TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO SEXTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 41839/2010 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL APELANTE: TOKIO MARINE BRASIL SEGURADORA S. A. APELADO: CLEYTON SILVA SANTOS Número do Protocolo: 41839/2010 Data de Julgamento: 14-7-2010 EMENTA 1 / 8
RECURSO DE APELAÇÃO AÇÃO DE COBRANÇA SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT ALEGADA AUSÊNCIA DE PROVA DA INVALIDEZ PERMANENTE INOCORRÊNCIA RESPOSTAS POSITIVAS AOS QUESITOS OFICIAIS DO LAUDO DO IML DEFORMIDADE PERMANENTE DE ARTICULAÇÃO DA CLAVÍCULA ESQUERDA RECURSO DESPROVIDO. Se a incapacidade restou comprovada por laudo médico do IML acostado ao processo, mostra-se devida a indenização a que se refere o artigo 3º da Lei nº 6.194/74. É possível a alteração da data de incidência da correção monetária, independentemente de pedido da parte, sem, contudo, importar em decisão ultra petita ou em infringência ao princípio da ne reformatio in pejus. A data da incidência da correção monetária, em casos como este, deve ser a partir do dia do evento danoso, nos termos da Súmula 43 do STJ. R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES 2 / 8
Egrégia Câmara: Cuida-se de Recurso de Apelação cível interposto por TOKIO MARINE BRASIL SEGURADORA S.A., de decisão que julgou procedente a Ação de Cobrança em favor de CLEYTON SILVA SANTOS, para condenar a seguradora ao pagamento do Seguro Obrigatório DPVAT, por invalidez permanente, no valor de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), acrescido de juros mora 1% (um por cento) ao mês a partir da citação e correção monetária pelo INPC a partir da propositura da ação, mais custas honorárias advocatícios de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. Sustenta a ausência de prova válida que comprove a alegada invalidez total e permanente do apelado, porque o laudo do IML não atesta a invalidez permanente, menciona apenas a deformidade de articulação do ombro esquerdo. Postula o provimento do recurso para julgar improcedente a ação em razão da ausência de cobertura do evento e do dano estético apresentado pelo recorrido. Em contrarrazões, o apelado sustenta que sofreu debilidade permanente da função do membro esquerdo e deformidade de articulação da clavícula esquerda, cuja incapacidade impede que venha exercer qualquer atividade que exija esforço físico do aludido membro. Aduz que o recurso é protelatório, o que enseja a condenação da seguradora por litigância de má-fé. É o relatório. 3 / 8
VOTO EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (RELATOR) Egrégia Câmara: A controvérsia está em saber se o laudo do IML constitui prova da invalidez permanente do apelado, decorrente de acidente automobilístico ocorrido em 06-7-2008. Verifica-se que a Lei nº 6.194/74, que trata do seguro obrigatório, no seu art. 3º, dispõe: Art. 3º - Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2º desta Lei compreendem as indenizações por morte, por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares, nos valores e conforme as regras que se seguem, por pessoa vitimada (...). Embora a Lei nº 6.194/74 refira-se apenas à invalidez permanente (parcial ou total), os laudos médicos e a jurisprudência pátria têm utilizado expressões como deformidade permanente ou debilidad e permanente como fundamento para a concessão do DPVAT, como se as expressões fossem sinônimas. 4 / 8
Assim, diante da utilização de expressão diversa daquela prevista na legislação pertinente, necessário avaliar o conjunto probatório para se certificar da ocorrência do sinistro e que dele resultou em invalidez permanente da capacidade funcional, seja total ou parcial, a permitir a concessão do benefício. A prova (Exame de Corpo de Delito, fls. 27/28) comprova a debilidade permanente do autor. Da leitura do Laudo Pericial (27/28), constata-se que em resposta ao quesito nº 4, o qual se indaga do sinistro: Resultará incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, ou perigo de vida ou debilidade permanente de membro, sentido ou função? Em resposta o médico legista afirma: resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias. Sim debilidade da função do ombro esquerdo. E, na sequência, em resposta ao quesito nº 05, que indaga: Resultará incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável, ou perda ou inutilização de membro sentido ou função, ou deformidade permanente? A resposta é Sim, deformidade de articulação da clavícula esquerda. Conforme se verifica, não há falar-se em ausência de provas que comprovem a invalidez do apelado. As respostas aos quesitos são indenes de dúvidas acerca da invalidez permanente do segurado. Por fim, a sentença fixou a incidência da correção monetária a partir do ajuizamento da ação, o que comporta alteração, porque não reflete a melhor forma de aplicação. Ocorre que se trata de matéria que pode sofrer alteração, independentemente de pedido específico das partes, sem, contudo, importar em decisão ultra petita ou em infringência ao princípio da ne reformatio in pejus. É o entendimento jurisprudencial, inclusive preconizado por esta e. Câmara. 5 / 8
APELAÇÕES CÍVEIS - SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT - LEGITIMIDADE PASSIVA DE SEGURADORA - APOSENTADORIA POR INVALIDEZ DEFERIDA PELO INSS - PROVA SUFICIENTE DA INVALIDEZ PERMANENTE TOTAL - PAGAMENTO NA ESFERA ADMINISTRATIVA NÃO COMPROVADO - DOCUMENTOS UNILATERAIS E SEM A CHANCELA DO RECEBEDOR - LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NÃO CARACTERIZADA ACIDENTE ANTERIOR À MP 340/2006 - APLICAÇÃO DA LEI N 6.194/74 VIGENTE AO TEMPO DO EVENTO DANOSO - INDENIZAÇÃO EM SALÁRIO MÍNIMO - UTILIZAÇÃO COMO PARÂMETRO DE FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO - EVENTO E DANO COMPROVADOS - CONDENAÇÃO DEVIDA - JUROS DE MORA A PARTIR DA CITAÇÃO E CORREÇÃO MONETÁRIA A PARTIR DO SINISTRO - POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DE OFÍCIO HONORÁRIOS - MANUTENÇÃO - RECURSOS DESPROVIDOS. (...) Não labora ex officio, ultra petita ou em infringência ao princípio da ne reformatio in pejus o acórdão que, nas instâncias ordinárias, disciplina a incidência dos juros moratórios e da correção monetária, independentemente de pedido específico das partes. (REsp 665282; Rel. Min. Aldir Passarinho Junior; 4ª T.; DJe 15-12-2008, in www.stj.jus.br ) (...). (TJ/MT -RAC nº 71911/2009 - Des. Juracy Persiani Julgada (31-3-2010) (grifei). Dessa forma, deve a correção monetária incidir da data do prejuízo até o dia do efetivo pagamento. Posto isso, nega-se provimento ao recurso. É como voto. 6 / 8
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEXTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JURACY PERSIANI, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (Relator), DRA. CLEUCI TEREZINHA CHAGAS (1ª Vogal convocada) e DES. JURACY PERSIANI (2º Vogal), proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO, À UNANIMIDADE. Cuiabá, 14 de julho de 2010. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADOR JURACY PERSIANI - PRESIDENTE DA SEXTA CÂMARA CÍVEL ---------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADOR GUIOMAR TEODORO BORGES - RELATOR 7 / 8
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