A PRODUÇÃO EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO RIO DE JANEIRO: A EXPANSÃO DAS ÚLTIMAS DÉCADAS RESUMO



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Transcrição:

1614 A PRODUÇÃO EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO RIO DE JANEIRO: A EXPANSÃO DAS ÚLTIMAS DÉCADAS Claudia Alves Universidade Federal Fluminense RESUMO A produção da História da Educação no Brasil apresenta marcas de fortes atores institucionais que, em diferentes momentos históricos, interferiram na sua produção de diversas maneiras. A pesquisa que realizamos, a respeito da produção em História da Educação no Rio de Janeiro, evidenciou o papel dos Programas de Pós-Graduação nos contornos que veio assumindo essa produção a partir dos anos 1960. O objetivo da pesquisa estava voltado para historicizar a produção na área, como parte de um amplo investimento destinado a compor o quadro nacional, por solicitação do GT História da Educação da ANPEd. No caso do Rio de Janeiro, determinamos, como objetivo principal, buscar compreender de que forma a produção local articulava-se ao movimento de organização nacional, expresso no crescimento numérico das pesquisas, bem como nos fóruns de pesquisadores que, a partir do GT História da Educação, fortaleceram-se em grupos regionais e inter-regionais, associações locais e, finalmente na criação da Sociedade Brasileira de História da Educação. Interessava-nos investigar que aspectos particulares teria assumido essa consolidação da pesquisa histórica em educação na região do Rio de Janeiro. Tendo em vista o papel desempenhado pela pós-graduação nesse percurso de construção em nível nacional, e levando-se em conta a presença dos programas, associados ao campo de universidades concentradas no Estado, tomamos a produção de dissertações e teses como o principal indicador da trajetória em nível regional. Diante do volume de trabalhos selecionados, por meio de buscas em catálogos e bancos eletrônicos, optamos por constituir o corpus documental com os resumos dos títulos levantados. A mostra final compôs-se, então, de 930 resumos de trabalhos produzidos em sessenta e nove cursos de pósgraduação, pertencentes a dezessete diferentes instituições de ensino superior. A delimitação temporal foi estabelecida a partir desse conjunto, levando-se em conta a data de defesa das dissertações e teses. Por esse caminho, o período abordado inicia-se em 1972, ano em que vieram à luz as primeiras dissertações de mestrado com características de pesquisa histórica e temática em educação, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O material reunido encerra-se em 2001, último ano em que foi possível coletar, de forma consistente, resumos de trabalhos nos sessenta e nove cursos pesquisados, devido aos limites apresentados pelos bancos de dados e catálogos. Na proposta que aqui expomos, centramos nossa reflexão no aspecto que, a nosso ver, apresenta um enfoque original no que concerne a historiografia da educação. A realização da pesquisa, devido à metodologia adotada, que permitiu garimpar títulos em cursos de pós-graduação de muitas áreas de estudo diferentes, demonstrou que, a partir da década de 1990, ocorreu, na região pesquisada, um fenômeno de expansão da produção em História da Educação, para além das tradicionais fronteiras dos programas de Educação e de História. O interesse em interrogar o passado das instituições, das práticas educativas, dos meios de formação, das representações construídas nos mais diversos campos profissionais, fez com que se intensificasse a pesquisa histórica empreendida por engenheiros, assistentes sociais, profissionais da saúde, músicos e outros. Ao lado do crescimento numérico dos títulos, observa-se ainda, pelo conteúdo dos resumos a que se teve acesso, que a presença de categorias próprias de determinadas linhas teóricas que orientam os estudos históricos das últimas décadas, denota a existência de um intercâmbio intelectual no sentido de acompanhar as problemáticas, bem como os métodos de investigação e a reflexão que se Professora Adjunta da Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. 1614

1615 expandiu na História da Educação brasileira. Este aspecto dos resultados da pesquisa realizada pode contribuir significativamente para uma avaliação da História da Educação escrita no Brasil, nos últimos vinte anos. Dessa consideração decorre a apresentação da presente proposta como comunicação. Introdução TRABALHO COMPLETO O presente texto resulta de um esforço para o aprofundamento de aspectos detectados em estudo mais amplo, realizado no período de 2002 a 2005, a respeito da produção da pesquisa em história da educação no Estado do Rio de Janeiro. Na época, atendendo à solicitação do Grupo de Trabalho História da Educação, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), realizamos um levantamento abrangente das dissertações e teses com características pertinentes à área. Tendo tomado como corpus documental o acervo de trabalhos defendidos nos programas de pós-graduação, determinamos, como marcos temporais, os anos de 1972 quando foram defendidas as primeiras dissertações identificadas com a pesquisa em história da educação e de 2001 ano limite da busca de resumos dos trabalhos analisados. Por outro lado, com vistas a contemplar a grande diversidade de cursos existentes na região, estendemos o mapeamento a programas não diretamente afetos à área de educação ou de história. Recorremos, para concretização da busca, ao Banco de Teses e Dissertações da CAPES, aos catálogos da área de educação, organizados pela ANPEd, às páginas eletrônicas dos programas de pós-graduação existentes no Rio de Janeiro, bem como a alguns catálogos publicados por programas de pós-graduação, referentes à produção de certos períodos. Quando não foi possível percorrer a listagem completa de trabalhos, lançamos mão de uma busca temática bastante ampla, de forma a criar possibilidades de acesso a um número maior de títulos. A partir desse rastreamento abrangente, empreendemos a seleção dos títulos que consideramos pertinentes. Essa metodologia de busca, apoiada em pressupostos relativos à construção histórica da pesquisa em história da educação, permitiu que fosse detectado um movimento de expansão desse tipo de pesquisa, que extrapola os limites dos lugares tradicionalmente ligados à pesquisa histórica. O resultado daqueles quase três anos de investigação apontou um crescimento interessante da pesquisa em história da educação, em direção a outras áreas de conhecimento. Objetos e abordagens típicos da área começaram a ser desenhados em programas, principalmente, das áreas de saúde, tecnologia e arte, sobretudo a partir da segunda metade da década de 1990. Esse fenômeno colocou-nos frente a novas interrogações com relação à produção, difusão e recepção da pesquisa produzida por historiadores da educação. Qual a relação entre o crescimento e consolidação do ensino em nível de pós-graduação e a ampliação do interesse por temas em história da educação? Em que medida a organização da própria área de história da educação estimulou novas trocas e atraiu profissionais para um investimento específico a respeito da historicidade que permeia sua formação e atuação profissional? Resolvemos, então, empreender um segundo mapeamento, circunscrito a essa parte do material coletado na investigação original realizada para o GT História da Educação. Esse retorno à fatia dos resumos de teses e dissertações, encontrados em programas de pós-graduação das mais diversas áreas de estudo, visa contribuir com a reflexão acerca dos circuitos de produção e circulação da pesquisa em história da educação, bem como as formas de recepção dos textos da área por pesquisadores de formação disciplinar diversa. O presente trabalho apresenta o resultado de uma primeira aproximação nesse sentido, ainda distante de completar as respostas às perguntas formuladas acima. Ainda assim, trazemos à exposição aspectos instigantes suscitados pela primeira análise do material. 1615

1616 A história da educação no quadro de construção da pós-graduação no Brasil A pesquisa em história da educação, no Brasil, ampliou-se significativamente nas últimas décadas, acompanhando as mudanças que se desenharam, na produção de ciência no país, a partir da consolidação de um sistema nacional de pós-graduação. A análise da expansão da área, sem desconsiderar as bases de sua construção, tem-nos levado a acompanhar o desenho da pósgraduação e da pesquisa como um todo. Os itinerários de construção histórica, da pós-graduação e da pesquisa no Brasil, apontam para um processo bastante recente de institucionalização e expansão. Anunciada desde os anos 1930, como uma forma de especialização de estudos em determinada área profissional, a formação em nível de pós-graduação aguardaria um longo tempo para tornar-se uma realidade. Na década seguinte, começou a ser esboçada, em instituições como a Escola de Sociologia e Política, de São Paulo, e a Universidade do Brasil, sediada no Rio de Janeiro. As iniciativas de criação do Conselho Nacional de Pesquisa (CNP), em 1949, e da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 1951, foram indicadores da penetração crescente, no âmbito do Estado, da idéia de incrementar a pós-graduação como forma de qualificar os quadros do ensino superior, ao mesmo tempo em que se materializava o financiamento público da pesquisa científica. Ainda assim, mesmo com o processo de difusão de universidades públicas, federais e estaduais, que marcou o período imediatamente posterior, não se reuniu força suficiente para realizar a consolidação da pesquisa. A Universidade de Brasília desponta como exemplo isolado de institucionalização da pesquisa, naquele período. (CURY, 2005: 8-9). Foi no rastro da perspectiva tecnicista, com o perfil do modelo norte-americano, e sob a condução autoritária dos governos da ditadura militar, que se edificou o sistema nacional de pósgraduação brasileiro. Em 3 de dezembro de 1965, foi emitido o Parecer n. 977, da Câmara de Ensino Superior, do Conselho Federal de Educação, redigido por solicitação do Ministro da Educação, e assinado por intelectuais de renome no quadro da educação brasileira. 1 Nele, regulamentava-se a pós-graduação, por meio de uma redação em sete tópicos:a origem da pósgraduação, sua necessidade, seu conceito, o exemplo da pós-graduação nos Estados Unidos, a pósgraduação na LDB de 1961, a pós-graduação e o Estatuto do Magistério, e a definição e caracterização da pós-graduação. (CURY, 2005: 11). De acordo com esse parecer, a pós-graduação teria como objetivos a formação tanto de um corpo docente preparado e competente quanto a de pesquisadores de alto nível, e a qualificação profissional de outros quadros técnicoadministrativos necessários ao desenvolvimento nacional. A pós-graduação deveria ter lugar na universidade, na medida em que é integrante do complexo universitário, necessária à realização dos fins essenciais da universidade (p. 73). Só excepcionalmente, mediante parecer autorizatório do CFE, poderia haver pós-graduação em institutos isolados. Como se depreende do texto acima, a concepção de pós-graduação ligava-se intimamente ao conceito de universidade que se desejava fortalecer. A pesquisa era pensada como atributo de um complexo universitário, responsável pelo encaminhamento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, conforme havia sido definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1961. Além disso, a força do modelo norte-americano, para o qual se destinava todo um tópico do parecer espaço bem maior do que o destinado a outros modelos nacionais ali tratados prenunciava as 1 Assinaram o Parecer n. 977/65 Clóvis Salgado, José Barreto Filho, Maurício Rocha e Silva, Durmeval Trigueiro Mendes, Alceu Amoroso Lima, Na sio Teixeira, Valnir Chagas, Rubens Maciel e Newton Sucupira (relator) (CURY, 2005: 10) 1616

1617 ações de modernização e adequação das universidades existentes aos objetivos representados pelo regime militar. O trabalho da comissão de especialistas, fruto do acordo MEC/USAID, com forte presença de técnicos norte-americanos, apontaria, alguns anos mais tarde, o novo desenho da universidade brasileira, inteiramente remodelada em direção ao padrão americanizado. Por outro lado, houve, por parte dos governos militares, um empenho particular em consolidar o campo de pesquisa científica, no país, sob a tutela do Estado. Na distinção entre pósgraduação lato sensu e stricto sensu, introduzida pelo Parecer, fica reservada, a este último tipo, a realização de pesquisas avançadas, associadas à concessão de títulos de mestre e doutor. A área do Rio de Janeiro, privilegiada por sua posição histórica de capital do país, abrigou, desde o início, programas de pós-graduação criados no interior das instituições universitárias existentes na região. Tanto no âmbito do ensino privado, que contava com a força da Pontifícia Universidade Católica atual PUC Rio quanto no do público, com destaque para a atual Universidade Federal do Rio de Janeiro originalmente a Universidade do Brasil mas contando, também, com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), havia campo fértil para institucionalização da pesquisa, nos moldes da pós-graduação. Às instituições universitárias agregavam-se, ainda, a Fundação Getúlio Vargas e a Fundação Oswaldo Cruz, que viriam a contribuir, decisivamente, para o crescimento da pesquisa, tanto em nível local, como nacional. A pós-graduação stricto sensu em educação adquiriu contornos já em meados da década de 1960, logo após a publicação do Parecer 977, sob a liderança dos Programas de Pós-graduação das PUCs, do Rio de Janeiro e de São Paulo. As primeiras dissertações com viés histórico, produzidas no âmbito desses programas, inauguraram um novo período de escrita da história da educação, cada vez mais traspassado pelos contornos que assumia a formação de docentes e pesquisadores nesse nível. A qualificação de indivíduos posicionados, ou preparando-se para inserir-se, no meio docente universitário influiu na configuração do campo intelectual envolvido com a reflexão acerca dos problemas educacionais. Ao final da década de 1970, a conjuntura de crise do regime militar e paulatina reorganização dos movimentos sociais favoreceu a emergência de eventos e entidades do campo educacional. Mesmo as iniciativas governamentais viram-se atravessadas por atitudes que buscavam autonomia em relação aos objetivos e formatos propostos oficialmente. As circunstâncias de criação da ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação em 1978, são emblemáticas dessa insurgência, desde a escolha de uma diretoria não desejada pela CAPES, até a inclusão de sócios individuais no seu formato, abrindo espaço para a organização de Grupos de Trabalho temáticos, reunindo pesquisadores de acordo com suas áreas de interesse (FERRARO, 2005: 52). É nesse espaço que se cria o GT História da Educação, que dá início ao processo de organização dos pesquisadores da área. Composição da amostra Todo e qualquer levantamento de dados pressupõe um recorte que deve ser arbitrado segundo alguns critérios. Nos casos de mapeamento da produção em área tão interdisciplinar quanto a da educação, diversos meandros se interpõem à seleção definida de títulos pertinentes a qualquer de suas sub-áreas. Em se tratando, portanto, de história da educação, as dificuldades em se traçar fronteiras em relação a campos disciplinares afins, tais como antropologia, sociologia, política e administração tornam improdutivos quaisquer esforços de estrita depuração (ALVES, 2001). Por isso, enfatizamos a perspectiva que se volta para a historicização dos fenômenos, pela busca de analisá-los com apoio na dimensão temporal. Outro cuidado necessário, no mapeamento da produção em história, diz respeito à compreensão das características próprias da pesquisa em cada momento histórico. Para evitar-se a projeção das exigências metodológicas, presentes na produção historiográfica recente, para a seleção de materiais do passado, é preciso levar em conta a historicidade da própria historiografia. 1617

1618 Dessa forma, procuramos ampliar nosso raio de observação, incorporando trabalhos que, sobretudo no período inicial de consolidação da pós-graduação no Rio de Janeiro, nem sempre cumpriam próprias a uma pesquisa original em história da educação, sobretudo quando eram realizados no âmbito dos programas de pós-graduação em educação. Como trabalhamos a partir das séries de títulos e resumos de teses e dissertações, procuramos incluir diferentes formas de aproximação da história da educação, evitando, de outro lado, descaracterizar o foco de nossa pesquisa. No texto que resumiu os principais resultados da pesquisa, discriminamos os critérios de seleção adotados para composição da amostra, da seguinte maneira: 1. Características dos trabalhos incluídos: a) objetos de pesquisa ligados a processos formativos ou seus determinantes, em espaços escolares ou não; b) presença de algum tipo de dimensão temporal no tratamento dado ao objeto. 2. Foram excluídos os trabalhos: a) centrados em registros de memória individual e coletiva, ou de experiências atuais, sem pretensão de relacioná-las a contextos mais amplos; b) voltados para a avaliação de experiências educativas exclusivamente por meio de entrevistas com os atores que delas participaram; c) que, tratando de atores individuais ou coletivos que tiveram papel destacado na educação, estão focados em questões de outra área disciplinar (a política, por exemplo); d) dedicados a aspectos da história da ciência ou de campos profissionais que não incluem, nas suas questões, qualquer preocupação com os processos formativos; e) focados na discussão de princípios filosóficos da educação, tratados na sua lógica interna, sem referência ao contexto, condições de produção ou trajetória de pensadores; f) em que a assimilação do aporte teórico-metodológico de uma corrente historiográfica não chegava a caracterizar a historicização do objeto de pesquisa; g) cujo objeto tocava temas caros à educação, mas com tratamento próprio de áreas profissionais como a psicologia, a medicina, o direito, etc. (o exemplo da infância é o mais recorrente). (ALVES, 2005: 119-120) Tínhamos como pressuposto que a pesquisa em história da educação, embora naturalmente concentrada nos programas de educação, e secundariamente nos de história, poderia surgir como zona de interesse para profissionais de áreas que, em princípio, estariam dela apartados. Duas ordens de fatores colocavam-se como propiciadoras desse contato: em primeiro lugar, a inserção de origem dos programas de pós-graduação na área de educação, enquanto centros de formação pensados para qualificarem docentes do ensino de nível superior, além de pesquisadores e, portanto, envolvidos num movimento de construção histórica de seus cursos; em segundo lugar, o crescente interesse, percebido em publicações de divulgação científica, pela história dos campos profissionais e da respectiva formação de seus agentes. Com essa motivação, percorremos os catálogos de mais de cem cursos de pós-graduação existentes no Estado, sem, entretanto, cobrir a totalidade, devido à dificuldade de acesso a catálogos eletrônicos e impressos de todos eles. Ainda assim, foi possível trabalhar com a expressiva mostra de 69 cursos, pertencentes a dezessete diferentes instituições de educação superior, em que foram encontrados trabalhos caracterizados como resultado de pesquisa em história da educação. Ao todo, 1618

1619 foram incorporados 930 trabalhos, que atendiam aos requisitos avaliados como característicos de pesquisa em história da educação. Desse total, um primeiro grupo possuía ligação mais direta com a área de educação, embora somente seis programas fossem de pós-graduação em Educação, dois em Educação Física, um em Educação Matemática e um em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde. Em História, foram incluídos cinco programas, além de um em História da Arte e um em Memória Social e Documento. Nas demais áreas disciplinares, ligadas à formação de professores, estruturadas com licenciaturas em nível de graduação, foram encontrados trabalhos de interesse para o levantamento em três programas de Sociologia, três de Letras, dois de Filosofia, um de Matemática, um de Geografia e um de Química Biológica. Como era de se esperar, concentra-se nos programas de pós-graduação em Educação o maior volume de produção de pesquisas na área. Do conjunto de títulos levantados, um percentual de 72% cabe a esses programas. A distribuição das referências selecionadas na tabela desdobrada pelos anos de ocorrência permite observar alguns aspectos, com relação a este grupo restrito de programas. Cabe ressaltar o pioneirismo da PUC, bem como a permanência de uma produção regular em seu programa de Educação; o papel do IESAE, ao longo da década de 1980, fechando sua trajetória com grande contribuição nos 1990-1991; a curva ascendente do programa da UFRJ, até meados da década de 1990, quando sua produção, em termos quantitativos, supera a de todos os outros programas da área, no Rio de Janeiro; o crescimento da produção da UFF, na década de 1990, como uma espécie de herdeira do IESAE, de quem recebeu quadros importantes para compor seu programa de pós-graduação em Educação. Quantidade de Títulos Selecionados dos Programas de Educação - Rio de Janeiro - 1972/2001 25 20 15 10 5 0 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 PUC UFF UFRJ IESAE UERJ UCP Esse panorama da produção em história da educação, efetuada no interior dos programas específicos da área, insere-se, no presente texto, com o objetivo de situar a dinâmica que dirigiu o volume principal de trabalhos defendidos, aqueles que efetivamente caracterizam as tendências da historiografia da educação no período. 1619

1620 Retirando-se, do total de cursos pesquisados, os que se ligam ao campo educacional, de forma mais direta, contabilizam-se, ainda, quarenta e dois programas de diferentes áreas profissionais, onde foi possível localizar dissertações e teses em história da educação. A amostra, construída por essa seleção, inclui 153 trabalhos, defendidos em quarenta e cinco cursos, das mais diversas áreas de formação e pesquisa. Em nossa análise, essa fatia da produção assumiu interesse particular, tomada como indicador da expansão da pesquisa em história da educação para além das fronteiras dos programas de educação e de história. Essa parte do levantamento foi submetida a novo tratamento, que compõe o trabalho que ora apresentamos. A produção em história da educação dos programas de outras áreas No quadro abaixo, procuramos sintetizar o demonstrativo de cursos pesquisados, correlacionando-os ao número de títulos selecionados em cada um deles, no que tange ao segundo grupo, acima descrito. Títulos selecionados em programas de áreas diversificadas 1978-2001 CURSO INSTITUIÇÃO NÍVEL N. DE TÍTULOS Tecnologia CEFET-RJ Mestrado 4 Sistemas e Computação Instituto Militar de Engenha-ria Mestrado 1 (IME) Engenharia de Siste-mas Universidade Federal do Rio de Mestrado 1 e Computação Engenharia de Produção Universidade Federal do Rio de Mestrado 6 Doutorado 2 Desenvolvimento, Universidade Federal Rural do Rio Mestrado 5 Agricultura e Sociedade de Janeiro (UFRRJ) Doutorado 2 Agronomia Universidade Federal Rural do Rio Mestrado 2 de Janeiro (UFRRJ) Economia da Indús-tria e Universidade Federal do Rio de Mestrado 1 da Tecnologia Economia Fundação Getúlio Vargas Mestrado 2 Universidade Federal Fluminense Mestrado 1 (UFF) Ciências Contábeis Fundação Getúlio Vargas Mestrado 3 Universidade do Estado do Rio de Mestrado 2 Janeiro (UERJ) Administração Universidade Federal do Rio de Doutorado 1 Administração Pública Fundação Getúlio Vargas Mestrado 12 Políticas Sociais Universidade Estadual do Norte Mestrado 1 Estudo de Problemas Brasileiros Ciência Política Ciências Jurídicas Antropologia Social Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) Universidade do Estado do Rio de Mestrado 3 Janeiro (UERJ) Instituto Universitário de Pesquisa Doutorado 1 do Rio de Janeiro (IUPERJ) Universidade Federal Fluminense Mestrado 2 (UFF) Pontifícia Universidade Católica Mestrado 2 (PUC Rio) Universidade Federal do Rio de Mestrado 5 Doutorado 3 Pontifícia Universidade Cató-lica Mestrado 8 do Rio de Janeiro (PUC-RIO) 1620

1621 Serviço Social Universidade Federal do Rio de Mestrado 6 Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz Mestrado 3 Doutorado 1 Saúde Coletiva Universidade do Estado do Rio de Mestrado 5 Janeiro (UERJ) Doutorado 2 Pontifícia Universidade Católica do Mestrado 6 Rio de Janeiro (PUC-RIO) Universidade Federal Fluminense Mestrado 1 Psicologia (UFF) Universidade do Estado do Rio de Mestrado 2 Janeiro (UERJ) Psicologia Social Universidade do Estado do Rio de Mestrado 6 Janeiro (UERJ) Universidade Federal do Rio de Mestrado 1 Medicina Odontologia Universidade Federal Fluminense Mestrado 2 (UFF) Doutorado 1 Universidade Federal do Rio de Mestrado 8 Doutorado 16 Enfermagem Universidade do Rio de Janeiro Mestrado 3 (UNI-RIO) Nutrição Universidade Federal do Rio de Mestrado 2 Ciências da Informação Universidade Federal do Rio de Mestrado 3 Teologia Pontifícia Universidade Católica do Mestrado 2 Rio de Janeiro (PUC-RIO) Comunicação Universidade Federal do Rio de Mestrado 3 Doutorado 1 Teatro Universidade do Rio de Janeiro Mestrado 1 (UNI-RIO) Conservatório Brasileiro de Música Mestrado 5 Música Universidade Federal do Rio de Mestrado 2 Música Brasileira Universidade do Rio de Janeiro Mestrado 1 (UNI-RIO) TOTAL DE CURSOS E TRABALHOS 45 153 Com relação ao total da amostra da pesquisa realizada, composta de 930 títulos, essa fatia representa um percentual de 16,5 % dos títulos selecionados. Percebe-se, pelo quadro acima, a extensa variedade temática dos cursos em que se encontrou trabalhos afinizados com a pesquisa histórica em educação. O período coberto inicia-se em 1978, ano em que foram defendidos as duas primeiras dissertações, desses programas, incluídas em nosso levantamento. O ano de 2001, como foi explicado anteriormente, foi o último considerado na pesquisa realizada. Os dois primeiros trabalhos, desse conjunto a que nos referimos, foram elaborados em programas da Universidade Federal do Rio de, nas áreas de Comunicação e Ciência da Informação. A dissertação intitulada Comunicação e ensino de massa no Brasil: desempenho do rádio como veículo educacional (Projeto Minerva), defendida por João de Deus Corrêa, com orientação de Emanuel Carneiro Leão, investigava a trajetória do Projeto Minerva, pensando as aulas radiofonizadas como estratégia do Estado na difusão do ensino e comunicação de massa. No resumo do trabalho, o autor justifica a escolha do Projeto Minerva, pela riqueza da documentação 1621

1622 existente, em que se podia encontrar registros de avaliação da experiência. No mesmo ano, Arthur Tavares Machado, defendia o trabalho Documentação: sua divulgação no Ministério da Educação e Cultura. Buscava traçar um perfil dos métodos de divulgação do Ministério, no período 1890-1971, enfocando o desperdício e improdutividade em publicações oficiais, muitas vezes criadas com a única finalidade de promover indivíduos posicionados na burocracia estatal. No panorama geral de escassa produção em história da educação, tal como observamos no gráfico relativo aos programas de Educação, apresentado anteriormente, a existência desses trabalhos ainda não poderia ser tomada como expressão do crescimento da área. Percebe-se, claramente, por outro lado, a vinculação de suas problemáticas de investigação a suas áreas de origem, ainda sem demonstrações de diálogo expressivo com a própria pesquisa histórica. No caso particular do segundo trabalho, o extenso período abarcado por seus marcos temporais, assim como a denominação MEC, projetada para o passado, e ainda desconsiderando o espaço de tempo entre a primeira configuração republicana de um Ministério da Instrução Pública, em 1890, e a segunda, em 1930, como Ministério da Educação, são indícios do desconhecimento em relação à história da educação brasileira por parte do autor. Somente seis anos mais tarde, em 1984, surgem, no mapeamento, mais três títulos com características pertinentes à pesquisa, sendo uma dissertação de mestrado e duas teses de doutorado. A dissertação Educação em saúde: prática sanitária ou instrumento de ação ideológica, de Cleuza Panisset Ornellas, foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz. Propunha-se a discutir a ação ideológica exercida pela educação enquanto atividade de Saúde Pública, com foco no período de 1960 a 1979, porém buscando os determinantes econômicos e sanitários numa ampla retrospectiva do período republicano. Uma das teses de doutorado foi elaborada no mesmo programa, com o título Estudo do saber da enfermagem e sua dimensão prática, por Maria Cecília Puntel de Almeida. Enfocava a relação que compõem a formação e as transformações da prática profissional da enfermagem no Brasil, da década de 1930 à de 1970, buscando as disciplinas que fundamentaram a formação em cada período. Por fim, no mesmo ano, foi defendida a tese Imaginação social jesuítica e instituição pedagógica: Maranhão e Grão-Pará no século XVII, no curso de Antropologia Social da UFRJ, por Luiz Felipe Baêta Neves Flores, que procurava compreender o funcionamento econômico e as ideologias que informavam as Aldeias Jesuíticas, tomando como fonte principal a obra de Antonio Vieira. Estes últimos trabalhos prenunciam o diálogo com a história da educação que se acentuaria a partir de 1987, com o aparecimento regular, a cada ano, de novas teses e dissertações com temáticas e abordagem histórias, defendidas nos diversos programas de pós-graduação de outras áreas. O gráfico abaixo demonstra o crescimento do número de trabalhos entre os anos de 1987 e 2001. 1622

1623 Quantidade de títulos por ano - 1987/2001 25 20 15 Quantidade 10 5 0 1987 Para efeito do presente trabalho, procuramos analisar esse material segundo quatro critérios básicos: a) o período abordado nesses estudos; b) o campo temático em que o trabalho se concentra; c) o nível/modalidade de ensino; e d) a abrangência espacial relativa ao objeto de estudo. Com respeito ao período, há uma dificuldade inerente ao corpus documental com que trabalhamos: por se tratar de resumos de teses e dissertações elaboradas fora dos programas de educação ou de história, muitos deles não trazem a informação precisa sobre os marcos temporais determinados para a delimitação do objeto de estudo. Apesar disso, foi possível perceber os momentos privilegiados nesses estudos. Em primeiro lugar, pode-se dizer que, em sua grande maioria, estão dedicados à história recente, com forte concentração nas últimas décadas do século XX. Entretanto, quando desdobramos esse quesito por instituição, percebemos que esse traço não aparece igualmente em todas elas. Assim, na UFRJ, a concentração mais forte das pesquisas encontra-se nas décadas de 1940 a 1960, seguidas do período inicial do século XX. Veremos adiante que essa tendência combina-se com a característica do campo temático, já que é bastante presente o interesse pela história dos próprios cursos ou escolas que a compõem, buscando as origens plantadas no início do século ou na Universidade do Brasil. No caso da UERJ, também há uma divergência em relação ao panorama geral, por conta de outro aspecto dominante em seus trabalhos: a abordagem extensiva, abrangendo todo o século XX ou XIX, denotando um diálogo ainda bastante incipiente com a história da educação. O gráfico, a seguir, sintetiza a distribuição dos trabalhos de acordo com a delimitação temporal indicada nos resumos. 1623

1624 Distribuição dos períodos estudados Séc. XVI-XVIII Séc. XIX Séc. XX 1890-1930 1930-1945 1940-1960 Pós 1960 Pós 1970 Década 1980 Década 1990 Não informado Quanto aos campos temáticos em torno dos quais se constroem os trabalhos, elaboramos uma lista de seis categorias de temas abordados, pensadas a partir da leitura dos resumos. Por esse caminho, os resumos foram classificados, quanto aos objetos de estudos que anunciavam, em um dos grupos a seguir: a) ação governamental; b) práticas educativas; c) intelectuais/educadores; d) produção, circulação e recepção de idéias e conhecimento; e) instituições de formação e de pesquisa; f) desigualdade, exclusão, racismo. Dentre os eixos temáticos eleitos em nossa análise, dois destacaram-se pela recorrência: em primeiro lugar, o referente às práticas educativas e, em segundo, o relativo à produção, circulação e recepção de idéias e conhecimento. Como dissemos anteriormente, nos comentários a respeito dos períodos sobre os quais recaem os estudos, a densidade de pesquisas voltadas a uma reflexão acerca dos próprios campos intelectuais em que se inscrevem esses programas, tem sido a motivação maior pela busca do enfoque histórico. Nesse sentido, não é surpreendente a fartura de questões em torno das práticas educativas, quando a ênfase recai sobre a formação, ou sobre a circulação de idéias, terreno comum em que incidem tanto a preocupação com a formação quanto com a produção de conhecimento. Por outro lado, é notável que essa preocupação em pensar, em última instância, a formação de elites intelectuais, não tenha insistido no viés da história institucional que, embora igualmente importante, poderia funcionar como mecanismo de permanência de abordagens mais tradicionais. Embora ainda seja necessário maior aprofundamento desse aspecto, a primeira análise do material permite inferir que esse traço, fortemente presente, sobretudo, na produção da segunda 1624

1625 metade da década de 1990, denota a penetração das reflexões do campo da história, senão a da educação, a da história cultural. No gráfico abaixo, demonstramos a incidência de campos temáticos, tais como os delimitamos: Distribuição dos campos temáticos Ação governamental Práticas educativas Intelectuais/educadore s Circulação de idéias Instituições Desigualdade e racismo Os elementos apontados na análise dos campos temáticos ganham mais sentido quando combinados aos referentes aos níveis ou modalidades de ensino, associados aos objetos delineados nas teses e dissertações selecionadas. Optamos por uma construção de alternativas sugeridas a partir das leituras dos resumos, tal como procedemos no caso dos temas. Emergiram as seguintes categorizações: a) Geral (quando se tratava do sistema de ensino como um todo); b) Catequese; c) Educação básica; d) Educação superior; e) Formação profissional (não superior); f) Educação de jovens e adultos; g) Não escolar. A larga predominância do interesse pela educação superior, tanto no nível da graduação quanto no de pós-graduação, reafirma nossas observações em torno do movimento auto-referente, de uma espécie de reflexão sobre si, detectada na incursão pela pesquisa em história da educação, nesses campos profissionais. O gráfico é bastante revelador: 1625

1626 Níveis/modalidades de educação Geral Catequese Educação básica Educação superior Formação profissinal Ed. de jovens e adultos Não escolar Como último aspecto, procuramos verificar a abrangência espacial dos objetos recortados nos trabalhos selecionados. Para tal fim, determinamos os seguintes raios de determinação geográfica, segundo os objetos encontrados: a) Brasil; b) Região; c) Estado; d) Cidade; e) Instituição. Cada uma dessas categorias comportaria algumas variações interessantes, que optamos por não traduzir em gráfico, mas que merecem ser comentadas. O primeiro aspecto é a coincidência entre o institucional e a localização em termos de cidade, quando se tratam de instituições do Rio de Janeiro. Na verdade, o acúmulo de estudos de abrangência institucional comporta um percentual muito elevado de instituições localizadas na cidade do Rio de Janeiro. No âmbito desse percentual, boa parte dos trabalhos concentra-se em escolas ou cursos da Universidade Federal do Rio de. O dado que ressalta, entretanto, é a predominância da abordagem ampliada, em nível de Brasil, fruto de questões bastante gerais ou centradas em processos de ordenação jurídico-política. Pode ser pensado ainda como evidência da centralidade do Estado. O gráfico abaixo indica a distribuição segundo a abrangência espacial do objeto de estudo: 1626

1627 Abrangência geográfica dos objetos Brasil Região Estado Cidade Instituição Considerações finais A partir dos dados coletados, é possível perceber uma trajetória que parte de alguns programas pioneiros e tende a um movimento de dispersão. O que se observa é que os trabalhos que constroem abordagens históricas de objetos referentes à educação não ficam restritos aos programas de educação e de história, mas passam a ocupar um território que se espraia em direção a outras áreas. Em geral, nos campos profissionais que, por meio da pesquisa organizada nos programas de pós-graduação, apresenta-se a oportunidade de se aprofundar a reflexão a respeito de suas práticas, emerge alguma produção sobre os processos formativos, buscando historicizá-los. Essa produção surge de forma individualizada, mas é possível encontrar-se núcleos em que se percebe um estímulo concentrado em história da educação. Acompanhando o movimento geral de incremento da pós-graduação, bem como a penetração do interesse pela abordagem histórica na pesquisa educacional e o desenho mais definido da área de história da educação, cresce sensivelmente o número de títulos reunidos na seleção de nossa pesquisa na década de 1990. Boa parte dos títulos que compõem o total levantado foi trazida à luz nesse período A década de 1990 apresenta, quanto à distribuição anual dos títulos uma dupla tendência: de um lado, a ampliação dos programas em educação vem acompanhada do crescente interesse pela abordagem histórica; de outro, esse interesse difunde-se por programas de outras áreas, alguns criados recentemente, outros não, surgindo dissertações e teses voltadas para a história de instituições e cursos formação, sobretudo em nível superior. Cerca de 90% dos títulos encontrados em pequeno número, em programas de outras áreas, faz parte da produção dessa década. Merece destaque, nesse aspecto, a produção da área de enfermagem. Sua maior expressão localiza-se no programa da UFRJ, em que o interesse pela história da profissão alia-se à busca, sobretudo, da criação de instituições de formação, seus percursos curriculares, a genealogia dos saberes que incorporam e a penetração da influência norte-americana. O volume de dissertações e 1627

1628 teses, gerado por essa interrogação persistente a respeito de sua identidade profissional, supera, nessa universidade, a produção do programa de história com relação à historicidade dos fenômenos educativos. Também na UNI-RIO, o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem apresenta alguns trabalhos nessa linha. Pode-se, ainda, encontrar pesquisadores da enfermagem em programas como o de Saúde Pública, da FIOCRUZ, e o de Saúde Coletiva, da UERJ, e, ainda, em programas de educação, investigando a história de sua formação. Outros campos profissionais têm feito movimento dessa natureza, embora sem atingir o mesmo patamar em termos de quantidade e concentração. Os profissionais de Serviço Social, além do interesse pela história de seu próprio campo, aproximam-se de questões relativas à história da infância e das práticas comunitárias de educação. Na área da saúde, é possível observar a investigação sobre o percurso histórico das atividades em educação para a saúde, a construção do discurso médico e os circuitos de divulgação e afirmação de conhecimentos da área. Na engenharia, predomina o interesse pela produção universitária em ciência e tecnologia, e os impactos da informatização sobre os processos de formação para o trabalho. No campo das artes música, teatro e artes plásticas o olhar recai sobre as instituições formadoras e os métodos de ensino prioritariamente, trazendo à luz a contribuição de artistas e intelectuais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Claudia. (2001) Acervos bibliográficos para a história da educação. Niterói: EDUFF.. (2005) A escrita da história da educação na pós-graduação do Rio de Janeiro (1972-2001). In GONDRA, José Gonçalves. Pesquisa em história da educação no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A. Banco de teses e dissertações da CAPES. www.capes.org.br. Banco de teses e dissertações do IBCT. www.ibct.br Banco de teses e dissertações da PUC-RIO. www.puc-rio.com.br. Base de dados Minerva UFRJ. www.ufrj.br. CURY, Carlos Roberto Jamil. (2005). Quadragésimo ano do Parecer n. 977/65. Revista Brasileira de Educação. n. 30, p. 7-20, set.-dez. 2005. FERRARO, Alceu Ravanello. (2005). A ANPEd, a pós-graduação, a pesquisa e a veiculação da produção intelectualna área da educação. Revista Brasileira de Educação. n. 30, p. 47-69, set.-dez. 2005. 1628