VARIAÇÃO NICTEMERAL NA COMPOSIÇÃO E ABUNDÂNCIA DA ICTIOFAUNA EM UM TRECHO DO RIO URUCU COARI/AMAZONAS/BRASIL



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MATÉRIA 6º 2º Dez/13 NOTA

Transcrição:

VARIAÇÃO NICTEMERAL NA COMPOSIÇÃO E ABUNDÂNCIA DA ICTIOFAUNA EM UM TRECHO DO RIO URUCU COARI/AMAZONAS/BRASIL VARIACIÓN NICTEMERAL EN LA CONPOSICIÓN Y ABUNDANCIA DE LA ICTIOFAUNA EN UN EXTRACTO DEL RIO URUCU COARI/AMAZONAS/BRASIL NYCTIMERAL VARIATION IN THE COMPOSITION AND ABUNDANCE OF ICHTHYOFAUNA IN A SECTION OF THE URUCU RIVER - COARI/AMAZONAS/BRAZIL COSTA, D. IGOR 1* Mestre em Biologia de Água Doce e Pesca Interior, FREITAS, E. CARLOS 1 Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental. 1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA, Curso de Biologia de Água Doce e Pesca Interior BADPI, Av. André Araújo, 2936, Petrópolis, CEP 69.083-000, Manaus, AM. Brasil. *Correspondência: igorbiologia@yahoo.com.br Recibido: 22-09-2010; Aprobado: 24-10-2010. A variação diária na estrutura de assembléias de peixes é bem documentada para ambientes temperados (LAYMAN, 2000; NAGELKERKEN et al., 2000; LÖK et al., 2002;). Mudanças na intensidade luminosa do ambiente nos períodos crepusculares promovem modificações na estrutura das assembléias (OKUN et al., 2005), sendo as alterações de abundância e riqueza de espécies atribuídas a mudanças diárias no uso de habitat, associada à atividade de forrageio, (PIET E GURUGE, 1997) e proteção contra predadores (GIBSON et al., 1998). O ciclo circadiano apresenta grande importância na atividade de peixes, onde a movimentação destes promove mudanças na composição das assembléias em resposta ao aumento da pressão de predação. Como exemplo, Siluriformes e Gimnotiformes, ativos noturnamente, refugiam-se durante o dia evitando ser predados e forrageam durante a noite; diferente de Characiformes e ciclídeos, ativos diurnamente (LOWE-MCCONNELL, 1964). Observações sobre comunidades de peixes realizadas na área de Rupununi, localizado na Guiana, sugere que as comunidades podem ser marcadas por mudanças em suas atividades conforme as condições de presença e ausência de luminosidade, onde são observados peixes com atividade diurna (maioria dos ciclídios e characiformes) e peixes de atividade noturna (siluriformes e gimnotiformes) (LOWE-MCCONNELL, 1999), sendo a variação circadiana um fator que também influência as assembléias de peixes de ambientes temperado (ARRINGTON E WINEMILLER, 2003), pois foi observado que a riqueza de espécies em zonas de arrebentação marinha é maior durante a noite (LAYMAN, 2000), diferente de ambientes estuarinos, onde esta é superior diurnamente (NAGELKERKEN et al., 2000). No presente estudo, os peixes foram amostrados em seis pontos de coleta 355

em um trecho do Rio Urucu, a fim de quantificar a variação nictemeral na riqueza de espécies e número de indivíduos. O estudo foi realizado nas proximidades dos portos Evandro 1, Evandro 2 e Urucu situados na Província petrolífera do Rio Urucu (04 53'S e 65 11' W), afluente da margem direita do Rio Solimões e um dos principais formadores do lago Coari (SANTOS JR, 2003). Os peixes foram coletados em agosto de 2008, nos seguintes pontos: ponto controle (PCONT) (4 51 20,7 S 65 20 53,2 O) localizado à montante de todos os portos; ponto à jusante do porto urucu (PJU) (4 50 59,3 S 65 20 37,4 O); ponto situado à frente do porto Evandro 2 (PPE2) (4 45 47,9 S 65 02 46,6 O); ponto à montante do Porto Evandro 2 (PME2) (4 45 42 S 65 20 37,4 O) e à jusante deste mesmo porto (PJE2) (4 45 26,4 S 65 02 38,7 O) e ponto à jusante do Porto Evandro 1 (PJE1) (4 45 02,2 S 65 02 42,6 O) (Fig. 1). Figura 1. Área de estudo com a indicação dos pontos de coleta. A fim de melhor compreender o estado do ambientes, foram descritas na Tabela 1 as condições físicas de cada ponto de coleta localizado no rio Urucu, município de Coari - AM / Brasil. Os pontos de coletas foram localizados 1 km a montante e a jusante de cada porto, estes foram compreendidos em um trecho total de 94,5 km e somados perfizeram uma distância total de 5 km. Foram utilizadas baterias de oito malhadeiras (20x2 m e malha de 30 a 100 mm de distância entre nós opostos) adjacentes ao igapó, quando presente. As amostragens foram realizadas no período noturno (19:00 ás 23:00 e das 02:00 ás 06:00) e período diurno (07:00 ás 15:00), com despescas a cada 4 hs, totalizando um esforço amostral de 16 hs em cada ponto de coleta. Os peixes foram triados, identificados, fixados em formol 356

10% e preservados em etanol a 70%, sendo alguns exemplares depositados na coleção ictiológica do INPA. Tabela 1. Descrição das condições gerais de cada ponto de coleta localizado no rio Urucu, município de Coari - AM / Brasil Pontos PCONT PJU PME2 PPE2 PJE2 Descrição Rio bastante encaixado e estreito, ausência de corredeiras e macrófitas, rio contendo árvores com dossel bastante fechado, ausência de igapó, local com margens conservadas (sem árvores tombadas por ação de balsas), ausência de tráfego de balsas, ausência de óleo em água, transparência = 65 cm, velocidade da corrente = 0,50 m/s, largura do rio = 14 m e profundidade = 1,15 m. Rio encaixado com pequenos trechos de igapós, ausência de corredeiras e macrófitas, local com margens apresentando árvores tombadas por ação de balsas, ocorrência de tráfego de balsas, ausência de óleo em água, transparência = 53 cm, velocidade da corrente = 0,50 m/s, largura do rio = 26,3 m e profundidade = 1,20 m. Rio encaixado, presença de igapó, ausência de corredeiras e macrófitas, local com margens conservadas, ocorrência de tráfego de balsas, ausência de óleo em água, transparência = 54 cm, velocidade da corrente = 0,25 m/s, largura do rio = 35 m e profundidade = 4,32 m. Rio com maior largura, presença de igapó, ausência de corredeiras e macrófitas, ponto de coleta situado ao lado do porto, presença de balsas estacionadas, local com margens conservadas, ocorrência moderada de tráfego de balsas, ausência de óleo na água, transparência = 54 cm, velocidade da corrente = 0,50 m/s, largura do rio = 44 m e profundidade = 1,80 m. Rio encaixado, presença de igapó, ausência de corredeiras e macrófitas, local com margens conservadas, ocorrência moderada de tráfego de balsas, ausência de óleo na água, transparência = 72 cm, velocidade da corrente = 0,50 m/s, largura do rio = 40 m e profundidade = 7,78 m 357

PJE1 Rio menos encaixado apresentando maior largura, presença de igapó, ausência de corredeiras e macrófitas, local com margens apresentando árvores tombadas por ação de balsas, ocorrência acentuada de tráfego de balsas, ausência de óleo na água, transparência = 84 cm, velocidade da corrente = 0,20 m/s, largura do rio = 38 m e profundidade = 2,92 m. Foi realizado um teste t pareado com auxilio do programa SYSTAT, visando identificar diferenças significativas na abundância em cada período de coleta. Foram coletados um total de 339 indivíduos, compreendidos em cinco ordens, 18 famílias e 55 espécies. No período diurno foram amostrados 37 espécies e 173 indivíduos e no período noturno 32 espécies e 166 indivíduos. Em termos gerais os Characiformes foram o grupo dominante em abundância, seguido pelos Siluriformes, Clupeiformes e demais ordens. Siluriformes foi o grupo dominante em abundância no período noturno e os Characiformes no período diurno (Tabela 2). Não foi observada diferença significativa (t=0,22; p=0,82) entre a abundância total do período diurno e noturno. Tabela 2. Número de indivíduos das ordens de peixes capturadas nos períodos diurno e noturno no Rio Urucu, Amazonas, Brasil Ordens Período Total Diurno Noturno Characiformes 107 36 143 Siluriformes 27 110 137 Clupeiformes 32 12 44 Perciformes 6 8 14 Beloniformes 1 0 1 Total 173 166 339 As espécies Serrasalmus rhombeus, Bryconops alburnoides e Pellona castelnaeana foram as mais capturadas no período diurno e Dianema urostriatum e Calophysus macropterus no período noturno (Tabela 3). Tabela 3. Número de indivíduos e código de tombamento na coleção ictiológica do INPA (CT-INPA) das espécies de peixes capturadas nos períodos diurno e noturno no Rio Urucu, Amazonas, Brasil 358

Ordem, Família, Gênero e Espécie Ordem Clupeiformes Família Pristigasteridae Diurno Período Nortuno CT-INPA Pellona castelnaeana Valenciennes, 1847 21 4 Pellona flavipinnis (Valenciennes, 1837) 7 6 INPA-32193 Família Engraulidade Lycengraulis batesii (Günther, 1868) 4 2 Ordem Characiformes Família Acestrorhynchidae Acestrhorhynchus falcirostris (Cuvier, 1819) 1 0 Acestrorhynchus falcatus (Bloch, 1794) 3 0 Acestrorhynchus microlepis (Jardine, 1841) 1 0 Família Agoniatidae Agoniates halecinus Müller & Troschel, 1845 3 0 INPA-32201 Família Ctenoluciidae Boulengerella cuvieri (Spix & Agassiz, 1829) 1 1 Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) 2 0 INPA-32186 Família Characidae Brycon cf pesu Müller & Troschel, 1845 3 1 INPA-32188 Bryconops alburnoides (Kner, 1858) 21 3 Bryconops caudomaculatos (Günther, 1864) 2 0 Chalceus erythrurus (Cope, 1870) 1 0 INPA-32187 Moenkhausia lepidura (Kner, 1858) 1 1 INPA-32184 Myleus schomburgkii (Jardine, 1841) 1 0 Myloplus rubripinnis (Müller & Troschel, 1844) 2 2 INPA-32190 Poptella brevispina Reis, 1989 1 0 Pristobrycon striolatus (Steindachner, 1908) 5 0 Psectrogaster amazonica Eigenmann & Eigenmann,1889 1 0 Psectrogaster rutiloides (Kner, 1858) 4 0 Pygocentrus nattereri Kner, 1858 9 0 INPA-32194 Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766) 23 9 Triportheus albus Cope, 1872 0 5 Triportheus elongatus (Günther, 1864) 1 0 Família Chilodontidae Caenotropus labyrinthicus (Kner, 1858) 0 2 INPA-32195 Família Curimatidae Curimata cf. cisandina (Allen, 1942) 0 1 Curimata vittata (Kner,1858) 1 0 Família Cynodontidae Cynodon gibbus (Agassiz, 1829) 0 3 Raphiodon vulpinus (Agassiz, 1829) 0 4 Familia Hemiodontidae 359

Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) 7 0 INPA-32197 Família Erythrinidae Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) 0 1 INPA-32199 Família Anostomidae Leporinus agassizi Steindacherner, 1876 9 3 INPA-32183 Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) 1 0 INPA-32178 Rhytiodus argenteofuscus kner, 1858 3 0 Ordem Siluriformes Familia Auchenipteridae Ageneiosus gr. vittatus (Steindachner, 1908) 0 1 Ageneiosus inermis (Linnaeus, 1766) 1 0 Auchenipterus ambyiacus (Fowler,1915) 0 2 Auchenipterus nuchalis (Spix & Agassiz, 1829) 1 4 Centromochlus heckelii (De Filippi, 1853) 0 2 Trachelyopterus galeatus (Linnaeus, 1766) 0 1 Tatia intermedia (Steindachner, 1877) 0 2 Família loricariidae Dekeyseria amazonica (Rapp Py-Daniel, 1985) 1 0 Dianema urostriatum (Miranda Ribeiro, 1912) 11 53 Hypoptopoma sp 11 5 Família Pimelodidae Calophysus macropterus (Lichtenstein, 1819) 0 27 INPA-32200 Hypophthalmus edentates Spix & Agassiz, 1829 1 0 Hypophthalmus marginatus Valenciennes,1840 0 1 Pimelodus blochii (Valenciennes, 1840) 0 5 INPA-32175 Pinirampus pirinampu (Spix & Agasiz, 1829) 0 4 Pseudoplatystoma punctifer Castelnau, 1855 0 1 Sorubim lima (Bloch & Schneider, 1801) 1 2 Ordem Perciformes Família Cichlidae Cichla monoculus (Spix & Agassiz, 1831) 6 0 Crenicichla cincta Regan, 1905 0 1 Família Scianidae Plasgioscion squamosissimus (Heckel, 1840) 0 7 Ordem Beloniformes Família Belonidae Potamorrhaphis guianensis (Jardine, 1843) 1 0 Total 173 166 Segundo LOWE-MCCONNELL (1999) a ictiofauna amazônica é caracterizada pela dominância de Characiformes (43%) e Siluriformes (36%), sendo seguido pelos Perciformes (12%) e outras ordens (6,4%). A dominância de Characiformes 360

é atribuída à maior capacidade destes peixes em obter oxigênio de camadas superiores da coluna d água (SÚAREZ, 1998) e a de Siluriformes, por este grupo apresentar muitas espécies que promovem respiração aérea facultativa (HONJI, 2006). Padrões diários na composição de assembléias de peixes parecem estar associados com a morfologia, atividades de forrageamento e defesas antipredação (ARRINGTON E WINEMILLER, 2003). GOULDING et al. (1998), em estudos no Rio Negro, apontam grande abundância de Characiformes sobre Siluriformes e Gimnotiformes em ambos os períodos; ARRINGTON e WINEMILLER (2003), no rio Cinaruco, descrevem abundâncias superiores no período noturno, decorrente da maior acuidade visual dos peixes durante o dia, evitando as redes de captura, sendo estes resultados diferentes aos encontrados em nossa pesquisa. Muitas espécies possuem especializações morfológicas para atividade em luz limitada, como os Gymnotiformes que localizam presas usando órgãos eletrosensoriais (MACLVER et al., 2001) e Siluriformes que dependem de estímulos táteis e químicos durante o forrageamento (POHLMANN et al., 2001), sendo membros comuns da assembléia noturna. A inatividade noturna de Perciformes e Characídeos esta associada ao fato de estes evitarem ser detectados por bagres predadores (POLHMANN et al., 2001) promovendo suas atividades durante o período diurno. As respostas das espécies às características físicas do habitat (níveis de luz) e interações bióticas (competição e predação) são esperadas para produzir padrões de atividade e desenvolvimento de adaptações nos ambientes (GIBSON et al., 1998). Muitos peixes neotropicais são conhecidos por apresentarem diferenças no uso dos períodos diurno e noturno (WOLTER E FREYHOF, 2004), como exemplo, pequenos peixes que ocorrem em bancos de areia durante o dia geralmente exploram este habitat para forrageamento e utilizam estes locais (águas rasas), durante a noite, como refúgio anti-predação de grandes predadores noturnos (Pimelodidae) (WILLIS et al., 2005). Serrasalmus rhombeus e B. alburnoides são espécies pertencentes ao grupo dos Characiformes, enquanto que D. urostriatum e C. macropterus são membros do grupo dos Siluriformes. Characiformes e Siluriformes apresentam segregação temporal em suas atividades durante os períodos do dia, sendo mais comum a atividade de Characídeos durante o período diurno e Siluroídes no período noturno (LOWE-MCCONNELL, 1999). A piranha S. rhombeus é um carnívoro que apresenta comportamento de saída de banco de macrófitas durante o dia, empreendendo ataques as nadadeiras de outros peixes, com retorno a noite para fins de refúgio (MACHADO-ALLISON, 1990). Bryconops alburnoides é uma espécie invertívora (Abelha et al., 2001, Mérona et al., 2001), insetos são mais disponíveis no período da cheia, devido à inundação da vegetação marginal, ação de ventos e chuvas (SILVA et al., 2008). Assim, B. alburnoides pode ter utilizado este recurso abundante indicando a grande abundância desta espécie neste período. A família Callichthyidae é classificada como k-estrategista (PIANKA, 1970), com alto investimento parental em sua prole, mostrando que as espécies pertencentes a esta família possuem 361

populações sedentárias e relativamente estáveis (WINEMILLER, 1989). A partir destas informações, especula-se que D. urostriatum pode ser uma espécie residente da planície de inundação do rio em estudo, colonizando a floresta inundada adjacente durante o período de ascensão das águas, sendo assim mais capturada por nossos aparatos de pesca neste período. Esta também é uma espécie invertívora (CORREA, 2005), compartilhando o mesmo habito trófico com B. alburnoides quanto a utilização de recursos. Peixes piscívoros, como as espécies do gênero Pellona, têm sido registrados na literatura como fundamentais agentes reguladores de comunidades de peixes de água doce, afetando as populações espécie-presa e atuando frequentemente como principal fonte de mortalidade de presas (L ABÉE-LUND et al., 2002). A maior abundância desta espécie durante o dia esta associada ao grande fluxo de presas, a maioria pequenos characiformes de hábito diurno, e por ser este o período de maior atividade da espécie (MACHADO-ALLISON, 1990). Destacamos com o presente estudo a importância de amostragens noturnas, apesar de não apresentarem diferença em abundância com relação ao período diurno, estas apresentam espécies exclusivas deste período (e.g. C. macropterus, P. blochii, A. ambyiacus, T. intermedia e outras). Referências ABELHA, M.C.F.; AGOSTINHO, A.A.; GOULART, E. 2001. Plasticidade trófica em peixes de água doce. Acta Scientiarium 23(2): 425-434. ARRINGTON, D.A.; WINEMILLER, K.O. 2003. Diel changeover in sandbank fish assemblages in a neotropical floodplain river. Journal of Fish Biology 63: 442 459. CORREA, S.B. 2005. Comparison of fish assemblages in flooded forets versus floating habitats of in upper Amazon floodplain (Pacaya Samiria National reserve, Peru). Master Thesis, University of Florida, Florida, USA. GIBSON, R.N.; PIHL, L.; BURROWS, M.T.; MODIN, J.; WENNHAGE, H.; NICKELL, L.A. 1998. Diel movements of juvenile plaice Pleuronectes platessa in relation to predators, competitors, food availability and abiotic factors on a microtidal nursery ground. Marine Ecology Progress Series 165:145 159. GOULDING, M.; CARVALHO, M.L.; FERREIRA, E.G. 1998. Rio Negro- Rich life in poor water. SPB Academic Publishing. London. HELFMAN, G.S. 1981. Twilight activities and temporal structure in a freshwater fish community. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences 38:1405-1420. HONJI, R.M. Peixes como modelo biológico para pesquisas em fisiologia comparativa. III Curso de inverno tópicos em fisiologia comparativa [seriado 362

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