MITOS E VERDADES NOS BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE
CINDY FERNANDES GOUVEIA Advogada, especialista em Direito Previdenciário e Direito do Trabalho, militante na seara Previdenciária Empresarial/ Segurado. Cindy Fernandes Gouveia PREVITUBE Cindy Fernandes E-mail: cindy@fgsadv.com.br
BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE Auxílio- Doença Aposentadoria por Invalidez Auxílio- Acidente Comum (B31) Acidentário (B91) Comum (B32) Acidentária (B92) Comum (B36) Acidentário (B94)
DA PREVISÃO CONSTITUCIONAL Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
AUXÍLIO-DOENÇA Lei 8.213/91: Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ Lei 8.213/91: Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.
AUXÍLIO- ACIDENTE Lei 8.213/91: Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.
1) SE EU TENHO UMA DOENÇA, TENHO DIREITO AO AUXÍLIO-DOENÇA.
Apesar do texto constitucional trazer a proteção à doença, o que se protege na verdade é a incapacidade para o trabalho. A Organização Mundial da Saúde conceitua incapacidade nos seguintes termos: Qualquer redução ou falta (resultante de uma deficiência ou disfunção) da capacidade para realizar uma atividade de maneira considerada normal para o ser humano, ou que esteja dentro do espectro considerado normal.
2) ALGUMAS DOENÇAS ISENTAM DA CARÊNCIA.
Lei 8.213/91: Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art. 26, independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez ao segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida (aids) ou contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.
3) APOSENTADORIA POR INVALIDEZ É PARA SEMPRE.
Não! O INSS sempre teve a possibilidade de fazer uma revisão dos benefícios de aposentadoria por invalidez, que deveria perdurar enquanto houvesse a incapacidade/insuscetibilidade de reabilitação profissional. É o que vem acontecendo através da chamada operação pente fino.
Existem dois casos de isenção da perícia médica: Artigo 101 da Lei 8.213/91: Art. 101. O segurado em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e o pensionista inválido estão obrigados, sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da Previdência Social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado, e tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos. 1 o O aposentado por invalidez e o pensionista inválido que não tenham retornado à atividade estarão isentos do exame de que trata o caput deste artigo: I - após completarem cinquenta e cinco anos ou mais de idade e quando decorridos quinze anos da data da concessão da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a precedeu; ou II - após completarem sessenta anos de idade.
4) AUXÍLIO-ACIDENTE NÃO PERMITE O RETORNO AO TRABALHO.
Auxílio-Acidente é benefício que tem caráter indenizatório, em virtude da sequela que vai reduzir sua capacidade para o trabalho, podendo o segurado retornar ao trabalho.
5) QUALQUER ACIDENTE DE TRABALHO GERA ESTABILIDADE.
Para que gere estabilidade é necessária a concessão de benefício de auxílio-doença acidentário. Artigo 118 da Lei 8.213/91: Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente.
Súmula nº 378 do TST ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE DO TRABALHO. ART. 118 DA LEI Nº 8.213/1991. (inserido item III) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012 I - É constitucional o artigo 118 da Lei nº 8.213/1991 que assegura o direito à estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-doença ao empregado acidentado. (ex-oj nº 105 da SBDI-1 - inserida em 01.10.1997) II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade com a execução do contrato de emprego. (primeira parte - ex-oj nº 230 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001) III III - O empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determinado goza da garantia provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho prevista no n no art. 118 da Lei nº 8.213/91.
6) SEMPRE É NECESSÁRIO AUXÍLIO-DOENÇA ANTES DO AUXÍLIO-ACIDENTE.
Não! O auxílio-acidente é devido após a consolidação das lesões, independentemente da percepção de auxíliodoença. Ex.: auxílio- acidente por perda auditiva.
7) AUXÍLIO-ACIDENTE É SÓ PARA ACIDENTES DE TRABALHO.
Não! Lei 8.213/91: Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.
8) NO LIMBO JURÍDICO NÃO PRECISA VOLTAR AO TRABALHO.
Precisa! Ou pelo menos justificar o motivo pelo qual está deixando de retornar, sob pena de abandono de emprego. Súmula nº 32 do TST ABANDONO DE EMPREGO (nova redação) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 Presume-se o abandono de emprego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a cessação do benefício previdenciário nem justificar o motivo de não o fazer.
9) GRAVIDEZ SÓ GERA SALÁRIO-MATERNIDADE.
Depende. Lei 8.213/91: Art. 71. O salário-maternidade é devido à segurada da Previdência Social, durante 120 (cento e vinte) dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e a data de ocorrência deste, observadas as situações e condições previstas na legislação no que concerne à proteção à maternidade. Antes disto, é concedido auxílio-doença.
10) TODAS AS AÇÕES DE BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE SÃO NA JUSTIÇA FEDERAL.
Não. Constituição Federal: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
11) APOSENTADORIA POR INVALIDEZ CESSA DE UMA VEZ.
Depende. Lei 8.213/91: Art. 47. Verificada a recuperação da capacidade de trabalho do aposentado por invalidez, será observado o seguinte procedimento: I - quando a recuperação ocorrer dentro de 5 (cinco) anos, contados da data do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem interrupção, o benefício cessará: a) de imediato, para o segurado empregado que tiver direito a retornar à função que desempenhava na empresa quando se aposentou, na forma da legislação trabalhista, valendo como documento, para tal fim, o certificado de capacidade fornecido pela Previdência Social; ou
II - quando a recuperação for parcial, ou ocorrer após o período do inciso I, ou ainda quando o segurado for declarado apto para o exercício de trabalho diverso do qual habitualmente exercia, a aposentadoria será mantida, sem prejuízo da volta à atividade: a) no seu valor integral, durante 6 (seis) meses contados da data em que for verificada a recuperação da capacidade; b) com redução de 50% (cinqüenta por cento), no período seguinte de 6 (seis) meses; c) com redução de 75% (setenta e cinco por cento), também por igual período de 6 (seis) meses, ao término do qual cessará definitivamente.
12) A EMPRESA SEMPRE PAGA OS 15 DIAS ANTES DO AUXÍLIO-DOENÇA.
Depende. Decreto 3.048/99: Art. 75. Durante os primeiros quinze dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário. 3º Se concedido novo benefício decorrente da mesma doença dentro de sessenta dias contados da cessação do benefício anterior, a empresa fica desobrigada do pagamento relativo aos quinze primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o benefício anterior e descontando-se os dias trabalhados, se for o caso. 4 o Se o segurado empregado, por motivo de doença, afastar-se do trabalho durante quinze dias, retornando à atividade no décimo sexto dia, e se dela voltar a se afastar dentro de sessenta dias desse retorno, em decorrência da mesma doença, fará jus ao auxílio doença a partir da data do novo afastamento. (Redação dada pelo Decreto nº 5.545, de 2005) 5º Na hipótese do 4º, se o retorno à atividade tiver ocorrido antes de quinze dias do afastamento, o segurado fará jus ao auxíliodoença a partir do dia seguinte ao que completar aquele período.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS