ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL



Documentos relacionados
OLIVEIRA, Juliana Moreira de 1 CEZAR, Anderson Dias 2 LUZ, Viviane Christina Felipe Gonçalves de Abreu da 3

Biologia Geral e Experimental

Lucélia Nobre Carvalho*, ***, Rafael Arruda**, *** and Kleber Del-Claro*** PROOFS

AS ESPÉCIES DE COPEPODA (CRUSTACEA: ERGASILIDAE) PARASITAS DOS FILAMENTOS BRANQUIAIS E NARINAS DE

José Luis Luque 1 * e Anderson Dias Cezar 2

(Schinz, 1822) (Osteichthyes: Arapaimatidae) criados em cativeiro na Amazônia central. Abstract

Torezani1, E.; Baptistotte1, C.; Coelho1, B. B.; Santos2, M.R.D.; Bussotti2, U.G.; Fadini2, L.S.; Thomé1, J.C.A.; Almeida1, A.P.

Germán Augusto Murrieta MOREY1, Adria da Costa MOREIRA1, José Celso de Oliveira MALTA1

ICTIOPARASITOLOGIA RESUMO

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

hepsetus (CUVIER, 1829) (OSTEICHTHYES: CHARACIDAE),

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

(BLOCH, 1794) (CHARACIFORMES, ERYTHRINIDAE) POR

AS ESPÉCIES DE ISOPODA (CRUSTACEA: CYMOTHOIDEA) PARASITAS DE SERRASALMUS ALTISPINIS

NOTA CIENTÍFICA. Elizete Teresinha Santos Cavalcanti¹, Gilberto Cezar Pavanelli², Sathyabama Chellappa¹, Ricardo Massato Takemoto² RESUMO ABSTRACT

MONOGENÉTICOS PARASITOS DE BRÂNQUIAS DE Hoplias malabaricus (TRAÍRA) E SAÚDE ANIMAL NA AMAZÔNIA OCIDENTAL

17) Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1847

FAUNA PARASITÁRIA DE Pimelodus ornatus (MANDI PRATA) DO IGARAPÉ TRINCHEIRA MIRANTE DA SERRA RONDONIA

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

Peixes migradores do rio Uruguai: Monitoramento, ações de manejo e conservação

Gargalos e Rumos da Radiotelemetria no Brasil:

ANÁLISE CITOGENÉTICA DE PYGOCENTRUS NATTERI

Londrina (UEL);

Específicas. I. Harmônicas. II. Desarmônicas. I. Harmônicas 1) SOCIEDADE. Estas relações podem ser

Redalyc. Doro Abdallah, Vanessa; Kozlowiski de Azevedo, Rodney; Luque, José Luis

Abundância e distribuição das larvas de peixes no Lago Catalão e no encontro dos rios Solimões e Negro, Amazonas, Brasil

Influência da velocidade da correnteza e tipo de sedimento na riqueza de macroinvertebrados bentônicos em um igarapé na Amazônia Central

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

UFRRJ INSTITUTO DE VETERINÁRIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS TESE

ANIMAL: PORQUINHO DA ÍNDIA. LAURA E ANA BEATRIZ 2º ano H

Porto Alegre, 19 de agosto de 2015

Felipe de Sousa LOURENÇO (1), Germán Augusto Murrieta MOREY (1), Jeffson Nobre PEREIRA (1), José Celso de Oliveira MALTA (1)

Curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária - Parasitologia Veterinária, UFRRJ, Bolsista FAPERJ 2

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

ASSEMBLÉIAS DE PEIXES ASSOCIADAS A DIFERENTES BANCOS DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS EM LAGOS DE VÁRZEA DO BAIXO RIO SOLIMÕES

COMENTÁRIO DA PROVA DE BIOLOGIA

Regulamento TCC do curso de Relações Públicas 2014

25 a 28 de Outubro de 2011 ISBN

IDADE E CRESCIMENTO DE Iheringichthys labrosos NO RIO URUGUAI - RS

ASPECTOS QUANTITATIVOS DA COMUNIDADE DE METAZOÁRIOS PARASITOS DO GORDINHO

INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

QUESTÕES DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE AMBIENTAL. O 2(g) O 2(aq)

Acta Scientiarum. Biological Sciences ISSN: Universidade Estadual de Maringá Brasil

Monitoramento do comportamento territorialista e reprodutivo de capivaras: evitando eventos de superpopulações

Rodrigo de Barros Feltran 1, Oswaldo Marçal Júnior 2, José Fernando Pinese 2 & Ricardo Massato Takemoto 3

Ecologia Geral. Padrões geográficos em comunidades

PERFIL PROFISSIONAL TRATADOR(A) DE ANIMAIS EM CATIVEIRO

ANÁLISE CINESIOLÓGICA DA PLANTA DO PÉ PELO TESTE DE PLANTIGRAMA EM UMA ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE VÁRZEA GRANDE - MT

INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE ESGOTO ORGÂNICO NAS CARACTERÍSTICAS LIMNOLÓGICAS DE CÓRREGOS AFLUENTES DO RIO CAMANDOCAIA, AMPARO/SP ETAPA II

ESTRUTURA POULACIONAL DE H. ancistroides (Ihering, 1911) EM RIACHOS URBANOS NO MUNICIPIO DE TOLEDO, PARANA

Pesquisa de Condições de Vida Gráfico 24 Distribuição dos indivíduos, segundo condição de posse de plano de saúde (1) Estado de São Paulo 2006

V. 07, N. 12, 2011 Categoria: Resumo Expandido

MARIA DANIELLE FIGUEIREDO GUIMARÃES HOSHINO

Key words: Pygocentrus piraya, Serrasalmus brandtii, Cichla kelberi, paratenic host fish.

GOVERNO DE MATO GROSSO Fundação Estadual do Meio Ambiente FEMA-MT

1903 (OSTEICHTHYES, PHYCIDAE) FROM THE COASTAL ZONE OF THE STATE OF RIO DE JANEIRO, BRAZIL ABSTRACT

Organismos, fatores limitantes e nicho ecológico

ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA DO MÉDIO RIO CASCA, BACIA DO (ALTO) RIO DOCE, MINAS GERAIS, BRASIL

BACTERIOSES EM PEIXES: O QUE FAZER?

Análise de desenvolvimento do curso de especialização em Gestão Industrial da UTFPR

O COMPORTAMENTO DA TEMPERATURA E UMIDADE DO AR NA ÁREA URBANA DE IPORÁ-GO. Valdir Specian¹, Elis Dener Lima Alves²

Priscila Gôngora Dias*, Wilson Massamitu Furuya 1, Gilberto Cezar Pavanelli 2,3, Marion Haruko Machado 2,3 e Ricardo Massato Takemoto 3

Florianópolis, 17 de agosto de 2011.

ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL

CITAÇÕES E ÍNDICE H: teste comparativo em pequena escala entre ISI-WOS e SCOPUS

A ATIVIDADE DE RESUMO PARA AVALIAR A COMPREENSÃO DE TEXTOS EM PROVAS DE PROFICIÊNCIA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL

Universidade Federal de Santa Catarina UFSC Centro de Filosofia e Ciências Humanas CFH Departamento de Geociências Curso de Graduação de Geografia

RELAÇÃO ENTRE ECOMORFOLOGIA E LOCOMOÇÃO DE SERPENTES

A pesca de pequena escala no rio Madeira pelos desembarques ocorridos em Manicoré (Estado do Amazonas), Brasil

Palavras-chave: biologia reprodutiva, Amapá, estádios de maturação gonadal, Brasil.

INTRODUÇÃO. Cleusa Suzana de ARAUJO 1, Angela VARELLA 2

PRÁTICAS SILVICULTURAIS

Parasitos nas brânquias de Brycon amazonicus (Characidae, Bryconinae) cultivados em canais de igarapé do Turumã-Mirim, Estado do Amazonas, Brasil

Reprodução de Pomacea bridgesii

BOTO-CINZA: SOTALIAGUIANENSIS (VAN BÉNÉDEN, 1864)

HÁBITOS ALIMENTARES DE GERRES APRION (CUVIER, 1829), (ACTINOPTERYGII, GERREIDAE) NA BAÍA DE SEPETIBA (RJ)

Mudanças Cimáticas Globais e Biodiversidade Aquática. Odete Rocha. Departamento de Ecologia Universidade Federal de São Carlos

BIOMA. dominante. %C3%B3gicos_mapas/biomas.asp

Argulus Muller, 1785; onze de Dolops. Calman, A região Neotropical caracteriza-se pelo endemismo

MARIA INÊZ DA SILVA, MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES, CRISTIANE CIDÁLIA CORDEIRO E SUELLEN ARAÚJO. Introdução

PROJETO DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL, TREINAMENTO E BEM- ESTAR ANIMAL (PEATREBA), REALIZADO COM ARARAJUBAS

DESIGUALDADE AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SALINAS MG

[ meio ambiente ] 68 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo. Por: Oswaldo Faustino

Peixes e crustaceos Nativos da PVSuL

Tabela oficial de Medidas para Captura de Peixes

MONOGENAS DE PSEUDOPLATYSTOMA (SILURIFORMES: PIMELODIDAE) ORIUNDOS DE PISCICULTURAS E AMBIENTES NATURAIS

V. 07, N. 12, 2011 Categoria: Resumo Expandido

OS CUIDADOS COM A ÁGUA NA ESCOLA FUNDAMENTAL PROFESSOR ADAILTON COELHO COSTA

Ecologia Conceitos Básicos e Relações Ecológicas

Difilobotríase: alerta e recomendações

BIOLOGIA - 2 o ANO MÓDULO 20 ECOLOGIA

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Propriedades da população. Prof. Dr. Francisco Soares Santos Filho (UESPI)

DOCENTES DO CURSO DE JORNALISMO: CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE VOCAL

Gestão de Riscos e oportunidades relacionadas à Ictiofauna. Dezembro de 2011

INQUILINISMO EM CORNITERMES (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS DE PASTAGEM

Expansão Agrícola e Variabilidade Climática no Semi-Árido

3ºano. 4º período 1.3 CIÊNCIAS. 5 de dezembro de Leia o texto abaixo. Em seguida, faça o que lhe é solicitado. Que bicho é esse?

Transcrição:

Neotrop. Helminthol., 6(2), 2012 2012 Asociación Peruana de Helmintología e Invertebrados Afines (APHIA) ISSN: 2218-6425 impreso / ISSN: 1995-1043 on line ORIGINAL ARTICLE / ARTÍCULO ORIGINAL THE PARASITIC CRUSTACEANS OF SERRASALMUS RHOMBEUS (LINNAEUS, 1776) (CHARACIFORMES: SERRASALMIDAE) FROM FLOODPLAIN LAKES OF THE SOLIMÕES RIVER, CENTRAL AMAZON, BRAZIL OS CRUSTÁCEOS PARASITAS DE SERRASALMUS RHOMBEUS (LINNAEUS, 1776) (CHARACIFORMES: SERRASALMIDAE) DE LAGOS DE VÁRZEA DO RIO SOLIMÕES, AMAZÔNIA CENTRAL, BRASIL Abstract 1 1 1 Mariel Acácio, Ângela Maria Bezerra Varella & José Celso de Oliveira Malta 1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. André Araújo, Aleixo, Manaus, Amazonas. (mariel.acacio@gmail.com) Suggested citation: Acácio, M, Varella, AMB & Malta, JCO. 2012. The parasitic crustaceans of Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1776) (Characiformes: Serrasalmidae) from floodplain lakes of the Solimões River, Central Amazon, Brazil. Neotropical Helminthology, vol. 6, N 2, pp. 179-184. The parasites of 45 Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1776) were collected during the dry season in six floodplain lakes of the Solimões River. The prevalence was 73.3%, the mean intensity 20.5 and the mean abundance 15 crustaceans. Three species of crustaceans parasitized S. rhombeus. Two species of Copepoda infected the gill filaments, Ergasilus yumaricus Malta, 1995 and Myracetyma piraya Malta & Varella, 1993 and one of Branchiura infected the pectoral fin and gill cavity, Argulus chicomendesi Malta & Varella, 2000. Ergasilus yumaricus was the dominant species (92.3%) and the only one that showed significant differences in their abundance among the six lakes sampled. The fishes from Baixio Lake had the highest mean abundance (H = 11.2986, p = 0.04). There was a positive correlation between abundance and the total length of S. rhombeus. There was no correlation between the number of parasites and sex of S. rhombeus. Keywords: Copepoda - Branchiura - fish parasites - freshwater. Resumo Foi estudada a fauna de parasitos de 45 Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1776) coletados na estação de seca em seis lagos de várzea do rio Solimões. A prevalência foi 73,3%, a intensidade média 20,5 e a abundância média de 15 crustáceos por peixe. Três espécies de crustáceos ocorreram parasitando S. rhombeus. Duas de Copepoda parasitando os filamentos branquiais, Ergasilus yumaricus Malta, 1995 e Myracetyma piraya Malta & Varella, 1993 e uma de Branchiura parasitando a nadadeira peitoral e a cavidade branquial, Argulus chicomendesi Malta & Varella, 2000. Ergasilus yumaricus foi a espécie dominante (92,3%) e a única que apresentou diferenças significativas em suas abundâncias entre os seis lagos amostrados. Os peixes do lago Baixio apresentaram a maior média de abundância (H=11.2986; p= 0,04). Houve correlação positiva entre a abundância e o comprimento total de S. rhombeus. Não houve correlação entre o número de parasitas e o sexo de S. rhombeus. Palavras-chave: Branchiura - Copepoda - lagos de várzea - parasitos de peixes. 179

Parasitic crustaceans of Serrasalmus rhombeus Acácio et al. INTRODUÇÃO Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766), popularmente conhecida como piranha-preta, ocorre em rios e lagos e forma um grupo de peixes restrito à América do Sul, encontrada desde a bacia do rio da Prata até o Orinoco. Com hábito alimentar onívoro, consome peixes, invertebrados, insetos e material vegetal (Braga, 1976; Santos et al., 2006). A fauna de crustáceos parasitas de S. rhombeus ainda é pouco estudada, onde grande parte da literatura encontrada faz referência a descrição de espécies. Até o presente momento, duas espécies de crustáceos são citadas como parasitas de S. rhombeus: o Copepoda Ergasilus yumaricus Malta, 1995 (Malta & Varella, 1995) e o Isopoda Vanamea symmetrica (Van Name, 1925) (Thatcher, 1993, 1996). O presente estudo tem como objetivo identificar os crustáceos parasitas de S. rhombeus em lagos do rio Solimões, no Estado do Amazonas, Brasil e analisar as interações ecológicas observadas. MATERIAL E MÉTODOS Foram capturados 45 espécimes de S. rhombeus em seis lagos de várzea do rio Solimões situados entre as cidades de Manaus e Coari no Estado do Amazonas: Baixio, Preto, Ananá, Campina, Aruã e Maracá (Fig. 1), Brasil durante o período de seca, no mês de dezembro de 2007. Os peixes foram coletados com redes de espera que mediam 20 m de comprimento, 2 m de altura e o tamanho das malhas variou de 30 a 100 mm de distância entre nós opostos. O tempo de permanência das redes na água foi de 10 h em cada lago, no período diurno e com duas despescas. Após a coleta os peixes foram pesados, medidos, sexados e identificados. No campo foram examinadas a superfície externa do corpo, base das nadadeiras, cavidades bucal e branquial, parede interna do opérculo e aberturas anal e genital a procura de crustáceos. Os crustáceos encontrados foram coletados com pincéis, estiletes ou pinças e conservados em etanol 70% com 10% de glicerina (Malta & Varella, 1993; Malta & Varella, 1995; Malta, 1996). Espécimes representativos dos crustáceos parasitos coletados foram depositados na Coleção de Invertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Brasil. Argulus chicomendesi INPA 1973, INPA 1974, Ergasilus yumaricus INPA 1975 (a-p), Myracetima piraya INPA 1976 (a-o). Os descritores ecológicos do parasitismo (intensidade média, abundância média e prevalência) foram calculados de acordo com Bush et al. (1997) e Serra-Freire (2002). O status comunitário das infracomunidades parasitárias foi classificado segundo Bush & Holmes (1986): espécies centrais (presentes em mais de dois terços dos hospedeiros), espécies secundárias (em um a dois terços do hospedeiro) e espécies satélites (em menos de um terço do hospedeiro). Foi calculado o Coeficiente de Dominância (CD) de acordo com Serra-Freire (2002), onde o CD mede a porcentagem de uma espécie em relação ao conjunto da infracomunidade parasitária para todos o hospedeiros examinados. Para verificar se houve diferença no número de parasitos entre hospedeiros machos e fêmeas foi utilizado o teste T de Student. O coeficiente de correlação de Spermann foi utilizado para determinar possíveis correlações entre a prevalência parasitária e o comprimento dos hospedeiros. O teste de Kruskall Wallis foi utilizado para verificar se houve diferença nas abundâncias das espécies parasitas entre os peixes dos lagos estudados. Todos os valores foram considerados significativos quando p<0,05 (Zar, 1996). RESULTADOS Foi examinado um total de 45 exemplares de S. rhombeus, no qual foi encontrado prevalência de 73,3%, intensidade média de 20,5 e abundância média de 15 crustáceos parasitos por hospedeiro. A fauna de crustáceos parasitos encontrada em S. rhombeus é composta por duas espécies de Copepoda parasitas dos filamentos branquiais: 48 exemplares de M. piraya e 624 de E. yumaricus e 180

Neotrop. Helminthol., 6(2), 2012 no Estado do Amazonas, Brasil. uma espécie da classe Branchiura parasitas da nadadeira peitoral e da cavidade branquial: quatro A. chicomendesi (Tabela 1). O copepoda E. yumaricus apresentou abundância média mais elevada nos peixes do lago Baixio e os peixes dos lagos Aruã e Campina tiveram abundância média mais baixa (H=11,2986; p= 0,04) (Tabela 2). Quanto ao status das infracomunidades E yumaricus foi a espécie central e dominante (92,3%), M piraya a espécie secundária (7,1%) e A. chicomendesi a espécie satélite (0,6%). Myracetyma piraya (rs= 0,80, p = 0,19) e A. chicomendesi (rs=0,31, p= 0,68) não apresentaram correlação com o tamanho de S. rhombeus, e n q u a n t o E. y u m a r i c u s a u m e n t o u significativamente sua abundância conforme aumentou o tamanho de S. rhombeus (Figura 2). Não houve relação entre abundância e o sexo dos hospedeiros. Abundância 70 60 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 20 25 Classes de tamanho (cm) Figura 2. Correlação entre o tamanho de Serrasalmus rhombeus e a abundância de Ergasilus yumaricus em lagos de várzea do rio Solimões, Amazonas, Brasil (rs=1,0, p < 0,0001). 181

Parasitic crustaceans of Serrasalmus rhombeus Acácio et al. Tabela 1. Índices parasitários dos crustáceos ectoparasitas de Serrasalmus rhombeus de seis lagos de várzea do rio Solimões. Espécies PE PP N AM IM P Ergasilus yumaricus 45 34 624 13,86 18,35 75,55 Myracetyma piraya 45 16 48 1,06 3 35,55 Argulus chicomendesi 45 4 4 0,1 1 8,9 PE = peixes examinados; PP = peixes parasitados; AM = abundância média; IM = intensidade média; P% = prevalência. Tabela 2. Índices parasitários de Ergasilus yumaricus e Miracetyma piraya em Serrasalmus rhombeus de seis lagos de várzea do rio Solimões. E. yumaricus M. piraya AM IM P AM IM P Baixio 52,25 52,25 100 2 2,66 75 Preto 16 16 100 1,8 9 20 Anana 13,87 18,5 75 2 3,2 62,5 Campina 5,18 7,12 72,72 0,9 5 18,18 Maracá 13,50 16,87 80 0,2 1 20 Aruã 4,57 10,66 42,85 0,42 3 42,85 AM = abundância média; IM = intensidade média; P% = prevalência. DISCUSSÃO Ergasilus yumaricus já foi registrado parasitando os filamentos brânquiais de S. rhombeus, Pygocentrus nattereri (Kner, 1860) e Pristobrycon eigenmanni (Norman, 1929) no Estado de Rondônia, Brasil (Malta & Varella, 1995), sendo o Estado do Amazonas um novo registro de ocorrência. A baixa abundância do copepoda M. piraya parece ser comum em piranhas da Amazônia. Malta & Varella (1993) encontrou índices semelhantes de M. piraya em P. nattereri. Além disso, S. rhombeus é um novo registro de hospedeiro e o Estado do Amazonas um novo registro de ocorrência. Em um trabalho avaliando a sazonalidade de ocorrência e a especificidade das espécies de Branchiura parasitas de peixes de um lago de várzea da Amazônia verificou-se que os maiores índices de infestação ocorreram no período de cheia e os menores na seca e a maioria das espécies apresentaram baixa especificidades (Malta, 1982; 1984). Argulus chicomendesi é citado como parasita de sete espécies de peixes de cinco famílias e duas ordens diferentes: Siluriformes: Pimelodidae: Hypophtalmus edentatus (Spix, 1829) e Pseudoplatystoma tigrinum (Valenciennes, 1840); Characiformes: Characidae: Brycon erythropterus (Cope, 1872); Anostomidae: Schizodon fasciatus Spix & Agassiz, 1829; Prochilodontidae: Prochilodus nigricans (Agassiz, 1829); Serrasalmidae: C. macropomum e P. nattereri o que indica uma baixa especificidade parasitária. Índices elevados de infestação por A. chicomendesi só foram encontrados em peixes de cativeiro na Amazônia, como ocorreu com Brycon amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) (Malta & Varella, 2000) Neste trabalho os dados corroboram com os de Malta & Varella (2000) onde a baixa especificidade de A. chicomendesi é comprovada com mais um novo hospedeiro, o nono, S. rhombeus e a baixa infestação em ambientes naturais. Bush e Holmes (1986), cita que apenas as espécies centrais (em equilíbrio) apresentam padrões 182

Neotrop. Helminthol., 6(2), 2012 previsíveis, enquanto espécies satélites comportam-se de forma instável. A dominância de E. yumaricus confirmada pelo coeficiente de dominância indica uma possível presença de competição com M. piraya, contudo vale ressaltar o comportamento reprodutivo entre as duas espécies, onde M piraya produz um número menor de ovos, 9 a 17 (Malta & Varella, 1993), enquanto E. yumaricus 18 a 26 ovos (Malta & Varella, 1995), o que pode explicar também a dominância de E. yumaricus. O tamanho do hospedeiro, considerado uma expressão de sua idade, apresenta um conjunto de fatores tais como: migração do hospedeiro para a reprodução, que pode causar variações no espectro alimentar decorrentes da mudança no uso do habitat; variação nos diferentes itens alimentares do hospedeiro no decorrer do seu crescimento até a vida adulta, que são importantes na variação do número de parasitos (Dogiel, 1961). À medida que o peixe cresce, ocorrem alterações no seu comportamento alimentar e reprodutivo, que podem influenciar na sua fauna parasitária (Takemoto et al., 1996). S. rhombeus apresenta diferanças nos itens alimentares em decorência da idade, onde juvenis se alimentam de insetos, escamas e fragmentos de nadadeiras, individuos adultas alimentam-se quase que na totalidade de peixes (Pizarro, 1998). Além disso, S. rhombeus apresentou uma grande variação em seu tamanho, o fato de hospedeiros maiores aliados ao ciclo de vida dos parasitos que é direto, contribuiu para que a abundância fosse maior do que nos peixes menores. Muitos trabalhos mostram que os parasitos de peixes nem sempre apresentam variações quantitativas em relação ao sexo do hospedeiro, assim como a encontrada em S. rhombeus. Isto pode ser considerado um reflexo da ausência de diferenças na biologia e na dinâmica populacional entre hospedeiros machos e fêmeas (Luque et al., 1996). REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Braga, R.A. 1976. Ecologia e etologia de piranhas do nordeste do Brasil (Pisces Serrasalmus). DNOCS, Fortaleza, Brasil. 268 p. Bush, A.O & Holmes, J C. 1986, Intestinal helminths of lesser scaup ducks: an interactive community. Canadian Journal Zoology, vol. 64, pp. 142-152. Bush, AO, Lafferty, KD, Lotz, JM & Shostak, AW. 1997. Parasitology meets ecology on its own terms: Margolis et al. 1982. Revisited. Journal of Parasitology, vol. 83, pp. 575-583. Dogiel, VA. 1961 Ecology of the parasites of freshwater fishes. In: Dogiel, VA, Petrushevski, GK & Polyanski, YI. (Eds.). Parasitology of fishes. Leningrad: University Press, Rússia. p. 1-47. Luque, JL, Amato, JFR & Takemoto, RM. 1996. Comparative analysis of the communities of metazoan parasites of Orthopristis ruber and Haemulon steindachneri (Osteichthyes: Haemulidae) from the southeastern Brazilian littoral: I. structure and influence of the size and sex of hosts. Revista Brasileira de Biologia, vol.56, pp. 279-292. Malta, JCO. 1982. Os argulídeos (Crustacea: Branchiura) da Amazônia Brasileira. Aspectos da ecologia de Dolops discoidalis Bouvier, 1899 e D. bidentata Bouvier,1899. Acta Amazonica, vol. 12, pp. 521-528. Malta, JCO. 1984. Os peixes de um lago de várzea da Amazônia Central (lago Janauacá, rio Solimões) e suas relações com os crustáceos ectoparasitas (Branchiura: Argulidae). Acta Amazonica, vol. 14, pp. 355-372. Malta, JCO. 1996. Pindapixara tarira gen. et sp. n. (Copepoda: Ergasilidae) das brânquias de Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) (Characiformes: Erythrinidae) da Amazônia brasileira. Acta Amazonica, vol. 24, pp. 135-144. Malta, JCO & Varella, AM. 1993. Miracetyma piraya sp. nov. (Copepoda: Ergasilidae) das brânquias de Pygocentrus nattereri (Kner, 1860) (Characiformes: Serrasalmidae) da Amazônia brasileira. Acta Amazonica, vol. 23, pp. 261-269. Malta, JCO & Varella, AM. 1995. Ergasilus yumaricus sp. n. (Copepoda: Ergasilidae) das brânquias de Pygocentrus nattereri (Kner, 1860), Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1819) e Pristobrycon e i n g e n m a n n i ( N o r m a n, 1 9 2 9 ) (Characiformes: Serrasalmidae) da Amazônia brasileira. Acta Amazonica, vol. 183

Parasitic crustaceans of Serrasalmus rhombeus Acácio et al. 25, pp. 93-100. Malta, JCO & Varella, A. 2000. Argulus chicomendensi sp. n. (Crustacea: Argulidae) parasitas de peixe da Amazônia. Acta Amazonica, vol. 30, pp. 481-498. Pizarro, MCDA. 1998. Dieta e reprodução da piranha-preta (Serrasalmus rhombeus, Linnaeus, 1766) na represa hidrelétrica de Balbina AM, Brasil. Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus AM. 67 p. Santos, G, Ferreira, E & Zuanon, J. 2006. Peixes comerciais de Manaus. Ibama, Manaus, Brasil. 144 p. Sazima, I & Machado, FA. 1990. Underwater observation of piranhas in western Brazil. Environmental Biology of Fishes, vol. 28, pp. 17-31. Serra-Freire, NM. 2002. Planejamento e análise de pesquisas parasitológicas. Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil. 199 p. Takemoto, RM, Amato, JFR & Luque, JL. 1996. Comparative analysis of the metazoan parasite communities of leatherjackets, Oligoplites palometa, O. saurus, and O. saliens (Osteichthyes: Carangidae) from Sepetiba Bay, Rio de Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de Biolologia, vol. 56, pp. 639-650. Thatcher, VE. 1993. Vanamea gen. nov. for. Livoneca symmetrica Van Name, 1925, (Crustacea, Isopoda, Cymothoidae) and a redescription of the species based on specimens from brazilian piranhas. Acta Amazonica, vol. 23, pp. 287-296 Thatcher, VE. 2006. Amazon fish parasites, 2ª Ed., Pensoft Publishers. Sofia, Bulgária. 508pp. Zar, J.H. 1996. Biostatistical Analysis. 3ed. Englewood Cliffs, New Jersey, USA. 717 p. Received April 18, 2012. Accepted July 04, 2012. *Author for correspondence / Autor para correspondencia: Mariel Acácio Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. André Araújo, Aleixo, Manaus, Amazonas. E-mail/correo electrónico: mariel.acacio@gmail.com 184