1 ESTUDO TÉCNICO DE VIABILIDADE DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS PARA PROTEÇÃO DA ÁGUA PARA O SUB- SISTEMA CANTAREIRA Joanópolis, São Paulo
2 Julho de 2011 Associação Terceira Via foi fundada em 20 de fevereiro de 2003 com a missão de promover a cooperação entre comunidade e instituições para que venham garantir a realização de seu pleno direito ao desenvolvimento econômico, humano, natural e socialmente sustentável, por um grupo de profissionais que atuaram no programa de desenvolvimento local Integrado e Sustentável DLIS / Comunidade Ativa. Desde então, atua como entidade ambientalista promovendo programas de geração de renda, educação ambiental e de apoio a políticas públicas, com metodologias próprias vivenciadas em diferentes regiões país, que em geral enfatizam espaços locais e regionais para soluções socioambientais junto às comunidades. Rua Coronel Alípio Cardoso 170 - Centro Joanópolis/SP CEP 12.980-000 http://www.terceiravia.org.br Este estudo técnico faz parte de um produto do projeto Cantareira em Rede Mobilização e Proposição de Ações Socioambientais, implementado no âmbito do Projeto PDA Mata Atlântica/MMA (chamada 5: apoio a projetos em redes), cujo objetivo é a proteção aos mananciais, recuperação de áreas degradadas e valorização dos serviços ambientais de produção e purificação de água na região do Sistema Cantareira. Tem como gestores foco, as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente de MG e SP, proprietários, empresários, Sabesp, Agência Nacional de Águas (ANA), Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ), Sociedade civil organizada da região, prefeituras dos municípios envolvidos. Área geográfica de abrangência do projeto: Sapucaí-Mirim (MG), Itapeva (MG), Camanducaia (MG), Extrema (MG), Bragança Paulista (SP), Vargem (SP), Joanópolis (SP), Piracaia (SP), Nazaré Paulista (SP), Atibaia (SP), Bom Jesus dos Perdões (SP), Mairiporã (SP). Autora: Deisy Regina Tres, Dra. Bióloga, Diretora da Biodiversitá Consultoria Ambiental (http://www.biodiversita.com.br) e Consultora de Projetos Socioambientais.
3 SUMÁRIIO Introdução... 5 Capítulo I Breves Considerações Sobre o Pagamento Para a Proteção dos Recursos Hídricos... 7 Projetos de PSA na Mata Atlântica... 8 Serviços Ambientais relacionados à Água... 10 Instrumentos Econômicos para a Gestão da Água... 12 Valoração Econômica dos Serviços Ambientais e Níveis de Pagamento... 17 Projetos de PSA de Proteção de Recursos Hídricos... 18 Capítulo II Cenário dos Recursos Hídricos no Sistema Cantareira... 22 O Sistema Cantareira... 23 Recursos Hídricos disponíveis no Sistema Cantareira... 25 Uso do Solo no Sistema Cantareira... 27 Unidades de Conservação no Sistema Cantareira... 31 Áreas de Preservação Permanente no Sistema Cantareira... 33 Capítulo III Metolodogias de Valoração e Esquemas de Pagamentos Com Foco na Proteção dos Recursos Hídricos... 34 Capítulo IV Recomendações para Acordos de PSA Com Foco na Proteção dos Recursos Hídricos para o Sub-Sistema Cantareira... 65 Referências Bibliográficas...74
4 CAPÍTULO IV RECOMENDAÇÕES PARA ACORDOS DE PSA COM FOCO NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍÍDRIICOS PARA O SUB- SIISTEMA CANTAREIIRA Os mecanismos de PSA têm se destacado como um instrumento econômico complementar para a contenção da degradação e para a promoção de atividades de conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas naturais. As experiências com abordagens de PSA estão se multiplicando pelo mundo e também pelo Brasil (MMA, 2011). Dos vinte e nove estudos de caso apresentados, dois deles já estão sendo executados na bacia do PCJ, Sistema Cantareira: o Projeto Conservador de Águas Rio Jaguari, Microbacias Posses e Salto, MG; e o Projeto Produtor de Água Municípios de Nazaré Paulista e Joanópolis, SP. Estes projetos se inserem no âmbito das políticas municipais, estaduais e federais de incentivos para a conservação dos recursos hídricos e de bacias hidrográficas. Estudos realizados em um conjunto de microbacias na região do Sistema Cantareira quantificaram os serviços ecossistêmicos através da investigação de um conjunto de variáveis, incluindo relevo, tipos de solo, usos do solo, estágios de desenvolvimento das florestas, entre outras. A partir da integração de técnicas de levantamento e mensuração das funções ecossistêmicas com sistemas de informação geográfica foi possível realizar análises de cenários de transformação de uso do solo, produzindo-se mapas de oferta e de perdas de serviços ecossistêmicos. Duas formas de serviços ecossistêmicos se destacaram pelos resultados encontrados: o papel das florestas na mitigação climática através do armazenamento de carbono em biomassa florestal e o papel das florestas para evitar perdas de solo e carregamento de sedimentos para reservatórios de água. Em se tratando, do papel das florestas x água, quando uma área de Mata Atlântica nessa região é convertida em pastagens, por exemplo, as perdas de solo com o carregamento de sedimento para dentro dos reservatórios de água podem atingir uma média de 194 toneladas de sedimento por hectare de desmatamento (Ditt et al., 2010). Estes resultados servem como referências para avaliar os ganhos de serviços ecossistêmicos quando se promove a restauração de ecossistemas, ou como parâmetros para o planejamento de sistemas de pagamento por serviços ambientais. Como mencionado no capítulo I, não há uma receita única para se conceber um sistema de PSA e sempre é preciso adaptar a estratégia de intervenção às realidades locais. Neste contexto, como resultado da sistematização de lições aprendidas de experiências piloto conduzidas em várias partes do mundo, são propostos alguns passos e questões orientadoras para apoiarem o processo de desenvolvimento de um sistema de PSA dentro da estratégia de conservação, recuperação e uso sustentável dos recursos naturais em questão, no caso deste estudo, os recursos hídricos do Sub- Sistema Cantareira. Segundo esta proposta, o processo de desenvolvimento de PSA é dividido em tem três fases: de diagnóstico, desenho e implementação.
Seguindo a lógica de desenvolvimento de um sistema de PSA e sua implementação, são apresentadas alternativas e parâmetros técnicos para a valoração dos serviços hídricos, opções de intervenção, fontes de recursos, base legal, arranjo institucional e monitoramento, todas baseadas nas experiências de projetos e programas de PSA em desenvolvimento no Brasil. 5
6 ELABORAÇÃO DE UM SISTEMA DE PSA COM FOCO NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DIAGNÓSTICO I. Caracterização do ecossistema, dos serviços ecossistêmicos e definição do problema ambiental Quais os principais problemas ambientais em questão e quais as suas causas? Quais serviços ambientais objetivam-se manter ou recuperar? Quais atividades estão degradando ou minimizando o provimento destes serviços? II. Caracterização dos atores (compradores e provedores de serviços ambientais) e do contexto socioeconômico Quem são os ofertantes dos serviços ambientais e quais são seus interesses e necessidades? Quais as formas de manejo da terra que geram ou afetam o fluxo de serviços ambientais? Os ofertantes estão conscientes das relações entre o manejo da terra e o fluxo de serviços ambientais? Quem são os demandantes dos serviços ambientais e quais os seus interesses e necessidades? Os demandantes estão conscientes das relações entre o manejo da terra e o fluxo de serviços ambientais? III. Identificação das alternativas de manejo e do custo de oportunidade Quais as áreas críticas à provisão do serviço ambiental em questão? Que atividades precisam ser implementadas para recuperar e/ou manter os serviços ambientais? Quais são os seus custos e quais são os seus ganhos econômicos? Quais os ganhos econômicos das atividades atualmente dominantes? Qual a diferença entre os ganhos econômicos das atividades dominantes e a atividade almejada? Quais são os benefícios econômicos advindos do provimento de serviços ambientais e com que método eles serão determinados?
DESENHO 7 I. Identificação do mecanismo financeiro Qual a disponibilidade e a capacidade de pagamento por parte dos demandantes? Como induzir a demanda pelos serviços ambientais? Quais possíveis indutores de sistemas de PSA pode-se usar? II. Definição do arranjo institucional e aspectos de governança Que outras possibilidades de financiamento e instrumentos existem para pagar pelos serviços ambientais em questão (impostos, investimentos públicos/privados, fundos ambientais, PSA)? Quem arrecada e gestiona esses recursos e como? Qual o esquema organizacional/institucional do PSA, quem participa e com quais papéis e funções? Que organizações/instituições existem na área ou devem ser criadas para a implementação do PSA? Que capacidades locais devem ser fortalecidas ou criadas para que o mecanismo de PSA funcione, evitando altos custos de transação? Que instâncias governamentais estariam envolvidas e qual seria seu papel? Que atores poderiam ser contra a implementação de um mecanismo de PSA e por quê? (aspectos culturais, políticos etc.)? Que conflitos e consequências negativas podem-se esperar da implementação? Que aspectos do marco legal vigente favorem ou dificultam a implementação do PSA? Qual a situação dos direitos de propriedade (formais ou informais) nas zonas a intervir? Que atividades complementares devem ser desenvolvidas (sensibilização e comunicação ambiental, gestão de recursos financeiros adicionais, desenvolvimento de capacidades, fortalecimento institucional), quem deve implementá-las e com que recursos? Quem participa, com quais papéis e funções no monitoramento dos resultados (biofísico, socioeconômico e de governança) e como são financiados? Qual o horizonte temporal do PSA? Se o PSA fosse o instrumento oportuno Como sua implementação contribuiria para a aplicação e fiscalização das normas ambientais vigentes? Quais seriam as vantagens do PSA em comparação com outros instrumentos? Os provedores estão interessados em participar do PSA? Que instrumentos devem ser implementados de forma complementar e/ou alternativa na região e como evitar a criação de estruturas paralelas?
VALORAÇÃO DO SERVIÇO HÍDRICO 8 ALTERNATIVAS E PARÂMETROS TÉCNICOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE PSA COM FOCO NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS a) Custo de Oportunidade da Terra Existência e Conservação de RL e APP Excendente Florestal Nascentes protegidas com mata ciliar b) Qualidade Ambiental da Propriedade Nível de Conectividade entre Áreas Existência de Cercas Vivas com Espécies Nativas c) Área total da Propriedade ou Unidade de Produção Agrícola (ha) d) Práticas de Conservação do Solo Manejo do Solo 25-50% 50-75% > 75% e) Restauração de Mata Ciliar Estado de Manutenção Proteção de Capoeira Capoeira com Cercamento e Enriquecimento f) Conservação de Mata Ciliar Estágio Sucessional Área Conservada em relação ao exigido pelo Código Florestal g) Áreas de Conservação Zonas de Entorno de UCs Estágio Sucessional Engajamento dos Produtores Áreas Prioritárias p/ Serviço Hídrico h) Declividade do Terreno Susceptibilidade à Erosão i) Índice de Valoração de Mananciais Produção e Armazenamento de Água Controle de Erosão Manutenção da Qualidade da Água j) Custo de Prevenção
OPÇÕES DE INTERVENÇÃO a) Conservação Florestal visando: Qualidade de Água Controle de Erosão Quantidade de Água Armazenamento de Água 9 b) Restauração Florestal em APP (matas ciliares e nascentes) Regeneração Natural Enriquecimento Plantio c) Restauração Florestal visando: Conectividade entre Fragmentos Florestais Corredores de Biodiversidade d) Conservação do Solo Conectividade entre Unidades de Conservação e) Cercamento de Remanescentes Florestais f) Saneamento Rural Manutenção de Estradas g) Orientação Técnica para Adequação Ambiental h) Servidão Florestal para Reserva Legal i) Planos de Susceptibilidade e Recuperação de Propriedades Rurais j) Sistemas Agroflorestais
ARRANJO INSTITUCIONAL a) Prefeituras Municipais do Sub-Sistema Cantareira 10 b) Departamentos de Meio Ambiente c) Instituto Florestal de SP e MG d) ONGs: TNC, SOS Mata Atlântica, Conservation International, Outros e) Agência Nacional de Águas f) Comitês de Bacias Hidrográficas de SP e MG PARCEIROS g) Secretaria do Meio Ambiente do Estado de SP e MG h) Secretaria da Agricultura do Estado de SP e MG i) Institutos e Fundações j) Empresas k) Sabesp l) Universidades Públicas e/ou Privadas m) Produtores Rurais n) Banco Mundial FORMA DE RELACIONAMENTO a) Cadastros b) Contratos c) Termos de Compromisso e/ou Cooperação e) Edital de Licitação
FONTES DE RECURSOS a) Prefeituras Municipais do Sub-Sistema Cantareira Fundos Municipais ICMS Ecológico Multas Ambientais Convênios 11 b) Cobrança pelo Uso da Água CBH de SP e MG Ações Judiciais TACs c) Fundos Estaduais com recursos provenientes de compensações pagas pelo setor hidrelétrico; royalties de gás e petróleo d) Fundações e) Companhias de Serviços de Água, Esgoto e Resíduos f) Transferências ou Doações de Pessoas Físicas e/ou Jurídicas de Direito Público e/ou Privado g) Agentes Financiadores Nacionais e/ou Internacionais h) Governos dos Estados de SP e MG i) Banco Mundial/GEF j) Indústria de Bebidas k) Consumidores Residenciais l) Produtores Rurais
MONITORAMENTO BASE LEGAL 12 a) Lei Federal 4.771/65 Institui o Código Florestal b) Lei Federal 9.433/97 Base Legal para a Cobrança pelo Uso da Água c) Lei Municipal 2.100/05 Institui o Projeto Conservador das Águas d) Lei Estadual 7.663/91 (CBH-PCJ) Cria os Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e) Deliberação conjunta dos comitês PCJ n 51/06 Permitiu o Uso dos Recursos da Cobrança pelo Uso da Água no Comitê PCJ para Ações de Projetos Produtor de Água f) PL Estadual de SP em andamento a) Hidrológico: Quantidade e qualidade de água segundo Protocolo de Monitoramento apoiado pela ANA b) Vistorias Periódicas das Atividades realizadas pelos Produtores Rurais c) Ictiofauna e Avifauna d) Ações de Restauração e) Estado da Vegetação f) Manejo da Propriedade g) Questões Socioambientais
13 REFERÊNCIIAS BIIBLIIOGRÁFIICAS DITT, E. H; MOURATO, S.; G. J.; KIGHT, J. 2010. Forest conversion and provision of ecosystem services in the Brazilian Atlantic Forest. Land Degradation & Development (21) 591-603. ISA Instituto Socioambiental. 2008. Serviços ambientais: conhecer, valorizar e cuidar. Subsídios para a proteção dos mananciais de São Paulo. WHATELY, M.; HERCOWITZ, M. (Org.). São Paulo. 120p. ISA Instituto Socioambiental. 2006. Cantareira 2006 um olhar sobre o maior manancial de água da Região Metropolitana de São Paulo. Diagnóstico socioambiental participativo do Sistema Cantareira. WHATELY, M.; CUNHA, P. (Org.). São Paulo. 67p. LANDELL-MILLS, N.; PORRAS, I. T. 2002. Silver bullet or fools gold? A global review of markets for forest environmental services and their impact on the poor. International Institute for Environment and Development (IIED), London. MMA Ministério do Meio Ambiente. 2011. Pagamentos por Serviços Ambientais na Mata Atlânica: lições aprendidas e desafios. GUEDES, F. B.; SEEHUSEN, S. E. (Org.). Brasília. PERU. MINAM. 2010. Compensación por Servicios Ecosistémicos: lecciones aprendidas de una experiência demonstrativa. Las microcuencas Mishiquiyacu, Rumiacu y Almendra de San Martín, Peru. Lima: Ministerio del Ambient. WUNDER, S. 2005. Payments for environmental services: Some nuts and bolts. CIFOR Occasional Paper No. 42. Center for International Forestry Research, Jacarta, Indonésia. YOUNG, C.E. F. 2005. Mecanismos de Financiamento para a Conservação no Brasil. http://www.conservation.org.br/publicacoes/files/27_carlos_eduardo. pdf., 2005. Consultado em: 28.04.2011.