2. POR QUE FOI ESCRITO O EVANGELHO? O objetivo do evangelho está bem claro na sua primeira conclusão: "Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida eterna em seu nome" (Jo 20,30-31). O evangelho foi escrito para narrar alguns SINAIS realizados por Jesus, que se tomaram significativos na história da comunidade, a fim de levar a própria comunidade e os leitores a crer em Jesus Cristo e participar da VIDA em seu nome. Pretende assim a integração entre FE e VIDA, a partir de SINAIS concretos. É importante notar ainda que o anúncio da Boa Nova, narrada na forma de evangelho, nasceu, dentro da comunidade joanina, como memória de Jesus por obra do Espírito/Paráclito (cf. Jo 14,26). Foi escrito como uma forma de resistência, sobretudo, em duas situações decisivas para a vida da comunidade: - contra os ataques vindos de fora, sobretudo da Sinagoga judaica, do Gnosticismo e do Império Romano.
- para uma animação da comunidade que corre perigo de desagregação interna e perda da identidade. Tarefa: 1. Que sinais você identifica no trabalho da pastoral da criança que revelam o Reino de Deus? 2. Ler Jo 12,1-11. Como esse sinal dessas mulheres ajudam a entender a missão da Pastoral da Criança? Que desafios temos a partir desse texto? Como podemos nos ajudar? 3. A COMUNIDADE ]OANINA A comunidade joanina inicia sua vida comunitária, no seguimento de Jesus, desde a Palestina. Porém, diversas circunstâncias levam a comunidade a caminhar para outros lugares. A guerra contra os judeus, por volta de 66 d.c., provocou a dispersão de muitas comunidades cristãs. Alguns opinam, a partir daí, que a comunidade joanina teria migrado para a Síria. Após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.c., a comunidade vai para Éfeso, como já vimos a partir do testemunho de lrineu e de outros padres da Igreja.
Desde a Palestina, pessoas da comunidade começam a juntar e organizar material em forma de lembrança oral e fragmentos escritos sobre Jesus de Nazaré. Essas coletâneas de palavras de Jesus, integradas na experiência de fé da comunidade, formarão, aos poucos, o texto escrito do quarto evangelho. Este será concluído, apenas, no final do primeiro século, em Efeso. Fazendo um raio X deste evangelho, descobrimos nele traços de uma comunidade muito semelhante a nossas comunidades de hoje. E constituída por vários grupos culturais, o que significa também uma grande mistura de tradições religiosas. Logo no primeiro capítulo do evangelho, Jesus é procurado por dois discípulos/as de João Batista que são convidados a permanecer com ele (Jo 1,35ss.). Seguindo a leitura do evangelho, no capítulo 4, encontramos outro grupo, o dos samaritanos/as, considerado impuro e marginalizado pelos judeus, que adere a Jesus após o testemunho da mulher samaritana e do contato direto com a própria palavra de Jesus (cf. Jo 4,35-42). Um pouco adiante encontramos os/as helenistas (Jo 7,35; 12,20), que também integram a comunidade dos seguidores de Jesus. O núcleo da comunidade joanina, porém, é constituído por
judeus expulsos da Sinagoga. A causa da expulsão da Sinagoga é que estes judeus aceitaram a pessoa e a proposta de Jesus e a partir daí adquiriram uma nova visão da própria realidade. Confessaram que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, o Profeta que devia vir como Salvador a este mundo. Isto representava uma ameaça para as lideranças judaicas, por isso era melhor expulsá-los (cf. Jo 9). Como todas as comunidades cristãs nascentes, nos primeiros séculos, a comunidade joanina vive sob a dominação e a perseguição do Império Romano (cf. Jo 11,48). Além disso, a comunidade enfrenta dois momentos de crise e de ameaça de desagregação: a expulsão da Sinagoga, entendida como sistema cultural, sócio-religioso, naquela época; e a cisão interna em conseqüência do escândalo diante da cristologia da encarnação (cf. Jo 6,66). Estes dois fatos deixaram marcas indeléveis na redação do evangelho. Por um lado a comunidade se defende contra ameaças vindas de fora, por outro, é desafiada a recuperar sua identidade que está ameaçada. A comunidade enfrenta algumas correntes religiosas (o "gnosticismo" e o "docetismo") que desviam da prática cristã originária, proposta e vivida por Jesus de Nazaré.
Tarefa: Faça uma pesquisa sobre o gnosticismo e o docetismo nos primeiros séculos. Como essas doutrinas atrapalham a compreensão de Jesus? Que perigos elas oferecem para nossa caminhada cristã? Você pode identificar nas nossas comunidades pensamentos parecidos as vezes? Em resumo, a comunidade joanina pode ser assim caracterizada: - Comunidade de periferia, sem poder, marginalizada e excluída do sistema. O cego de nascença, como representante da comunidade, é expulso da Sinagoga (cf. Jo 9). O evangelho mostra que os samaritanos, marginalizados pelo judaímo oficial, são acolhidos carinhosamente por Jesus (Jo 4,1-42). - Comunidade de resistência, perseguida e minoritária. Daí a presença e a liderança significativa das mulheres no evangelho de João. Como em toda a tradição bíblica e ainda hoje as mulheres são um símbolo de resistência em momentos agudos de sobrevivência da co- munidade (Jo 2,1-11; 4,1-42; 11,1-44; 12,1-11; 16,20-22;19,25-27; 20,11-18).
- Comunidade que se organiza sob a liderança do DISCIPULO/A AMADO/A. O Discípulo Amado é uma figura histórica anônima que aparece geralmente ao lado de Pedro, o grande líder da Igreja Apostólica, com uma função complementar e superior a este (cf. Jo 13,23-26; 19,26-27; 20,1-10; 21,7.20-24).