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Transcrição:

Cesar Hideki Mashima Colaboradores: Roberto D. Hirai Umberto Almeida Camargo Uva sem Semente Recife SEBRAE/PE 2000 (Digitalizado em 2004) Pág. 2

DIGITALIZAÇÃO SEBRAE-PE Rua Tabaiares, 360 Ilha do Retiro CEP 50750230 Recife/PE Diretor-Superintendente Roberto Viegas Reis Diretor Técnico José Oswaldo de Barros Lima Ramos Diretor Adrninistrativo-Financeiro Fernando Nunes Coordenador do Centro de Documentação e Informação CDI Ivo Costa de Souza Filho Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco FCAP/UPE Núcleo de Gestão da Informação NGI Coordenador Geral José Luiz Alves Coordenador do Projeto Adalberto do Rêgo Maciel Filho Equipe Técnica de Digitalização Getúlio Tito Pereira de Oliveira Gilberto Gomes de Sousa Filho Glauber Quirino Falcão Ruitá Leite de Lima Neto Pág. 3

SUMÁRIO DADOS DE ORIGEM (DOCUMENTO IMPRESSO)...6 APOIO...7 PREFÁCIO...8 1 INTRODUÇÃO...9 2 RELAÇÃO PLANTA-AMBIENTE...10 2.1 Classificação Botânica da Videira... 11 3 VARIEDADES...11 4 PORTA-ENXERTO...12 5 FATORES CLIMÁTICOS...13 5.1 Temperatura do Ar... 14 5.2 Luz... 14 5.3 Chuva... 14 5.4 Umidade relativa do ar... 15 5.5 Vento... 15 6 FATORES DO SOLO...15 6.1 Profundidade... 15 6.2 Aeração... 15 6.3 Temperatura do Solo... 15 6.4 Disponibilidade de Água no Solo... 16 6.5 ph do Solo... 16 7 IMPLANTAÇÃO DO POMAR...16 7.1 Escolha do local... 16 7.2 Avaliação físico-química do solo... 17 7.3 Projeto... 17 7.4 Desmatamento... 17 7.5 Preparo de solo... 17 7.6 Demarcação... 17 7.7 Piqueteamento... 17 7.8 Drenagem... 17 7.9 Irrigação... 18 7.10 Sistema de condução... 18 7.11 Propagação... 19 7.12 Enxertia... 19 7.13 Quebra-ventos... 20 7.14 Condução da Planta... 21 8 PRÁTICAS CULTURAIS...22 8.1 Poda... 22 8.2 Quebra de Dormência... 23 8.3 Amarração dos Ramos... 23 8.4 Desbrota... 23 8.5 Amarração dos Brotos... 24 Pág. 4

8.6 Seleção e Livramento dos Cochos... 24 8.7 Raleio das Bagas... 24 8.8 Despontamento e Desnetamento... 24 8.9 Reguladores de Crescimento... 25 9 NUTRIÇÃO...26 9.1 Matéria Orgânica... 26 9.2 Nitrogênio... 27 9.3 Fósforo... 27 9.4 Potássio... 27 9.5 Cálcio... 28 9.6 Magnésio... 28 9.7 Recomendação... 28 10 PROBLEMAS FISIOLÓGICOS E SEU CONTROLE...28 10.1 Rachadura das Bagas... 28 10.2 Escaldadura das Bagas (sun scald)... 29 10.3 Drought Spot... 29 11 TRATAMENTOS FITOSSANITÁRIOS...29 12 PRÉ-COLHEITA...30 13 COLHEITA...30 14 PÓS-COLHEITA...30 15 EMBALAMENTO...31 16 PRÉ-RESFRIAMENTO...32 17 ARMAZENAMENTO...33 18 COMERCIALIZAÇÃO...33 18.1 Exportação... 33 18.2 Mercado Interno... 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...35 Pág. 5

DADOS DE ORIGEM (DOCUMENTO IMPRESSO) Conselho Deliberativo Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco Federação das Associações Comerciais do Estado de Pernambuco Banco do Nordeste Federação do Comércio Atacadista do Estado de Pernambuco Federação do Comércio Varejista do Estado de Pernambuco Sebrae Nacional Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo do Est. de Pernambuco Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Serviço Social da Indústria Sociedade Auxiliadora da Agricultura de Pernambuco Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste Presidente do Conselho Deliberativo Fausto Falcão Pontual Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco Diretor-Superintendente Roberto Viegas Reis Diretor Técnico José Oswaldo de Barros Lima Ramos Diretor Adrninistrativo-Financeiro Renato Brito de Góes SEBRAE/PE Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco Rua Tabaiares, 360 - Ilha do Retiro - 50.750-230 - Recife Pernambuco Distrito de Irrigação do Perímetro Senador Nilo Coelho Caixa Postal 171 Vila CS1 Petrolina Pernambuco Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco Codevasf Rua Presidente Dutra, 360 Petrolina - Pernambuco Equipe de Editoração Eduardo Jorge Carvalho Maciel Flavio Eduardo Maciel Rosa Janete Evangelista Lopes Tereza Nelma Alves e Silva Brito Maria Tereza do Nascimento Tenório Diagramação ZdiZain Comunicação Fotos César Hideki Mashima Impressão Flamar Editora e Gráfica Revisão de Texto Consultexto Direitos autorais reservados ao SEBRAE/PE M397 Mashima, Cesar Hideki Uva sem semente/cesar Hideki Mashima; colaboração de Roberto D. Hirai, Umberto Almeida Camargo._Recife: SEBRAE/PE, 2000. 51p._(Agricultura: 14) ISBN 85-88135-01-9 1. Viticultura 2. Uva sem semente Cultura I. Hirai, Roberto D. II. Camargo, Umberto Almeida III. SEBRAE/PE IV Título V. Série CDU: 634.8 Pág. 6

APOIO CNPq - Conselho Nadonal de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico Coordenação Geral de Agronegócios e Biotecnologia Av. W-3 Norte, Quadra 509, Bl. A CEP 70950-901 - Brasília/DF Embrapa - Uva e Vinho Empresd Brasüeira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho Ministério da Agricultura e do Abastecimento Rua Livramento, 515 CEP 95700-000 - Bento Gonçalves/RS Sebrae Bahia Travessa Horácio César, 64 - Centro CEP 40060-350 - Salvador/BA Sebrae Nacional SEPN Quadra 515, Bl. C, Lote 3, Lj. 32 CEP 70770-530 - Brasília/DF Sebrae Pernambuco Rua Tabaiares, 360 - Ilha do Retiro CEP 50750-230 - Recife/PE Sebrae Rio Grande do Norte Av. Lima e Silva, 76 - Lagoa Nova CEP 59062-300 - NataVRN Sebrae Sergipe Rua Paulo Henrique Machado Pimentel, 170, Quadra C - Distrito Industrial CEP 49040-240 - Aracaju/SE Valexport - Associação dos Produtores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco Rodovia R 235, km 14, s/n Zona Rural - Petrolina/PE Pág. 7

PREFÁCIO O cultivo da uva em Pemambuco remonta à época da colonização. Pereira da Costa, nos seus Anais Pernambucanos, cita o cultivo da parreira já em escala comercial no município de São Vicente Férrer no século XIX. Coube a Apolônio Sales, com a sua extraordinária visão agronômica, a introdução da cultura na região sanfranciscana do Projeto de Irrigação de Petrolina (PE). Na década de 60, a Cinzano, em Jatobá, e José Molina, em Santa Maria da Boa Vista, foram os responsáveis pelo plantio em escala comercial da viticultura, bem como pela demonstração cabal de sua viabilidade econômica em uma área anteriormente sem produção agrícola. "Panta rei, oudem menei" (todas coisas passam, nada permanece). Assim sendo, após um período de franca expansão, encontra-se a atividade nos dias de hoje na obrigação de se adequar aos ditames do mercado consumidor, cada vez mais exigente. O presente trabalho traduz fielmente a preocupação constante do Sebrae/PE em buscar soluções para os problemas que atingem os pequenos e médios produtores, soluções estas sempre formuladas conjuntamente com nossos parceiros. A edição ora lançada não é a única e definitiva ação em torno da viticultura, mas toda longa caminhada sempre começa pelos primeiros passos. FAUSTO FALCÃO PONTUAL Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/PE Pág. 8

1 INTRODUÇÃO O cultivo da videira começou na Ásia Menor, na região entre os mares Negro e Cáspio. Muitos botânicos acreditam que essa região é o berço da Vitis vinifera, a espécie da qual a maioria das variedades cultivadas se derivam. No Brasil, a viticultura de mesa teve início em 1532, quando Martim Afonso de Sousa trouxe as primeiras vinhas para a capitania de São Vicente. A viticultura é uma das atividades mais importantes do pólo agrícola de Petrolina/Juazeiro, situada na região do submédio do Rio São Francisco. E, segundo o Dr. Gualberto, diretor da fazenda Milano, que possui 320ha de uva, "a produção agrícola, principalmente de produtos como uva de mesa, exige muitos cuidados e é mais eficiente quando praticada por pequenos produtores com interesses diretos nos resultados". Caracteriza-se pelo uso intensivo de mão-de-obra e, sendo uma atividade artesanal, é ideal para pequenas e médias propriedades. Apesar de grandes empresas terem se instalado na região, as frutas de melhor qualidade são produzidas pelos pequenos e médios produtores. A região do Vale do São Francisco consagrou-se como pólo produtor e exportador de uvas de mesa de alta qualidade, através do cultivo da uva Itália com elevado padrão tecnológico. Nos últimos anos, entretanto, o viticultor tem se preocupado em diversificar a produção vitícola para adaptar-se as exigências do mercado por uvas apirênicas (sem sementes). Isso tem limitado a exportação de uvas da região, que caiu de 20% do volume total produzido em 1995 para menos de 8% do volume produzido em 1999. Os primeiros plantios de variedades de uvas sem sementes (início da década de 90) frustraram as expectativas dos produtores, pois a produtividade e/ou qualidade das frutas ficaram abaixo do esperado. Em 1994, foi iniciado o Projeto de Pesquisa desenvolvido pela Valexport/Sebrae/Embrapa/IAC com o objetivo de desenvolver o cultivo de uvas sem sementes e, em 1999, a pesquisa foi intensificada com o apoio financeiro do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, através do Programa de Apoio a Fruticultura Irrigada do Nordeste - Padfin/CNPq. Dessa forma, procurou-se atender a regra básica da comercialização: "O cliente tem sempre razão" e, em vez de "empurrar" as frutas de que dispomos (uva com sementes, umbu, pinha, etc.), estamos plantando o que o mercado deseja e ainda utilizando a grande vantagem competitiva da região semi-árida que é produzir frutas o ano inteiro. Podemos colher uva sem sementes nos períodos do ano em que nenhum outro país do mundo consegue. Como resultado dessa Pesquisa, a partir de 1999, teve início uma grande expansão no seu cultivo. A região do submédio do São Francisco possui uma área irrigável de 220 mil hectares, sendo que 75 mil hectares estão implantados e, deste total, aproximadamente 5 mil hectares são de viticultura. Ainda há muita área a ser explorada com retorno financeiro e social muito grande. O mercado para uvas sem sementes é enorme em certos períodos no exterior. E, para se ter uma idéia da importância social da viticultura, enquanto ela gera três empregos diretos por hectare, a cultura da soja precisa de 500 ha para gerar os mesmos três empregos. Segundo Antônio Lício, assessor da Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior da Presidência da República (Camex), a exportação de frutas no Brasil responde por apenas 1% do mercado mundial. O País exporta US$ 200 milhões ao ano, enquanto que todo o mercado movimenta US$ 25 bilhões. "No entanto, o Nordeste apresenta o maior potencial do mundo para essas exportações." Pág. 9

Não há duvida de que o futuro da viticultura está no cultivo de uva sem semente, e esse trabalho apresenta o conhecimento técnico disponível para sua produção comercial. Embora já tenhamos avançado de forma significativa em nossos estudos, a pesquisa continua, pois a demanda de conhecimento é muito grande. Este é o primeiro passo de milhares de outros. 2 RELAÇÃO PLANTA-AMBIENTE A influência que o ambiente exerce sobre a videira é a resultante de uma interação de fatores, cujo efeito total, unido em estreita relação com as características intrínsecas da planta, é o que determina a sua produtividade e a qualidade do fruto. Em vista da peculiaridade do sistema de produção utilizado no semi-árido nordestino, ou seja, produção de uvas o ano todo, os conhecimentos sobre a interação planta-variáveis ambientais tornam-se, ainda mais, de fundamental importância para obtenção de resultados técnicos e econômicos satisfatórios. Segundo ALVIM (1962), entre os fatores ambientais que exercem influências no crescimento e no desenvolvimento das plantas, podem ser enumerados, segundo a maneira como atuam, em fatores de ação direta e de ação indireta. Aqueles são os que realmente afetam os processos fisiológicos da planta, portanto são os que apresentam maior interesse sob o ponto de vista agronômico. Estes também são importantes, porem sua influência e sobre o ambiente em que se desenvolvem as plantas, mais que sobre as plantas mesmas. Na FIG. 1 estão enumerados os fatores que influem na produtividade agrícola, onde as linhas indicam as principais influências que exercem os fatores indiretos sobre os diretos e, por sua vez, os diretos sobre os principais processos fisiológicos do vegetal. As influências mais marcantes estão indicadas pelas linhas contínuas e as menos marcantes, pelas linhas interrompidas. A espécie compreende diversos cultivares. A maioria dos cultivares utilizados como porta-enxerto ou variedade copa é resultante dos cruzamentos interespecíficos ou intervarietais das espécies acima citadas. Pág. 10

2.1 CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA DA VIDEIRA Família: Vïtáceas Gênero: Vitis Subgênero: Euvitis O subgênero Euvitis agrupa nove séries, que compreendem distintas espécies cada uma, sendo as mais importantes: 3 VARIEDADES Atualmente as variedades de uvas sem sementes mais promissoras para a região semi-árida do Nordeste são: Festival, Catalunha (Thompson seedless) e Crimson seedless. Outras variedades como a Centennial e Perlette se adaptaram bem as condições climáticas do Nordeste, mas as frutas não agradaram o mercado europeu. Festival - É a cultivar apirênica mais plantada na região de Petrolina-PE e Juazeiro-BA. Nas condições do Nordeste, o ciclo produtivo (poda-colheita) é de aproximadamente 100 dias. As plantas são vigorosas e de produtividade muito variável (3 a 20 t/ha). Exige poda longa. Cultivar de cacho de tamanho médio a grande, cônico simples ou alado. Os pedicelos prendem firmemente as bagas, proporcionando resistência a degrana. Os frutos resistem bem ao transporte e a conservação. As bagas são naturalmente grandes, ovóides, com polpa crocante, de sabor neutro, de cor verde a âmbar. Ela não exige muito ácido giberélico para crescimento, aliás, doses altas provocam fitotoxidade. Com relação ao rachamento das bagas, ocorre quando chove no período de maturação. Pág. 11

Catalunha - Acredita-se que seja um clone mais produtivo do cultivar Thompson seedless. A Thompson seedless é a variedade de mesa mais plantada no mundo. Originária da Ásia Menor, foi cultivada pela primeira vez na Califórnia, por William Thompson. Nas condições do Nordeste, o ciclo produtivo (poda-colheita) é de aproximadamente 110 dias. As plantas são vigorosas e a produtividade é razoável (chegou a 20 t/ha no segundo ano). Exige poda longa. Naturalmente possui cachos grandes, com ombros, e compactos. As bagas são uniformes, pequenas, elipsóides, de cor verde a âmbar, muito doces quando completamente madura, casca moderadamente macia. É muito responsiva ao tratamento com ácido giberélico, resultando em cachos grandes, sem necessidade de raleio manual, e bagas grandes e alongadas. Crimson seedless - É uma variedade tardia, lançada em 1989 pelo Dr. David Ramming, da USDA, Califórnia, EUA. Atualmente é a variedade cuja área plantada mais cresce nos EUA. Nas condições do Nordeste, o cicio produtivo (poda-colheita) é de aproximadamente 120 dias. Responde bem a poda curta, mas é recomendado realizar uma análise das gemas para determinar o comprimento de poda ideal. É videira de grande vigor e boa produtividade. Seus cachos são de tamanho médio a grande. Suas bagas são médias a grandes, ovóides alongadas, com polpa crocante, de sabor neutro e de cor vermelha. Ela é sensível a doses altas de ácido giberélico. 4 PORTA-ENXERTO O sucesso da produção de uvas de mesa também depende do cultivar de portaenxerto utilizado. Isso devido às características que cada uma delas apresentam quanto a: adaptação às condições do solo, clima, facilidade de enraizamento, vigor, longevidade, resistência às doenças e pragas, afinidade com o enxerto e capacidade de absorção de nutrientes. A produtividade e a qualidade do fruto da variedade copa também são influenciadas pelo porta-enxerto. No Nordeste, o porta-enxerto mais utilizado para os cultivares Itália e Redglobe (com sementes) é o IAC-572, mas ele não é indicado para as variedades sem sementes, porque confere mais vigor às já vigorosas variedades copas. Estudos com porta-enxertos estão em andamento, e, enquanto não definimos a variedade ideal, estamos utilizando com bons resultados os porta-enxertos; IAC 766, Couderc 1613, 420-A e Harmony. Pág. 12

5 FATORES CLIMÁTICOS A região do submédio do São Francisco, aqui enfocada, é de clima semi-árido tropical, compreendendo uma área irrigável de 220 mil hectares, com as seguintes características: Altitude média de 365 metros. Temperatura média de 26 graus. Umidade relativa média de 50%. Precipitação média anual de 550 mm. Insolação de 3.000 horas/ano, com 300 dias de sol/ano. Evaporação ao redor de 2.080 mm/ano. Predominância de ventos sudeste com velocidade média de 4 metros por segundo. Hidrologia apoiada no Rio São Francisco com vazão jusante a barragem do Sobradinho de 2.500 metros cúbicos por segundo. Para ilustrar as condições climáticas da região semi-árida, são apresentados, nos Quadros 1 e 2, os dados de temperatura, precipitação pluvial e insolação no Projeto Bebedouro, em Petrolina; e Projeto Mandacaru, em Juazeiro. QUADRO 1 - Médias climatológicas do período 1966/1999. Projeto Bebedouro - PE TEMP. MÉDIA ( C) TEMP. MÁX. ( C) TEMP. MÍN. ( C) CHUVAS (MM) INSOLAÇÃO (horas e décimos/dia) JAN 27,1 32,4 21,5 76,0 7,1 FEV 27,0 32,2 21,7 81,2 7,1 MAR 26,5 31,7 21,5 139,5 6,9 ABR 26,2 31,1 21,1 77,5 7,0 MAI 25,5 30,6 20,0 20,9 6,5 JUN 24,6 29,7 18,9 11,1 6,4 JUL 24,2 29,5 18,2 8,4 6,8 AGO 25,0 30,8 18,6 4,4 8,0 SET 26,7 32,5 20,0 5,7 8,1 OUT 28,0 33,9 21,3 11,0 8,6 NOV 28,2 33,7 22,1 48,5 7,8 DEZ 27,5 33,0 21,8 77,2 7,3 ANO 26,4 31,7 20,6 561,9 7,3 FONTE: EMBRAPA SEMI-ÁRIDO Pág. 13

QUADRO 2 - Médias climatológicas do período 1966/1999. Projeto Mandacaru - BA TEMP. MÉDIA ( C) TEMP. MÁX. ( C) TEMP. MÍN. ( C) CHUVAS (MM) INSOLAÇÃO (horas e décimos/dia) JAN 27,5 32,4 21,9 78,2 7,7 FEV 27,5 32,3 21,7 77,9 7,6 MAR 27,1 31,7 21,8 139,6 7,2 ABR 26,8 31,3 21,4 59,0 7,5 MAI 26,1 30,6 20,5 19,3 7,3 JUN 25,0 29,7 19,3 8,5 7,1 JUL 24,5 29,5 18,5 4,7 7,4 AGO 25,4 30,6 18,7 1,7 8,4 SET 27,0 32,3 20,2 6,1 8,5 OUT 28,3 33,7 21,7 9,0 8,8 NOV 28,6 33,6 22,4 55,1 8,2 DEZ 27,9 32,9 21,9 82,4 7,8 ANO 26,8 31,7 20,8 541,6 7,8 FONTE: EMBRAPA SEMI-ÁRIDO 5.1 TEMPERATURA DO AR A temperatura do ar influi no ritmo de desenvolvimento da videira. Durante a estação quente, quando há grande acúmulo de calor efetivo, o ciclo produtivo da videira é reduzido, enquanto que nos meses frios os processos de maturação do fruto se efetuam lentamente. Nas variedades apirênicas, é importante que o período de aproximadamente 15 dias, a partir da floração, coincida com temperaturas altas (35 C), para haver uma boa diferenciação das gemas frutíferas e, conseqüentemente, uma boa produtividade no próximo ciclo. 5.2 LUZ A luz é um dos elementos imprescindíveis para realização da fotossíntese pela planta, ou seja, para formação de carboidratos necessários ao crescimento e desenvolvimento da videira. Para uma boa diferenciação das gemas frutíferas, as variedades apirênicas exigem muita luz no período de aproximadamente 15 dias a partir da floração. Segundo o pesquisador indiano SHIKHAMANY (1999), nesse período as gemas devem receber 3.600 ft. candles de luz (360 lux) durante 8 horas/dia. Outra influência marcante da luz é na coloração da baga, sendo a sua necessidade variável para diferentes cultivares. 5.3 CHUVA Na região semi-árida, a videira recebe toda água necessária através da irrigação, pois o período de chuva é concentrado entre os meses de dezem.bro e março. As chuvas na Pág. 14

fase de floração podem causar problemas fittossanitários e prejudicar os processos de polinização e fecundação, por dificultar a queda da corola das flores, afetando a qualidade do produto. O excesso de chuvas após a fase de amolecimento das bagas pode favorecer a rachadura destas, alem de prejudicar a qualidade no que se refere ao teor de açúcar. 5.4 UMIDADE RELATIVA DO AR As condições de umidade relativa do ar e temperatura do ar elevadas favorecem a incidência de doencas fúngicas como míldio e podridões. A baixa umidade do ar favorece a proliferação de ácaros. Do conteúdo de vapor d'água da atmosfera também depende a transpiração das plantas, sendo esta elevada quando a umidade relativa do ar é baixa. 5.5 VENTO O vento, dependendo da freqüência, intensidade e direção dominante, pode trazer graves inconvenientes num pomar de videira, como a seca, quebra de brotos, irregularidades na frutificação e aumento na evapotranspiração. Também pode causar lesões no fruto e em outras partes da planta por atrito. Por outro lado, os pomares mal arejados favorecem a incidência de doenças. 6 FATORES DO SOLO Na região do submédio do Rio São Francisco, a videira é cultivada com sucesso, tanto em solos argilosos como em arenosos, sendo que este último é o mais indicado para uvas apirênicas, devido a melhor resposta aos tratamentos de adubação e irrigação. 6.1 PROFUNDIDADE O solo profundo favorece o desenvolvimento do sistema radicular, permitindo a exploração de maior volume de terra. Normalmente, a videira com enraizamento profundo resiste melhor a seca e sofre menos os efeitos das variações da temperatura do solo. 6.2 AERAÇÃO O desenvolvimento do sistema radicular e grandemente influenciado pela aeração do solo. Se a aeração for deficiente, por exagerada compactação ou excesso de água, a respiração das raízes é afetada e, como conseqüência, seu crescimento se reduz. As plantas que se desenvolvem em solos bem supridos em oxigênio apresentam raízes longas, ramificadas e grande quantidade de pêlos absorventes, condições estas necessárias para eficiente absorção de água e nutrientes. Assim, há necessidade de se manter no solo condições que facilitem a penetração, o movimento e o armazenamento do ar através de um manejo adequado. Em geral, os solos bem estruturados e ricos em matéria orgânica apresentam bom arejamento. 6.3 TEMPERATURA DO SOLO A videira necessita, para seu desenvolvimento normal, temperatura do solo entre 24 e 30 C. Pág. 15

6.4 DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO SOLO A água é um dos principais componentes da planta. Participa como reagente em numerosas reações bioquímicas e constitui o veículo dos elementos nutritivos. Seu déficit afeta o crescimento, a fotossíntese, a respiração e outros metabolismos da planta. Os teores de umidade próximos da capacidade de campo são os mais favoráveis à absorção de água e nutrientes pelas plantas. 6.5 PH DO SOLO A absorção radicular dos elementos minerais é influenciada pelo ph do solo. Os solos com ph entre 6 e 7, em geral, apresentam disponibilidade de todos os elementos (FIG. 2). 7 IMPLANTAÇÃO DO POMAR 7.1 ESCOLHA DO LOCAL Os mais indicados são os terrenos planos ou ligeiramente inclinados, onde os tratos culturais são de fácil execução. O solo ideal para a videira é profundo, bem drenado e com elevado teor de matéria orgânica. O conhecimento da textura e da fertilidade do solo é fundamental para fazer um programa racional de correção de acidez e adubação. Para isso, há necessidade de se fazer as análises física e química do solo. Pág. 16

7.2 AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO SOLO Coletar amostras para enviar a um laboratório de análise de solos. 7.3 PROJETO De posse dos resultados da análise de solo é preciso planejar a área. O ideal é ter em mãos a planta topográfica e altimétrica, que fornece elementos exatos para locar corretamente: As parcelas das culturas. Infra-estrutura (estradas de acesso, barrações etc.). Drenos. Quebra-ventos. Outros. 7.4 DESMATAMENTO Na região do Vale do São Francisco, geralmente, há terrenos com vegetação nativa, faz-se necessário, portanto, o desmatamento, que pode ser executado com tratores de implementos pesados, seguido de destocamento. 7.5 PREPARO DE SOLO O solo deve ser subsolado o mais profundo possível, em seguida realizar a gradagem. Caso a análise do solo indique a necessidade de calagem, aplicar o calcário, incorporando-o por ocasião da gradagem. 7.6 DEMARCAÇÃO A área onde será instalada a Estrutura de Sustentação (latada). Drenagem. Irrigação. 7.7 PIQUETEAMENTO Ìàãñàã à área de plantio, definindo primeiramente o espaçamento a ser utilizado. A tendência no Vale do Submédio São Francisco é aumentar a densidade de plantio, visando aumentar a produtividade e qualidade das frutas. Normalmente, variedades vigorosas como as apirênicas exigem um espaçamento maior, contudo, utilizando portaenxertos menos vigorosos e com o trabalho de manejo adequado, é possível reduzir esse vigor e reduzir o espaçamento de plantio. Existem plantios de 3 m x 3,5 m e ate 3 m x 2 m. 7.8 DRENAGEM Como as videiras possuem raízes profundas, e necessária uma boa drenagem, evitando, assim, o encharcamento e a salinização. Instalar os drenos subterrâneos na área de plantio e os drenos coletores na área externa. Pág. 17

7.9 IRRIGAÇÃO A irrigação no semi-árido é obrigatória para remediar a deficiência pluviométrica da região (Quadros 1 e 2). O método utilizado para estabelecer o volume a irrigar é baseado na fase fenológica da planta, na análise da evapotranspiração e na eficiência e vazão do sistema de irrigação. Recomendações gerais: Uma semana antes da poda - Aplicar uma boa lâmina de água, de forma a atingir a capacidade de campo. No momento da poda a planta deve estar "chorando". Da brotação à floração - Irrigação com menor freqüência para estimular o desenvolvimento radicular. É exatamente nesse período que ocorre a maior formação do sistema radicular. Próximo da colheita - Diminuir gradativamente a lâmina de água para aumentar o "tempo de prateleira" ("shelf life"} da fruta. Repouso vegetativo - É importante trabalhar com uma lâmina pequena de água, onde não ocorra o desenvolvimento vegetativo, tomando-se o cuidado de não chegar ao extremo de desfolhar as plantas nem enrugar os ramos, o que pode prejudicar a fertilidade das gemas. 7.9.1 Gotejamento Consiste na aplicação de água através de gotejamento seguido e persistente. É constituído de mangueiras providas de gotejadores. Recomenda-se fixar essas mangueiras em um fio de arame ao longo da linha das plantas a uma certa altura do solo, porque a mangueira em contato direto com o solo pode sofrer o ataque de brocas que a perfuram e, além disso, também se corre o risco de a mangueira ser cortada durante a execução de capinas. 7.9.2 Microaspersão Consiste na aplicação de água através de microaspersores que fazem a irrigação subcopa, podendo cobrir toda área de plantio. Como no sistema Gotejamento, é recomendado manter as mangueiras sem contato com o solo. 7.10 SISTEMA DE CONDUÇÃO O sistema de condução para a videira deve ter estrutura capaz de sustentar as grandes produções e contribuir para aumentar a produtividade, bem como melhorar a qualidade do fruto e facilitar os tratos culturais, os fitossanitários e a colheita. A latada é o sistema de condução mais difundido na região. Nesse sistema as plantas são conduzidas sobre arames cruzados, suficientemente altos para permitir a passagem de máquinas sob eles (FIG. 3). Pág. 18

7.11 PROPAGAÇÃO A videira normalmente é enxertada. A produção das mudas pode ser feita em condições de campo, com a enxertia da copa em porta-enxertos previamente plantados ou através da enxertia em estacas não enraizadas do cavalo e produção da muda no viveiro. Definido o cultivar porta-enxerto, deve ser feita a seleção criteriosa das estacas. Elas devem ser provenientes de plantas sadias, com bacelos maduros e de diâmetro mediano. É ideal que as estacas tenham aproximadamente 30 cm de comprimento. Sua base deve ser cortada imediatamente abaixo de um nó, e a parte superior, acima do nó. Dica: para melhorar o enraizamento do porta-enxerto, pode-se deixar as estacas mergulhadas durante 12 horas em solução de açúcar ou melaço 5%. O plantio pode ser feito diretamente no campo ou em sacos apropriados no viveiro. As mudas preparadas no viveiro ficam prontas para ir ao campo 2 meses depois de plantadas, conduz-se dois ramos no tutor para que fiquem o mais vertical possível e depois de 4 a 6 meses as plantas estão em condições de serem enxertadas. 7.12 ENXERTIA A enxertia, normalmente, é feita pelo processo de garfagem de fenda simples. O porta-enxerto é cortado a aproximadamente 30 cm do solo e, logo após, será fendido longitudinalmente 2 cm. Em seguida, introduz-se o ramo do enxerto, com duas gemas, que previamente se prepara em forma de cunha de 3 cm na sua parte basilar (FIG. 4). Ao introduzir-se o garfo na fenda do porta-enxerto, toma-se o cuidado de se fazer com que as camadas corticais (cascas) de ambos coincidam perfeitamente. E, caso o enxerto seja mais fino que o porta-enxerto, e, por isso mesmo, se torne impossível o ajuste das suas cascas pelos dois lados da fenda, procura-se fazê-lo pelo menos por um deles. Amarra-se firmemente todo o enxerto com fita plástica, deixando-se apenas as gemas descobertas. Os garfos do cultivar desejado devem ser coletados de plantas sadias, de alta produtividade e que produzam frutos de boa qualidade. O ideal é fazer a enxertia no período quente e seco do ano, pois, durante o período chuvoso, há problemas fitossanitários e, no período mais frio, as mudas não se desenvolvem plenamente. Deve-se fazer vistorias constantes no pomar para evitar que a fita plástica utilizada na enxertia estrangule a planta, conforme esta cresça. Pág. 19

Nesse caso deve-se soltar a fita e voltar a amarrá-la mais "folgada". Não é possível simplesmente retirar a fita plástica porque ela mantém a região do enxerto úmida e, caso seja retirada, a região de cicatrização desidrata-se rapidamente, podendo até matar a planta. Enxertia verde - É realizada quando os ramos estão crescendo com vigor e já atingiram o seu completo desenvolvimento, sem estarem lignificados e com as gemas bem formadas e proeminentes. O sistema de enxertia e o mesmo visto anteriormente, mas, no lugar da fita plástica, utiliza-se fita a base de cera, que pode cobrir todo o enxerto, inclusive as gemas, e, com o desenvolvimento do enxerto, essa fita se rompe, não tendo problema de estrangulamento, nem necessidade de retirar a fita após o pegamento. Enxertia de mesa - Nesse método, o enraizamento e a cicatrização da enxertia ocorrem simultaneamente. Pega-se um bacelo do porta-enxerto de aproximadamente 30 cm e outro de diâmetro igual, do enxerto, retirando um pedaço contendo duas gemas. Faz-se a enxertia, e as estacas levadas para o viveiro são enterradas, deixando-se a região enxertada para fora da terra. Nesse método, a muda com 70 dias esta pronta para ser levada ao campo. O enxerto deve ser tutorado na posição vertical até atingir o primeiro arame, para evitar a quebra do broto pelo vento. 7.13 QUEBRA-VENTOS Os locais expostos ao vento devem ser protegidos com quebra-ventos. Geralmente objetiva-se reduzir o efeito do vento no aumento da evapotranspiração e no dano mecânico as plantas. Não é necessário que as barreiras sejam densas, mas o suficiente para reduzir a velocidade do vento, pois é recomendável que o pomar fique bem arejado. O quebra-vento mais difundido na região semi-arida é o Capim Napier (Pennisetum sp), que atinge até 5 m de altura e deve ser cortado a cada 4 meses. Alguns produtores estão plantando o Neem [Azadirachta indica), que cresce rapidamente e produz sementes que podem ser utilizadas como inseticida natural. Um viticultor de Curaçá-BA plantou com sucesso a Grevilha (Grevillea robusta) como quebra-vento. Essa planta apresenta folhas perenes, resiste as secas e desenvolve-se bem em qualquer tipo de solo, desde que não seja excessivamente úmido. Pode ser plantada num espaçamento de 2 a 3 metros entre plantas, em linhas simples. Pág. 20

7.14 CONDUÇÃO DA PLANTA A planta e recurvada 20 a 30 cm abaixo da latada de forma que fique direcionada para a parte mais elevada do terreno e/ou a favor do vento. Em variedades como a Thompson seedless, e Venus que são mais difíceis de formar, em vez de um ramo principal, é feito um despontamento no enxerto pouco acima da latada para forçar o crescimento de dois ramos. laterais. No tronco da planta devem permanecer as folhas grandes, eliminando-se os brotos No(s) ramo(s) principal (is), os brotos que saem das axilas das folhas (netos) deverão ser despontados com +/- 40 cm para quebrar a dominância apical e permitir que os netos seguintes se desenvolvam. Depois de 5-6 meses da enxertia, os ramos estarão maduros e prontos para a primeira poda de formação, com 3 gemas. Destes sairão os ramos que serão utilizados na próxima poda de produção. Pág. 21

8 PRÁTICAS CULTURAIS 8.1 PODA A poda é uma prática que tem por fim assegurar a regularidade das colheitas em quantidade e qualidade, mantendo a planta em equilíbrio vegetativo. Na Índia e em outras regiões do Brasil, como Pirapora-MG e Jales-SP, é feita uma poda de formação e outra de produção, por ano. Na região semi-árida, realizam-se duas podas de produção por ano e, por isso, deve-se dar atenção especial ao acúmulo de reservas na planta. Nesse caso, sugere-se observar um período mínimo de um mês do fim da colheita de uma safra ao início de outro ciclo. Por ocasião da poda, deve-se levar em conta o vigor, pois a frutificação e o crescimento vegetativo da videira estão relacionados com o teor de carboidratos e nitrogênio disponível na planta e/ou no ramo, conforme pode ser observado no resumo do Quadro 3. Como as variedades apirênicas são vigorosas e, conseqüentemente, de baixa produtividade, é necessário realizar práticas que reduzam esse vigor, como o uso de porta-enxertos menos vigorosos e despontamento de ramos. Além disso, para compensar a baixa fertilidade, é necessário aumentar o número de ramos de poda por planta e, assim, aumentar o número de cachos, mas não se pode aumentar muito o número de ramos porque o excesso de sombreamento reduz a produtividade da safra seguinte. Segundo o pesquisador indiano, SHIKHAMANY (1999), o ideal é por volta de 5 ramos/m 2. QUADRO 3 - Relação vigor da planta e/ou do ramo/produtividade e crescimento vegetativo da videira. VIGOR DA PLANTA E/OU RAMO CARACTERÍSTICAS DA PLANTA E/OU RAMO CONSEQÜÊNCIAS Muito vigorosos Ciclo vegetativo longo; Pouca ou nenhuma formação de gemas frutíferas; Teor moderado de carboidratos Folhas grandes; Baixo índice de brotação; e teor alto de nitrogênio. Ramos grossos com entrenós longos; Aborto das flores; Maturação tardia do ramo. Baixa produtividade; Crescimento vegetativo vigoroso. Medianamente vigorosos Teor alto de carboidratos e teor moderado de nitrogêneo. Ciclo vegetativo médio; Folhas de tamanho normal; Ramos de diâmetro mediano, com entrenós de comprimento mediano; Boa maturação do ramo. Formação abundante de gemas frutíferas; Elevado índice de brotação; Elevada produtividade; Crescimento vegetativo moderado. Fracos Ciclo vegetativo curto; Formação muito limitada de gemas Teor muito alto de carboidratos Crescimento vegetativo fraco; frutíferas; e teor moderado de nitrogêneo. Folhas pequenas e de cor amarelada; Produção muito limitada; Ramos finos com entrenós curtos; Maturação precoce do ramo. cachos pequenos; Crescimento vegetativo fraco. Pág. 22

Cada variedade possui um hábito de frutificação que pode ser alterado conforme o vigor da planta e do clima. Uma ferramenta muito útil para se determinar o comprimento de poda ideal é a análise de gemas. As gemas da videira são classificadas em vegetativas e frutíferas, dependendo da natureza das estruturas que elas contêm. A gema vegetativa possui um broto rudimentar, enquanto a frutífera, além do broto, possui um primórdio floral que é facilmente visto através de um microscópio estereoscópico. A análise de gemas é feita tomando-se uma amostra de ramos e verificando-se, através do microscópio estereoscópico, a posição das gemas frutíferas, dessa forma a recomendação de poda é muito mais precisa. 8.2 QUEBRA DE DORMÊNCIA A brotação deficiente e irregular da videira implica a baixa produtividade e a dificuldade de execução dos tratos culturais e fitossanitários, devido à ocorrência, ao mesmo tempo, de diferentes estádios de desenvolvimento da planta. Sua arquitetura também é prejudicada. É fundamental, portanto, a uniformização e o aumento do índice de brotação. É recomendável fazer a irrigação para aumentar a disponibilidade de água no solo e, conseqüentemente, na planta. A adubação nitrogenada no solo, alguns dias antes da poda e seguida de uma irrigação, também cria condições propícias para que as gemas da videira brotem. Para estimular e uniformizar a brotação utiliza-se um método físico e outro químico. Primeiramente faz-se o estímulo físico, que é a torção dos ramos, seguido do estímulo químico, a aplicação da Cianamida Hidrogenada (Dormex) 4% (até 6%, quando a temperatura do ar cair), misturada com um espalhante adesivo de boa qualidade e com Nitrato de Potássio a 6%. Os ramos devem ficar bem molhados e para isso deve-se pulverizar com a bomba costal com baixa pressão. 8.3 AMARRAÇÃO DOS RAMOS Após a poda, os ramos devem ser amarrados junto aos arames, procurando distribuí-los da melhor maneira possível na latada. 8.4 DESBROTA A desbrota é uma prática que consiste em suprimir o excesso de brotos, deixando distribuídos uniformemente na planta aqueles bem localizados e/ou produtivos. Dessa maneira, as partes da videira ficarão expostas mais favoravelmente à luz e ao ar, permitindo melhoria da qualidade do fruto e menor incidência de doenças por possibilitar melhor insolação e distribuição de fungicidas na aplicação. Essa operação deve ser executada quando os brotos tiverem 5-10 cm, eliminando: Brotos sem cachos, mal localizados. Brotos muito fracos. Brotos muito vigorosos em relação à maioria, para uniformizar o tamanho (vigor). Pág. 23

8.5 AMARRAÇÃO DOS BROTOS A uva sem sementes necessita de muita luz direta nas gemas no período aproximado de 15 dias a partir da florada, por esse motivo o ideal é amarrar os brotos novos após esse período, a menos que haja risco de quebra da brotação pelo vento. 8.6 SELEÇÃO E LIVRAMENTO DOS COCHOS Após a amarração dos ramos verdes, muitos cachos ficam "escondidos" e presos nos ramos e arames. Como a uva é muito sensível a danos mecânicos, é necessário liberar os cachos enquanto ainda são pequenos. Nessa ocasião, também é feito o desbaste do excesso de cachos para melhorar a qualidade do fruto. A eliminação do excesso de cachos tem por fim, também, evitar o esgotamento da videira, sendo importante observar, na sua execução, o equilíbrio da área foliar/produção ou o vigor da planta/produção. A relação um cacho de 600-800 gramas para cada 14-15 folhas parece ser o ideal. 8.7 RALEIO DAS BAGAS Desbaste ou raleio é uma prática que consiste em eliminar o excesso de bagas para melhorar a qualidade do fruto. O raleio manual de bagas deve ser realizado logo após a sua formação, numa intensidade que deixe os cachos suficientemente soltos para permitir formação de bagas perfeitas e maiores. Em geral, o raleio das bagas é realizado com o uso de tesouras apropriadas, o que tem onerado em muito o custo da produção. O raleio químico, com ácido giberélico, pode ser realizado em algumas variedades apirênicas. 8.8 DESPONTAMENTO E DESNETAMENTO Nas variedades suscetíveis ao aborto das flores, como a Fantasy seedless, ou nas plantas e/ou brotos muito vigorosos, o despontamento de broto pode melhorar o vingamento do fruto. Consiste em cortar uma pequena porção da extremidade do ramo. A época ideal para sua execução é uma semana antes do início da floração. Essa prática também favorece o desenvolvimento do cacho e da baga, além de melhorar a qualidade do fruto. Para produzir ramos com gemas frutíferas para a poda seguinte em variedades muito vigorosas como a Festival, é interessante realizar esse despontamento quando o broto atingir de 8 a 10 folhas para induzir o desenvolvimento de netos. Os brotos secundários, que se desenvolvem nas axilas das folhas do broto principal, chamam-se netos (FIG. 5). Verificou-se que esses netos são mais férteis que o próprio broto principal. Mas é preciso evitar o excesso de netos/brotos que podem provocar sombreamento e assim prejudicar a fertilidade das gemas. Se os netos ficarem com muito vigor, eles também são despontados formando novos brotos secundários. Pág. 24

8.9 REGULADORES DE CRESCIMENTO Os efeitos dos reguladores de crescimento no cacho de uva são os mais diversos, devido principalmente à concentração, ao modo de aplicação, ao cultivar, ao estádio do ciclo vegetativo e aos fatores ambientais, devendo-se, portanto, ter todo cuidado no seu manuseio. O mais usado é o ácido giberélico. 8.9.1 Ácido Giberélico (GA3) A aplicação antes do florescimento (inflorescência de 5 cm) promove o alongamento do cacho e engrossamento do racimo. Durante o florescimento, o efeito desejado da aplicação é o raleio de bagas. Os efeitos de aplicações após o florescimento são o aumento no tamanho da baga e o engrossamento do engaço. Não é recomendável aplicar o ácido giberélico, através de pulverizações, em toda a área foliar da videira, somente nos cachos. Programa com ácido giberélico para a variedade Catalunha: Inflorescência de 5 cm - aplicar 10 ppm. Inflorescências com 40% de flores abertas - 15 ppm. Inflorescências com 80% de flores abertas - 15 ppm. Cinco dias após a plena floração - 45 ppm. Cinco dias após a aplicação anterior - 30 ppm. Programa com ácido giberélico para a variedade Crimson seedless: Inflorescência de 5 cm - aplicar 1 ppm. Dez dias após a plena floração - 5 ppm. Cinco dias após a aplicação anterior - 5 ppm. Programa com ácido giberélico para a variedade Festival: Inflorescência de 5 cm - aplicar 1 ppm. Raleio químico em estudo. Cinco dias após a plena floração - 10 ppm. Cinco dias após a aplicação anterior - 10 ppm. Pág. 25

8.9.2 Ethephon O Ethephon (Ácido 2-cloroetil fosfônico) é o regulador de crescimento do amadurecimento. O Ethephon tem sido utilizado, entre outros, no amadurecimento de bananas, na diferenciação floral de gemas em mangueiras e na indução do florescimento uniforme e antecipado dos abacaxizeiros. Na viticultura, é utilizado visando melhorar a coloração de variedades, tintas e repouso vegetativo. Para a variedade Crimson seedless, a dose usada para melhorar a coloração é de 0,15% a 0,30% do produto comercial Ethrel 240, pulverizado nos cachos na fase de pinta, quando as bagas começam a colorir. Pulverizado nas plantas no repouso vegetativo, o Ethephon favorece o acúmulo de carboidratos nos ramos, uniformiza a brotação e aumenta o rendimento da poda em 40% a 60%. A aplicação deve ser realizada 15 a 20 dias antes da poda; as folhas começam a amarelecer e, ao final desse período, caem. Solução: Óleo Mineral (0,5%) + Cloreto de Potássio (1%) + Ácido Fosfórico (0,2% a 0,5%) + Ethrel 240 (0,5% a 0,7%). Modo de preparo: 1. Dissolver cada ingrediente em recipiente à parte. 2. Em uma caixa contendo 50% da água a ser utilizada, colocar a solução com Óleo Mineral. 3. Colocar na seqüência o Cloreto de Potássio, o Ácido Fosfórico e o Ethrel. 4. Completar com água. O uso do Ethephon tem como restrição o fato de que esse produto se degrada rapidamente e perde o seu efeito quando guardado em recipiente e local inadequados. Doses maiores provocam desgrana, fissura na baga próxima ao pedicelo, polpa mole e a casca se torna mais frágil. Também deve-se atentar para os aspectos de sua viabilidade econômica. 9 NUTRIÇÃO A quantidade de nutrientes retirada do solo pela videira está em função da capacidade de absorção do porta-enxerto utilizado e da fase do ciclo vegetativo. Na prática de adubação, portanto, devem ser considerados esses aspectos, além da fertilidade do solo. 9.1 MATÉRIA ORGÂNICA As plantas podem ser cultivadas usando-se apenas produtos químicos, como é feito em escala comercial em cultivos hidropônicos de hortaliças. A matéria orgânica decomposta (húmus), contudo, toma-se essencial para os solos cultivados devido a um ou mais dos seguintes efeitos: Solubiliza nutrientes nos solos minerais. Apresenta alta capacidade de troca de cátions (CTC). Pág. 26

Libera lentamente fósforo, nitrogênio, enxofre e água. Melhora a nutrição das plantas em micronutrientes por causa da formação de quelatos. Aumenta a capacidade de retenção de água. Melhora a estrutura do solo. Melhora a capacidade tampão do solo. Reduz a toxidez de pesticidas e outras substâncias. Favorece o controle biológico por causa da maior população microbiana. Exerce efeitos promotores de crescimento. 9.2 NITROGÊNIO A videira requer quantidade relativamente grande de nitrogênio. O nitrogênio é absorvido fundamentalmente na forma nítrica (NO -3 ) e em menor quantidade na forma amoniacal (NH +4 ) e apresenta grande mobilidade dentro da planta. As plantas deficientes em nitrogênio são pouco vigorosas e apresentam incapacidade em sintetizar quantidades normais de clorofila. Apresentam clorose (amarelecimento) das folhas mais velhas, inicialmente, e da folhagem mais nova em casos de deficiência acentuada. As variedades apirênicas normalmente apresentam sintomas de excesso de nitrogênio, entre eles o desenvolvimento vegetativo exagerado, que provoca a diminuição da porcentagem de gemas produtivas, afetando a produção do ciclo seguinte. Em quantidades excessivas, o nitrogênio aumenta a suscetibilidade da videira às doenças, por favorecer a formação de tecidos tenros. No fruto implica o atraso da maturação, o aumento do tamanho (relação área foliar/produção), a redução da intensidade da cor, a redução do teor de açúcar e a baixa capacidade de conservação. Como um dos maiores entraves nas variedades sem sementes é a baixa produtividade, é preciso evitar o excesso de nitrogênio, mas por outro lado, não se deve radicalizar e cortar toda fonte desse elemento, pois a sua ausência também prejudica a produtividade. Os efeitos do excesso ou deficiência de nitrogênio em relação ao teor de carboidratos na videira constam no Quadro 3. 9.3 FÓSFORO A quantidade de fósforo absorvida é relativamente pequena quando comparada com a de potássio, nitrogênio e cálcio. É absorvido na forma de H 2 PO -4. Em excesso, prejudica a absorção de zinco. O fósforo favorece o desenvolvimento do sistema radicular, aumentando a absorção dos nutrientes pelas plantas. Também influi na maturação do ramo. A deficiência desse elemento afeta a produtividade e a qualidade do fruto. 9.4 POTÁSSIO O Potássio é um elemento absorvido pela videira em grande quantidade. É absorvido na forma de K+. Quando em excesso, o potássio inibe competitivamente a absorção de NH+4, Mg+2 e Ca+2. Pág. 27

Na videira, a quantidade adequada de potássio promove formação de primórdios florais maiores, aumentando a produtividade. Também influi favoravelmente no tamanho, na intensidade de coloração, nas qualidades gustativas, na firmeza da polpa e na conservação do fruto. Além disso, torna os tecidos mais rígidos, aumentando a resistência da planta contra doenças e pragas. A absorção de maior quantidade de K+ coincide com os estádios de lignificação do ramo e maturação do fruto. 9.5 CÁLCIO O cálcio é requerido pela videira em quantidade relativamente grande. É absorvido na forma de Ca+2. É praticamente imóvel na planta. Seus efeitos sobre a atividade microbiana do solo, ph e absorção subseqüente de outros elementos fazem com que esse elemento seja considerado um corretivo do solo. O cálcio absorvido como nutriente influi principalmente no aroma da uva. Esse elemento é também necessário para o crescimento contínuo do broto apical e dos meristemas da raiz e para translocação dos carboidratos. 9.6 MAGNÉSIO O magnésio é um dos elementos constituintes da molécula de clorofila. É absorvido pela planta na forma de Mg +2. Uma deficiência produz normalmente clorose nas áreas entre nervuras e nas margens das folhas, que começa nas folhas mais velhas e, com o agravamento da deficiência, progride para as mais novas. 9.7 RECOMENDAÇÃO A recomendação de adubação deve ser baseada na disponibilidade de nutrientes no solo, no estado nutricional, na produtividade e no manejo da planta. Normalmente na região semi-árida utiliza-se: Nitrogênio: 50 ~ 180 kg/n/ha. Fósforo: 100 ~ 320 kg/p2o5/ha. Potássio: 250 ~ 450 kg/k2o/ha. Sulfato de Magnésio: 50 ~ 150 kg/ha. Sulfato de Zinco: 50 ~ 100 kg/ha. Os demais micronutrientes são aplicados conforme a necessidade. 10 PROBLEMAS FISIOLÓGICOS E SEU CONTROLE Durante o ciclo vegetativo, a videira está sujeita a inúmeros problemas fisiológicos, quer relacionados com a nutrição da planta, quer relacionados com condições de tempo. 10.1 RACHADURA DAS BAGAS As variedades sem sementes são muito suscetíveis à ruptura das bagas. Esse problema é freqüente quando ocorrem chuvas na fase de maturação do fruto. Para reduzir a rachadura das bagas, adotar as seguintes medidas: Pág. 28

Programar a safra de modo que a colheita não coincida com o período de chuvas. Manter constante a umidade do solo. Evitar adubação nitrogenada na fase de maturação da uva. Evitar cachos muito compactos, raleando as bagas de modo a torná-los suficientemente soltos. 10.2 ESCALDADURA DAS BAGAS (SUN SCALD) Também chamada de queimadura pelo sol ou golpe de sol, ocorre antes do amolecimento da baga. Nâo ocorre no período de maturação do fruto. Em condições que favorecem a incidência direta da radiação solar nos cachos e temperatura do ar elevada, a baga se escalda, apresentando, inicialmente, mancha de coloração amarelo-avermelhada deprimida que vai se agravando até a mumificação completa da uva. A escaldadura se produz sobretudo nos cachos mal protegidos pela folhagem. Controle proteção dos cachos contra a incidência direta dos raios solares através da amarração dos brotos de modo a protegê-los. 10.3 DROUGHT SPOT A maior ocorrência observa-se no período após o raleio manual, não ocorrendo na fase de maturação da uva. Ocorre quando a água transpirada pelas folhas é maior que a absorvida pelas raízes. Nessas condições, há translocação da água do fruto para as folhas. Inicialmente, aparecem nas bagas pequenas manchas escuras que, em casos mais severos, formam depressões que podem ocupar até a metade do fruto. É mais freqüente nas plantas com desenvolvimento vegetativo abundante. Também ocorrem em videiras que apresentam um sistema radicular superficial e que sofrem variações bruscas de temperatura do solo. Por outro lado, também depende da intensidade da radiação solar. Adotar as seguintes medidas para minimizar o problema: Manter o equilíbrio sistema radicular/parte aérea visando estabilizar a planta. Evitar o excesso de adubação nitrogenada. Evitar as capinas e os trabalhos do solo no período de pré-maturação da uva. Manter constante a umidade do solo. 11 TRATAMENTOS FITOSSANITÁRIOS A videira está sujeita ao ataque de doenças e pragas, principalmente no período mais úmido. Para o seu controle, o produtor de uvas deve: Realizar a Produção Integrada, ou seja, "a produção econômica de fruta de alta qualidade, em cuja obtenção se dá prioridade aos métodos ecologicamente mais seguros, minimizando a utilização de agrotóxicos e Pág. 29

seus efeitos secundários negativos, com a finalidade de dar proteção ao meio ambiente e à saúde humana". Preferir produto de toxicidade mais baixa, selecionando entre os vários produtos eficientes contra a doença ou praga em questão. Observar rigorosamente o intervalo de seguranca entre a última aplicação do produto e a colheita. Ter cuidado no manuseio dos produtos para evitar intoxicações. 12 PRÉ-COLHEITA Antes da colheita deve-se observar alguns cuidados: Reduzir a quantidade de água disponível à planta (considerando propriedades e cobertura de solo) Proceder a uma pré-limpeza da fruta, objetivando reduzir esse trabalho e a perda de água conseqüente de ferimentos durante o packing. Aferir diâmetro e concentração de açúcares, avaliar a condição geral da fruta. Programar colheitas e reservar os materiais necessários. Preparar os locais de embalamento com as devidas instalações. 13 COLHEITA A uva é uma fruta não-climatérica, isto é, não amadurece depois de colhida, e, portanto, o ponto de colheita ocorre quando a fruta está completamente madura. Normalmente, a determinação do ponto de colheita é feita baseando-se na cor característica da casca de cada cultivar e no teor de açúcar. O teor de açúcar deve estar acima de 15 Brix ou conforme exigência do mercado. De preferência a colheita deve ser realizada no período mais fresco do dia. Colher com cuidado, utilizando tesouras adequadas. O ponto de corte deverá ser sempre rente ao ramo de produção. Evitar contato das bagas com as mãos, segurando o cacho pelo talo, e, além disso, o pessoal envolvido na colheita deve ter as unhas das mãos limpas e bem cortadas. Acondicionar com o máximo de cuidado as uvas nos contentores, sempre protegidos com forros apropriados e nunca exceder mais que uma camada. A disposição dos cachos deve ser sempre com o talo para cima, evitando que este danifique a baga de outro cacho. 14 PÓS-COLHEITA house. Depois de colhida, a uva deve ser enviada para o centro de embalamento packing Dar preferência às carretas "baixas" que facilitam carga e descarga de contentores. O transporte deve ser realizado em baixa velocidade e com pneus com baixa pressão, para absorver pequenos impactos. Pág. 30

Se as horas de exposição da fruta a temperaturas altas, durante a colheita, transporte até o packing house, superar cinco horas, isso será suficiente para permitir a iniciação da germinação de fungos, a desidratação de pedicelos e o aumento na respiração da uva. Posteriormente todos eles se traduzem em maior facilidade ao desprendimento de bagas. 15 EMBALAMENTO Toda propriedade deve ter um local apropriado onde se deve proceder a limpeza, padronização e embalamento do produto. Todo packing house deve atender às exigências mínimas de limpeza, sanidade e iluminação. É obrigatória a limpeza diária de todas as suas dependências, não se admitindo resíduos de frutas no piso. Manter a área ao redor do centro de embalamento livre de plantas daninhas, restos de cultura, mau cheiro, lixo, frascos de defensivos ou qualquer outro material que possa servir de esconderijo de insetos ou outros animais. É aconselhável a existência de banheiros e lavatórios próximos ao centro de embalamento, que devem ser mantidos sempre bem limpos. No caso de embalamento noturno, é essencial uma boa iluminação, tomando-se o cuidado para que essa iluminação não favoreça a entrada de insetos nas caixas. Os funcionários dos centros de embalamento devem estar com as unhas cortadas e limpas, cabelos presos, luvas e roupas limpas. É proibido fumar nos centros de embalamento. De modo geral, a seqüência de operações no packing house é a seguinte: 1. Área de espera - É o local do centro de embalamento onde o produto que chega do campo é mantido, aguardando seu processamento. Essa área deve ser protegida do sol, insetos e animais e localizada adequadamente. 2. Limpeza - Nesse setor o produto é devidamente limpo, seguindo as normas do padrão de qualidade. Nesta operação deve-se tomar os seguintes cuidados: As limpadoras devem trabalhar com luvas. Suspender o cacho pelo "talo". Utilizar tesouras adequadas. Os cachos devem ser cuidadosamente manuseados. As bagas descartadas devem ser colocadas diretamente em um recipiente apropriado. 3. Classificação - Nesse setor o produto é classificado devidamente pela classe e pela cor. Deve-se seguir os mesmos cuidados do item Limpeza. 4. Pesagem - A balança deve ser aferida pelo menos uma vez ao dia. No acerto do peso, o "pesador" deve tomar o cuidado de não desuniformizar a caixa (classe e Pág. 31

cor). O peso da caixa deve seguir rigorosamente o critério estabelecido (normalmente 4,5 kg para exportação e 6 kg para mercado interno). 5. Embalamento - É o local onde se faz o embalamento propriamente dito. É necessário procurar obter o melhor aspecto visual possível. O embalamento deve ser cuidadoso de modo que não se danifiquem as frutas e que não haja nenhuma fruta que ultrapasse a linha superior da caixa. 6. Paletização - Empilhar as caixas com cuidado sobre o estrado (pallet) de modo que não haja choque entre as frutas, nem danos na caixa. Observar a disposição correta das caixas. 16 PRÉ-RESFRIAMENTO O túnel de pré-resfriamento foi desenhado para permitir um resfriamento rápido das uvas. Assim a taxa de respiração diminui, retarda a perda de umidade do engaço e das bagas, minimiza a suscetibilidade ao ataque de fungos e conserva as propriedades nutricionais. O fungo da podridão cinzenta, Botrytis cinerea, não é completamente eliminado pelo pré-resfriamento sozinho. Particularmente para o mercado externo, quando as uvas são transportadas por via marítima por um longo período, utiliza-se dentro da caixa de uva um "gerador" de Dióxido de Enxofre (Sulfur pad) que controla o fungo e conserva o engaço verde. Pág. 32

17 ARMAZENAMENTO Após o pré-resfriamento, a fruta fica armazenada em câmara frigorífica à espera de transporte ou melhor período para comercialização. A temperatura de congelamento da uva é de -1,12 C. A temperatura ideal na câmara frigorífica é de 0 a 3 C e 90% de umidade relativa do ar. 18 COMERCIALIZAÇÃO 18.1 EXPORTAÇÃO Em junho de 1992, vários produtores se reuniram em um grupo denominado Brazilian Grape Marketing Board - BGMB, com a finalidade de organizar as exportações de uva. Funcionalmente, o BGMB se estruturou para operacionalizar as distintas fases de exportação para o produtor. A comercialização segue o sistema dos Marketing Boards, com a eleição de um painel de clientes, identificados por país ou região de atuação. A articulação se faz através de uma empresa focal na Europa que monitora a performance dos "painelistas" durante a temporada comercial, podendo interferir para garantir os melhores resultados para os exportadores. O preço final ao produtor é calculado através de um pool de resultado de vendas nos diferentes países e estratificado de acordo com a classificação e qualidade do produto. Com isso se garante a flexibilidade estratégica necessária à empresa FOCAL para distribuir os volumes sem privilégios individuais. 18.2 MERCADO INTERNO Os sistemas mais usuais de comercialização de uvas para mesa parecem ser a consignação e venda através de cooperativas. No primeiro caso, o atacadista é responsável pelas vendas, retornando ao produtor o valor apurado menos as despesas incorridas na comercialização, enquanto, no segundo, toda uva do mesmo cultivar e qualidade é vendida em pool, recebendo o produtor um preço médio. Em 1999, a associação de produtores - Valexport, a prefeitura municipal de Petrolina e o Ministério da Agricultura - Secretaria de Desenvolvimento Rural, com apoio do Sebrae, criaram os Sistemas Integrados de Comercialização do Vale do São Francisco - Pág. 33