RELATOA DE MULHERES 1 Tayana Costa 2 CRIOTERAPIA E TERMOTERAPIA NA DISMENORRÉIA PRIMÁRIA POR Melissa Medeiros Braz 3 RESUMO Dismenorréia primária, mais popularmente conhecida como cólica menstrual, é provavelmente a mais comum de todas as afecções ginecológicas. Existem inúmeros métodos para a diminuição da dor, entre elas, a crioterapia e a termoterapia que podem ajudar a amenizar ou até mesmo cessar os sintomas causados por essa menstruação dolorosa. Esses recursos fisioterápicos atualmente são pouco utilizados e pesquisados. Por isso há importância de se pesquisar os conhecimentos e uso dessas técnicas e os seus conseqüentes efeitos sobre a dismenorréia por relatos de mulheres. Tendo como um projeto descritivo, o tipo de pesquisa é de opinião, assim procurando saber pontos de vistas, atitudes e o grau de conhecimento dos entrevistados. Constatou-se, por meio de questionário composto por quatorze questões, que muitas mulheres conhecem, aplicam e observam alívio na utilização da termoterapia na região ventral. E em relação a crioterapia, com sua aplicação na região lombar, observou-se pouco conhecimento e uma utilização mínima, mas com cinqüenta por cento de eficácia. Conclui-se que a termoterapia e a crioterapia são métodos eficazes, não invasivos, que não causam efeitos colaterais, são de baixo custo e de fácil acesso a população. Palavras-chave: dismenorréia, crioterapia e termoterapia. INTRODUÇÃO Desde tempos muito antigos, em várias culturas, a menstruação era considerada mágica, sagrada, e reverenciada, onde a mulher menstruada era cheia de poder. Nossa cultura patriarcal, com suas raízes gregas, romanas, judaicas e cristãs, alterou esse período feminino para algo feio, impuro, numa perspectiva geral da mulher como ser inferior. Restaram apenas sentimentos negativos: vergonha, segredo, impureza, ansiedade e incômodo. (OWEN, 1994). 1 Trabalho apresentado ao curso de Fisioterapia, como requisito à obtenção do título de bacharel em Fisioterapia. 2 Autora do trabalho de conclusão do curso de Fisioterapia. 3 Orientadora do trabalho de conclusão de curso.
Um desses incômodos gerados pela ansiedade, tendências, competitividade e vergonha são as dismenorréias, conhecidas popularmente como cólicas menstruais. É um problema que afeta cerca de metade das mulheres em idade fértil. Então a dismenorréia primária se tornou um estado comum, que não existe doença associada, pela rotina, estresse, alimentação, competição, histórico, tabus e tendências modistas. Dismenorréia é a menstruação dolorosa e penosa. Um dos seus principais sintomas é a dor no baixo ventre, mas pode evoluir com outros sintomas como náuseas, vômitos, diarréia, dor de cabeça, dor na região lombossacra irradiando para as coxas, fadiga, nervosismo, vertigem e até mesmo desmaio. Muitas mulheres com dismenorréia apresentam sintomatologia severa, incapacitando-as para seus afazeres habituais, comprometendo tanto as atividades dentro como fora de casa. Existem inúmeros recursos fisioterapêuticos para diminuir a severidade dos sintomas ou até mesmo para eliminar a dor, promovendo analgesia, os citados aqui serão a termoterapia e a crioterapia. Devido à evolução farmacêutica e a satisfação imediata dos remédios antiinflamatórios pela população feminina nos dias atuais, fez com que esses recursos hipo e hipertermoterápicos ficassem esquecidos e pouco requisitados na área ginecológica. É importante ressaltar que esses recursos terapêuticos são antigos, não causam efeitos colaterais prejudiciais, são econômicos, simples de fácil aplicação e acesso a qualquer classe social.
Dado o exposto, este trabalho investiga: qual o grau de conhecimento sobre a crioterapia e a termoterapia para analgesia na dismenorréia primária entre alunas e professoras da UNISUL do Curso de Fisioterapia, campus Tubarão? DELINEAMENTO DA PESQUISA Esta pesquisa caracteriza-se como sendo do tipo descritiva, de opinião, onde se procura saber que atitudes, pontos de vistas e preferências têm pessoas (mulheres com dismenorréia primária) a respeito de algum assunto (crioterapia e termoterapia), com intuito de se tomar decisões sobre o mesmo. A população consistiu em alunas e professoras do curso de Fisioterapia da UNISUL, campus Tubarão, na faixa etária de 17 a 25 anos, que têm ou já tiveram dismenorréia primária, nuligestas, hígidas, que procuraram atendimento na Clínica Escola de Fisioterapia da UNISUL, no projeto de dismenorréia. A amostra foi constituída de 52 mulheres de forma não probabilística. Para acompanhar o conhecimento e divulgação sobre o uso da termoterapia e crioterapia e os sintomas mais freqüentes na dismenorréia primária, foi utilizado um questionário validado por cinco fisioterapeutas, contendo 14 questões fechadas, que abrangem dados pessoais, ciclo menstrual e suas características, sintomas comuns na dismenorréia primária, conhecimento e aplicação da termoterapia e crioterapia, além do tempo de efeito analgésico destas técnicas. RESULTADOS
I n c id ê n c ia d e d is m e n o rré ia p rim á ria s im (7 5 % ) n ã o (2 5 % ) Gráfico I Incidência de dismenorréia primária Fonte: pesquisa elaborada pela autora, 2003 O gráfico número I demonstra que a dismenorréia incide em 75% dos ciclos menstruais e 25% da entrevistadas não têm esse tipo de moléstia. A dismenorréia segundo Berek, Adashi e Hillard (1998) é um distúrbio ginecológico comum que afeta 50% das mulheres que menstruam. Bortoletto e outros (1995) referem que a dismenorréia constitui entidade de suma importância clínica, representa procura freqüente nos consultórios médicos e acomete uma porcentagem significativa de mulheres, atingindo 50% a 70% delas, principalmente na adolescência. Para Fonseca e outros (2001, p.748) a dismenorréia funcional incide em mais de 60% no grupo etário de 18 a 25 anos, principalmente nulíparas.
F r e q u ê n c i a d o s s i n t o m a s m e n s t r u a i s 3 0 2 0 2 1 1 5 2 2 1 3 1 0 0 c e f a lé ia (2 9,5 % ) n á u s e a (2 1,1 % ) lo m b a lgia ( 3 1 % ) o u t r o s (1 8,4 % ) Gráfico II Freqüência dos sintomas menstruais Fonte: Pesquisa elaborada pela autora, 2003. O gráfico II comprova a freqüência dos sintomas menstruais e que 31%das entrevistadas referem lombalgia, 29,5% cefaléia, 21,1% náusea e 18,4% outros, incluindo dores nas mamas, pernas, abdômem globoso e dolorido e desmaios. De acordo com Bortoletto e outros (1995) o principal sintoma é o quadro doloroso abdominal, cólica supra púbica, semelhante ao trabalho de parto, relatam-se também náuseas, vômitos, anorexia, diarréia, dores nos membros inferiores, fadiga, nervosismo, cefaléias entre outros. De acordo com pesquisa realizada por Hübbe (2003) 25,71% da população entrevistada apresenta náuseas, 22,86% nervosismo e cefaléia, 8,57% diarréia e 5,71% vômitos. Tabela I- Comparação entre crioterapia e termoterapia Crioterapia Termoterapia Conhecimento 63,5% 90,4% Utilização 12,2% 51,9%
Alívio 50% 88,9% Tempo (analgesia duradoura) 50% 66,7% Fonte: pesquisa elaborada pela autora, 2003. Tabela II Comparação entre a associação da crioterapia e termoterapia com analgésico Crioterapia+analgésico Termoterapia+analgésico Associação dos métodos 3,8% 28,8% Alívio 0% 93,4% Tempo (analgesia duradoura) 0% 78,6% Fonte: pesquisa elaborada pela autora, 2003. Calor é o aumento da vibração molecular e da taxa metabólica celular e a aplicação terapêutica deste ao corpo é denominado termoterapia e os métodos do aquecimento são classificados em superficial e profundo. (STARKEY, 2001, p. 125). Segundo Abeche (1997) entre muitas medidas para o alívio da dor, na dismenorréia primária, recomenda-se a bolsa de água quente e repouso. O frio é um estado relativo caracterizado pela diminuição de movimento molecular. O termo crioterapia é utilizado para descrever a aplicação de modalidades de frio que têm uma variação de temperatura de 0 C a 18,3 C. (STARKEY, 2001, p. 114). Segundo Knight (2000) o gelo pode ser usado para diminuir as cólicas menstruais fortes. A técnica envolve a aplicação do gelo de uma área de 2,5cm à direita do processo vertebral de L3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A menstruação não deve ser associada a um incomodo ou preocupação, mas sim a saúde, fertilidade e que o organismo feminino está funcionando perfeitamente. Existem inúmeros recursos para a diminuição ou eliminação desses incômodos, melhorando a qualidade de vida da mulher e fazendo-a entender que seu sangue é ouro e que basta apenas ela compreender e resgatar o poder da menstruação. O presente estudo mostrou que 75% das mulheres entrevistadas referiram ter dismenorréia primária em seu ciclo menstrual, sendo que o período de ocorrência relatado em 41% dos casos foi durante o sangramento. Evidenciou-se em 77% dos casos presença de sintomas menstruais, sendo que os mais freqüentes foram; lombalgia (31,5%), cefaléia (29,5%) e náusea (21,1%), interferindo em 50% dos relatos nas atividades de vida diária. Das entrevistadas 59,6% fazem uso de medicamentos, sendo o Ponstan, com 40,5%, mais utilizado. Com este trabalho considera-se que 90,4% das mulheres conhecem a termoterapia como método para analgesia na dismenorréia primária e aproximadamente 51,9% das mulheres entrevistadas utilizam esse recurso, referindo uma analgesia duradoura em 66,7% dos casos. Mesmo sendo as entrevistadas alunas e professoras do curso de Fisioterapia da UNISUL, campus Tubarão, 63,5% conhecem a utilização da crioterapia como um recurso terapêutico para alívio da dismenorréia primária e apenas 12,2% fazem uso desse método, sendo que 50%, das mulheres que utilizaram esta técnica, referiram alívio duradouro. Em geral a termoterapia, segundo relatos de mulheres, produziu maior alívio da dismenorréia (88,9%) que a crioterapia (50%).
Concluiu-se que, os recursos fisioterápicos, como termoterapia e crioterapia, existem para diminuir ou até mesmo eliminar a severidade dos sintomas existentes na dismenorréia primária. E que com a evolução farmacológica, esses recursos foram esquecidos e pouco explorados, fazendo com que os medicamentos se tornassem a solução mais eficaz e coerente em relação à analgesia na dismenorréia primaria, esquecendo-se que as medicações podem causar diversos efeitos colaterais. Sabendo que a termoterapia e a crioterapia são recursos fisioterápicos antigos, naturais, de fácil acesso à população, de baixo custo e que não produzem efeitos colaterais prejudiciais a saúde feminina, sugere-se que novos estudos feitos, em forma de pesquisa experimental, para comprovar cientificamente a eficácia destes métodos. REFERÊNCIAS ABECHE, A.M. et al. Ginecología Infanto puberal II. In: FREITAS, F.; MENKE, W. Rotinas em Ginecologia. 2. ed. Porto Alegre, 1997. BEREK, Jonathan S. ADASHI, Eli Y.; HILLARD, Paula A. Tratado de ginecología. Tradução Claudia L. C. de Araújo. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1998. BORTOLETTO, C. C. Ramos et al. Dismenorréia primária: etiopatogenia e terapêutica. Revista Feminina. v. 23, n. 5. São Paulo, jun. 1995, p. 439-444. HÜBBE, Fernanda Paes. Estudo sobre a estimulação elétrica transcutânea (TENS) em mulheres com dismenorréia. 2003. Monografia (Graduação em Fisioterapia), Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão. KNIGHT, Kenneth. Crioterapia: no tratamento de lesões esportivas. Tradução Terezinha Oppido. São Paulo: Manole, 2000. OWEN, Lara. Seu sangue é ouro: resgatando o poder da menstruação. Rio de Janeiro: Rosas dos Tempos, 1994.
STARKEY, Chad. Recursos terapêuticos em fisioterapia. Tradução: Cíntia Fragoso. São Paulo: Manole, 2001.