Robert Guaracy Aparecido Cardoso Araujo¹; Leda Gobbo de Freitas Bueno² & Silvia Regina Lucas de Souza³

Documentos relacionados
1º DE SETEMBRO DE

COBERTA COM TELHA ECOLÓGICA FABRICADA COM TETRAPACK RECICLADA

V. M. N. ABREU 1, P. G. ABREU 2. Apresentado no XV Congresso Brasileiro de Agrometeorologia De 02 a 05 de julho de 2007 Aracaju SE

ESPACIALIZAÇÃO DO ÍNDICE DE TEMPERATURA E UMIDADE EM UMA GRANJA DE POEDEIRAS LOCALIZADA EM SANTA HELENA DE GOIÁS 1

DETERMINAÇÃO DE EQUAÇÕES DE REGRESSÃO OBTIDAS EM TERMÔMETROS DE GLOBO NEGRO PADRÃO E PLÁSTICO VERÃO E INVERNO

ANÁLISE DO AMBIENTE TÉRMICO EM GALPÕES REDUZIDOS PARA AVES COM DIFERENTES MATERIAIS DE COBERTURA CONVENCIONAL E ECOLÓGICO

Análise do desempenho térmico do forro composto de EVA em combinação com resíduos de materiais, inerente à instalação avícolas

ESTIMATIVA DE NÍVEIS CRÍTICOS SUPERIORES DOS ÍNDICES DE TEMPERATURA E UMIDADE PARA VACAS LEITEIRAS DA RAÇA HOLANDESA

FAIXAS DE CONFORTO TÉRMICO EM FUNÇÃO DA IDADE DOS FRANGOS

USO DE DISPOSITIVO MO VEL EM ANA LISE DE LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA EXPOSIÇÃO AO CALOR EM UM LABORATÓRIO

AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE TEMPERATURA E UMIDADE PARA AS DIFERENTES FASES DE PRODUÇÃO DE AVES DE CORTE NO MUNICÍPIO DE DIAMANTINA - MG

SISTEMA DARK HOUSE DE PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE: UMA REVISÃO

Professora da Universidade Federal de Santa Maria Campus de Cachoeira do Sul. 3

VI JORNADA ACADÊMICA a 27 de outubro Unidade Universitária de Santa Helena de Goiás

AVALIAÇÃO DO TBS E TGN NO INTERIOR DO PROTOTIPOS MUNIDOS COM FORRO DE EVA E EVA+ COMBINAÇÕES DE RESIDUOS

ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO DIURNO EM ESCOLAS PÚBLICAS NO MUNÍCIPIO DE BRAGANÇA-PA.

Marcos William Botelho 1, Jofran Luiz de Oliveira 2, Flavio Alves Damasceno 3, Leonardo Schiassi 4 &Vitor Hugo 5

Determinação do índice de temperatura e umidade (ITU) para produção de aves na mesorregião metropolitana de Curitiba PR

CONFORTO TÉRMICO DE GALPÕES CUNÍCULAS UTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOESTATÍSTCA

MANEJO DE MATRIZES PARTE I

IV Simpósio de Ciências da UNESP Dracena. V Encontro de Zootecnia Unesp Dracena ESPÉCIES FORRAGEIRAS E Í DICES DE CO FORTO TÉRMICO

Article history: Received 02 May 2018; Received in revised form 21 July 2018; Accepted 02 August 2018; Available online 30 September 2018.

DESEMPENHO TÉRMICO DE TELHAS DE ALUMÍNIO. M. Akutsu & F. Vittorino. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A.

PERFIL TRIMESTRAL, MENSAL E HORÁRIO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO AS MARGENS DA BAIA DE CAXIUANÃ, MELGAÇO, PA: ESTUDO DE CASO.

EFEITO DA TEMPERATURA AMBIENTAL SOBRE A QUALIDADE DA CASCA DO OVO DE CODORNAS JAPONESAS. *autor para correspondência:

Variabilidade espacial do microclima em instalações de suínos sob o efeito de pintura de telhado no semiárido pernambucano

DESEMPENHO DE TRÊS DIFERENTES LINHAGENS DE FRANGOS DE CRESCIMENTO LENTO NA FASE INICIAL

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE CRIADOS EM SISTEMA CONVENCIONAL E DARK HOUSE

DESEMPENHO TÉRMICO DE 3 EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS EM FLORIANÓPOLIS - SC

AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DE AVES EM CONDIÇÕES DE VARIAÇÃO MICROCLIMÁTICA

CONFORTO TÉRMICO EM ÁREAS DE TRANSIÇÃO COM DIFERENTES TIPOS DE COBERTURA

ÍNDICE DE CONFORTO DE TRABALHADORES EM GRANJAS AVÍCOLAS

Paulo Giovanni de Abreu

Diagnóstico bioclimático para produção de aves. Bioclimatic diagnosis for poultry production

ESTUDO DO ITU, TEMPERATURA DE BULBO SECO E UMIDADE RELATIVA DO AR EM MODELOS REDUZIDOS DE GALPÕES AVÍCOLAS

INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL NO AMBIENTE INTERNO: ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÉLULAS DE TESTE

ANÁLISE COMPARATIVA DA ATUAÇÃO DO FENÔMENO EL NIÑO /OSCILAÇÃO SUL ENTRE AS CIDADES DE RIO GRANDE E PELOTAS-RS PARA O PERÍODO DE

i.exeíndice DE TEMPERATURA E UMIDADE (ITU) NA PRODUÇÃO DE AVES PARA MESORREGIÃO DO NOROESTE E NORTE PIONEIRO PARANAENSE

Estudo bioclimático das regiões litorânea, agreste e semiárida do estado de Sergipe para a avicultura de corte e postura

ADAPTABILIDADE DE CAPRINOS SANNEN E MAROTA MANTIDOS EM CLIMA TROPICAL SEMIÚMIDO

BGHI AND EFFECTIVENESS IN REDUCED MODELS OF POULTRY HOUSINGS WITH DIFFERENT MATERIALS ROOFS

Avaliação do Conforto Térmico de Frangos de Corte de Forma Direta e Prática

ESTUDO DE CASO DA VARIAÇÃO HORÁRIA DA UMIDADE RELATIVA DO AR EM TERESINA PI NO ANO DE Raimundo Mainar de Medeiros (UFCG)

Avaliação da eficiência térmica de telha reciclada à base de embalagens longa vida

Análise do conforto térmico em modelos reduzidos de galpões agrícola

Ambiência interna e externa em galpão de frangos de corte nas diferentes épocas do ano e fases de criação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA PRÓ REITORIA DE ENSINO DIRETORIA DE REGISTRO ESCOLAR

EFEITO DO CONFORTO TÉRMICO SOBRE A ESTIMATIVA DA TAXA DE CONCEPÇÃO E A PRODUÇÃO DE BOVINOS LEITEIROS

SERT ANÁLISE: CONFORTO AMBIENTAL

Ambiência e sua influência na produção animal e vegetal

FICHA DE COMPONENTE CURRICULAR

CARACTERIZAÇÃO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO EM MOSSORÓ-RN, PARA AS QUATRO ESTAÇÕES DO ANO

Engenharia Civil. Dados climáticos para avaliação de. desempenho térmico de edificações. Resumo. Abstract. Tulio Cesar Pessotto Alves Siqueira

Condições térmicas ambientais e desempenho de aves criadas em aviários com e sem o uso de forro

Brazilian Journal of Biosystems Engineering v. 12(3): , 2018 USO DE FERRAMENTA MOBILE NA AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR DE BOVINOS DE LEITE

CURVA DE CRESCIMENTO DA LINHAGEM DE FRANGO DE CORTE CARIJÓ

ANÁLISE SAZONAL DO CONFORTO TÉRMICO HUMANO NA CIDADE DE SÃO PAULO/SP

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 46

AVALIAÇÃO AMBIENTAL EM CRIATÓRIOS DE AVES E SUÍNOS NA REGIÃO DE DOURADOS

CLIMATOLOGIA E VARIABILIDADE INTERANUAL DA VELOCIDADE DO VENTO EM SANTA MARIA, RS

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 42

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 69

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 41

PERFIL BIOCLIMÁTICO PARA AVICULTURA INDUSTRIAL NO ESTADO DE GOIÁS 1

Codorna - efeito ambiental e nutricional para aumento da produtividade

STUDY OF THL AND BLACK GLOBE TEMPERATURE IN POULTRY HOUSINGS MODELS BUILT WITH DIFFERENT MATERIALS ROOFS

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Mapeamento do ambiente térmico de aviários de postura abertos em sistema vertical de criação

ANÁLISE DE DOIS SISTEMAS TECNOLÓGICOS DE PRODUÇÃO DE FRANGO DE CORTE COM ÊNFASE NO USO RACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA E PRODUTIVIDADE ANIMAL

INFLUÊNCIA DA COR DO TELHADO NOS ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO ANIMAL

RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DE VACAS HOLANDESAS FRENTE A RECURSO DE VENTILAÇÃO EM ESTABULAÇÃO LIVRE 1

INCIDÊNCIA DE CARNE PSE (Pale, Soft, Exudative) E DFD (Dark, Firm, Dry) EM FRANGOS DE CORTE

DIAGNÓSTICO BIOCLIMÁTICO PARA PRODUÇÃO DE AVES NA CIDADE DE QUIXADÁ-CE

4ª Jornada Científica e Tecnológica da FATEC de Botucatu 7 a 9 de Outubro de 2015, Botucatu São Paulo, Brasil

Enedy Allan Rodrigues Cordeiro, Silvia Regina Lucas de Souza, Andréia Soares Gonçalves Glavina, Eduardo da Silva Pinto, Leda Gobbo de Freitas Bueno

ACONDICIONAMENTO TÉRMICO NA PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

EFEITOS AMBIENTAIS NO BEM-ESTAR ANIMAL: EXEMPLO NA BOVINOCULTURA LEITEIRA. Em que devemos pensar???

RESUMO. PALAVRAS CHAVES: avicultura, simulação, conforto térmico.

CARACTERIZAÇÃO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO EM MOSSORÓ-RN

Comunicado Técnico. Ventilação Cruzada e em Zig-Zag em Aviário de Matrizes de Corte. Introdução. Metodologia

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 44

A TEMPERATURA E A UMIDADE DO AR EM NOVA ANDRADINA/MS EM AGOSTO DE 2008 ÀS 20h 1

UM ESTUDO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO PREDOMINANTE DO VENTO EM BRASÍLIA, DF SELMA R. MAGGIOTTO 1, FERNANDA M. S. FERREIRA 2, CHRISTIAN V.

PREVISÃO DE TEMPERATURAS MÁXIMAS PARA PELOTAS

COMPORTAMENTO DE ALGUNS PARÂMETROS ATMOSFÉRICOS SOBRE UM SOLO DESCOBERTO, PARA DOIS DIFERENTES PERÍODOS DO ANO, EM MOSSORÓ - RN RESUMO

COMPORTAMENTO INGESTIVO DIURNO DE BOVINOS ¾WAGYU-BLACK ¼ANGUS EM SISTEMA DE PASTEJO EXTENSIVO EM DIFERENTES ESTAÇÕES

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EM DIFERENTES INTERVALOS DE CLASSES PARA ITUPORANGA SC

Com relação ao desempenho reprodutivo, a fertilidade e a manifestação do cio podem ser afetadas em vacas em lactação sob estresse térmico.

ESTRESSE CALÓRICO E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUÇÃO DO LEITE REVISÃO DE LITERATURA 1

ANÁLISE DA TEMPERATURA DO AR EM AREIA - PB, EM ANOS DE OCORRÊNCIA DE EL NIÑO

CONFORTO TÉRMICO NO CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ CEAP (MACAPÁ-AP) João Paulo Nardin Tavares 1, Ana Maria da Silva Pantoja 1

NOTA CIENTÍFICA DIAGNÓSTICO BIOCLIMÁTICO PARA MESORREGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA PR

Influência das variáveis ambientais sobre as características quantitativas do sêmen de caprinos das raças Canindé e Moxotó

Diagnóstico Bioclimático para Produção de Aves na Mesorregião Centro Norte Baiano

Climatologia do conforto térmico humano durante o verão para a cidade de Pelotas-RS, parte 1: índice de calor

DIFERENÇAS COMPORTAMENTAIS DE POEDEIRAS EM DIFERENTES AMBIENTES TÉRMICOS

TECNOLOGIA EM CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS. Estratégias por TRY e Normais Climatológicas. M.Sc. Arq. Elena M. D. Oliveira

TEMPERATURA RETAL DE BOVINOS DE CORTE DESTINADOS A JULGAMENTO EM PARQUE DE EXPOSIÇÃO

Transcrição:

R E V I S T A DOI: http://dx.doi.org/10.17224/energagric.2018v33n1p52-57 ISSN: 1808-8759 (cd-rom) 2359-6562 (on-line) MAPEAMENTO DE CONTORNO BIOCLIMÁTICO EM AVIÁRIO DE REGIÃO TROPICAL NA CIDADE DE DRACENA/SP Robert Guaracy Aparecido Cardoso Araujo¹; Leda Gobbo de Freitas Bueno² & Silvia Regina Lucas de Souza³ RESUMO: O ambiente dentro dos galpões avícolas é um dos fatores primordiais para se conseguir bons índices zootécnicos e retornos financeiros. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o ambiente térmico no interior do galpão de aves poedeiras em diferentes estações do ano na tentativa de proporcionar uma melhor relação ao bem-estar das aves. O estudo foi realizado no galpão de aves poedeiras na UNESP - campus de Dracena/SP. Foram distribuídos e aferidos em doze pontos equidistantes as principais variáveis bioclimáticas, como temperatura de globo negro, temperatura do ar, temperatura de bulbo seco, temperatura de bulbo úmido, temperatura de superfície de telhado, umidade relativa do ar e velocidade do vento. As medições foram feitas nas transições entre as estações do inverno e primavera, primavera e verão e verão e outono, com o intuito de observar qual é a melhor estação do ano em que as aves apresentam um melhor conforto térmico dentro das instalações avícolas. As médias das variáveis bioclimáticas foram comparadas utilizando o teste estatístico Tukey (95%) através do software Statigrafics Centurion, e o software de superfície SURFER para o mapeamento do aviário. Os resultados indicaram que a transição entre inverno e primavera apresentou melhores valores com relação ao conforto térmico dentro do galpão, possibilitando um melhor bem-estar das aves e consequentemente melhor desempenho e retorno financeiro. PALAVRAS-CHAVES: Ambiência, Aquecimento Global, Ondas De Calor, Zootecnia De Precisão. MAPPING BIOCLIMATIC CONTOUR OF A POULTRY SHED IN A TROPICAL REGION IN THE CITY OF DRACENA/SP ABSTRACT: The environment inside poultry houses is one of the main factors to achieve good zootechnical indexes and financial returns. Thus, the objective of this study was to evaluate the thermal environment inside the shed of laying hens in different seasons of the year in an attempt to provide a better relation to the welfare of birds. The study was carried out in the poultry shed at UNESP campus in Dracena / SP. The main bioclimatic variables, such as black globe temperature, air temperature, dry bulb temperature, wet bulb temperature, roof surface temperature, relative air humidity and wind speed were distributed and measured at twelve equidistant points. The measurements were taken at the transition between the seasons of winter and spring, spring and summer and summer and fall, in order to obtain the best season of the year in which the birds can obtain better thermal comfort inside the poultry facilities. The averages of the bioclimatic variables were compared using the Tukey statistical test (95%) using the Statigrafics Centurion software, where the SURFER surface software was used to map the aviary. The results indicated that the transition between winter and spring presented better values with respect to thermal comfort inside the shed, allowing a better welfare of the birds and consequently better performance and financial return. KEYWORDS: Environment, Global Warming, Heatwaves, Precision Poultry Production. 1 1 INTRODUÇÃO O setor de atividade avícola vem exigindo dedicação e preparação por parte do produtor para que se consiga alcançar bons índices zootécnicos e consequentemente melhores retornos econômicos. Atualmente, o consumidor está cada vez mais exigente em saber o que está consumindo, além de estar 1 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - FMVZ - UNESP - Campus de Botucatu/SP. E-mail: robertzootecnista@gmail.com 2 Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas - FCAT - UNESP - Campus de Dracena/SP. 3 Faculdade de Ciências Agronômicas - FCA - UNESP - Campus de Botucatu/SP. preocupado com o bem-estar animal, no qual os órgãos que aprovam o alimento final para o consumidor, refletem essas maiores exigências. Desta forma, as empresas produtoras de proteína animal foram obrigadas a implementar programas de bem-estar e rastreabilidade para atender as exigências do mercado (UBA, 2010). Um aspecto importante e fundamental para todos os produtores é a questão do bem-estar animal que, além de agregar valor ao produto final, é uma das exigências dos mercados internacionais (FAWC, 2011). Um dos fatores que interferem na produção animal é o ambiente em que os animais estão inseridos, o ambiente Energ. Agric., Botucatu, vol. 33, n.1, p.52-57, janeiro-março, 2018.

externo e microclima de dentro das instalações exercem efeitos diretos e indiretos sobre a produção animal, acarretando prejuízos na produtividade como nos retornos financeiros (BRIDI, 2008). No Brasil, a região do oeste do estado de São Paulo foi caracterizada como área de risco, com alta incidência de mortalidade por estresse térmico na produção de frangos de corte, segundo Salgados e Nääs (2010), os quais apresentam em seu estudo a importância do uso de ferramentas que auxiliem o produtor na tomada de decisão, minimizando assim perdas produtivas e econômicas. Campos et al. (2005), relatam que locais em que a temperatura do ar é alta os animais tendem a reduzir sua produção, consequentemente menor retorno financeiro ao produtor, fato que acometem mais no período de verão, além de provocar perdas de qualidade interna e externa dos ovos. A observação e a avaliação de diferentes pontos de dentro dos galpões onde as aves poedeiras ficam alojadas durante sua fase de produção, podem ajudar na tentativa de estabelecer um melhor microclima e bem-estar a essas aves, para que as aves poedeiras consigam expressar todo seu potencial. Desta forma, o objetivo da pesquisa foi avaliar como o ambiente térmico em diferentes estações do ano influência no bem-estar de aves poedeiras. 2 MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em um aviário de aves poedeiras localizado na Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas no campus de Dracena, UNESP, cujas coordenadas geográficas são 21 o 28'57 sul, longitude 51 o 3158 oeste e altitude média de 421m. O clima da região é subtropical Cwa (invernos brandos e secos seguidos de verões muito quentes) com temperatura média anual de 23,6 o C (SANTANA et al. 2008), onde ocorre o monitoramento bioclimático. O galpão era do tipo convencional sem muretas e cortinas, construído na orientação Leste-Oeste, de 30 m de comprimento, 8m de largura, com pé direito de 4m. O material construtivo do aviário é composto por madeira, armação de aço, concreto e palanque pré-moldado (Figura 1). Figura 1 - Distribuição dos pontos coletados dentro do aviário. O aviário era constituído de duas baterias de gaiolas, cada qual com dois níveis na forma de pirâmide, formando duas linhas ao longo da instalação, totalizando 108 gaiolas, sendo os dois primeiros níveis das gaiolas com dimensões de 1m de comprimento, 0,50m de profundidade e 0,50m de altura, com área de 50m 2, e o último nível de gaiolas possuem as seguintes dimensões: 1m de comprimento, 0,46m de profundidade e 0,43m de altura, todas as gaiolas são confeccionadas com arame galvanizado. O piso do corredor central do aviário era concretado, abaixo das pirâmides de gaiolas, o piso é de terra batida e o telhado do galpão era do tipo barro e sem forro. Foram coletados dados de 12 pontos equidistantes durante 15 dias consecutivos nas diferentes transições do inverno/primavera, primavera/verão e verão/outono, nos quais foram realizados esses dados nos meses de Setembro/2011, Dezembro/2011 e Março/2012, onde eram coletados duas vezes ao dia sendo às 8h00 horas e às 14h00 horas, caracterizando mínima e máxima do dia, no qual as variáveis coletadas foram, temperatura de bulbo seco (Tbs), temperatura de bulbo úmido (Tbu), temperatura de globo negro (Tgn), umidade relativa do ar (UR), velocidade do vento (Vv), temperatura do ar (Tar) e a temperatura de superfície de telhado (Tst). Para aferição da temperatura interna de superfície do telhado utilizou-se o termômetro de superfície Scantemp PRO 440, onde dividiu-se o telhado em treze pontos virtuais para a realização das 13 aferições que foram coletados, nove pontos ficam na mesma localização dos Tgn e os outros 4 pontos distribuídos no corredor central. Energ. Agric., Botucatu, vol. 33, n.1, p.52-57, janeiro-março, 2018. 53

Para um melhor controle e conhecimento das variáveis bioclimáticas três termômetros de bulbo seco e bulbo úmido foram instalados na altura das gaiolas, e no decorrer do corredor central, a cada 2 metros. Para coleta de dados da temperatura de globo negro foram instaladas na parte interna do galpão 8 globos negros onde eles ficaram no centro da gaiola, também foi fixado um globo negro na parte externa do galpão para saber a temperatura externa do galpão. Para a coleta da temperatura do ar ( C) e umidade relativa do ar (%) utilizou-se o Datalogger SK - L 200 TH onde essas variáveis foram coletadas em dezesseis pontos diferentes. Para coleta da velocidade do vento foi utilizado o Anemômetro digital (Instrutherm - TAVR - 650) coletando-se nos mesmos pontos das variáveis Tar e UR. Mediu-se a temperatura de bulbo seco e bulbo úmido em três pontos no corredor central, dispostos a cada 4m e instalados na altura de 1m, utilizando 3 Higrômetros manuais (seco/úmido) da Icoterm. As médias das variáveis bioclimáticas foram comparadas utilizando o teste estatístico Tukey (95%) por meio do software Statigrafics Centurion, e para o mapeamento do aviário utilizou-se o software de superfície SURFER. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 apresenta-se as médias encontradas para as variáveis bioclimáticas nas diferentes estações do ano. Tabela 1 - Variáveis bioclimáticas aferidas na instalação de aves poedeiras. MANHÃ TARDE I/P P/V V/O I/P P/V V/O Variáveis Média (EP ±) Média (EP ±) Média (EP ±) Média (EP ±) Média (EP ±) Média (EP ±) TAR 22,91 a (±1,32) 27,33 b (±0,93) 26,79 b (±1,32) 30,21 a (±1,47) 34,89 b (±0,88) 32,86 ab (±1,04) TGN 22,08 a (±1,50) 23,78 a (±1,73) 26,74 a (±2,68) 31,06 a (±1,22) 36,01 b (±1,50) 34,04 b (±2,11) TBS 21,23 a (±1,07) 25,37 b (±1,27) 25,40 ab (±1,79) 31,06 a (±1,33) 31,47 a (±1,57) 31,38 a (±2,22) TBU 16,74 a (±0,84) 21,37 b (±1,03) 23,53 b (±1,45) 21,26 a (±1,18) 22,16 a (±1,40) 21,53 a (±1,97) TST 23,56 a (±0,99) 26,48 a (±1,23) 26,92 a (±1,74) 31,02 a (±1,27) 38,05 b (±1,18) 35,52 b (±0,90) VV 0,80 a (±0,10) 0,06 b (±0,12) 0,03 b (±0,17) 0,62 a (±0,88) 0,05 b (±0,06) 0,03 b (±0,12) Letras diferentes nas linhas destacam valores que foram significativos estatisticamente (Tukey 5%) Legenda: I/P: Transição entre as estações de inverno e primavera; P/V: transição entre as estações de primavera e verão; V/O: transição entre as estações de verão e outono; TAR: temperatura do ar; TGN: temperatura de globo negro; TBS: temperatura de bulbo seco; TBU: temperatura de bulbo úmido; TST: temperatura de superfície de telhado; VV: velocidade do vento. Foram observadas diferenças significativas nas transições das estações do ano, nas variáveis bioclimáticas do período da manhã e tarde. A transição do ano entre o inverno e primavera apresentou valores menores que trazem conforto às aves poedeiras tanto na parte da manhã (22,91) como na parte tarde (30,21). É de suma importância o conhecimento do microclima onde as aves ficam alojadas, segundo Dawkins (1999) e Ferrante et al. (2001) o ambiente influencia fortemente no comportamento das aves, desta forma é possível identificar, quantificar e caracterizar as condições de conforto térmico e bem-estar (PEREIRA et al., 2007). Sainsbury (1971), Yousef (1985), Medeiros (2001) e Damasceno (2010) mostram que a faixa de temperatura de bulbo seco, umidade relativa e velocidade do vento devem ficar entre 21ºC e 27ºC; 50% e 70% e 0,5 ms -1 e 1,5 ms -1 para que as aves resultem em melhor desempenho animal, e os resultados verificados no estudo (Tabela 1) mostram que em todas as transições das estações do ano mantiveram os valores de conforto recomendados para as variáveis bioclimáticas avaliadas. Possivelmente este fato ocorreu devido à neste período a temperatura do ar ser mais amena comparado com a temperatura da tarde que chega até 40 C na região de estudo. Altas temperaturas além de causar desconforto térmico às aves, podem também afetar seu desempenho, onde estudos realizados por Alves (2006), Rodrigues (2006), Silva et al. (2006) e Barbosa Filho et al. (2007), mostraram diminuição no consumo de ração e maior ingestão de água quando as aves ficam em ambiente fora da sua zona de termoneutralidade, aumentando o canibalismo devido ao estresse gerado devido a temperatura do ambiente na qual elas se encontram. Damasceno et al. (2010) relatam que o desempenho animal pode ser afetado devido a fatores relacionados ao ambiente, comprometendo a homeotermia das aves. Esses fatores são principalmente a temperatura do ar, umidade relativa, radiação térmica e velocidade do ar. Energ. Agric., Botucatu, vol. 33, n.1, p.52-57, janeiro-março, 2018. 54

Todavia, na avaliação da transição de I/P nota-se um comportamento contrário das variáveis bioclimáticas (Tabela 1). Verifica-se que nenhuma das variáveis bioclimáticas referentes a temperatura manteve-se dentro dos níveis recomendados para o conforto térmico das aves, sendo esta transição de estação (I/P) considerada a mais crítica em termos de ambiência, ficando 6,89 o C acima da média recomendada, ou seja cerca de 31% maior. A velocidade de vento ficou dentro dos padrões recomendados apenas na transição I/P e que nas outras fases analisadas encontrou-se velocidades significativamente inferiores. Como o aviário não tem sistema de aspersão, o que promoveria um resfriamento adiabático evaporativo, não se pode garantir que esta maior velocidade do vento traga algum benefício, pois as temperaturas externas chegavam a limites muito superiores aos encontrados no interior do aviário, além da não existência de paisagismo externo circundante, o que poderia acarretar em ventos com temperaturas elevadas. Os valores médios encontrados para temperatura da superfície interna do telhado também foram altos sendo que para a parte da manhã apresentou 26,92 e para o período da tarde 35,52, não se diferenciando estatisticamente da transição da estação seguinte (V/O). Sabe-se que a temperatura externa tem grande influência na ambiência de uma instalação. Dependendo do material utilizado, terá ou não sucesso, no controle da radiação que passa para a instalação, como os resultados obtidos neste estudo a telha de barro é considerada uma ótima opção de estruturas nos galpões avícola, pois a radiação não consegue atravessar a telha, o que podemos observar que a transição entre V/O tanto na parte da manhã como a tarde apresentou maiores valores quando comparados as outras transições. Naas et al. (2001) considera o telhado o elemento construtivo mais importante em uma instalação avícola, quanto ao controle da radiação solar incidente. Segundo Abreu e Abreu (2011) apesar do Brasil apresentar grande diversidade climática, a temperatura e a intensidade da radiação são elevadas em quase todo ano. Abreu e Abreu (2011) salientam a importância das aves serem mantidas em ambientes que possibilitem o balanço térmico, visto a dificuldade da adaptação das mesmas a extremos de temperatura. Analisando as médias das variáveis bioclimáticas na transição de (P/V) na Figura 2, nota-se uma semelhança estatística no ambiente, com exceção da média encontrada para Tst, a qual foi igual a transição de I/P, mas diferente da transição V/O, onde notamos um decréscimo médio de 4 o C. Todavia, nesta fase, esta diminuição da Tst não influenciou o ambiente interno, quando se compara descritivamente as outras transições de estações. Mais uma vez, observa-se uma velocidade do vento extremamente baixa e uma temperatura média do ar alta, o que indica a necessidade do uso de algum tipo de climatização para o controle do ambiente. Na Figura 2 e 3 observa-se entre as transições entre inverno e primavera sendo tanto para temperatura do ar como a para temperatura de globo negro, estas foram as transições das estações do ano que mais apresentaram temperaturas amenas deixando as aves dentro da sua zona de termoneutralidade. Abreu e Abreu (2011) observam que no Brasil, possivelmente por fatores de custos ou mesmo por falta de conhecimento do produtor, não é dado a devida importância ao planejamento e concepção arquitetônica da edificação. Como consequência, encontram-se instalações predominantemente quentes gerando condições de estresse e possível prejuízo econômico. a) I/P Manhã b) I/P Tarde c) P/V Manhã Energ. Agric., Botucatu, vol. 33, n.1, p.52-57, janeiro-março, 2018. 55

d) P/V Tarde e) V/O Manhã f) V/O Tarde Figura 2 - Mapeamento da temperatura do ar. a) Manhã I/P b) Tarde I/P c) Manhã P/V d) Tarde P/V e) Manhã V/O f) Tarde V/O Figura 3 - Mapeamento da Temperatura de Globo Negro Podemos observar nas imagens que os pontos onde sofrem maiores alterações foram entre as transições das estações do ano primavera e verão e verão e outono, apenas inverno e primavera no período da manhã e tarde, mostrou um microclima mais agradável para as aves poedeiras, esses resultados podem ser observados na Tabela 1. 4 CONCLUSÕES A estação do ano que mostrou valores mais adequados ao conforto térmico no interior do aviário foi a transição entre Inverno e Primavera. No interior do galpão, em todas as transmissões das estações do ano, as variáveis analisadas ficaram acima dos exigidos pelas aves poedeiras. Desta forma, o microclima em que as aves ficam alojadas, são influenciadas pelas diferentes transições do ano. 5 REFERÊNCIAS ABREU, V. M. N.; ABREU, P. G. Os desafios da ambiência sobre os sistemas de aves no Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 40, p. 1-14, 2011. BARBOSA FILHO, J. A. D.; SILVA, I, J. O.; SILVA, M. A. N.; SILVA, C. J. M. Avaliação dos comportamentos de aves poedeiras utilizando seqüência de imagens. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 27, n. 1, p. 93-99, jan./abr. 2007. Energ. Agric., Botucatu, vol. 33, n.1, p.52-57, janeiro-março, 2018. 56

BRIDI, A. M. Instalações e ambiência em produção animal. 2008. Disponível em: <http://www.uel.br/pessoal/ambridi/bioclimatologia_arq uivos/instalacoeseambienciaemproducaoanimal.pdf>. Acesso em: 17 maio 2018. CAMPOS, A. T.; KLOSOWSKI, E. S.; CAMPOS, A. T.; CAMPOS, D. S.; CUNHA, A. R. Estimativa da produção de ovos para as diversas regiões do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, 14., 2005, Campinas. Anais. Campinas, 2005. CD-ROM. DAMASCENO, F. A.; SCHIASSI, L.; SARAZ, J. A. O.; GOMES, R. C. C.; BAÊTA, F. C. Concepções arquitetônicas das instalações utilizadas para a produção avícola visando o conforto térmico em climas tropicais e subtropicais. PUBVET, Londrina, v. 4, n. 42, ed.147, Art.991, 2010. forrageiras nos índices de conforto térmico em dois horários. In: Seminário de Construções Rurais e Ambiência Aplicadas à Produção Animal, 1., 2008, Tupã. Anais. Tupã: Unesp, 2008. v. 1, p. 1-8. SILVA, I. J. O.; BARBOSA, F. J. A. D.; SILVA, M. A. N.; PIEDADE, S. M S. Influência do sistema de criação nos parâmetros comportamentais de duas linhagens de poedeiras submetidas a duas condições ambientais. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, p. 1439-1446, 2006. YOUSEF, M. K. Stress physiology in livestock. Poultry Science, Boca Raton, v. 3, p. 159, 1985. DAWKINS, M. S. The role of behaviour in the assessment of poultry welfare. World Poultry Science Journal, v. 55, p. 295-303, 1999. FERRANTE, V.; VERGA, M.; MANGIAGALLI, M. G.; CARENZI, C. Behaviour reactions, semen quality and testosterone levels in cocks: genetic implications. Animal Welfare, v. 10, p. 269-279, 2001. FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL - FAWC. Economics and Farm Animal Welfare. 2011. Disponível em: <http://www.fawc.org.uk/freedoms.htm>, acessado em 17 de Maio de 2018. MEDEIROS, C. M. Ajuste de modelos e determinação de índice térmico ambiental de produtividade para frangos de corte. 2001. 125 p. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) -Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. PEREIRA, D. F.; NÄÄS, I. A.; ROMANINI, C. E. B.; SALGADO, D. D.; PEREIRA, G. O. T. Broiler breeder behavior and egg production as function of environmental temperature. Brazilian Journal of Poultry Science, v. 9, p. 9-16, 2007. RODRIGUES, V. C. Distribuição espacial e bem-estar de aves poedeiras em condições de estresse térmico utilizando visão computacional e inteligência artificial. 2006. 101 p. Dissertação (Mestrado em Física do Ambiente Agrícola) - Universidade de São Paulo, Piracicaba. SAINSBURY, D. Sanidad y alojamientos para animales. Barcelona: Continental, 1971. 196 p. SALGADO, D. D.; NÄÄS, I. A. Avaliação de risco à produção de frango de corte do estado de São Paulo em função da temperatura ambiente. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 30, n. 3, p. 367-376, maio/jun. 2010. SANTANA, E.; TAKAHASHI, L. S.; FIORELLI, J.; LUPATINI, G. C. Efeito de diferentes espécies Energ. Agric., Botucatu, vol. 33, n.1, p.52-57, janeiro-março, 2018. 57