TERMOS DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DUMA INVESTIGAÇÃO SOBRE AS DESIGUALDADES SOCIAIS NA SAÚDE EM MOÇAMBIQUE



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TERMOS DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DUMA INVESTIGAÇÃO SOBRE AS DESIGUALDADES SOCIAIS NA SAÚDE EM MOÇAMBIQUE Investigação realizada no âmbito do projecto Fortalecimento, Promoção e Defesa dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Moçambique executado pela medicusmundi e financiado pela AECID (Espanha). Apoio técnico e financeiro da: 1

Data de início: 01/02/2015 Prazo final: 31/12/2017 Locais: Moçambique (Províncias por definir) Conteúdo 1.- INTRODUCÇÃO 3 2.- ANTECEDENTES E JUSTIFICAÇÃO 5 3.- RESULTADOS ESPERADOS 13 4.- METODOLOGIA E PROGRAMA DE TRABALHO 14 5.- DOCUMENTOS, FONTES DE INFORMAÇÃO e 15 ACTORES CHAVES 6.- PREMISSAS DA CONSULTORIA, AUTORIA E 16 PUBLICAÇÃO 7.- PRAZOS PARA CONCLUSÃO DA AVALIAÇÃO E 16 ORÇAMENTO 8.- APRESENTAÇÃO DE CV 18 9.- BIBLIOGRAFIA 19 2

1. INTRODUÇÃO O projecto Fortalecimento, Promoção e Defesa dos CSP em Moçambique, desenhado e executado pela medicusmundi em colaboração directa com o Ministério da Saúde (MISAU), a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), o Instituto de Estudos Sócio Económicos (IESE) e o Mecanismo de Acção para a Sociedade Civil (MASC) tem como finalidade revitalizar os Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Moçambique. O Projecto pretende contribuir a garantir o direito à saúde da população de Moçambique, mediante o Fortalecimento, a Promoção e a Defesa dos princípios dos CPS, sendo os CSP a estratégia mais eficaz e eficiente para resolver o 80% dos problemas de saúde da população (http://www.who.int/whr/2008/08_report_es.pdf). Depois de 20 anos de trabalho em Moçambique, medicusmundi conclui que o fortalecimento do sistema de saúde não é o único caminho para a defesa da CSP, pelo que aposta agora por um marco conceitual que, além do apoio ao SNS, baseia-se na promoção e defesa da CSP em colaboração com centros superiores de ensino, instituições de investigação, plataformas da sociedade civil, com o objetivo de promover a participação cidadã como garantia de boa governação. Desde a investigação e o diálogo político pretende-se incidir nas políticas de saúde, alimentando o debate sobre o modelo de saúde que persegue Moçambique, para que a comunidade possa exercer e reclamar activamente o seu direito à saúde. medicusmundi pretende capitalizar a sua experiência de duas décadas de trabalho nos distritos de Cabo Delgado, e impulsionar uma estratégia provincial de fortalecimento dos CSP baseada na transferência de conhecimentos a volta de três máximas prioridades do MISAU: (1) Melhorada a Gestão, Planificação e Financiamento dos distritos mediante a assessoria à DPS; (2) Melhora da Qualidade dos Serviços de Saúde e da Prestação de Cuidados de Saúde; (3) Melhora da saúde da Comunidade, com especial foco nos riscos na saúde das novas atividades económicas (extractivas). Por outro lado, no nível nacional, trabalhar-se-á nas seguintes linhas: (1) Promoção dos CSP mediante a sua docência e investigação. Esta linha é desenvolvida com a UEM e outras instituições académicas e de investigação nacional e internacional (IESE e outros). No referente à docência, desenvolver-se-á módulos e cursos de curta duração sobre APS para ser implementados no Máster de Saúde Pública (MSP), assim como nas instituições de Formação (IdFs) de nível médio (Centros de Formação CFS) e superior (Instituto Superior de Ciências da Saúde (ISCISA); bolsas de estudo para gestores provinciais e distritais para cursar o MSP, entre outros. No referente à investigação apoiar-se-á o processo de criação, desenvolvimento institucional e estratégico da Unidade de Desenvolvimento dos CSP (UDAPS 1 ), uma unidade que estará inserida no Departamento da Comunidade da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). A UDAPS será responsável de garantir a docência, estudo, investigação e inclusão da APS em todas às formações implementadas, além de realizar ações para a incidência política no MISAU, em base aos resultados dos 1 Os nomes definitivos das instituições a ser consolidadas ainda não são definitivos. Até a data tem se optado por utilizar o nome UDAPS: Unidade de Desenvolvimento da Atenção Primária em Saúde (APS=CSP). 3

trabalhos e investigações realizadas. Uma vez criada a UDAPS, o projecto contribuirá (financiando e apoiando tecnicamente) a realização de algumas investigações que formarão parte da sua agenda. Algumas destas investigações serão: (i) Financiamento do sector saúde (origem, destino e uso dos fundos). (ii) (iii) Estudo sobre as desigualdades sociais na saúde em Moçambique. Riscos da indústria extractiva na saúde individual, comunitária e ambiental na província de Cabo Delgado. Para finalizar com o componente de investigação, trabalhar-se-á no fortalecimento institucional do Núcleo de Investigação Operativa de Pemba (NIOP), mediante o desenho do seu plano estratégico, agenda de investigação, etc. (2) Defesa dos CSP. Criar-se-á o Instituto de Desenvolvimento dos CSP (IDAPS 2 ), como órgão de promoção e defesa para incidir na definição das políticas públicas de APS. Apoiar-se-á a definição da sua personalidade jurídica, definição de estatutos, componentes, plano de negócios, estratégico, etc. Este instituto vai ter um carácter independente e contará com a participação dos membros chaves da APS e defesa do direito a saúde no nível nacional e internacional. Por outro lado, assegurar-se-á a operatividade do IDAPS assim como a sua participação nos foros, plataformas e redes de coordenação de actores do sector para maior incidência nas políticas de APS. Por último, trabalhar-se-á no fomento da participação cidadã e o diálogo político entre o MISAU, a população e a Sociedade Civil para a defesa da APS, em colaboração com o Mecanismo de Apoio da Sociedade Civil (MASC) e organizações da sociedade civil (OSC). Este fomento realizar-se-á mediante: (i) o fortalecimento da sociedade civil (financiamento e capacitação institucional) mediante convocatórias para desenvolver projectos com o objetivo de Defesa do Direito a Saúde; (ii) realizando atividades que fomentem o diálogo político, difusão dos resultados das investigações e boas prácticas para a coordenação entre actores do sector (conferências internacionais, campanhas de sensibilização, documental baseado nos resultados da pesquisa sobre riscos na saúde da indústria extractiva, ciclo de cinema sobre direito à saúde, etc.). Considerando a contextualização apresentada, os presentes TdR fazem referência exclusivamente a realização duma investigação sobre o Estudo sobre as desigualdades sociais na saúde em Moçambique. Não entanto, esta investigação vai ter uma repercussão em outros dos resultados descritos, nomeadamente, o uso dos seus resultados como elementos de incidência política, a contribuição da mesma na agenda de investigação do futuro IDAPS, o uso dos seus resultados no desenho de campanhas de informação e sensibilização cidadã a volta do direito à saúde, etc. 2 Os nomes definitivos das instituições a ser consolidadas ainda não são definitivos. Até a data tem se optado por utilizar o nome IDAPS: Instituto de Desenvolvimento da Atenção Primária em Saúde (APS=CSP). 4

2. ANTECEDENTES E JUSTIFICAÇÃO As desigualdades em saúde. As desigualdades sociais em saúde são aquelas diferencias em saúde injustas e evitáveis entre grupos populacionais definidos social, económica, demográfica e geograficamente. Estas desigualdades sociais são o resultado das distintas oportunidades e recursos relacionados com a saúde que tem as pessoas em função da sua classe social, sexo território ou etnia, o que se traduz numa pior saúde entre os colectivos socialmente desfavorecidos. Muitos estudos científicos mostram que as desigualdades em saúde são enormes, responsáveis do excesso de mortalidade e morbilidade superior à maioria dos factores de risco de enfermar conhecidos. Em aqueles âmbitos onde tem sido estudadas, estas desigualdades quase sempre aumentam já que a saúde melhora mais rapidamente nas classes sociais mais avantajadas. As evidências científicas também indicam que as desigualdades podem se reduzir se aplicam-se as intervenções e políticas públicas sanitárias e sociais adequadas. Estas desigualdades tem um enorme impacto na saúde da população, e pelo tanto, tem que ser uma prioridade das políticas de saúde pública e um eixo transversal das políticas sanitárias em qualquer país. Existem diferentes modelos para explicar as causas ou factores determinantes das desigualdades em saúde. Um modelo de referência baseia-se em dos elementos principais: os factores estruturais e os factores intermédios em saúde (desenvolvido a partir do trabalho da Comissão de Determinantes Sociais da Saúde da OMS e Vicenç Navarro). Figura 1. Marco Conceitual dos determinantes das desigualdades sociais em saúde. Baseado em Solar e Irwin y Navarro. 5

Os factores estruturais compõem se do contexto socioeconómico e da estrutura social: Contexto socioeconómico e político refere-se aos factores que afectam de forma importante a estrutura social e a distribuição do poder e recursos dentro dela. Determinam políticas macroeconômicas, políticas fiscais, políticas públicas, outras. Incluem: o Governo: tradição política, transparência, corrupção, poder dos sindicatos, etc. o Actores económicos e sociais: Grandes corporações. Sociedade Civil. Outros. Eixos de desigualdade determinam jerarquias de poder na sociedade como são: o Classe social: observa-se que ao diminuir a classe social (medida a través da ocupação e/ou nível de formação e ingressos) a saúde piora. o Gênero: existem diferencias biológicas e também desigualdades de género devidas às diferencias sociais entre os dois sexos. o Idade / Etnia / Raça /território: podem determinar desigualdades em saúde ligadas a processos de discriminação e segregação. O entorno social, cultural e económico influi na saúde da população Estes eixos determinam as oportunidades de ter uma boa saúde, mostram a existência de desigualdades em saúde devido ao poder, prestigio e acesso aos recursos, sendo mais beneficiadas às pessoas de classes sociais privilegiadas, os homens, pessoas de idade jovem, a raça branca, e as pessoas de áreas geográficas mais ricas. A estrutura social determina desigualdades nos factores intermédios que também afectam as desigualdades em saúde. Estes factores incluem os recursos materiais: o Condições de emprego. o Carga de trabalho não remunerado. o Nível de ingressos e situação económica y patrimonial. o Qualidade da vivenda e os seus equipamentos. o Bairro a área de residência e as suas características. Os recursos materiais influem nos processos psicossociais: o Falta de controlo. o Falta de apoio social. o Situações de estresse. o Outros acontecimentos vitais negativos. o Conductas com influências na saúde e nos processos biológicos de derivamse. Sistema de saúde. Os serviços sanitários contribuem per se, pouco à geração das desigualdades em saúde, mais: o Um menor acesso aos serviços de saúde e de menos qualidade para os grupos sociais menos desfavorecidos repercutem negativamente nos problemas de saúde e bem-estar. 6

As desigualdades em saúde em Moçambique É importante salientar que a literatura existente sobre desigualdades em saúde em Moçambique é limitada. Grande parte da literatura sobre saúde e desigualdades em Moçambique enfoca-se no acesso aos serviços de saúde, preventivos ou curativos, em lugar de nos estados de saúde e as suas causas. Isto é devido, em parte porque é mais simples medir a oferta de serviços, e também porque isto limita o universo em termos de políticas que podem se implementar. Em outras palavras, ainda é conhecido que o sistema de saúde é um determinante mais na saúde da população (determinada por muitos outros factores como nutrição, médio ambiente, condições laborais, ingressos, etc), é um universo mais manejável estudar a relação entre indicadores de saúde e oferta de serviços. Algumas fontes de referência para o estudo (parcial) das desigualdades em saúde em Moçambique são: Moçambique Inquérito aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar 2002-2003. Inquérito ao Orçamento Familiar 2008/2009 INSIDA inquérito sobre HIV/SIDA em Moçambique 2008/2009. Inquérito Demográfico e de Saúde 2011. Sem a finalidade de proporcionar uma análise exaustiva, a continuação indicam-se alguns dados parciais que podem ajudar a orientar a análise. As diferenças urbano/rural Em termos gerais, podem se identificar diferencias entre o âmbito rural e o urbano em diferentes medidas no estado de saúde da população, taxa de fecundidade, oferta dos serviços de saúde e qualidade dos mesmos, e outros. Por exemplo, existem dados que indicam as desigualdades em termos de seguro de saúde (privados) em Moçambique, mais de duas vezes superiores no âmbito urbano que no âmbito rural (4.3% frente a 1.8% no caso das mulheres, e 5.4% frente a 1% no caso dos homens). Assim mesmo, esta diferencia pode se apreciar em outros aspectos, como a taxa de fecundidade, amplamente superior no âmbito rural (6.6 Vs 4.5). 7

Figura 2. Cobertura de seguro de saúde Homens e Mulheres (IDS 2011).. Figura 3. Taxas de fecundidade por idade e fecundidade por características (residência, escolaridade, etc). (IDS, 2011) Por último, para exemplificar a diferencia urbano/rural, pode se observar que o 22% das mulheres em união marital no âmbito urbano é usuária de algum método anticonceptivo, sendo só o 7% no âmbito rural. 8

Figura 4.Uso de contraceptivos entre mulheres em união marital. (IDS, 2011) As diferenças de género Um dos principais âmbitos sobre os que actuam as diferencias de gênero é sobre a saúde e a qualidade de vida das pessoas, entendendo por desigualdades aquelas diferencias injustas e evitáveis que existem entre homens e mulheres. Segundo a OMS, é necessário indagar sobre os processos e razões pelas que homens e mulheres vem se afectados de maneira diferencial por distintos processos de saúde-doença. O gênero constitui se como um determinante social e uma categoria que estratifica e condiciona toda uma série de processos relacionados com os resultados da saúde das mulheres e homens. Dentro dos determinantes estruturais relacionados com o gênero e a saúde, é habitual destacar processos como a alfabetização e educação, a transição demográfica e a globalização, sem olvidar a influência da própria estratificação social em relação a factores como a posição socioeconômica. No âmbito da saúde e os seus determinantes, os indicadores desagregados por sexos não sempre equivalem a indicadores com sensibilidade de gênero, embora em ocasiões utilizam-se estes términos de forma distinta. Em realidade, a informação desagregada por sexo indica se existem diferencias entre homens e mulheres em uma dimensão específica de saúde, em quanto os indicadores com sensibilidade de gênero são elaborados para observar as consequências em saúde de gênero como construção social, e assim, poder ajudar a compreender si a diferencia observada entre sexos no estado de saúde é o resultado de desigualdades o inequidades de gênero. É preciso analisar várias dimensões da saúde. Além da morbilidade e mortalidade, é conveniente contemplar componentes como a vulnerabilidade, percepções da saúde, conductas ante problemas de saúde, resposta do sistema de saúde, resultados em saúde 9

e consequências imediatas (mortalidade, recuperação...) e de longo prazo (incapacidades, consequências sociais e económicas). Observa-se como a epidemia do HIV e SIDA está feminizada, sendo o número estimado de mulheres vivendo com HIV superior aos homens. Por outro lado, observa-se que no caso da mortalidade adulta, as taxas de mortalidade em homens são mais elevadas a das mulheres (6.77 Vs 5.71). Sem dúvida os exemplos de diferencias no estado de saúde entre homens e mulheres, assim como as causas e consequências. Mais dados podem se encontrar no IDS e outros relatórios de referência. As diferenças de regionais / provinciais Figura 5. Taxas de mortalidade adulta e Estimações HIV 2013. É habitual que em Moçambique realize se análise de diferentes indicadores agrupando províncias em três grandes regiões: norte (Cabo Delgado, Niassa e Nampula); centro (Zambezia, Tête, Sofala e Manica) e Sul (Inhambane, Gaza e Maputo). Existem desigualdades em saúde entre estas três regiões, e no seio das suas respectivas províncias. A análise da prevalência do HIV indica que a região sul é a que apresenta uma maior prevalência, 21%, seguida da centro, 18% e a norte 9%. 10

Figura 6. Prevalência HIV por regiões e Rondas realizadas. As taxas de mortalidade infantil também apresentam diferencias interprovinciais, sendo a província de Zambezia a mais elevada, e Inhambane a que presenta indicadores mais baixos, inclusivo por embaixo de áreas urbanas como Maputo. A análise de determinados hábitos que tem especial impacto na saúde, como pode ser a duração da amamentação, também mostra diferencias consideráveis entre províncias, sendo Niassa a que apresenta indicadores mais elevados e Maputo província e cidade, os mais baixos. 11

Figura 6. Prevalência HIV por regiões e Rondas realizadas. As diferenças de clases sociais. A análise dos indicadores de saúde, assim como de determinados âmbitos de prevenção, acesso e prestação dos serviços amostra diferencias entre diferentes quintis de riqueza. Por exemplo, quase 60% do quintil de riqueza mais alto posse rede mosqueteira tratada, entre tanto, o entre o quintal mais baixo só um 45%. A mortalidade infantil também apresenta diferenças entre quintis, seja a Neonatal, pós-neonatal, infantil, pós-infantil e infanto-juvenil. Por último, 11,5% do quintil mais alto de riqueza recebeu uma atenção no parto por parte dum médico. Este percentagem baixa até 0.2 no caso do quintil de riqueza mais baixo. Figura 6. Redes mosqueteiras por residência e quintil e Mortalidade Infantil e na infância por características socioeconómicas. 12

3. RESULTADOS ESPERADOS Figura 7. Assistência durante o parto Os resultados esperados incluem uma série de produtos: (1) Uma investigação sobre as desigualdades sociais na saúde em Moçambique. O documento pode seguir, de forma orientadora, a seguinte estrutura: a. Introdução. i. Análise dos eixos da desigualdade: 1. Classe social. 2. Género. 3. Territoriais. 4. Outros. b. Desigualdades no estado da saúde e na doença i. Saúde apercebida. ii. Doenças transmissíveis. 1. Malária. 2. SIDA 3. TB 4. Outras iii. Doenças não transmissíveis: 1. Cancro 2. Cardiovasculares 3. Lesões. 4. Outros c. Desigualdades nos estilos de vida i. Consumo Tabaco ii. Consumo Álcool iii. Actividade física. iv. Seguimento duma dieta. 13

d. Desigualdades na utilização dos serviços sanitários i. Cobertura sanitária. ii. Prácticas preventivas. iii. Utilização dos serviços sanitários. e. Desigualdades de género em saúde: i. Morbilidade diferencial entre homens e mulheres. ii. Saúde Sexual e Reproductiva. iii. Violência de gênero. f. Desigualdades na saúde laboral: i. Condições de trabalho. ii. Saúde. iii. Análise de colectivos de especial interesse. 1. Garimpeiros. 2. Outros. g. Recomendações i. Sistemas de informação ii. Formação. iii. Políticas. iv. Pesquisa (2) Dependendo dos resultados atingidos na investigação, da disponibilidade de dados para a realização da mesma e de outros factores ainda por concretizar neste processo, elaborar-se-á diferentes sub-productos, encaminhados em dar a conhecer os avances, parciais o totais da investigação. A modo orientador, indicamse: a. Um pôster para apresentar na primeira Conferência sobre Cuidados Primários de Saúde em Moçambique. b. A produção de artigos de investigação para publicação a nível nacional e internacional. O número de artigos não concretiza-se e definir-se-á em função dos resultados da investigação. c. Uma publicação tipo livro, de caracter divulgador, que recolha as principais conclusões da pesquisa realizada. 4. METODOLOGIA E PROGRAMA DE TRABALHO A continuação indica-se um detalhe da metodologia a seguir, com as principais actividades, assim como do cronograma geral de trabalho a ser realizado: ACTIVIDADES Elaboração do protocolo de estúdio definitivo. Apresentação e apresentação ao Comité de ética da UEM e MISAU Investigação- Trabalho de campo Ano 2015 2016 2017 14

Investigação Produção das primeiras conclusões. Apresentação de resultados na 1ª conferência sobre Cuidados de saúde primários em Moçambique Investigação Relatório definitivo Investigação - Artigos A consultoria será levada a cabo pela entidade/indivíduos contratados em estreita colaboração com os parceiros do convenio, especialmente, com a UEM e o MISAU. Será supervisada pela medicusmundi, que ao mesmo tempo, será um ente coordenador entre os diferentes actores envolvidos. No marco da colaboração já estabelecida com a UEM, solicitar-se-á a participação dum o vários estudantes do mestrado de Saúde Pública. Estes estudantes realizaram o seu trabalho de fim de máster como colaboradores da pesquisa sobre Desigualdades sociais na saúde em Moçambique. A consultoria terá uma duração de aproximadamente 3 anos, com inicio no mês de Fevereiro de 2015. A equipa consultora terá o apoio dos escritórios de medicusmundi em Maputo. Este apoio pode-se traduzir em aspectos organizativos (marcação de encontros, apresentação de actores-chave), logísticos (uso dos escritórios para poder desenvolver o trabalho) e técnicos (partilha de informação e documentação relevante). A área geográfica de cobertura da investigação determinar-se-á com os principais colaboradores da medicusmundi do convénio (UEM, MISAU, MASC, IESE) e em função duma primeira análise dos dados disponíveis e a análise dos mesmos. Mesmo assim, considera-se que como um ponto de partida para apresentar a resposta a chamada dos presentes TdR, pode se considerar três províncias mínimo de análise (Norte, Centro, Sul). 5. DOCUMENTOS, FONTES DE INFORMAÇÃO e ACTORES CHAVES Os Actores chaves são: Ministério da Saúde: o Direcção Nacional de Planificação e Cooperação. o Direcção Nacional de Saúde Pública. Universidade Eduardo Mondlane: o Faculdade de Medicina /Departamento de Saúde Comunitária. Instituto de Estudos Sociais e Económicos. Mecanismo de Acção para a Sociedade Civil. Instituto Nacional de Estatística. 15

Agencia Espanhola de Cooperação Internacional OTC Maputo Matriz de informações disponíveis e/ou recomendadas: Ministério da Saúde de Moçambique. Plano Estratégico do Sector Saúde 2013-2017. Moçambique Inquérito aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar 2002-2003. Inquérito ao Orçamento Familiar 2008/2009 INSIDA inquérito sobre HIV/SIDA em Moçambique 2008/2009. Inquérito Demográfico e de Saúde 2011. Sistema de Informação Sanitária (SIS) / Módulo Básico (dados a fornecer pelo MISAU). Documentos de referências dos programas de saúde pública do MISAU. Outros. 6. PREMISSAS DA CONSULTORIA, AUTORIA E PUBLICAÇÃO. As premissas básicas de comportamento ético e profissional por parte da equipa consultora devem incluir: Responsabilidade. Qualquer discordância ou divergência de opinião que possa surgir entre os membros da equipa ou entre eles e os responsáveis do Acordo serão discutidas e acordadas no seio da entidade adjudicadora da consultoria. Integridade. A equipe consultora tem a responsabilidade de destacar as questões não especificamente mencionadas nos presentes termos de referência, se necessário, para obter uma análise mais completa da intervenção. Reconhecimento da informação. Cabe a equipa consultora assegurar a precisão das informações recolhidas para a elaboração dos produtos e, finalmente, a mesma é responsável pelas informações apresentadas na versão final. Incidentes. Sempre que surgirem problemas durante a realização do trabalho de campo ou em qualquer outra fase da consultoria, devem ser comunicados imediatamente à entidade adjudicante (medicusmundi). Caso contrário, a existência de tais problemas não poderá de nenhum modo ser utilizada para justificar o fracasso em obter os resultados previstos na presente declaração de Termos de Referência. Direitos de autor e de divulgação. Os produtos da consultoria serão propriedade do da medicusmundi. A medicusmundi, como entidade financiadora da consultoria tem o direito de poder usar o produto final, como o fim de implementar futuros projectos de apoio ao sector saúde em Moçambique. Penalidades. Em caso de atraso na entrega de relatórios ou no caso em que a qualidade dos relatórios apresentados é claramente inferior è exigida, serão aplicadas as penalidades previstas no contrato assinado. 7. PRAZOS PARA CONCLUSÃO E ORÇAMENTO 16

A consultoria terá uma duração de quase 3 anos, com inicio em Fevereiro de 2015 e final no Dezembro 2017. No período de contratação da consultoria será realizado um cronograma conjunto, baseado na proposta indicada neste documento, que servirá como ferramenta de trabalho e coordenação. O tecto orçamental destinado à consultoria é de 70.000, incluindo todas as despesas relacionadas com viagems, impostos, vistos, etc. 17

8. APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA METODOLÓGICA e CV Consultores interessados devem enviar um protocolo de estudo completo e seus CV, incluindo proposta orçamental e cronograma de trabalho a representacion.maputo@medicusmundi.es e recursoshumanos@medicusmundi.es, indicando o assunto Investigação Desigualdades sociais na Saúde Os requisitos mínimos para a seleção da entidade são: (1) Departamento universitário o entidade ligada ao âmbito universitário. (2) O Objetivo destes departamentos, entidades o grupos deve ser a geração de informação científica, transferência de conhecimentos e formar investigadores no contexto das desigualdades sociais em saúde. (3) Experiência mínima de 10 anos nesta área de investigação. (4) Experiência no âmbito da elaboração de investigações/relatórios/outras publicações sobre desigualdades sociais em saúde. a. Ter realizado estúdios similares no nível internacional em pelo menos dos países. b. Ter publicado pelo menos um número não inferior a 15 artigos referentes a desigualdades sociais na saúde. O prazo de recepção das propostas é 25/01/2015. 18

9. BIBLIOGRAFIA BÁSICA Borrell, C. and Artazcoz, L. 2008. Las políticas para disminuir las desigualdades de en salud. Gaceta Sanitaria. 22(5) : 465-73. Instituto Nacional de Estatística, Ministério da Saúde. 2013. Inquérito Demográfico e de Saúde. INE: Maputo Ministerio de Sanidad y Política Social, Gobierno de España. 2010. Avanzando hacia la equidad. Propuestas de Políticas e Intervenciones para Reducir las Desigualdades Sociales en Salud en España. MSSSI: Madrid. O Laughlin, B. 2010. Questions of Health and Inequality in Mozambique. Cadernos IESE Nº4/2010. IESE: Maputo WHO. 2008. Subsanar las desigualdades en una generación. WHO: Geneve. 19