES, CORREGEDOR GERAL. DA JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO, EM EXERCÍCIO, no uso de

Direito das Coisas II

Estabelecimento Empresarial

Interessado: Conselho e Administração do Condomínio. Data: 17 de Agosto de Processo: 01/2007

Transcrição:

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA Edital 001/2014 SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA RESPOSTA DA QUESTÃO PRÁTICA 01 A presente questão é dividida em duas partes. Pede-se a elaboração do ato compatível com o caso fictício apresentado, devendo, ainda, ser o ato devidamente justificado. Por primeiro, deve ser lembrado que por ser uma questão prática, é curial o acerto do ato a ser elaborado, o qual é analisado com a sua específica e pontual fundamentação, justificadora da sua escolha. Portanto, uma não está desassociada da outra. Assim posto, três são os atos possíveis de serem realizados através do caso fictício, cada qual com a sua fundamentação: a) Nota de Devolução; b) Registro de contrato de locação; e c) Suscitação de dúvida. Os três atos se fazem possível ante o posicionamento tradicional de que no caso fictício o Registrador deve impedir o ingresso do título, lavrando a competente nota motivada de devolução; ante o novel posicionamento capitaneado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que entende ser possível do contrato ser levado a registro (mas não a averbação) e, por último, diante desse conflito de posicionamentos, a realização da suscitação de dúvida para que o órgão competente dirima-a. Assim, são os atos e suas fundamentações:

Nota de Devolução: 1 REGISTRO DE IMÓVEIS O presente título foi protocolado sob o n xxxxxx, em xx/xx/2014, tendo sido devolvido sem registro, para satisfação das seguintes exigências: - NOTA DE DEVOLUÇÃO - Consta na averbação n xx, da matrícula n xxxxx, que foi determinado o impedimento de registro de qualquer ato que importe em alienação referente ao imóvel deste título, tornando-o indisponível. Para que o título tenha ingresso ao fólio real é necessário apresentar mandado de cancelamento da ordem de indisponibilidade, ressaltando que o presente contrato de locação prevê expressamente cláusulas de vigência e de preferência. A indisponibilidade do bem impede a inscrição de cláusula de vigência ou de preferência estipuladas em contrato de locação de imóvel urbano, para a hipótese de alienação. De acordo com a doutrina do professor Luiz Guilherme Loureiro 1 : A indisponibilidade de bens é forma especial de inalienabilidade e impenhorabilidade, impedindo o acesso de títulos de disposição ou oneração, ainda que formalizados anteriormente à decretação da inalienabilidade (Ap. 029.886-0/4 SP, j. 04.06.1996). Portanto, se a locação não se contrapõe à indisponibilidade (uma e outra estão em planos diferentes), o mesmo não se dá com essas inscrições (lato sensu), que vão ao plano real e, desse modo, não podem ser admitidas, enquanto houver indisponibilidade. A averbação de indisponibilidade decorre de ordem legalmente expedida e inscrita anteriormente, retirando da propriedade imobiliária a sua disponibilidade, que foi averbada regularmente e por determinação de autoridade competente. Se do titular dominial se retira o poder de dispor da coisa que, como no caso, ficou à disposição do Juízo, nenhum título tendente a onerar ou transmitir a propriedade imobiliária pode ser admitido no Registro de Imóveis. O entrave deve ser mantido sobre o imóvel até a decisão definitiva da pendência judicial que o originou. O cancelamento se dará diretamente pela autoridade responsável pela constrição encaminhada ao Registro de Imóveis. Destaque-se, ainda, que não é da competência de Juízo Corregedor Permanente, no âmbito administrativo, emitir decisão capaz de cancelar a indisponibilidade ou relativiza-la. João Pessoa, XX/XX/2014. Registrador Observação: A prenotação tem validade de 30 dias, contados de sua primeira apresentação na Serventia (artigo 205 da Lei n 6.015/73). Sua fundamentação: O Registrador deverá impedir o ingresso do título, lavrando a competente nota 1 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos Teoria e Prática, 5ª ed. revista e atualizada, São Paulo: Método, 2014, p. 373.

motivada de devolução. A indisponibilidade do bem impede a inscrição de cláusula de vigência ou de preferência estipuladas em contrato de locação de imóvel urbano, para a hipótese de alienação. De acordo com a doutrina do professor Luiz Guilherme Loureiro 2 : A indisponibilidade de bens é forma especial de inalienabilidade e impenhorabilidade, impedindo o acesso de títulos de disposição ou oneração, ainda que formalizados anteriormente à decretação da inalienabilidade (Ap. 029.886-0/4 SP, j. 04.06.1996). É nesse sentido que a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba 3 navega: EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRATO DE LOCAÇÃO DE IMÓVEL ALIENADO POR HASTA PÚBLICA INEXISTÊNCIA DE AVERBAÇÃO DO CONTRATO PERANTE O REGISTRO IMOBILIÁRIO POSSIBILIDADE DE DENUNCIA PROVIMENTO RECURSAL. Sem o devido registro do contrato locatício junto a matricula do imóvel, este direito obrigacional não se reveste de eficácia real, não podendo ser exigido perante terceiros Destarte, o adquirente do imenel pode denunciar o contrato nos termos do art. 8 da Lei n 8.245, de 18 de outubro de 1991. Do seu corpo extrai-se: Logo, sem o devido registro do contrato locatício junto a matricula do imóvel, este direito obrigacional não se reveste de eficácia real, não podendo ser exigido perante terceiros. Destarte, o adquirente do imóvel pode denunciar o contrato nos termos do art. 8 da Lei n 8 245. Neste norte, em magistral exposição, Silvio Salvo Venosa comentando o artigo em apreço "Presente dispositivo nas regras gerais da lei, aplica-se a todas as locações. O novo adquirente e estranho ao pacto locatício, em principio, salvo o registro imobiliário que tem por finalidade tornar a avença conhecida por todos."1 E mais É interessante acentuar essas hipóteses em que o legislador confere direitos exorbitantes do contrato quando este consta do registro imobiliário. A lei atual e mais precisa e se refere a forma como se efetua o registro no contrato, qual seja a averbação. Não basta porém que o contrato seja registrado. São três os requisitos para que o contrato valha contra terceiros adquirentes o contrato deve estar com vigência por prazo determinado, deve conter clausula de vigência para o caso de alienação e, finalmente, deve ser ax erbado junto 'a matricula do imóvel [...]. (grifo nosso) Portanto, se a locação não se contrapõe à indisponibilidade (uma e outra estão em planos diferentes), o mesmo não se dá com essas inscrições (lato sensu), que vão ao plano real e, dessa forma, não podem ser admitidas, enquanto houver indisponibilidade. Nesse mesmo tom é a jurisprudência: CIVIL. PROCESSO CIVIL. REGISTRO DE CONTRATO DE 2 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos Teoria e Prática, 5ª ed. revista e atualizada, São Paulo: Método, 2014, p. 373. 3 TJPB. Ag.Inst. n 001 2008 008 274-7, 2ª CC, Relator Des. Marcos Cavalcanti de Albuquerque, j. 25/11/2008.

LOCAÇÃO. IMÓVEL INDISPONÍVEL POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL. CLÁUSULAS DE PREFERÊNCIA E VIGÊNCIA. NECESSIDADE DE REGISTRO. EFEITOS ERGA OMNES. DÚVIDA REGISTRAL. PROCEDÊNCIA. - Ao decretar a indisponibilidade dos bens de uma pessoa, o Judiciário tem como objetivo impedir que o devedor aliene seus bens ou que sobre estes recaiam novos gravames. Dessa forma, assegura-se patrimônio suficiente para o pagamento de eventuais débitos. Via de regra, esses bens são levados à hasta pública, devendo estar livres e desembaraçados. - Com o registro imobiliário, a publicidade de cláusulas contratuais prevendo o direito de preferência e de vigência passa a ser erga omnes, obrigando terceiros que adquiram um bem levado à hasta pública. Nesses casos, a anotação no fólio imobiliário inevitavelmente gera um ônus sobre o prédio, inviabilizando o decreto de indisponibilidade. - Recurso improvido. 4 (grifo nosso) Assim, vê-se que o caso prático vai além do direito de dispor do bem por simples locação, ante a indisponibilidade do imóvel por força judicial, já que as cláusulas destacadas no contrato de locação, se registradas, gerarão, ante a publicidade do registro imobiliário, uma eficácia real sobre o bem contra o atual ou futuro proprietário; por terem efeito erga omnes, essas cláusulas obrigariam, assim, a terceiros que venham a adquirir o bem a respeitar essas cláusulas até o fim da locação, contrariando a determinação judicial de indisponibilidade da coisa. Ora, a averbação de indisponibilidade decorre de ordem legalmente expedida e inscrita anteriormente, retirando da propriedade imobiliária a sua disponibilidade, que foi averbada regularmente e por determinação de autoridade competente. Se do titular dominial se retira o poder de dispor da coisa que, como no caso, ficou à disposição do Juízo, nenhum título tendente a onerar ou transmitir a propriedade imobiliária pode ser admitido no Registro de Imóveis. Conclui-se então que o entrave deve ser mantido sobre o imóvel até a decisão definitiva da pendência judicial que o originou. O cancelamento se dará diretamente pela autoridade responsável pela constrição encaminhada ao Registro de Imóveis. Destaque-se, ainda, que não é da competência de Juízo Corregedor Permanente, no âmbito administrativo, emitir decisão capaz de cancelar a indisponibilidade ou relativiza-la. 4 TJDFT. APC n 2008.01.1.030107-4, 6ª T. Relator Des. Luís Gustavo B. de Oliveira, j. 07/04/2010.

Registro do contrato: 1 REGISTRO DE IMÓVEIS LIVRO Nº 2 Registro Geral. Matrícula 1238 [...] R.xx(n ato) em xx de xxxxxx de 2014. (locação), prenotação n xxxxxx. Data: xx/xx/2014. Nos termos do instrumento particular de xx de xxxxx de 2014, celebrado nesta cidade, o proprietário e locador, José da Silva, já qualificado, deu em LOCAÇÃO COMERCIAL, o imóvel desta matrícula, à Francisco de Souza, (apresentar a qualificação completa), pelo prazo de xx anos, com início em xx de xxxxx de xxxxx, e término em xx de xxxxx de xxxx, sendo o aluguel comercial fixado em xxxxxx, por mês, a ser regido pela forma e demais condições constantes do título, dando-se o devido destaque as cláusulas de vigência e de preferência. REGISTRADO POR: (nome do escrevente) Autorizado(a). Sua fundamentação: Segundo a novel compreensão, a indisponibilidade do bem não impede o registro do contrato de locação de imóvel urbano com cláusula de vigência ou de preferência estipuladas, mesmo que já haja no registro imobiliário a averbação de indisponibilidade do bem, no caso fictício, expedida por Juiz do Trabalho. De início, destaco que, não obstante as previsões constantes do artigo 167, inciso I, 3 e inciso II, 16, da Lei n. 6.015/73, acompanhado do artigo 33, caput, da Lei n. 8.245/91, que referem o registro e a averbação dos contratos de locação, respectivamente para consignar a cláusula de vigência e o exercício do direito de preferência, é desnecessária a prática de dois atos notariais (averbação e registro), bastando o registro em sentido estrito para garantir a eficácia real às cláusulas de vigência e ao direito de preferência, conforme já decidido pela Corregedoria Geral da Justiça no processo n. 2013/36874 do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 5. (grifo nosso) A compreensão é de que a indisponibilidade prevista no artigo 53, Iº, da Lei n 8.212/91 não obstaculiza o registro do pacto locatício, mesmo que comercial, pois com a publicidade resultante da inscrição se objetiva unicamente expandir a eficácia subjetiva de cláusulas do contrato de locação, não se perdendo de vista a função social do contrato e os seus efeitos irradiadores para terceiros. Cumpre destacar o seguinte precedente do TJSP, Apelação Cível n 0018645-08.2012.8.26.0114 (p. DJE 14/011/2013): [...] Se a indisponibilidade não impede a celebração da locação, e 5 TJSP. CSM. Ap. n 0027416-80.2013.8.26.0100, rel. Corregedor Geral da Justiça, Des. Hamilton Elliot Akel.

tampouco repercute sobre a validade da cláusula de vigência e do pacto de preempção, não faz sentido estorvar fenômeno de reforço eficácial, conseqüência do registro, e direcionado a resguardar, com mais rigor, a função social do contrato, "nesse seu conteúdo ultra partes", cunhado por Cláudio Luiz Bueno de Godoy ao enfocar a face externa de tal princípio, mitigando o da relatividade de seus efeitos e robustecendo o da força obrigatória. [24] O resultado associado à publicidade registral, com atribuição de eficácia real a obrigações comuns, de poderes diretos sobre os imóveis locados e, particularmente, de direitos reais de gozo e aquisição ao locatário, não é de ser indistintamente vedado em função da indisponibilidade legal, especialmente porque não implica voluntário deslocamento patrimonial subjetivo. Com mais razão se considerado que não impede, em outra execução, nova penhora sobre o bem indisponível, de acordo com a pacífica jurisprudência do Superior Tribunal, de Justiça, que, i ter ativamente, tem afirmado: a indisponibilidade versada no l. do artigo 53 da Lei n. 8.212/1991 apenas impossibilita a alienação do bem penhorado pelo devedor-executado.[25] [...] Assim, sob a influência da visão de contrato como fato social, instituto jurídico funcionalizado, e a inspiração de novos paradigmas jurisprudenciais, impõe, portanto, rever a orientação deste Conselho expressa no acórdão proferido nos autos da Apelação Cível n 100.237-0/0, rel. Des. Luiz Tâmbara, j. em 04.09.2003, quando admitida a incompatibilidade entre a indisponibilidade do artigo 53, 1, da Lei n 8.212/1991, e o registro de contrato de locação com cláusula de vigência. 6 Ademais, se é possível recair mais de uma penhora sobre o bem, não é crível que não possa ser levado para registro o contrato de locação, que sequer irá gerar ônus real sobre a coisa. 6 TJSP. CSM. Ap. n 0027416-80.2013.8.26.0100, rel. Corregedor Geral da Justiça, Des. Hamilton Elliot Akel.

Suscitação de dúvida: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FEITOS ESPECIAIS DA COMARCA DE JOÃO PESSOA PB. (espaço de 10 linhas) (qualificar), oficial do 1 Registro de Imóveis desta Comarca, Estado da Paraíba, infrafirmado, vem respeitosamente perante a autoridade de Vossa Excelência, suscitar a seguinte dúvida, com fulcro no artigo 198 da Lei n 6.015/73: 1. Francisco de Souza (qualificar), requereu ao suscitante a realização do registro do contrato de locação comercial, com cláusulas de vigência e de preferência. Contrato firmando entre ele, locatário, com o Sr. José da Silva, locador e proprietário do imóvel. 2. Feita a prenotação nos termos do artigo 182 do LRP, ao verificar a legalidade do titulo, o suscitante veio a constatar que na matrícula do imóvel há uma averbação de indisponibilidade do bem, oriunda da Justiça do Trabalho. 3. Considerando que a indisponibilidade de bens é forma especial de inalienabilidade e impenhorabilidade, impedindo o acesso de títulos de disposição ou oneração, ainda que formalizados anteriormente à decretação da inalienabilidade (Ap. 029.886-0/4 SP, j. 04.06.1996) 7, entendeu o suscitante que o contrato em espeque não pode ser levado a registro, enquanto perdurar a indisponibilidade determinada pela Justiça Trabalhista. Afinal, por terem essas cláusulas efeito erga omnes, a publicidade alcançada pelo registro irá gerar uma eficácia real sobre o bem contra o atual ou futuro proprietário. Motivo pelo qual apresentou uma nota devolutiva. 4. Em razão da mencionada nota devolutiva, o suscitado apresentou no dia xx de xxxx de 2014, o competente requerimento, afirmando que o contrato em análise pode ser levado a registro nos seus estritos termos, mesmo pendente a averbação de indisponibilidade do bem, pois a indisponibilidade prevista no artigo 53, I, da Lei n 8.212/91 não obstaculiza o registro do pacto locatício, mesmo que comercial, já que com a publicidade resultante da inscrição se objetiva unicamente expandir a eficácia subjetiva de cláusulas do contrato de locação, não se perdendo de vista a função social do contrato e os seus efeitos irradiadores para terceiros. Afirmando que se é possível recair mais de uma penhora sobre o bem, não é crível que não possa ser levado para registro o contrato de locação, que sequer irá gerar ônus real sobre a coisa. 3. Assim, conforme exposto, o suscitante vê-se em dúvida, levando esta para ser submetida, então, à apreciação de Vossa Excelência, que, bem, ponderando sobre o caso, ordenará o que for de Direito. João Pessoa, XX/XX/2014. (assinatura do oficial) Sua fundamentação: O procedimento de dúvida inicia-se com exigência formulada pelo oficial registrador, em relação à qual não se conforme o interessado no registro, ou que, simplesmente, não possa atendê-la. A suscitação é requerida pelo interessado no registro diretamente ao oficial registrador (art. 198, caput, LRP), diante de situação concreta, vale 7 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos Teoria e Prática, 5ª ed. revista e atualizada, São Paulo: Método, 2014, p. 373.

dizer, título devidamente protocolado para ingresso na tábua, seja para registro em sentido estrito, seja para averbação. 8 É imprescindível levar em conta que o Procedimento de Dúvida é o mecanismo que serve para verificar a correção ou não das exigências formuladas pelo Registrador, constituindo, portanto, instrumento para aferição da regularidade do exercício funcional das atribuições do Oficial, o qual, por imposição do princípio da legalidade, somente deve agir quando estiver seguro de que o título está em completa conformidade com o Direito. 9 Assim, ao ser vislumbrado que o caso prático desagua em duas possíveis teses a vetusta e a novel, que, são antagônicas, a dúvida é mais do que razoável, devendo ser, então, apresentada a nota de dúvida pelo oficial registrador, respeitando o procedimento de dúvida no registro de imóveis. 8 RODRIGUES, Marcelo. Tratado de Registros Públicos e Direito Notarial, São Paulo: Atlas, 2014, p. 162-163. 9 PAIVA, João Pedro. Série Direito Registral e Notarial - Procedimento de Dúvida no Registro de Imóveis, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010, p. 62.