Entre a Tradição e a Invenção: Como nos tornamos analistas? Tradição e Invenção na Formação Analítica



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Transcrição:

Entre a Tradição e a Invenção: Como nos tornamos analistas? Tradição e Invenção na Formação Analítica Sousa, Nyvia; Teruchkin, Betina; Tomasel, Elena; Wiehe, Iara; Meyer, Laura; Secco, Luciana; Tiago, Crestana A partir da proposta do Congresso da FEPAL-2012, Invenção e Tradição, constituímos um grupo de Membros Aspirantes da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA), com a finalidade de realizarmos um trabalho sobre o assunto. Além de estarmos vivenciando intensamente este momento da formação em nossas carreiras analíticas, a curiosidade científica sobre os temas foi a demanda inicial que nos mobilizou ao estudo e à escrita. Refletiremos inicialmente sobre possíveis semelhanças e/ou diferenças presentes nos termos Inovação e Invenção, que seguidamente nos confundiam ao referirmos ao tema do Congresso. Questionamos a possibilidade de inventar/inovar, a partir da Tradição, na formação analítica vigente para, na seqüência, imaginarmos o futuro da mesma. Portanto, centramos nossa questão mais especificamente em compreender como nós, atuais analistas em formação, transitamos através deste legado da Tradição, em direção à Invenção do que está por vir. O Legado da Tradição na Formação Analítica A Psicanálise surgiu a partir da Invenção de Sigmund Freud, rompendo com a Tradição da época. Ao mesmo tempo em que se manteve, como não poderia deixar de ser, um produto de distintas tradições, como a científica, inserida na atmosfera cultural e religiosa de seu tempo (Eizirik, 2011). Necessitando de adeptos para dar seguimento as suas descobertas, pois a luta ainda não havia terminado, Freud logo se deparou com a questão da formação de novos analistas, que dariam seguimento ao legado da Tradição por ele inventada. Em 1910, Freud, ao ser questionado a respeito de como alguém pode se tornar analista, respondeu que seria através da análise dos próprios sonhos. Em 1912, ao elogiar a Escola de Zurique, ressaltou a ênfase dada nesta instituição à análise pessoal do candidato por outro analista com maior conhecimento teórico, como pré-requisito à formação. Em Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912), advertiu sobre a importância da individualidade de cada terapeuta e destacou a atenção flutuante, a associação livre e os princípios éticos na prática da psicanálise, elegendo a abstinência e a neutralidade como condições fundamentais para o exercício desta profissão. Tradição fundamental que se mantém até hoje. 1

A sistematização da formação psicanalítica iniciou em 1920, através do trabalho desenvolvido no Instituto Psicanalítico de Berlim, sendo oficializada como modelo da Associação Psicanalítica Internacional (IPA) no Congresso de Bad-Hamburg em 1925. A padronização compreende a análise didática, o ensino teórico e o trabalho clínico supervisionado, o denominado tripé analítico. Atualmente a IPA reconhece três modelos de formação: o Modelo Eitington, utilizado na maior parte das formações (inclusive em nosso instituto), o Modelo Francês e o Modelo Misto, aplicado na Associação Psicanalítica do Uruguai (APU). Estes modelos diferem entre si de acordo com a ênfase que a instituição dá para cada um dos vértices que formam o tripé analítico. Eizirik (2011), referindo-se ao funcionamento das instituições psicanalíticas, chama a atenção para a importância da Tradição na formação. Alerta para o fato de que esta pode também ser um instrumento para o controle, o conservadorismo e a castração de novas iniciativas, idéias e participação ativa dos jovens analistas. Ressalta que a divisão estanque em categorias de membros, currículos rígidos, dificuldades impostas para a progressão na carreira analítica e obediência acrítica aos padrões internacionais foram alguns dos piores aspectos de uma Tradição semelhante aos regimes ditatoriais, contribuindo para destruir a criatividade. Um quantum de Invenção na Formação Analítica No que consiste o termo Invenção? Conforme o dicionário Aurélio é o ato, faculdade, processo ou efeito de inventar. Imaginação produtiva ou criadora, capacidade criativa, descoberta ou criação (decorrente do estudo ou experimento) de alguma coisa (concreta ou abstrata). Faculdade de criar, de conceber algo novo ou de pôr em pratica, de executar uma idéia, uma concepção; criação. Enquanto que Inovação é o ato ou efeito de inovar. Novidade. Observamos ao longo da realização deste trabalho que confundíamos inúmeras vezes os termos Invenção e Inovação. Afinal, a partir da descoberta inicial de Freud, o que veio após pode ser chamado de Invenção ou trata-se de Inovação, variações sobre o mesmo tema? Constatamos que a semelhança dos termos pode ser ambígua. A partir disso, supomos que resistências possam surgir em resposta ao novo. Nossa confusão de conceitos poderia refletir uma resistência em pensarmos o novo, questionando a Tradição, legado transmitido a nós através de nossos analistas, professores e supervisores? Ferenczi (1928), um dos pioneiros a destacar a importância da pessoa do analista no processo, ressaltou o efeito terapêutico da análise deste. Esse é um exemplo que ilustra como novas idéias podem ser inicialmente rechaçadas e somente a posteriori aceitas e ampliadas. Inovações importantes surgiram ao longo do tempo. A ampliação do conceito de contratransferência, a partir dos trabalhos de Heimann e Racker e a teorização a respeito do campo analítico dos Baranger, apenas para citarmos alguns exemplos, nos direcionam ao 2

reconhecimento atual da relação entre analista e paciente como algo mais do que a soma dos atributos de cada um dos objetos. Estas modificações paradigmáticas na teoria da técnica psicanalítica resultam em um impacto de proporções significativas na nossa formação, especialmente em um Instituto que proporciona a pluralidade de idéias dentro da formação. É na vida institucional, seja científica, representativa ou social, que nos deparamos com o maior choque de ideias, costumes, tradições e modismos. Esse fato nos parece imprescindível, mas também demanda auto-conhecimento e crescimento pessoal, para que possamos tirar proveito da diversidade. Inovar, inventar podem ser sinônimos de transgredir. Se isso não acontecer, corremos o risco de destruir o potencial criativo, matéria prima preciosa na nossa formação. Portanto, ficamos com a descrição de Piera Aulagnier (1990), a respeito do tema, a saber: A transgressão, na acepção que lhe damos fora do registro perverso ou psicótico, é o movimento que leva o sujeito a ultrapassar o sabido : o que ele transgride é uma verdade até então colocada como lei sagrada e como garantia de um saber. Agindo assim, destitui o saber vigente em nome de uma verdade in status nascendi que por sua vez retomará a função esperando um novo transgressor... A trangressão deve ser concebida como aquilo que, nesse movimento, vem representar os pontos de virada. (p.64-5) É desta Invenção - transgressão - que queremos falar. Aquela que é criadora e criativa em si mesma. Para cada novo candidato que ingressa em um Instituto, cada novo par analista/analisando que se forma, a partir deste encontro sui generis, toda Tradição é novamente transmitida e renovada. Por isso é também crucial termos em mente a importância da individualidade de cada analista. Além disso, acreditamos que para haver a experiência emocional verdadeira, que concebemos como o protótipo do encontro analítico, os participantes deste processo enfrentarão o sofrimento de sua dor emocional, que é especifica e única. O analista, tal qual o concebemos na atualidade, precisa estar ali sendo e tornando-se e não apenas compreendendo (Luz, 2011). No impacto deste encontro do analista com seu paciente, do candidato com seus professores e supervisores, ou mesmo com o método psicanalítico é que reside um quantum de Invenção, de inovação, de transgressão, como quisermos chamar, necessários para a formação de um novo analista. Para Gabbard e Ogden (2011) poucos de nós sabemos o que estamos fazendo ao terminar a formação psicanalítica. Daí a necessidade de buscarmos um estilo próprio, respeitando a singularidade da nossa personalidade. Estes autores ressaltam que a maturidade do analista teria muito em comum com o desenvolvimento psíquico do mesmo, ambos construídos arduamente ao longo da formação analítica. O desenvolvimento de um estilo analítico autêntico 3

faria parte do esforço trabalhoso para com o tempo largar as correntes da ortodoxia, da tradição e das nossas proibições irracionais inconscientes. Tornar-se analista envolve, necessariamente, criar uma identidade muito pessoal, diferente da de qualquer outro analista. O que está por vir? Entre a Tradição e a Invenção, o Futuro da Formação Psicanalítica Freud criou a Psicanálise sob a influência do Positivismo, que exigia pragmatismo e disciplina metódica. Também naquela época a Física Newtoniana era o paradigma do método científico, caracteristicamente analítico, experimental e reproduzível. Nesta atmosfera cultural e científica da época, Freud buscava desvendar algo, um segredo escondido nos confins da mente, assim como uma relação direta de causa-efeito (Teruchkin, 2011). Atualmente a Física Newtoniana deu lugar à Física Quântica e ao relativismo que ela carrega. Nesse clima a psicanálise evoluiu. O analista não detém o saber, ele faz parte de uma relação que vai construir algo novo, nos meandros do binômio transferência-contratransferência (Teruchkin, 2011). Sabemos que em função de tantas mudanças também a vida psíquica sofre alterações e distorções. Neste hiato de entendimento surge o nosso interesse quanto ao futuro da formação psicanalítica. Acreditamos que essa evolução é possível dentro de um espaço potencial, onde a Invenção é permitida, desde que ancorada na Tradição, não como algo estanque, mas sim como matéria prima, para que surja o novo. Nosso objetivo não é dar respostas, mas criar um espaço onde possamos questionar o futuro da nossa formação, considerando a Tradição e incorporando as mudanças que vêm ocorrendo. Consideramos importante ampliar o tripé da formação analítica, incluindo um quarto vértice, a maior participação do candidato na vida institucional. Questionamos, ainda, de que forma serão incluídas na formação, a invasão do processo analítico pelas novas tecnologias, que incidem sobre as formas de comunicação na atualidade. E a questão da frequência e duração do processo analítico, no mundo atual, onde a rapidez é a palavra de ordem? Ou ainda com o que trabalharemos em uma cultura onde a leitura é substituída pelas imagens, que dificultam a criatividade dando menos espaço para o imaginário? Como propõe Viñar (2011), precisamos pensar sobre isto. Resumo Movidos pela pulsão epistemofílica, buscando conhecer e nos reconhecer na história daqueles que hoje nos ensinam, nos supervisionam e nos analisam iniciamos este trabalho. Desenvolvemos, a partir disso, um modo de refletir nossa formação atual e, quem sabe, antever 4

possíveis equívocos e aprisionamentos no turbulento percurso por nós escolhido. Conhecer e reconhecer o passado, para vivendo o presente, ampliar o futuro. Em outras palavras, como nos tornamos analistas, entre a Tradição e a Invenção? Bibliografia AULAGNIER, P (1968). Como podemos não ser persas? Reflexões a propósito do ensino. In: Aulagnier, P. Um interprete em busca de sentido I. São Paulo: Escuta, 1990, p. 39-57. FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Lingua Portuguesa. 2ª ed. Revista e aumentada. Nova Fronteira, 1986. EIZIRIK, C.L. Tradição - Invenção em Psicanálise. FEPAL, 2011. FERENCZI, S. (1928). A Elasticidade da técnica Psicanalítica. In: Ferenczi, S. Obras Completas: Psicanálise. v. 4. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 25-36. FREUD, S. (1910). Cinco Lições de Psicanálise: Terceira Lição. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 11. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 29-37.. (1912). Recomendações aos médicos que exercem a Psicanálise. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 149-59. GABBARD, O. G. & OGDEN T. H. Tornar-se Psicanalista. Livro Anual de Psicanálise. Tomo XXV, p.117-130, 2011. LUZ, A.B. A verdade como forma de desenvolver e preservar o espaço para pensar nas mentes da paciente e da analista. Livro Anual de Psicanálise. Tomo XXV, p.101-116, 2011. TERUCHKIN, B. A importância da intuição em psicanálise: de Freud aos nossos tempos. Anais do V Simpósio Interno Integrado-AC/IP-SPPA, v.5, p. 59-69, 2011. VIÑAR, M. Tradição/Invenção. FEPAL, 2011. 5

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