Gestão ambiental no setor de transportes: uma avaliação dos impactos ambientais do uso de combustíveis no transporte urbano da cidade de Natal (RN).



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Transcrição:

Gestão ambiental no setor de transportes: uma avaliação dos impactos ambientais do uso de combustíveis no transporte urbano da cidade de Natal (RN). Breno Torres Santiago Nunes - UFRN breno-nunes@bol.com.br Prof. Dr. Sérgio Marques Júnior - UFRN sergio@pep.ufrn.br Prof. Dr. Rubens Eugênio Barreto Ramos - UFRN rubens@pep.ufrn.br Resumo Esse trabalho tem como objetivo identificar e avaliar os impactos ambientais das emissões provenientes do uso de combustíveis no setor de transportes. Os conceitos usados no trabalho são baseados norma ISO 14001, sendo também utilizada a matriz de Leopold na metodologia de avaliação dos impactos ambientais. As discussões propostas neste trabalho podem servir de subsídios para órgãos públicos, empresas e à sociedade no controle da poluição atmosférica, bem como, na introdução da variável ambiental em projetos através dos métodos de identificação e avaliação de impactos ambientais. Palavras-chave: Transporte, Gás Natural, Norma ISO 14001. 1. Introdução O setor de transportes é uma das mais importantes forças motrizes do crescimento da economia mundial, permitindo a movimentação de pessoas, bens e serviços (Mattos, 2001). No entanto, em todo o mundo, os veículos automotores desempenham um papel fundamental dentro do contexto ambiental, visto que suas emissões são prejudiciais à saúde e ao bem-estar do homem. Problemas ambientais são causados pela intensificação do uso de recursos naturais, em particular os combustíveis fósseis (Kaya & Yokobori, 1997), contudo, em diversos centros urbanos no mundo, as emissões dos veículos estão crescentemente contribuindo para a deterioração da qualidade do ar e para os danos ambientais (Kojima & Lovei, 2000). O setor de transporte é a fonte de poluição que cresce mais rapidamente, muitas vezes em um taxa superior ao produto interno bruto em países em desenvolvimento (Schipper e Marie-Lilliu, 1999 apud Mattos, 2001). Cerca de 40% da poluição atmosférica nas grandes cidades é proveniente da queima de combustíveis fósseis em veículos automotores (Assumpção et al., 2000). Dentre os principais impactos ambientais provenientes da poluição do ar, pode-se destacar o efeito estufa, a chuva ácida e os problemas à saúde humana. No Brasil, os problemas podem acentuar-se devido ao país possuir uma forte tendência ao uso do modal rodoviário tanto para transporte de passageiros quanto para o de cargas; e, visto que, o transporte rodoviário apresenta uma dependência de um único tipo de energia primária: o petróleo (que representa 97% do total de energia consumida pelo setor). Praticamente metade dos derivados do petróleo é consumida em transporte, dentre eles, o diesel e a gasolina lideram o consumo no setor, com 46,7% e 29,1%, respectivamente. As combustões do diesel e da gasolina contribuem para poluição atmosférica com emissões de gases como: CO, CO 2, NO X, SO X, HC, aldeídos e material particulado. ENEGEP 2003 ABEPRO 1

No entanto, o gás natural aparece como um combustível alternativo, capaz de reduzir a emissão de poluentes. Sendo basicamente composto de metano (90% de sua composição), a queima do gás natural é isenta de material particulado, compostos orgânicos voláteis e, praticamente livre de óxidos de enxofre. Sendo assim, esse combustível tem crescido na frota de veículos, tornando-se necessária uma avaliação do efeito do seu uso comparado ao dos combustíveis tradicionais (diesel e gasolina). Diante desse panorama, esse trabalho tem como objetivo identificar e avaliar os impactos ambientais das emissões provenientes do uso de combustíveis no setor de transportes. As discussões propostas neste trabalho podem servir de subsídios para órgãos públicos, empresas e à sociedade no controle da poluição atmosférica, bem como, na introdução da variável ambiental em projetos através dos métodos de identificação e avaliação de impactos ambientais, podendo assim, desenvolver políticas ambientais tanto para o setor público como privado. 2. Caracterização do setor de transportes Os meios de transporte podem ser divididos em: aéreo, aquaviário, dutoviário (somente para cargas), ferroviário e rodoviário; tendo a capacidade de poder serem combinados (como por exemplo, aquaviário + rodoviário) para maior eficácia do deslocamento. Analisando as sete nações que compõem o G-7, verifica-se que o modal rodoviário possui grande participação para todos os países no transporte de passageiros, no entanto, é importante destacar o percentual significante do transporte aéreo nos Estados Unidos, correspondendo cerca de 10%; do modal ferroviário (metroviário) nos países europeus e também, principalmente, no Japão, onde esse tipo de transporte é responsável por 32% (MATTOS, 2001). Para o transporte de cargas, é possível notar um maior equilíbrio entre os modais em comparação ao transporte de passageiros, apesar do transporte rodoviário ainda possuir uma grande participação. Destacam-se as significantes participações dos modos ferroviário e dutoviário no Canadá e Estados Unidos, pois os mesmos necessitam de grandes volumes para serem viáveis economicamente. Outro dado que representativo é o transporte aquaviário no Japão, que é responsável por 58% (MATTOS, 2001). Já no Brasil, a forte tendência ao uso do modal rodoviário para transporte de passageiros faz com que os outros modais representem menos de 4%. Esse tipo de distribuição torna o setor de transporte um significante consumidor de energia, em particular de derivados de petróleo, e conseqüentemente, uma fonte potencialmente poluidora do ar (MATTOS, 2001). Da mesma forma o modal rodoviário também possui uma participação relevante no transporte brasileiro de cargas, no entanto, inferior que no transporte de passageiros. Destacam-se participações dos modais aquaviário e ferroviário que equilibram a distribuição, ainda que a estratificação fica menos balanceada que na maioria dos países desenvolvidos(mattos, 2001). 3. Veículos automotores e a poluição atmosférica A poluição atmosférica pode ser definida como a presença de substâncias nocivas (resíduos sólidos, líquidos e gasosos) na atmosfera, em quantidade suficiente para afetar sua composição e equilíbrio e prejudicar a vida na Terra (Assumpção et al, 2000). O nível de poluição no ar é medido pela qualificação das substâncias poluentes nele presente. Considerase poluente qualquer substância que, pela sua concentração, possa tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo ao bem-estar e saúde humana, fauna ou flora. ENEGEP 2003 ABEPRO 2

Considerando o objeto em estudo, o setor de transporte, Mattos (2001) afirma que os veículos a diesel contribuem fortemente para poluição do ar com as emissões de óxidos de enxofre (SO X ), óxidos de nitrogênio (NO X ) e material particulado, enquanto, os veículos a gasolina (leia-se: gasolina acrescida de álcool à 22%) através da emissão de monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos (HC). Entre os combustíveis mais utilizados no transporte, o diesel representa cerca da metade do total (46,7% em 1996), seguido pela gasolina (29,1%); já o álcool (anidro e hidratado) responde por 16%, e vem aumentando, pois apesar da queda nas vendas dos carros a álcool, a proporção de álcool misturado à gasolina tem crescido, chegando a 22% atualmente (Martínez, 1999). Verifica-se na tabela 3-1, que a taxa de emissão de poluentes em veículos a diesel supera a taxa dos veículos à gasolina e a álcool. POLUENTES Gasolina 1 Diesel 2 Álcool 1 CO 2,0 17,8 2,0 HC 0,3 2,9 0,3 NOx 0,6 13,0 0,5 SOx 0,12 3,42 0,0 1 - FONTE: GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1997 apud Monteiro, 1998 2 FONTE: Murgel, 1987 apud Monteiro, 1998. Tabela 3-1 Fator médio de emissão de poluentes de veículos (g/km) Infere-se também, que as emissões de um veículo podem não representar grande dano ao meio ambiente, no entanto, quando é contabilizada toda a emissão da frota, sabe-se da importância do setor como colaborador da poluição atmosférica. 4. Metodologia de avaliação de impactos ambientais Os conceitos utilizados para a análise são baseados nas especificações da norma ISO 14001, a qual possui a finalidade de equilibrar a proteção ambiental e a prevenção da poluição com as necessidades socioeconômicas. Sendo assim, neste trabalho, entende-se por impacto ambiental como qualquer mudança no meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização (ABNT, 1996). A tabela 5-1, referente à identificação de aspectos e impactos ambientais, segue o modelo sugerido nas normas ISO 14000, possui (Moura, 2000) e a pesquisa do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo como referenciais teóricos. A identificação de impactos ambientais é composta por atividade, aspectos, impactos, tipo e categoria do impacto. O tipo do impacto pode ser adverso ou benéfico e a categoria do impacto segue os níveis global, regional, local (Moura, 2000). O impacto global é aquele que se expande de tal forma que afeta todo o planeta; e o impacto de categoria regional é aquele que pode migrar para uma área consideravelmente bem definida além do local onde foi gerado. Já o impacto local modificará somente a circunvizinhança onde foi gerado. Importante destacar que as combustões do diesel e da gasolina geram os mesmos poluentes, porém, em quantidades diferentes. Para avaliação dos impactos ambientais provenientes das emissões do setor de transporte, supõe-se o uso de apenas um combustível de cada vez em todos os veículos. Foram utilizados ENEGEP 2003 ABEPRO 3

os conceitos de: severidade, probabilidade, abrangência, duração e significância. Essa avaliação considera apenas o transporte rodoviário devido ao mesmo ser responsável por 96% do transporte de passageiros e 62% do transporte de carga. Os conceitos, com exceção da significância, variam em uma escala de 1 a 5, e seus valores são atribuídos, dentro de uma matriz de Leopold, a partir de critérios de análise da composição das emissões do uso dos combustíveis (diesel, gasolina e gás natural). A severidade refere-se ao grau com que a circunvizinhança (ar, água, etc) da atividade ou empresa é afetada pelo impacto (Block, 1999). Já a probabilidade é um indicador da taxa de ocorrência do impacto (Block, 1999). A abrangência refere-se à área física (limite geográfico) que o impacto atinge consideravelmente; e a duração é o tempo necessário para corrigir o impacto, ou a presença do impacto após sua geração (Block, 1999). A significância do impacto é o resultado da multiplicação dos valores de severidade, probabilidade, abrangência e duração. É importante frisar que os resultados não indicam uma comparação proporcional. Isto é, um impacto com significância 200 não é duas vezes mais nocivo que um impacto de significância 100. Neste trabalho, foi considerado um impacto significante aquele que possua significância maior que 54, considerando a hipótese de que a partir de um impacto com as seguintes características: Severidade moderada (S=3); baixa Probabilidade (P=2); Abrangência local (A=3) e Duração (D=3), o impacto seria significativo. E como, SI=S*P*A*D, então, SI=54, para a hipótese apresentada. Devido ao grau de subjetividade que essa metodologia possui, foi construído um cenário para contabilizar as emissões no uso de gás natural utilizando como exemplo a frota de táxis. O modelo utiliza as seguintes equações: Emissão = Nº de veículos X Quilometragem anual X Taxa de emissão. Consumo = Nº de veículos X Quilometragem anual X Consumo específico O estudo foi realizado utilizando a frota de veículos da cidade de Natal, RN, Brasil. 5. Resultados e discussões A tabela 5-1 apresenta os aspectos e impactos ambientais do uso do diesel e da gasolina em veículos automotores. Verifica-se a existência de diversos impactos ambientais negativos quando do uso de combustíveis fósseis, tais como o diesel e a gasolina. Apesar dos impactos serem os mesmo para o uso de ambos combustíveis, eles diferem em sua escala de gravidade, pois, as quantidades de poluentes emitidas pela queima dependem de tipo de combustível. Sendo assim, a tabela 5-2 apresenta uma análise comparativa, levando em conta as emissões de cada combustível ao ser utilizado, apontando o diesel como combustível mais poluente, com um valor de significância total de 2269. Os valores para temperatura e saúde humana destacam-se devido às contribuições dos poluentes para o efeito estufa e aumento dos casos de problemas respiratórios, respectivamente. A gasolina também possui valores significantes, principalmente para as análises quanto à atmosfera e saúde humana devido por suas emissões de monóxido de carbono, que é um gás tóxico. Como se pode notar, o gás natural apresenta como maior valor significativo para temperatura, isso devido as suas emissões de hidrocarbonetos (incluindo o metano) e CO 2. Os valores significativos (maiores que 54) representam que essas emissões devem ser controladas, pois já afetam o meio ambiente severamente e tendem a agravar a poluição atmosférica no futuro devido ao aumento do número e da freqüência do uso de veículos. ENEGEP 2003 ABEPRO 4

ATIVIDADE ASPECTOS IMPACTOS TIPO CATEGORIA Emissão de SO 2 Chuva ácida Adverso Regional Emissão de CO Intoxicação Adverso Local Emissão de CO 2 Efeito Estufa Adverso Global Uso do diesel e Gasolina Emissão de NO X Emissão de MP* Chuva ácida Adverso Regional Formação de O 3 Adverso Global Contaminação de solo, água e ar. Adverso Regional Emissão de HC Formação de O 3 Adverso Global em veículos Emissão de O 3 ** Problemas no desenvolvimento de plantas Adverso Regional Efeito Estufa Adverso Global automotores Emissão de Aldeídos Cancerígeno em animais Adverso Regional Queima do Combustível Geração de calor Positivo Local * MP Material Particulado Utilização de recursos naturais Redução dos recursos naturais Negativo Tabela 5-1 Aspectos e impactos ambientais da combustão do diesel e da gasolina Global Combustíveis Impactos Diesel Gasolina Gás Natural S P A D SI S P A D SI S P A D SI Solo 3 3 3 4 108 2 2 3 3 36 1 1 2 2 4 Água superficial 5 3 3 4 180 3 1 3 3 27 2 1 2 3 12 Água subterrânea 5 1 3 5 75 3 1 3 5 45 2 1 2 3 12 Atmosfera S P A D SI S P A D SI S P A D SI Temperatura 5 5 5 5 625 4 5 5 5 500 3 5 5 5 325 Qualidade 5 5 3 3 225 4 5 3 3 180 3 5 2 3 90 Claridade 5 4 3 3 180 3 4 3 3 108 1 4 3 1 12 Flora S P A D SI S P A D SI S P A D SI Agricultura 5 3 3 4 180 3 2 3 4 72 2 1 2 3 12 Florestas 5 3 3 4 180 3 2 3 4 72 2 1 2 3 12 Fauna S P A D SI S P A D SI S P A D SI Aquática 4 3 3 4 144 3 2 3 4 72 1 1 2 4 8 Terrestre 3 2 3 4 72 3 2 3 4 72 2 2 2 4 32 Saúde Humana 5 4 3 5 300 4 3 3 5 180 2 3 3 5 90 TOTAL 2.269 1.364 609 Tabela 5-2 - Matriz de Leopold - Avaliação dos Impactos Ambientais do Diesel, Gasolina e Gás Natural. ENEGEP 2003 ABEPRO 5

A aplicação da contabilidade das emissões para frota de táxi foi baseada nos seguintes dados: Frota de veículos automóveis: 116.775 (DETRAN-RN, 2000) Quilometragem anual dos carros particulares = 12.000 Nº de veículos = 910 (STTU, 2002). Quilometragem anual dos táxis = 100.000 (estimativa) POLUENTES Nº de veículos Quilometragem anual Taxa de Emissão da Gasolina Total de Emissão do poluente CO 2,0 182,00 HC 0,3 27,30 910 100.000 NOx 0,6 54,60 SOx 0,12 10,92 Tabela 5-3 Contabilização das emissões da frota de Táxis considerando à Gasolina (em Toneladas) Baseado em estudos do uso do gás natural realizados pela PETROBRÁS DISTRIBUIDORA SA e (Schifter et al, 2000), o gás natural reduz as taxas de emissão dos poluentes segundo a tabela a seguir: POLUENTES Nº de veículos Quilometragem anual Taxa de Emissão do Gás Natural Total de Emissão do poluente CO 0,24 (2,0*0,12) 21,84 HC 0,339 (0,3*1,13) 30,84 910 100.000 Nox 0,36 (0,6*0,6) 32,76 Sox 0 (0*0,12) 0,00 Nota: Os valores entre parênteses representam a taxa de emissão da gasolina sendo multiplicada pelo fator de redução quando se usa o gás natural. O valor ao lado esquerdo é o resultado dessa multiplicação, isto é, a taxa de emissão do gás natural. Tabela 5-4 Contabilização das emissões da frota de Táxi usando gás natural (em Toneladas) A frota de táxi corresponde a 0,78% do número de veículos, no entanto, ao utilizar-se a equação de consumo anual de gasolina: Consumo anual = Nº de veículos X Quilometragem anual X Consumo específico Consumo anual = 910 x 100.000 Km X (1 Litro / 9 Km). Verifica-se que o consumo total da frota de veículos particulares é de 10.111.111 Litros de gasolina por ano, o que corresponde a 6,14% do consumo de gasolina por automóveis. É essencial que haja uma comparação entre as frotas para a tomada de decisão. Como por exemplo, a frota de táxi, que apesar de representar menos de 1% do número de veículo é capaz de reduzir em mais de 6% o consumo de gasolina. A sessão considerações finais leva em conta a análise dos cenários de substituição do combustível atual pelo gás natural nas frotas de carros particulares e ônibus, utilizando-se da mesma metodologia aplicada à frota de táxi da cidade de Natal. A construção desses cenários é essencial para visualizar como as ações propostas irão influenciar o quadro atual das emissões. 6. Considerações finais O setor de transporte influencia a economia do país, principalmente nos casos em que há a necessidade de importação de petróleo para atender a demanda. Aliando esses fatores ENEGEP 2003 ABEPRO 6

econômicos à questão ambiental, o uso do gás natural no setor de transportes pode representar uma estratégia para o desenvolvimento do país e atendimento a acordos, tais como, o protocolo de Kioto, o qual sugere que sejam reduzidas as emissões atmosféricas que colaboram para o efeito estufa. O protocolo de Kioto ainda não entrou em vigor, pois é necessário que as partes signatárias do documento sejam responsáveis por 55% das emissões (MCT, 2000 apud Mattos, 2001). Diversas publicações quantificam a redução de emissões quando uso do gás natural em relação aos combustíveis tradicionais. (Schifter et al, 2000) comparou emissões de veículos movidos à gasolina e convertidos a gás natural na cidade do México, obtendo uma média de redução para táxis e carros particulares em torno de 88% para CO, 91% para hidrocarbonetos (excluindo metano) e 40% para NOx. Conforme já citado no trabalho, os carros a gás natural foram 2,3 vezes menos reativos para formação de ozônio que os movidos a gasolina. No entanto, esse estudo revela um aumento de emissão hidrocarbonetos (incluindo metano) de 13%. Em um estudo realizado pela PETROBRÁS DISTRIBUIDORA S.A, com a conversão de ônibus urbano, em 1989, é revelado um quadro de diminuição de 4% e 24% respectivamente, nos níveis de emissão de monóxido de carbono e hidrocarbonetos através da substituição do diesel pelo gás natural. Além disso, houve redução total de emissão de fuligem e compostos de enxofre (SOx), bem como um aumento de 15% no nível de emissão de compostos de nitrogênio (NOx). Sendo assim, em caso de cidades que possuam o NOx como poluente crítico, recomenda-se que a gasolina deve ser substituída pelo gás natural, em caso de excesso de material particulado e SOx recomenda-se a substituição do diesel, para redução da poluição atmosférica. No Brasil, o que se observa atualmente, é o uso de gás natural em veículos particulares, desestimulando assim o uso do transporte público urbano, pois o mesmo torna o transporte particular mais econômico. Essa atitude apesar de também reduzir a poluição, pode ser considerada uma perda em termos ambientais e econômicos porque o gás não está tendo sua utilização ótima em termos ambientais, isto é, substituindo o diesel nos ônibus; ou em termos econômicos, nos táxis nos quais consegue-se um rápido retorno do investimento em virtude da quilometragem média anual. Nos casos auto-suficiência ou importação de determinado combustível poderão contribuir para as decisões estratégias de escolha de substituição do combustível. Nesse contexto, o presente trabalho torna-se uma ferramenta importante para controle da poluição atmosférica, já que o gás natural veicular irá reduzir significativamente as emissões dos veículos.vale ressaltar, que o sucesso de um sistema de gestão ambiental desse porte depende da ação conjunta das entidades governamentais (em fiscalizar), das empresas conversoras e as beneficiadas pelo plano e dos usuários em seguir corretamente as instruções de uso. O uso do gás natural é uma estratégia em que os resultados, atualmente, podem ser alcançados em curto prazo. Porém, é de fundamental importância que o setor de transportes possua também estratégias de longo prazo com a finalidade de reduzir a poluição atmosférica, mesmo com o aumento da frota no futuro. Essas estratégias consistem em melhorias do desempenho dos veículos (eficiência energética), melhoria dos combustíveis (como redução do teor de enxofre), pesquisa e desenvolvimento de combustíveis menos poluentes e novos combustíveis, educação ambiental e planejamento urbano (para diminuir a dependência de veículos privados, evitar tráfego urbano, etc). ENEGEP 2003 ABEPRO 7

6. Referências ANP - AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, http://www.anp.gov.br Assumpção, J. L. A., QUELHAS, O. L. G., LIMA, G. B. A., SOUZA, O. E. de. Poluição por veículos automotores, 2000. UFF CTC LATEC. Barreto, Mário Richa de Sá. Utilização de gás natural comprimido em motores aspirados do ciclo Otto. Natal (RN), 1989. 28p Block, M. R. Identifying Environmental Aspects and Impacts. ASQ Quality Press. Milwaukee, Wisconsin, 1999. Kaya, Y. & Yokobori, K. Environment, Energy and Economy, Strategies for sustainability. 1ªEd. United Nactions University Press, New York, 1997. Kojima, M., Lovei, M. Urban Air Quality Management The Transport-Environment-Energy Nexus. World Bank, 2000. Martínez, Maurício L. GAZETA MERCANTIL, Panorama Setorial, Análise Setorial A Indústria do Petróleo vol I. São Paulo, Abril 1999. Martínez, Maurício L. GAZETA MERCANTIL, Panorama Setorial, Análise Setorial O Mercado de Gás vol I. São Paulo, Março 1998a. Martínez, Maurício L. GAZETA MERCANTIL, Panorama Setorial, Análise Setorial O Mercado de Gás vol IV. São Paulo, Março 1998b. Mattos, Laura Bedeschi Rego de. A importância do setor de transportes na emissão de gases do efeito estufa O caso do município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ), UFRJ, COPPE, 2001. Monteiro, Aline Guimarães. Estratégia de redução de emissões de poluentes no setor de transporte por meio de substituição modal na região metropolitana de São Paulo. Rio de Janeiro (RJ), UFRJ, COPPE,1998. Moura, L. A. A. de. Qualidade e Gestão ambiental: Sugestões para Implantação das Normas ISO 14.000 nas Empresas. Ed. Juarez de Oliveira, São Paulo. 2ª Ed. 2000. 256p. NBR ISO 14001 Sistemas de gestão ambiental Especificação e diretrizes para uso. ABNT, 1996 NBR ISO 14004 - Sistemas de gestão ambiental Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio. ABNT, 1996. PESQUISA DO LABORATÓRIO DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1998 http://genesis.unisantos.com.br/~metropms/noticias/meioambiente/poluicao.htm Poulallion, Paul. Manual do Gás Natural. Ed. COASE, 1986. 351p. RELATÓRIO ESTATÍSTICO DE TRÂNSITO, Detran-RN, 2000. Acessado em http://www.detran.rn.gov.br Schifter, I. DIAZ, L. LÓPEZ-SALINAS, E and AVALOS, S. Potential impacts of compressed natural gas in the vehicular fleet of Mexico city. Environmental Science Tecnology, 2000. 34, 2100-2104. STTU, Cadastro de Táxis, Prefeitura do Natal, Natal, 2002. WORLD BANK, http://www.worldbank.org ENEGEP 2003 ABEPRO 8