A DIFÍCIL CONVIVÊNCIA



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Transcrição:

A DIFÍCIL CONVIVÊNCIA Foto: Mariana Della Barba Angolano caminha por um musseque, como são chamadas as favelas na Angola. Quais os fatores responsáveis pela instabilidade política que caracterizam o continente africano? Você acredita que será possível eliminar as mazelas decorrentes da dominação que atingiu a população africana? Qual seria o melhor caminho para resolver essas questões conflitantes?

A Conferência de Berlim e a partilha da África A divisão arbitrária da África teve o seu marco com a Conferência de Berlim iniciada em 1884 e só terminou no ano seguinte. Dela participaram 15 países, 13 da Europa, mais Estados Unidos e Turquia. Os Estados Unidos não possuíam colônias na África, mas era uma potência em ascensão. A Turquia, nesta época, ainda era o centro do extenso Império Otomano. Diversos assuntos foram tratados, mas o principal objetivo foi o de regulamentar a expansão das potências coloniais na África a partir dos pontos que ocupavam no litoral. A Grã-Bretanha e a França foram as que obtiveram mais territórios, seguidas de Portugal, Bélgica e Espanha. Territórios mais reduzidos foram ocupados pela Alemanha e pela Itália. Conforme você pode ver no mapa da figura 1, as fronteiras nacionais nasceram da imposição desta conferência, um estado orgânico colonial imposto pelas potências colonizadoras, partilhando a África, sem muitas preocupações quanto ao que já existia. Várias nações, no sentido das formações sociais antigas africanas, passaram a estar reunidas dentro de novas fronteiras. Tribos amigas e inimigas passaram a pertencer o mesmo espaço colonial. Assim, nos gabinetes da capital alemã, foram traçadas as fronteiras dos domínios coloniais. No início do século XX, a África estaria completamente retalhada pelos ocupantes imperialistas, num processo neocolonialista. Fig 1 Adap.:DUBY,Geoges.Atlas historique mondial.paris:larousse,2001.p.219.

Quadro 1 Neocolonialismo é o processo de exploração econômica e dominação política estabelecido pelas potências capitalistas emergentes ao longo do século XIX e início do século XX, que culmina com a partilha da África e da Ásia, (colonização da África e da Ásia). Kwame Nkrumah, líder anticolonial e presidente de Gana entre 1957 e 1966, definiu o Neocolonialismo como o domínio externo indireto das grandes potências sobre os Estados africanos teoricamente soberanos. De fato, após as independências, as metrópoles conservaram forte influência sobre os novos Estados. Essa influência se exerceu, e em muitos casos ainda se exerce, por meio da ajuda financeira, da cooperação militar e de tratados especiais de comércio. O modelo de colonização imposto pelos europeus baseava-se em ações políticoeconômicas cuja a essência era a dominação total, justificada pela ideologia difundida na Revolução Industrial. As principais idéias aceitas na época eram as do Racismo e as do Determinismo Geográfico As Doutrinas Racistas partiam do princípio de que os europeus, por serem superiores, possuíam uma missão civilizadora a ser cumprida no mundo. O determinismo Geográfico África por ter aspectos físicos mais favoráveis, especialmente climáticos, conseguiram desenvolver-se melhor que outros continentes. Desta forma os mais "desenvolvidos" teriam como função, além de uma subjugação política, dominar os menos afortunados e civiliza-los. Quadro 2 Tipos de colonialismo - As diferentes forma de colonização Quadro 2 Colônia de povoamento Instalação no território por uma minoria européia A minoria européia assume o total controle político A burguesia se beneficia da força de trabalho negra A burguesia recebe salários mais altos A minoria branca são os mais escultores do racismo Colônia de exploração Vc pode imaginar as conseqüências para a nação africana depois da criação das fronteiras A presença do colonizador se manifesta essencialmente por meio de um arbitrárias? enquadramento militar e policial Funcionários das Cias. De colonização (Cias. Coloniais) cumprindo um contrato temporário, geralmente voltam para metrópole ou vão para outras áreas.

PESQUISA Procure saber como estavam organizadas as comunidade africanas antes da chegada do colonizador europeu e quais as mudanças impostas por eles. Você acredita que as mudanças na estrutura produtiva e política destas comunidades possam ter gerado conflitos entre elas? Escreva um pequeno texto comentando suas conclusões Seguindo seus interesses, as potências européias retalharam a África e produziram uma divisão política desrespeitando as fronteiras sobre espaços étnicos e culturais que não conheciam. As sociedades tribais ali existentes foram subjugadas e tiveram que abandonar seu modo de produção de subsistência para atender às necessidades de mão-de-obra, de matérias-primas e de mercado consumidor para produção capitalista industrial que se desenvolvia na Europa. Quadro 3 O capitalismo, como sistema econômico e social, constitui-se com o declínio do Feudalismo e passou a se expandir no mundo ocidental no século XVIII. Este sistema econômico, ao longo de sua história, evoluiu gradativamente, transformandose à medida que os desafios surgiam. Considerando seu processo de evolução, costumase dividir o capitalismo em quadro fases: Capitalismo comercial se desenvolveu entre os séculos XVI e XVIII, com o Mercantilismo, período em que ocorreu a expansão marítima européia que promoveu o acúmulo primitivo de capitais e a colonização da América pelos portugueses e espanhóis, principalmente. Capitalismo industrial - inicia na Inglaterra em meados do século XVIII até o início do século XX. Um dos aspectos mais importantes foi o aumento da capacidade de transformação da natureza, por meio da utilização de máquinas movidas a vapor (carvão mineral), tornando possível o aumento da produção e da circulação de mercadorias e de pessoas graças a expansão das redes de transporte ( barco e trem a vapor). Nesse período ocorreu a partilha da África e da Ásia entre as potências européias Imperialismo. Capitalismo financeiro inicia após a 1ª Guerra Mundial até a década de 1970, marcado pelo processo de concentração e centralização de capitais, promove a expansão da rede de bancos e corretoras de valores. Favoreceu a fusão e incorporação de empresas que resultaram na formação de monopólios e oligopólios em muitos setores da economia.uma das características mais importantes desse período foi a introdução de novas tecnologias e novas fontes de energia. Capitalismo informacional - desde a década de 1970 até os dias de hoje. Nesta fase ocorre a disseminação de empresas, instituições e diversas tecnologias, responsáveis pelo crescente aumento da produtividade econômica e pela aceleração dos fluxos de capitais, de mercadorias, de informações e de pessoas, gerando o processo de globalização.

ATIVIDADE Observe a charge acima e procure saber mais sobre a ação imperialista inglesa na África. Escreva suas conclusões. Como você pôde perceber, os europeus encontraram no continente africano uma enorme fonte de riquezas, mas arruinaram com as estruturas que existiam antes da colonização. Será que a dominação imperialista ocorreu apenas nos aspectos econômicos e políticos? Culturalmente, ocorreram mudanças? Quais foram? A luta pela autodeterminação da população colonial negra trouxe ao cenário político-cultural do continente africano dois elementos importantes: o movimento de negritude e o pan-africanismo. Tendo como princípios a valorização da identidade e da humanidade dos negros e, segundo Léopold Sédar Senghor (senegalês), maior representante desse movimento, o negro é feito de emoção (elemento essencial em sua constituição),

nesse sentido a valorização de suas manifestações culturais tornam-se essenciais na luta contra o racismo. O movimento de negritude nasce da necessidade de combater a visão de inferioridade dos europeus em relação aos primitivos habitantes da África.. As idéias, de caráter alienante, provocaram nos intelectuais negros do século XX a necessidade de combater essa visão. Segundo esses intelectuais, os negros poderiam passar a aceitar o preconceito. Assim, a Negritude afirmava que o homem negro era tão homem quanto qualquer outro, e que havia realizado obras culturais de valor universal, às quais os que empunhavam a negritude queriam ser fiéis O Pan-africanismo caracterizou-se como um movimento cultural que buscava a igualdade de direitos e a melhoria das condições morais, intelectuais e materiais das populações submetidas ao colonialismo. Em sua longa evolução, apareceu como um movimento racial, como um movimento cultural e como um movimento político. Nesse sentido, o Pan africanismo enriqueceu a luta de libertação da África, assumindo um caráter anti-imperialista e aproximando-se do socialismo. O maior obstáculo enfrentado nesse movimento pela união de todas as nações africanas foi a diversidade étnica e cultural do continente, potencializado pelo processo de colonização, que explorou o cenário de tribalização, dificultando a construção de uma identidade africana. ATIVIDADE Leia o poema escrito por Léopold Senghor e interprete-o, escrevendo um texto para apresentar aos seus colegas. "Senhor Deus, perdoa a Europa branca. A verdade, Senhor, é que durante quatro séculos de luzes ela lançou às minhas terras a baba e o ladrar dos seus molossos. E a França: Que também ela trouxe a morte e o canhão às minhas aldeias azuis, que pôs os meus uns contra os outros como cães à disputa de um osso."

A luta pela independência política das colônias africanas O processo de descolonização da África,intensificado após o término da Segunda Guerra Mundial, trouxe a emancipação política para muitas colônias mas, de forma alguma, levou essas sociedades a uma ruptura com o sistema. Na verdade, elas foram inseridas no sistema com um papel periférico e excludente. O processo de descolonização difuso e subordinado jogou os povos africanos em gravíssimos problemas sociais, políticos e econômicos, inclusive influenciando e potencializando as diferenças tribais que permanecem na atualidade. Observe no mapa abaixo os conflitos existentes atualmente no continente africano

Os conflitos atuais da África são como vimos, motivados pela combinação de causas variadas, embora predomine, neste ou naquele caso, um determinado componente étnico (Ruanda, Mali, Somália, Senegal), religioso (Argélia), ou político (Angola, Uganda). Isto sem contar os litígios territoriais, muito freqüentes na África Ocidental. No meio desses conflitos que atormenta a África neste final de século, estão vários povos e nações que buscam sua autonomia e sua autodeterminação face a poderes centrais autoritários, exercidos muitas vezes por uma etnia majoritária. PESQUISA Procure saber mais a respeito dos conflitos existentes atualmente na África. Escolha dois países onde existe conflito e apresente para sua turma todas as informações que você encontrar. Os países surgidos da descolonização na África, principalmente na África Subsaariana, não receberam investimentos que desenvolvessem as economias locais e melhorasse a vida das populações. Os recursos foram espoliados, a produção de subsistência foi desestruturada e não ocorreu uma industrialização que lhes garantisse autonomia econômica. Perante as economias globalizadas, o continente africano entrou no século XXI ainda sobre a égide da exclusão, resultado de séculos de exploração e preconceito. A implantação da economia de mercado gerou migrações sazonais das áreas ainda dominadas pela subsistência tribal para as áreas de agricultura exportadora, acabando com as bases da agricultura familiar dando lugar ao surgimento de massas de trabalhadores assalariados temporários. Hoje a África chora a destruição da estrutura econômica e social de suas antigas comunidades, decorrentes da partilha colonial européia, oficializada pela Conferência de Berlim. Conhecendo um pouco mais sobre a história africana e sobre os problemas ali existentes,será que podemos afirmar que tudo que está acontecendo na África, nada tem a ver conosco? Os problemas da África nos afetam sim, pois são comuns a maioria dos países do chamado Terceiro Mundo ou mundo subdesenvolvido. Referem-se à uma série de aspectos econômicos e sociais que abalam as estruturas dos países subdesenvolvidos, tais como a fome, a pobreza, os baixos índices de desenvolvimento humano e principalmente a dependência econômica que subordina-os aos interesses dos países desenvolvidos. Vamos aos números!

AIDS: Nove em cada dez portadores do HIV no mundo são africanos. A doença já atingiu 34 milhões de pessoas, das quais 11,5 milhões morreram. GUERRAS: Mais de 20 países africanos estão envolvidos em conflitos armados, com alguns se arrastando há décadas, como em Angola. As disputas armadas pelo poder levaram à desintegração da Somália, que voltou ao estágio pré-colonial em que era governada por chefes locais. SUBDESENVOLVIMENTO: Dos 174 países cujo IDH foi medido pela ONU, a África não tem nenhum entre os 45 do grupo mais desenvolvido. Entre os 94 de índice médio, apenas 12 são africanos. Por outro lado, no grupo dos 35 menos desenvolvidos, 29 pertencem ao continente. REFUGIADOS: São 6,3 milhões no continente, correspondendo a um terço do total mundial, para uma região que abriga apenas 13% da população do planeta. FUGA DE CÉREBROS: Mais de 260 mil profissionais qualificados africanos trabalham nos Estados Unidos e na Europa. Além dos números apresentados acima, os novos países africanos envolveram-se em conflitos que arrasaram suas economias. Incentivados por países estrangeiros, esses conflitos étnicos e a disputa por territórios e recursos naturais têm provocado uma sucessão de guerras civis. No Sudão, a guerra civil existe desde 1950 entre muçulmanos e cristãos. Mais de 2 milhões de mortos. Em 2004 os grupos em conflitos tentaram a um acordo. Na Ruanda, o conflito iniciou em 1994 entre maioria étnica Hutu e minoria Tutsi, Além dos mortos, milhares de pessoas se refugiam nos países vizinhos. Na República Democrática do Congo, antigo Zaire, a presença de hutus tem sido motivo das rebeliões no país. O governo de Uganda e da Ruanda, apoiaram os rebeldes que tomaram o poder em 1997.Em 1998, os novos governantes romperam com seus antigos aliados e pediram apoio a Angola, Zimbábue e Namíbia. Eclodiu um guerra civil. Em 2003 foi assinado um acordo de paz. Além desses conflitos, a ajuda das potências durante a Guerra Fria, que armou os grupos rivais na expectativa de ampliar suas áreas de influência, gerou tragédias de grandes proporções com efeitos devastadores sobre vários países

como Etiópia, Chade, Mali, Níger, Somália, onde milhões de pessoas morrem de fome. Na África do Sul ainda persistem enormes diferenças sociais entre brancos e negros. Embora o regime de segregação racial, o apartheid instituído pelo colonizador europeu, tenha sido extinto desde a década de 1990 por pressão internacional, o país tem graves problemas estruturais, sofre com a epidemia de AIDS e com a explosão da violência. PESQUISA Procure saber mais sobre a legalização do apartheid na África do Sul, que foi instituído desde 1930 pelo colonizador, e seus efeitos sobre a população negra sul-africana. Pesquise também sobre o líder da resistência negra ao apartheid, Nelson Mandela. Apresente suas informações para a classe. Baseado na história real de um gerente de hotel de Kigali, capital de Ruanda, o filme mostra como ele salvou mais de mil pessoas durante a guerra civil entre tutsis e hutus, com saldo de cerca de 1 milhão de mortos, em 1994.

ATIVIDADE Em seu poema Reza Maria, José Craveirinha, poeta moçambicano, reporta-se aos conflitos de sua época e aos tormentos de seu povo. Moçambique alcançou a independência em 1975, após mais de uma década de luta contra o exército português. Teve de enfrentar a guerra de agressão promovida pelos regimes racistas que dominavam a então Rodésia (atual Zimbabué) e a África do Sul. Leia o poema abaixo, converse com seus colegas de grupo e sintetise as informações que este poema traduz sobre os conflitos vividos em Moçambique. Reza, Maria José Craveirinha (Moçambique) Suam no trabalho as curvadas bestas e não são bestas são homens, Maria! Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos e não são cães são seres humanos, Maria! Feras matam velhos, mulheres e crianças e não são feras, são homens e os velhos, as mulheres e as crianças são os nossos pais nossas irmãs e nossos filhos, Maria! Crias morrem á míngua de pão vermes na rua estendem a mão a caridade e nem crias nem vermes são mas aleijados meninos sem casa, Maria! Do ódio e da guerra dos homens das mães e das filhas violadas das crianças mortas de anemia e de todos os que apodrecem nos calabouços cresce no mundo o girassol da esperança Ah! Maria põe as mãos e reza. Pelos homens todos e negros de toda a parte põe as mãos e reza, Maria!

Referências Bibliográficas ALMEIDA, Lucia Marina Alves;RIGOLIN, Técio Barbosa. Fronteiras da globalização Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2004. BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento, 2004. FUSER, Igor. Geopolítica: o mundo em conflito. São Paulo: Salesiana, 2005. HOBSBAWN, Eric J. Era dos extremos o breve século XX -1914/1991.São Paulo: Cia da Letras, 2004. PORTELA,Fernando; SCARLATO, Francisco Cipriano. África do Sul O Apartheid: como era, como ficou. Coleção Viagem pela Geografia. São Paulo: Ática, 2001. SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Nacional, 2006. VESENTINI, José William. Sociedade e Espaço Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2006. Documentos Consultados On-line: htpp:// pt.wikipedia.org/wiki,confer%c3%aanci_de_berlim. Acesso em :15/01/2008. htpp:// blogdasabedoria.com/2006/11/partilha_de_africa.html. Acesso em: 18/01/2008. htpp://brgeocities.com/vinicrashbr/historia/geral/colonizacaodaafrica.htm. Acesso em:18/01/2008. htpp://tamandaré.g12.br/aulafrica/conferencia%20%berlim.htm. Acesso em 23/02/2008. htpp://chuvadeletras.no.sapo.pt/jose_craveirinha.htm. Acesso em: 20/01/2008.