ESPECIAL ABCFARMA SETEMBRO/2018 DENTE POR DENTE, SINAL DE SAÚDE NA TERCEIRA IDADE Dá para engolir? Capa_Senior SETEMBRO_18.indd 1 24/08/2018 09:44:04
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Dentes saudáveis são essenciais para a mastigação e a deglutição eficazes - e, portanto, para uma boa nutrição. Por isso, embora nossos dentes sejam mostrados quando sorrimos, eles têm uma função muito além da estética. E, depois de décadas comendo, bebendo, mastigando e escovando todos os dias, é natural que haja depreciação dos dentes com a idade. Mas o desgaste radical da dentição, recomendando o uso de dentaduras, pode ser evitado Sim, com a idade os dentes se tornam fracos e frágeis e o recuo das gengivas faz com que eles fiquem suscetíveis a doenças periodontais. E à queda. Sem dúvida, os idosos são, muitas vezes, incapazes de cuidar adequadamente de seus dentes devido à fraqueza geral ou problemas como a artrite o que dificulta ficar por muito tempo na frente da pia, escovando e passando fio dental. Bactérias na cavidade oral podem aderir à película dos dentes, formando uma placa incolor sobre eles. Essa placa, que não é removida por escovação e fio dental, endurece e forma uma espécie de cálculo dental. A remoção por escovação é difícil e requer limpeza por um dentista. Às vezes, os idosos são relutantes ou incapazes de relatar seus problemas dentais ao dentista. Eles podem até mesmo ignorar esses problemas por causa de outros problemas mais graves de saúde. Nesses casos, é essencial que os membros da família prestem atenção aos dentes cuja perda significa dificuldade para comer, levando à desnutrição. Vinte dentes: o mínimo As taxas de preservação dentária por parte dos idosos variam, no mundo, de 6% a 78%, mas, nos países industrializados, um número cada vez maior de idosos retém um número crescente de dentes. Para uma mastigação normal, um mínimo de 20 dentes tem sido sugerido desde a década de 1980. O problema é que, com a idade, diminui o número de vasos sanguíneos que irrigam os dentes levando a uma sensibilidade reduzida: o idoso pode não notar a queda de um dente, se for no fundo da boca. Mais: as glândulas salivares produzem menos saliva com o passar dos anos o que provoca secura da boca e dificuldade de mastigar, muitas vezes como resultado de medicações. Doenças crônicas comuns entre idosos, como diabetes, doenças cardiovasculares, hepáticas e gastrointestinais, também têm efeitos sobre a cavidade oral. A cárie avançada é uma grande ameaça para a perda dentária em idosos - representando até 60% das extrações. Como os pacientes mais maduros são mais propensos a visitar um médico do que um dentista, os médicos de cuidados primários têm a oportunidade de melhorar a saúde bucal nessa população avaliando os riscos para a saúde bucal e encaminhando pacientes a um dentista, se necessário. A Odontologia Geriátrica ou Gerodôntica é uma especialidade cada vez mais importante, à medida que a população envelhece. Maior atenção, por parte dos profissionais de saúde, para o estado de saúde bucal de idosos também pode reduzir a prevalência de câncer da boca na população adulta mais madura. Um dos avanços do século 21 tem sido o reconhecimento da saúde bucal como parte essencial e integral da saúde sistêmica do idoso. Como manter os dentes com idade avançada O Dr. Marco Tulio Pettinato Pereira cirurgião- -dentista com especialização em Saúde da família dá aqui algumas orientações sobre os cuidados preventivos que devem ser estimulados na terceira idade, seja pelo próprio idoso, se houver condições, ou pelo cuidador. Uma afecção que ocorre com frequência com idosos é a doença periodontal, que acomete os tecidos em torno dos dentes e é quase sempre indolor. Devido a isso, quando se percebe a presença da doença periodontal, já ocorreu uma significativa perda óssea nos dentes afetados. Ela tem como agente causador a placa bacteriana, que se acumula sobre as superfícies do esmalte dentário e no sulco gengival e isso vai formar o tártaro com o passar do tempo. 35
A prevenção da doença periodontal, assim como da cárie dentária, é feita através da remoção eficiente da placa bacteriana a cada refeição. Em relação ao tipo de escova, esta deve ser individualizada, mas recomenda-se escova de textura macia, com cerdas planas (parte ativa sem curvatura). A frequência da escovação deve ser imediatamente ou até 30 minutos após a ingestão de alimentos. A escovação requer o emprego de técnicas adequadas, e no caso dos idosos que possuem boa coordenação motora, esta técnica é uma das mais recomendadas: a) Começar limpando as superfícies internas dos dentes inferiores (que ficam embaixo, no fundo da boca, do lado e na frente da língua). A escovação deve ser realizada segurando a escova verticalmente em um ângulo de 45 graus em direção à linha gengival com movimentos rítmicos suaves, para cima e para baixo, com a ponta da cabeça da escova. b) Depois, limpar as superfícies externas dos dentes inferiores, que ficam localizadas embaixo, ao lado das bochechas, e atrás do lábio inferior. Usar movimentos rítmicos suaves e curtos, movendo a escova para trás e para frente contra os dentes e a gengiva c) Em seguida, limpar as superfícies internas dos dentes superiores. Durante toda a escovação, nunca se esquecer dos dentes posteriores, que são os mais difíceis de alcançar, e para as áreas situadas ao redor de restaurações e coroas as mais sensíveis. d) Depois de limpar todas as superfícies internas e externas dos dentes, deve-se limpar as superfícies de mastigação tanto em cima como em baixo das arcadas dentárias, concentrando- -se na limpeza de cada setor da boca. No caso específico dos idosos, a escova interdental é muito mais eficiente e mais fácil de usar do que o fio dental e, portanto, é mais recomendada. Deve-se escovar também a língua, pois é um local onde muitas bactérias ficam alojadas e costumam ficar restos de alimentos. Nesse caso, o uso de limpador de plástico de língua, uma vez por dia, é extremamente importante para os idosos em geral. Enxaguar ajuda? Para terminar: para a grande maioria dos idosos dentados, os bochechos com enxaguatórios à base de flúor são os mais indicados, uma vez por dia, antes de dormir. Os enxaguatórios realizam uma função importante para idosos com problemas motores, como Mal de Parkinson e doença de Alzheimer, que não conseguem fazer uma escovação adequada. Nesse caso, um enxaguatório à base de Gluconato de Clorhexidina, após cada limpeza dos dentes, é muito importante. q 36
E special Sênior Dá para engolir? Inúmeros fatores alteram o funcionamento do sistema digestivo nos idosos - destacando-se os hábitos alimentares e a tensão emocional. Ao redor dos 50 anos, o estômago e os intestinos passam a produzir menos sucos digestivos, o que leva a uma diminuição na velocidade da digestão. Na terceira idade, o suco gástrico fica menos ácido e o esvaziamento do estômago, mais lento. Há diminuição de afluxo de sangue para todo o aparelho digestivo - e a movimentação do intestino diminui. Essas modificações levam a alterações na absorção de substâncias pelo aparelho digestivo o que se torna mais grave quando o idoso, como é comum, toma diversos remédios que podem se tornar mais tóxicos ou menos eficazes. Existem casos crônicos de gastrite comum em idosos devido ao uso constante de vários medicamentos que irritam o estômago. Por isso, nesses casos, deve-se fazer o uso de remédios protetores gástricos associados. 38
A mudança do hábito intestinal é o mais significativo sintoma da doença gástrica no idoso. O aspecto das fezes, com a presença ou não de sangue, é algo que deve ser considerado. Fezes de cor preta como borra de café (melena) sugerem sangramento localizado em nível do estômago, e a presença de sangue vivo (enterorragia) indica sangramento em níveis baixos, como reto e ânus. Além da mudança de hábito intestinal, outros sintomas digestivos devem ser destacados na terceira idade como a disfagia (dificuldade de engolir), azia, flatulência (produção de gases), diarreia, vômito, constipação (prisão de ventre), cólicas abdominais, obstrução intestinal, incontinência fecal e hemorragia digestiva. No esôfago, as principais doenças que ocorrem na terceira idade são a esofagite, a hérnia de hiato e o câncer. No estômago, a gastrite, a úlcera e o câncer. No intestino, as principais doenças são infecções intestinais, colite, diverticulite e câncer. O câncer de intestino grosso é muito frequente - sendo um dos tumores mais comuns entre os homens. Tanto o esôfago como o estômago tem na endoscopia o seu principal meio de diagnóstico. A radiologia simples do abdômen e a radiologia com contraste das porções finais do intestino são os principais exames radiológicos dos intestinos. Para quadros mais complexos, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética. A colonoscopia permite a visualização das porções inferiores do intestino (cólon e reto) e são fundamentais no diagnóstico do câncer intestinal. Para prevenir De acordo com a gastroenterologista do Hospital Moriah, Dra. Nilma Ruffeil, a medida mais básica de prevenção é ingerir bastante água, durante o dia todo, o que ajuda muito a regularizar o funcionamento intestinal. Nos casos de refluxo gastroesofágico, a mudança de hábito alimentar é o principal elemento para o controle da doença. Nada de jejuns longos. O ideal é uma dieta fracionada, com pequenas porções a cada três ou quatro horas. Mastigar bem os alimentos, comer devagar e não beber junto com a refeição são outras recomendações importantes, além de não se deitar imediatamente após a refeição. Aliás, uma dieta bem saudável, fracionada em pequenas porções, favorece também a perda de peso, que, em si, já colabora para evitar ou controlar duas outras doenças: a esteatose hepática (o aumento da gordura do fígado) e a obesidade. Isso aliado sempre à atividade física. q ESPECIAL SENIOR 325.indd 6 39 24/08/2018 09:47:15