Registro: 2018.0000250102 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000, da Comarca de Guarulhos, em que são impetrantes TULLIO MARTELLO NETTO e TUTTI QUANTI ADMINISTRADORA DE BENS PRÓPRIOS LTDA. EPP, é impetrada MM. JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE GUARULHOS. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Denegaram a segurança. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente sem voto), JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA E MARREY UINT., 10 de abril de 2018. MAURÍCIO FIORITO RELATOR Assinatura Eletrônica
Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 Impetrantes: Tullio Martello Netto e Tutti Quanti Administradora de Bens Próprios Ltda. Epp Impetrado: Mm. Juíza de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública de Guarulhos Litisconsortes: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado De - DER, Marilia de Oliveira Martello, Fausto Martello, Vilma Neves Martello e Município de Guarulhos Comarca: Guarulhos Voto nº 14289 MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO Nomeação de novo perito Pretensão de anular a decisão que nomeou novo perito para a elaboração de laudo judicial Decisão suficientemente fundamentada e proferida de acordo com o disposto no artigo 480 do Novo CPC Perito de confiança de juízo que já atuou em processos semelhantes Inexistência de informação ou documento que desabone o conhecimento técnico ou a conduta do expert Não se verifica qualquer prejuízo às partes com a elaboração de novo laudo pericial Ademais, ausente comprovação de ferimento do direito líquido e certo dos impetrantes Segurança Denegada. Trata-se de mandado de segurança originário com pedido de liminar impetrado por Tullio Martello Netto e outro, contra ato judicial irrecorrível proferido pela MMa. Juíza de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública de Guarulhos, nos autos de ação de desapropriação (processo nº 3026910-69.2013.8.26.0224) movida pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de - DER, com pedido de medida liminar para suspender a r. determinação proferida pela autoridade coatora que acolheu pedido da expropriante para a nomeação de um novo perito judicial. Sustentam os impetrantes, em síntese, que a decisão Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 -Voto nº 14289 2
atacada não foi suficientemente fundamentada, bem como, não poderia ter sido nomeado perito indicado pela parte expropriante. 681/683). Liminar concedida para suspender a decisão atacada (fls. 733/742). Parecer da PGJ opinando pela denegação da segurança (fls. É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO. A segurança deve ser denegada. A questão trazida cinge-se ao inconformismo dos impetrantes, com a decisão da MM. Juíza a quo que nomeou novo perito para realizar outro laudo judicial na ação de desapropriação, por entender que as divergências existentes nos laudos anteriores devem ser esclarecidas. Ao que se observa dos autos, o mandado de segurança foi impetrado em face de ato judicial irrecorrível prolatado em ação de desapropriação movida pelo Departamento de Estradas de Rodagem DER contra os impetrantes e outros, visando a desapropriação de área situada na Estrada Albino Martello, s/nº, Bairro Bonsucesso, com 99.557,38 m², no Município de Guarulhos, Estado de, para as Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 -Voto nº 14289 3
obras dorodoanel Mário Covas - Trecho Norte, mediante oferta inicial de R$ 7.486.000,00. Naqueles autos, em laudo provisório foi apurado o valor de R$ 13.767.062,15, e, em laudo complementar, foi encontrado o valor de R$ 71.169.259,91. Por fim, no laudo definitivo, o perito apurou o valor de R$ 32.271.705,02. O DER pugnou pela realização de nova perícia, com a nomeação, preferencialmente, do perito Shunji Nassuno, pertencente aos quadros da CAJUFA, que teria atuado em outra ação de desapropriação, com as mesmas partes (fls. 584/639). A juíza da causa determinou a realização de nova perícia e nomeou o perito Shunji Nassuno para o trabalho, sobrevindo a irresignação dos agravantes (fls. 640/641). Como cediço, prevê o art. 1 da Lei 12.016/2009, atual Lei do Mandado de Segurança: Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. Segundo a clássica lição de HELY LOPES MEIRELLES, mandado de Segurança é o meio constitucional posto à disposição de Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 -Voto nº 14289 4
toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou universalidade reconhecida por lei, para a proteção de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, lesado ou ameaçado de lesão, por ato de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça (Mandado de Segurança, Malheiros Editora, 30ª edição, pág. 25/26). Nestes termos, não se pode olvidar que o chamado direito líquido e certo demanda prova pré-constituída, sendo certo que o mandamus não comporta dilação probatória. ZANELLA DI PIETRO: Sobre o tema, oportuno trazer a lição de MARIA SYLVIA "(...) Finalmente, o último requisito é o que concerne ao direito líquido e certo. Originariamente, falava-se em direito certo e incontestável, o que levou ao entendimento de que a medida só era cabível quando a norma legal tivesse clareza suficiente que dispensasse maior trabalho de interpretação. Hoje, está pacífico o entendimento de que a liquidez e certeza referem-se aos fatos; estando estes devidamente provados, as dificuldades com relação à interpretação do direito serão resolvidas pelo juiz. Daí o conceito de direito líquido e certo como o direito comprovado de plano, ou seja, o direito comprovado juntamente com a petição inicial. No mandado de segurança, inexiste a fase de instrução, de modo que, havendo dúvidas quanto às provas produzidas na inicial, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito, por falta de um pressuposto básico, ou seja, a certeza e liquidez do direito (MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, in Direito Administrativo, Editora Atlas, 13ª Edição, pág. 626). Cumpre esclarecer que o novo perito nomeado é Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 -Voto nº 14289 5
profissional legalmente habilitado e devidamente inscrito no cadastro mantido por este E. Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 156, 1º do Novo CPC, tendo inclusive atuado em outros feitos semelhantes. Os impetrantes não trouxeram qualquer documento ou informação que desabone o trabalho realizado pelo expert, não se identificando qualquer infração ou ilegalidade que tenha cometido. Ademais, caso estivesse presentes os requisitos legais, poderia ter arguido o impedimento ou suspeição do jurisperito, conforme os artigos 144 e seguintes do Novo CPC, não restando comprovada a existência de quaisquer das hipóteses legais. Inclusive, como bem salientado pela PGJ, as informações foram prestadas notadamente com destaque para a questão de fundo referente a necessidade de perito isento, dos quadros da CAJUFA, justificando a nomeação do perito Shunji Nassuno em razão de sua notoriedade e atuação em processo correlato, sem qualquer vinculação com a parte, mas antes de confiança do Juízo. No que se refere à alegada falta de fundamentação, a decisão da magistrada a quo decorre diretamente do diploma processual que dispõe em seu artigo 480: Art. 480. O juiz determinará, de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia quando a matéria não estiver suficientemente esclarecida. 1º A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre os quais Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 -Voto nº 14289 6
recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu. 2º A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas para a primeira. 3º A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao juiz apreciar o valor de uma e de outra. Ou seja, a determinação para realização da nova perícia visa o esclarecimento da matéria envolvida e não resultará em qualquer prejuízo para as partes, mesmo porque as provas serão apreciadas livremente pelo juiz, que poderá considerar ou deixar de considerar as conclusões do laudo apresentado, nos termos do artigo 479 do Novo CPC: Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito. Nesta ordem de ideias, em que pesem os argumentos apresentados, da prova pré-constituída não se extrai o direito líquido e certo alegado pelos impetrantes, motivo pelo qual deve ser denegada a segurança pleiteada. DECIDO. Ante o exposto, e pelo meu voto, DENEGO a SEGURANÇA, cassando a liminar anteriormente concedida e JULGO EXTINTO o feito, com suporte no artigo 487, VI, do Código de Processo Civil. Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 -Voto nº 14289 7
Deixo de condenar os impetrantes ao pagamento de custas sucumbenciais diante do determinado pela Súmula 512 do STF. Sem condenação em honorários advocatícios. MAURÍCIO FIORITO RELATOR Mandado de Segurança nº 2222534-27.2017.8.26.0000 -Voto nº 14289 8