CONTROLE DE MICRORGANISMOS FORMADORES DE DRENAGEM ÁCIDA EM ESTÉREIS DE MINERAÇÃO DE CARVÃO UTILIZANDO OZÔNIO

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Transcrição:

XXVI Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015 CONTROLE DE MICRORGANISMOS FORMADORES DE DRENAGEM ÁCIDA EM ESTÉREIS DE MINERAÇÃO DE CARVÃO UTILIZANDO OZÔNIO FELTRIN, A.C. 1, GOMES, T. 1,2, CARDOSO, W.A. 1, ANGIOLETTO, Ev. 2, MENASCE, S. 3, LAGE FILHO, F.A. 4, BOSCOV, M.E.G. 4, BIAZINI FILHO, F.L. 3, ANGIOLETTO, E. 1 1 Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail: elidio@unesc.net 2 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: thauan.gomes@gmail.com 3 Brasil Ozônio, e-mail: smenasce@brasilozonio.com.br 4 Universidade de São Paulo, e-mail: fredlage@usp.br RESUMO Entre os impactos de longa duração causados pela atividade de mineração, pode ser destacada a geração de drenagem ácida de mina (DAM). Ela é resultado da oxidação natural de minerais sulfetados quando expostos à ação combinada de água e oxigênio, podendo ser acelerada por ação microbiológica. A concentração de íons férricos em solução depende do ph e da ação de dois tipos de microrganismos, a saber: ferroxidativos e sulfato redutores. Uma das formas de controlar a produção de DAM é estabelecer um controle microbiológico. Para isso ozônio foi aplicado em estéril de mineração de carvão, com o objetivo de utilizar o elevado potencial oxidativo deste gás na eliminação dos microrganismos catalisadores das reações que geram ácido sulfúrico a partir dos minerais. A influência da presença dos microrganismos ferroxidantes e sulfato redutores aliada à aplicação de ozônio foi avaliada. Um planejamento experimental definiu oito conjuntos de lisímetros em triplicata. A aplicação de ozônio nos lisímetros ocorreu nos intervalos de coleta de percolado, por uma hora a cada quatro dias. Observou-se decréscimo no ph ao longo do período monitorado e lixiviação de metais em todos os conjuntos experimentais com o decorrer das aplicações. Análises pela técnica de número mais provável mostraram que os microrganismos foram reduzidos em 10 vezes no período em que foi realizada aplicação de ozônio. O ozônio teve destaque neste trabalho pela oxidação do estéril para controle da liberação pelo mesmo de íons metálicos solubilizados, e por apresentar maior significância dentre os fatores testados. PALAVRAS-CHAVE: ozônio; estéril de mineração; drenagem ácida de mineração; controle microbiológico. ABSTRACT Among the long-term impacts caused by mining activity, most relevant is the generation of acid mine drainage (AMD). It is the result of natural oxidation of sulphide minerals when exposed to the combined action of water and oxygen and can be greatly accelerated by microbial action. The concentration of ferric ions in solution is ph dependent and also depends on the actions of two types of microorganisms: iron oxidants and sulfate reducers. One way to control the production of DAM is to establish a microbiological control. For it, ozone was applied in sterile coal mining, with the goal of using the high oxidation potential of this gas in

Feltrin, A.C.; Gomes, T.; Cardoso, W.A.; Angioletto, Ev.; Menasce, S.; Lage Filho, F.A.; Boscov, M.E.G.; Biazini Filho, F.L.; Angioletto, E. the elimination of microorganisms which catalyze the reactions that generate sulfuric acid from the sulfur minerals. The influence of the presence of microorganisms iron oxidants and sulfate reducers combined with ozone application was evaluated. An experimental planning led to eight sets of lysimeters in triplicate. The application of ozone in the lysimeters occurred in the intervals for leachate collection, for one hour every four days. A decrease in ph was observed over the monitoring period as well as the leaching of metals in all sets as the ozone applications proceeded. Analyzes by means of the most probable number technique showed that the target microorganisms were reduced by 10 times in the period with ozone application. Ozone was our focus in this work because of its oxidizing action of mining wastes in the control of solubilized metal ion release from the same release of solubilized metal ions, and also because of its greater relevance among all the tested factors. KEYWORDS: ozone; sterile mining; acid drainage mining; microbiological control.

1. INTRODUÇÃO XXVI Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015 A enorme demanda de recursos minerais exercida pela economia internacional resultou em sérios problemas ambientais nas últimas décadas. A drenagem ácida de mina (DAM) é conhecida como um dos maiores problemas ambientais encontrados em atividades de mineração (Johnson, B.D., 2005). A geração da DAM é um processo que ocorre naturalmente a partir da oxidação do enxofre em sulfetos e que conduz à produção de acidez e sulfato de ferro, sempre que água e oxigênio entram em contato com os resíduos de mineração (Campaner V.P., 2009). No contato com este efluente ocorre a solubilização de diversos metais, tais como ferro e manganês. Outro problema grave é a ocorrência natural de microrganismos do tipo ferroxidantes, tais como o acidithiobacillus ferroxidans, que pode acelerar muito a geração de DAM, pois seu metabolismo inclui a oxidação do íon ferroso, fazendo com que a velocidade do processo seja muito aumentada em relação à velocidade em condições abióticas (Akcil, A.,2006). O tratamento químico da DAM, além de ser dispendioso, por envolver a correção de ph e precipitação de metais dissolvidos, gera uma grande quantidade de lama. Uma alternativa tem sido a utilização de microrganismos do tipo sulfato redutores para a remoção de metais e sulfato da DAM. Em condições anaeróbias, bactérias sulfato redutoras realizam o caminho inverso da produção de DAM, reduzindo sulfato a sulfeto, que tem baixa solubilidade em água (Kalin M., 2001). Uma dificuldade, no entanto, é que o potencial hidrogeniônico é baixo para o crescimento deste tipo de microrganismo, havendo necessidade de elevação do ph antes do tratamento microbiológico, o que acarreta grande consumo de compostos alcalinizantes. Por outro lado, a oxidação química in situ tem sido utilizada para remediar solos contaminados, porque os subprodutos são frequentemente inofensivos e a eficiência de remoção é elevada, caso o oxidante seja aplicado de maneira correta, em condições paramétricas adequadas e com potencial oxidativo elevado. Para realizar este serviço o ozônio se destaca por ser um gás com elevado potencial oxidativo, que ao se decompor forma oxigênio, e que pode ser produzido no local da aplicação, utilizando o ar ambiente e energia elétrica (Siegrist, R.L., 2011; Johnson, B.D., 2005). Além disso, o ozônio exibe excelente ação antimicrobiana, podendo ser utilizado inclusive na desinfecção de microrganismos tais como bacilos resistentes. Desta forma surge como alternativa tecnológica a aplicação deste oxidante, com o intuito de eliminar bacilos ferroxidantes para mitigar a geração de DAM, uma vez que, esterilizado o material de mineração, deve ocorrer grande diminuição na produção de acidez, o que leva a uma quantidade bem menor de metais solubilizados. Como ferramenta biológica ainda, microrganismos sulfato redutores podem atuar, minimizando o impacto da oxidação natural de sulfetos. O objetivo deste trabalho foi avaliar um sistema alternativo inovador para prevenção da geração de DAM que busca: (1) eliminação de bacilos ferroxidantes por meio de injeção com configuração adequada de ozônio diretamente no estéril de mineração de carvão, (2) adição de microrganismos sulfato redutores para mitigar o impacto da formação de acidez, e (3) estudar se a injeção de ozônio e/ou a presença de ferroxidantes aceleram o processo de tal forma a reduzir substancialmente o tempo necessário à reação completa dos materiais sulfurosos presentes no estéril. Como o caráter oxidante do ozônio em presença de água pode desencadear a solubilização

Feltrin, A.C.; Gomes, T.; Cardoso, W.A.; Angioletto, Ev.; Menasce, S.; Lage Filho, F.A.; Boscov, M.E.G.; Biazini Filho, F.L.; Angioletto, E. de metais, aumentando a toxicidade do efluente, ou atuar preferencialmente na desinfecção de microrganismos sulfato redutores, foi desenvolvido um planejamento experimental para avaliar o tratamento preventivo com maior eficácia. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Planejamento experimental Com base nos projetos desenvolvidos pelo Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense (IPAT/UNESC) no período 2002-2013, e de trabalhos apresentados na literatura, em especial os que referenciam tratamento químico in situ, foi fixada a metodologia para avaliar os efeitos da aplicação de ozônio e de microrganismos ferroxidantes e sulfato redutores visando a mitigação da geração de acidez liberada dos estéreis da mineração de carvão ou ainda, no outro extremo a oxidação acelerada de íons metálicos. Para avaliar a influência das condições: microrganismo ferroxidante (TF), microrganismo sulfato redutor (SR) e ozônio (O3), foi realizado um planejamento fatorial, em dois níveis (Sim e Não) e em triplicata, como mostra a Tabela 1. Ao todo, 24 colunas (lisímetros) de 0,3 metros de diâmetro e 1,2 metros de altura foram preenchidas com estéril de mineração, reproduzindo as mesmas condições físicas de campo. A rotina experimental foi realizada simultaneamente para cada triplicata. Tabela 1. Planejamento experimental para investigação das condições abordadas neste trabalho. Aplicação TF Aplicação SR Aplicação O 3 Triplicata 1 (Branco) Não Não Não Triplicata 2 Não Sim Não Triplicata 3 Sim Não Não Triplicata 4 Sim Não Sim Triplicata 5 Não Sim Sim Triplicata 6 Sim Sim Sim Triplicata 7 Não Não Sim Triplicata 8 Sim Sim Não A quantidade de água inserida nos lisímetros seguiu o índice pluviométrico médio anual da cidade de Criciúma, que é de 1637,48 mm.ano -1. A proposta foi de trabalhar com a aceleração da precipitação no tempo, e foi estipulado que o conteúdo de água de um ano fosse inserido em 120 dias. Esta aceleração resultou em vazão efetiva de água em cada tubo de 0,0283 m 3.mês -1. Esta precipitação artificial foi realizada em dias espaçados, por inserção direta de água. O efluente gerado foi coletado na parte inferior do lisímetro. 2.2. Estéril de mineração de carvão A amostra coletada foi do estéril de mineração de carvão na localidade de Rio Pio no município de Treviso, Santa Catarina. Devido à atividade de mineração, este sítio sofreu grande impacto ambiental ao longo dos anos. Determinaram-se as

XXVI Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015 características do solo: grau de compactação, densidade a seco e a umidade ótima. Outros parâmetros também foram mensurados: o ISC (Índice de Suporte Califórnia ou CBR Califórnia) e o índice de expansão, conforme a NBR 7182/86 e NBR 6459/84. Utilizou-se ainda Fluorescência de Raios-X (FRX) e Difração de Raios-X (DRX) para a caracterização química e mineralógica. Também foi realizada a quantificação dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) segundo o método EPA 8270D. As FRX foram realizadas em um equipamento modelo PW 2400 marca PHILIPS. Por meio das DRX, realizadas em um equipamento modelo Shimadzu XRD-6000 utilizando tubo de cobre com 30 ma de corrente e 30 kv de diferença de potencial, identificaram-se as fases por comparação de um perfil desconhecido com o conjunto de difração padrão coletado e mantido pelo Joint Committee on Powder Diffraction Standards (JCPDS). 2.3. Injeção de ozônio / inoculação dos microrganismos A sonda para a injeção de ozônio foi construída em tubo de aço com perfurações de 2 mm em aproximadamente 30% do comprimento total. O tempo de aplicação de ozônio foi uma hora. Os microrganismos foram inoculados nos lisímetros utilizando o mesmo dispositivo (Figura 1), sendo que para isso uma corrente de ar comprimido adjacente à sonda fez a pressurização. Figura 1. Dispositivo de inserção de ozônio / inoculação dos microrganismos. Para a avaliação do número de microrganismos no efluente gerado utilizou-se a técnica do Número Mais Provável (NMP) para o grupo de microrganismos sulfatoredutores (SR) e ferrooxidativas (TF). Para o preparo dos meios de cultura e crescimento e na contagem dos microrganismos e as condições para o ensaio de crescimento, seguiu-se o estabelecido na Norma vigente de 2012 (Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater). O efluente, também denominado percolado, foi caracterizado quanto à presença de metais por meio de equipamento de ICP-OAS/absorção atômica.

Feltrin, A.C.; Gomes, T.; Cardoso, W.A.; Angioletto, Ev.; Menasce, S.; Lage Filho, F.A.; Boscov, M.E.G.; Biazini Filho, F.L.; Angioletto, E. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Caracterização geotécnica do estéril A coleta e análise do estéril de mineração foram acompanhadas pela equipe de solos do Instituto de Engenharia e Tecnologia (IDT-UNESC) e a densidade em campo foi realizada no Rio Pio, no município de Treviso, SC (local da coleta). Os resultados das análises realizadas apontaram densidade seca máxima de 1.719 kg.m -3 e a umidade ótima de 16,1%. O ISC (Índice de Suporte Califórnia ou CBR Califórnia) apresentou valores percentuais de 7,6%, e o índice de expansão de 0,80%. Essa caracterização serviu para balizar o grau de compactação do estéril nos 8 conjuntos de lisímetros. 3.2. Caracterização química do estéril A Tabela 2 apresenta a composição química obtida por fluorescência de raios-x. Tabela 2. Composição química do estéril de mineração de carvão realizada por fluorescência de raios-x. Composto Teor (%) Composto Teor (%) Al2O3 114,16 B2O3 - CaO 05< 0,05 Li2O - Fe2O3 2,88 BaO - K2O 72 1,72 Co2O3 - MgO 40 0,40 Cr2O3 - MnO < 0,05 PbO - Na2O 14 0,145 SrO - P2O5 < 0,05 ZnO - SiO2 5572,55 ZrO2+HfO2 - TiO2 73 0,73 Perda Fogo 7,37 Os resultados apresentados na Tabela 2 são compatíveis com a composição típica dos solos da região (Embrapa,1998). Entretanto, chamam a atenção os fatos de que não se observou a presença de enxofre e o baixo teor de ferro, o que indica uma baixa concentração de pirita. Contudo, o teor de alumínio é alto e pode desencadear acidez. Outras análises apontaram ph em torno de 3, indicando um potencial de acidez que está além do esperado quando se observa o teor de enxofre. 3.3. Caracterização mineralógica do estéril A Figura 2 é o difratograma de raios-x de uma amostra de estéril de mineração. Foram identificados os picos correspondentes ao quartzo, a fase caulinita e uma pequena presença de ilita. Essas fases justificam a presença do alumínio na análise química.

XXVI Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015 Figura 2. Difratograma de raios-x do estéril de mineração de carvão. 3.4. Caracterização quanto à presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) no estéril Os resultados relativos à presença dos HPAs apontaram inicialmente no estéril concentrações de fenantreno (303 mg.kgestéril -1 ) e criseno (118 mg.kgestéril -1 ) em base seca. Após quatro aplicações de ozônio, esses valores caíram abaixo dos limites detectáveis em todos os conjuntos. Sabe-se que o ozônio é efetivo na oxidação/eliminação de compostos aromáticos, e esse resultado já era esperado nos conjuntos onde o ozônio estava sendo aplicado. Entretanto, para os conjuntos onde o mesmo não estava sendo aplicado, o esperado era que esse nível se mantivesse ou ainda se elevasse. Assim, conclui-se que outros fatores atuaram no sentido de atenuar a presença de HPAs, tais como o ciclo pluviométrico acelerado. 3.5. Caracterização quanto à presença de TF e SR no estéril A análise dos microrganismos presentes mostrou que havia inicialmente no estéril uma maior concentração de sulfato redutores (12.10 2 NMP.mL -1 ) em comparação aos ferro oxidantes (2.10 2 NMP.mL -1 ). Com o decorrer do tempo, essa concentração variou com as leituras; entretanto, de forma geral ocorreu uma diminuição da ordem de 10 vezes nas concentrações de ambos os microrganismos (TF e SR). 3.6. Caracterização quanto à presença de metais no percolado Neste trabalho constatou-se que os teores de metais solubilizados em geral permaneceram constantes ao longo do tempo. O manganês, entretanto, sofreu alterações e em diversos conjuntos apresentou aumento na quantidade solúvel. A Figura 3 ilustra a concentração do manganês ao longo do tempo. O intervalo monitorado foi de 21 dias, obedecendo ao ciclo biológico médio de ambos os microrganismos. Percebe-se nos conjuntos de lisímetros que utilizaram ozônio a tendência de aumento de manganês no percolado.

Feltrin, A.C.; Gomes, T.; Cardoso, W.A.; Angioletto, Ev.; Menasce, S.; Lage Filho, F.A.; Boscov, M.E.G.; Biazini Filho, F.L.; Angioletto, E. Figura 3. Evolução da concentração de manganês no percolado ao longo do período monitorado. 3.7. Tendência para a formação de acidez A Figura 4 ilustra o diagrama de Pourbaix para os conjuntos experimentais, avaliado aos 168 dias de monitoramento. É possível observar a tendência para a formação de drenagem ácida de mineração (DAM). Essa análise leva em consideração o ph e o Eh, além de espécies minerais contendo ferro, enxofre, hidrogênio e oxigênio. Ao longo do tempo somente dois dos oito conjuntos experimentais (Branco e SR), apresentaram uma tendência para sair da região formadora de DAM. Assim pode-se inferir que o conjunto de lisímetros que apresentou propensão para minimizar a formação de DAM é aquele onde os microrganismos sulfato redutores foram inoculados. A precipitação pluviométrica acelerada pode ter causado a tendência observada no branco de sair da região formadora de DAM. Figura 4. Diagrama de Pourbaix (tendência para formação de acidez) para o percolado dos conjuntos experimentais, aos 168 dias de avaliação.

4. CONCLUSÕES XXVI Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa Poços de Caldas-MG, 18 a 22 de Outubro 2015 Os resultados obtidos levaram às seguintes conclusões: a) Quando não ocorre aplicação de nenhum microrganismo nem aplicação de ozônio (branco), a tendência de formação de DAM diminui com o tempo; b) Os conjuntos com microrganismos sulfato redutores, tanto com a aplicação como sem aplicação de ozônio, tenderam a sair da zona de formação de DAM; c) Os demais conjuntos não demonstraram tendência que sinalizasse possível saída da região formadora de DAM no tempo de monitoramento (168 dias); d) Experimentos exploratórios (independentes dos conjuntos) demonstraram que a aplicação de ozônio por uma hora foi o suficiente para que os NMP de ambas as espécies de microrganismos caíssem para abaixo do limite de detecção; e) Contrariando o esperado dos experimentos exploratórios, não se observou uma tendência clara para a eliminação dos microrganismos com a aplicação do ozônio nos conjuntos. 5. AGRADECIMENTOS Ao BNDES pelo apoio financeiro e à Brasil Ozônio pela orientação e apoio tecnológico. 6. REFERÊNCIAS Akcil, A., Koldas, S. Acid Mine Drainage (AMD): causes, treatment and case studies. Journal of Cleaner Production 14 (2006) 1139 e 1145. Campaner, V.P. e Luiz-Silva, W. Processos físico-químicos em drenagem ácida de mina em mineração de carvão no sul do Brasil. Quim. Nova, Vol. 32, No. 1, 146-152, 2009. EMBRAPA. Levantamento de reconhecimento dos solos do estado de Santa Catarina. 1998/99. Rio de Janeiro: 1998. 735p. Johnson B.D., Hallberg, K.B., Acid mine drainage remediation options: a review, Science of the Total Environment 338 (2005) 3 14. Kalin M, Chaves W.L.C. Acid reduction using microbiology (ARUM) treating AMD effluent emerging from an abandoned mine portal. In: Ciminelli VST, Garcia Jr O, editors. Biohydrometallurgy: Fundamentals, Technology and Sustainable Development, vol. 11B. Amsterdam7 Elsevier; 2001. p. 289 96.

Feltrin, A.C.; Gomes, T.; Cardoso, W.A.; Angioletto, Ev.; Menasce, S.; Lage Filho, F.A.; Boscov, M.E.G.; Biazini Filho, F.L.; Angioletto, E. NBR 7182/86 Solo: Ensaio de compactação Procedimento. NBR 6459/84 - Determinação do limite de liquidez e limite de plasticidade dos solos- Procedimento. Siegrist, R.L., Crimi, M., Simpkin, T.J., In Situ Chemical Oxidation for Groundwater Remediation. Springer New York, 2011.