DIAGNÓSTICO DO ABASTECIMENTO E QUALIDADE DA ÁGUA NO ASSENTAMENTO NOVO HORIZONTE II SANTA MARGARIDA DO SUL, RS



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ecoturismo ou turismo. As faixas de APP que o proprietário será obrigado a recompor serão definidas de acordo com o tamanho da propriedade.

Transcrição:

Relatório de Estágio DIAGNÓSTICO DO ABASTECIMENTO E QUALIDADE DA ÁGUA NO ASSENTAMENTO NOVO HORIZONTE II SANTA MARGARIDA DO SUL, RS Acadêmica Mariane Pires Cabreira CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL São Gabriel RS, Brasil Dezembro, 2011.

MARIANE PIRES CABREIRA DIAGNÓSTICO DO ABASTECIMENTO E QUALIDADE DA ÁGUA NO ASSENTAMENTO NOVO HORIZONTE II SANTA MARGARIDA DO SUL, RS Relatório de Estágio Obrigatório apresentado ao Curso de Engenharia Florestal, da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), RS, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheira Florestal Orientador: André Carlos Cruz Copetti São Gabriel 2011

MARIANE PIRES CABREIRA DIAGNÓSTICO DO ABASTECIMENTO E QUALIDADE DA ÁGUA NO ASSENTAMENTO NOVO HORIZONTE II SANTA MARGARIDA DO SUL, RS Relatório de Estágio Obrigatório apresentado ao Curso de Engenharia Florestal, da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), RS, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheira Florestal Orientador: André Carlos Cruz Copetti Relatório de Estágio Obrigatório defendido e aprovado em: 21 de dezembro de 2011. Banca examinadora: Profº. Ms André Carlos Cruz Copetti Orientador - UNIPAMPA Profª. Drª. Ana Paula Fleig Saidelles UNIPAMPA Profª.Ms. Beatriz Stoll Moraes UNIPAMPA Eng. Agr. Paulo Eduardo Martins Fassina (Supervisor de estágio) Prefeitura Municipal de Santa Margarida do Sul

AGRADECIMENTOS Aos meus pais pelo amor, dedicação e apoio, ensinando-me a persistir nos meus objetivos e ajudando a alcançá-los. À minha família, pelo carinho, por acreditarem e torcerem por mim, me incentivando em todos os momentos em que precisei. À meu orientador, Professor André Carlos Cruz Copetti, pela amizade, pelos conhecimentos transmitidos, confiança, apoio, paciência e incentivo. À Prefeitura Municipal de Santa Margarida do Sul e ao Eng. Agrônomo Paulo Fassina pelo apoio, confiança, e pela oportunidade proporcionada. Muito obrigada.

RESUMO Falta de água e a infra-estrutura precária. É com essa realidade que a maioria das 85 famílias assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no Assentamento Novo Horizonte II, em Santa Margarida do Sul, convive diariamente. Boa parte dos assentados sofre com a falta de água. Em alguns lotes, não tem água sequer para beber, algumas famílias precisam caminhar até lotes vizinhos para garantir o recurso, e ainda assim é preciso economizar e controlar o consumo. Dessa forma, o objetivo do presente relatório é apresentar um diagnóstico do abastecimento e das fontes disponíveis para captação de água, em sete lotes do assentamento. Tanto a qualidade da água quanto a sua quantidade e regularidade de fornecimento são fatores determinantes para o acometimento de doenças no homem. Para se construir um sistema de abastecimento de água em uma cidade é necessário que se conheça as necessidades da população que será abastecida e também a taxa de crescimento populacional e industrial dessa cidade. A partir dessas informações é possível projetar um sistema de abastecimento de água tratada, que poderá servir àquela comunidade específica durante muitos anos. Palavras-chave: Fontes de água, sistemas de abastecimento de água, captação de água.

ABSTRACT Walter shortages and poor infrastructure. This reality is that most of the 85 families settled by the Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), the Novo Horizonte II Settlement in Santa Margarida do Sul live every day. Much of the settlers suffer from lack of water. In some lots do not even have water to drink, some families have to walk to neighboring parcels to ensure the recourse, and it is still necessary to control the consumption and saving. Thus, the purpose of this report is to present a diagnosis of supply and sources of water available for uptake in seven lots of the settlement. Both water quality and the quantity and regularity of supply are key factors to the onset of disease in man. To build a system of water supply in a city is necessary to know the needs of the population that will be supplied and also the rate of population and industrial growth of this city. From this information it is possible to design a system to supply treated water that could serve as specific to that community for many years. Key words: Water sources, Water supply systems, Water harvesting.

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Ciclo hidrológico... 15 FIGURA 2 - Sistema convencional de tratamento de água... 21 FIGURA 3 - Desenho esquemático de uma rede ramificada tipo espinha de peixe... 22 FIGURA 4 - Desenho esquemático de uma rede ramificada tipo grelha... 23 FIGURA 5 - Desenho esquemático de uma rede malhada... 24 FIGURA 6 - Mapa do Assentamento Novo Horizonte II no município de Santa Margarida do Sul RS... 29 FIGURA 7 - Representação dos pontos visitados no assentamento Novo Horizonte II em Santa Margarida do Sul RS... 30 FIGURA 8 - Fonte no lote 57, de propriedade de Moisés Piedade... 31 FIGURA 9 - Fonte no lote 58, de propriedade de Nelson Felts... 32 FIGURA 10 - Fonte nos lotes 1 e 2, de propriedade de Adão Godoy e Senamir Godoy... 32 FIGURA 11 - Fonte no lote 56, de propriedade de Eni... 33

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Doenças relacionadas com a água... 18

ANEXOS Anexo 1 - Questionário aplicado nas propriedades visitadas...36

SUMÁRIO 1. ORGANIZAÇÃO... 10 2. INTRODUÇÃO... 12 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 13 3.1. MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO... 13 3.1.1. Água Subterrânea... 14 3.2. SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA... 19 3.2.1. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano como instrumento de proteção à saúde.... 19 3.3. TRATAMENTO DA ÁGUA DE CAPTAÇÃO SUPERFICIAL... 20 3.4. REDES DE DISTRIBUIÇÃO... 22 3.4.1. Tipos de redes... 22 3.5. POLUIÇÃO DE MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA... 25 3.5.1. Contaminação... 26 3.5.2. Assoreamento... 26 3.5.3. Eutrofização... 26 3.5.4. Acidificação... 27 3.5.5. Alterações hidrológicas... 27 4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS... 28 4.1. LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES ACERCA DA SITUAÇÃO ATUAL DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA... 28 4.2. AVALIAÇÃO A CAMPO DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA... 28 4.3. ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO FINAL... 30 4.4. RESULTADOS E DISCUSSÕES... 30 5. CONCLUSÕES... 34 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 35 7. ANEXOS... 36

10 1. Organização O município de Santa Margarida do Sul localiza-se na metade sul do Estado, denominado região da campanha, suas coordenadas geográficas são de aproximadamente 30º 30 27 latitude sul e 59º 19 01 de longitude oeste. Limita-se ao norte e ao oeste com São Gabriel, a leste com Vila Nova do Sul e, ao sul com São Gabriel e Lavras do Sul. A superfície territorial do município é de 958 km², distante 295 km de Porto Alegre, capital do RS. Sua população estimada é de 2.352 habitantes, com densidade demográfica de 2,5 hab/km², segundo censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010. Santa Margarida do Sul pertencia ao município de São Gabriel, como Distrito, do qual foi desmembrado pela Lei, nº 10.751/96, de abril de 1996. O Município surgiu a partir da ideia de um grupo de margaridenses que acreditava que a emancipação traria desenvolvimento. A economia do Município baseia-se principalmente na agropecuária. O setor primário de Santa Margarida do Sul possui várias alternativas, especialmente na agricultura. As principais culturas são a soja e o arroz, seguidos do trigo, cevada e painço. A citricultura e a vitivinicultura estão apresentando considerável desenvolvimento no Município. A Bacia leiteira é uma característica do Município. Também a criação de suínos e javalis para abate e um complexo industrial que trata do beneficiamento de cereais. O município de Santa Margarida do Sul, economicamente, apresenta dificuldades na oferta de empregos, sendo que filhos de pequenos agricultores deixam a zona rural, deslocando-se para as cidades em busca de melhores condições de vida. Isto devido à baixa renda familiar em pequenas propriedades de famílias numerosas. Para minimizar esta situação, o município vem se empenhando na organização e desenvolvimento da sociedade local objetivando melhores oportunidades de trabalhos para todos. A Prefeitura de Santa Margarida do Sul, unidade concedente do estágio, desenvolve diversos programas, projetos e trabalhos ambientais junto à comunidade, através da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente em parceria com instituições e órgãos ambientais da região. Entre os principais projetos estão: - Programa "Árvore é Vida" - utiliza recursos estaduais, tendo como parceiros a SEMA-DEFAP-RS (Secretária do Meio Ambiente Departamento de Florestas e Áreas

11 Protegidas do Rio Grande do Sul) e AMFRO (Associação dos Municípios da Fronteira Oeste), que consiste na distribuição de 123 mil mudas nativas para a recuperação de áreas degradadas, APP s e Reserva Legal, programa "Educação, conscientização ambiental e recuperação de áreas degradadas no assentamento rural e nas comunidades em Santa Margarida do Sul"; - Projeto Prevenção de Emergências Construindo Comunidades Mais Seguras: promovem a preservação/recuperação de nascentes como forma de melhorar a sustentabilidade da pequena propriedade, prevenção de emergências, visando também aconscientização das pessoas e servindo de modelo e incentivo para que outras comunidades preservem seus recursos hídricos; - Corredores Ecológicos - possibilitam a implantação de sistemas de corredores ecológicos, permitindo a interligação de remanescentes de vegetação nativa com as diferentes áreas de vegetação ciliar (ripária). Permitindo o aumento da diversidade e riqueza das espécies; aumento da variabilidade genética; estabilização de micro climas e diminuição das taxas de extinção. - Programa de Gestão Ambiental nas propriedades rurais: introduz a gestão ambiental na propriedade rural, demonstrando a importância da informação e capacitação para os profissionais da área e, também, a implantação de programas de educação ambiental direcionada aos produtores rurais. A adoção das melhores práticas de gestão ambiental nas propriedades rurais é fundamental para viabilizar sistemas produtivos mais sustentáveis.

12 2. Introdução Todos os seres vivos dependem da água para viver. No organismo humano representa cerca de 70% da massa corporal e atua com diversas funções, sendo uma delas a transpiração, que permite a manutenção da temperatura do corpo. A água pode representar até 90% da composição das plantas, e a falta desta durante os períodos de crescimento dos vegetais pode destruir lavouras e até os ecossistemas. O Planeta Terra é constituído de 70% de água, sendo que apenas 3% é doce e, 98% da água doce é subterrânea. Isso quer dizer que a maior parte da água disponível e própria para consumo, é mínima comparada com a quantidade de água existente na Terra. Para a vida moderna, nos centros urbanos, a água tornou-se indispensável para a limpeza das cidades, no combate a incêndios, na irrigação de jardins e também na construção civil. Não sabemos viver sem água, pois a utilizamos para a limpeza doméstica, para a higiene pessoal, para cozinhar nossa comida e principalmente para nossa hidratação. Apesar da grande quantidade de água consumida pelas atividades econômicas e domésticas nos países desenvolvidos, a água, assim como outros bens não é bem distribuída no mundo. Mais de um bilhão de pessoas, um sexto da população mundial, não tem acesso a água potável. Além disto, 2.400 milhões de pessoas, 40% dos habitantes do Planeta não têm acesso a serviços de saneamento básico, o que provoca a morte de cerca de seis mil crianças por dia devido a doenças ligadas à água insalubre e a deficiência do saneamento básico. Falta de água e infraestrutura precária é a realidade que a maioria das 85 famílias assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no Assentamento Novo Horizonte II, em Santa Margarida do Sul, convive diariamente. O assentamento está localizado a cerca de cinco quilômetros da sede administrativa do município. Boa parte dos assentados sofre com a falta de água. Em alguns lotes, não tem água sequer para beber, algumas famílias precisam caminhar até lotes vizinhos para garantir o abastecimento, e ainda assim é preciso economizar e controlar o consumo. Dessa forma, o objetivo do presente relatório é apresentar um diagnóstico do abastecimento e das fontes disponíveis para captação de água, em sete lotes do assentamento Novo Horizonte II no município de Santa Margarida do Sul RS.

13 3. Revisão Bibliográfica A água é essencial para os humanos e para as outras formas de vida. Ela age como reguladora de temperatura, diluidora de residuos e transportadora de nutrientes por entre os vários organismos. Bebe-se água para ajudar na diluição e funcionamento normal dos órgãos para em seguida ser eliminada pela urina e por evaporação nos poros, mantém a temperatura corporal e eliminando resíduos solúveis, como sais e impurezas. Na indústria ela desempenha o mesmo papel de diluidora, transportadora e resfriadora nos vários processos de manufatura e transformações de insumos básicos em bens comerciais (WIKIPEDIA, 2010). Segundo a Declaração Universal dos Direitos da Água, o direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no artigo 30 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE, 2000). É fato que as atividades humanas respaldadas em um estilo de vida e desenvolvimento, tem determinado alterações significativas no meio ambiente, influenciando a disponibilidade de uma série de recursos. A água, em alguns territórios, tem-se tornado um recurso escasso e com qualidade comprometida. Os crescentes desmatamentos, os processos de erosão/assoreamento dos mananciais superficiais, os lançamentos de efluentes e detritos industriais e domésticos nos recursos hídricos tem contribuído para tal situação. Nos países em desenvolvimento essa problemática e agravada em razão da baixa cobertura da população com serviços de abastecimento de agua com qualidade e quantidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.1. Mananciais de abastecimento Chama-se manancial qualquer local que tenha água e que esta possa ser retirada para uso. Exemplos: uma cacimba, um poço, um açude, um rio, etc. Segundo Feitosa e Filho (2011), podemos contar com os seguintes tipos de mananciais: a) de águas de chuva (cisternas);

14 b) de águas do subsolo ou subterrâneas (poços, cacimbas, fontes); c) de águas das superfícies (açudes, rios, lagoas). Na escolha de um manancial, devemos levar em conta a qualidade de sua água, a quantidade de água que ele dispõe e analisá-lo sob o seu aspecto econômico. A água do subsolo pode ser encontrada em fontes e poços. Na fonte, a água brota naturalmente do terreno. O poço aproveita a água obtida de uma abertura feita no terreno. As fontes, também chamadas de olhos d'água, podem ser de encosta (nas subidas dos altos ou nas serras) e de fundo de vale (nos baixios, nestes casos também chamadas de minas d'água). 3.1.1. Água Subterrânea De acordo com Freitas (2011), em nosso planeta a água pode ser encontrada de diversas maneiras na natureza (rios, lagos, oceanos, calotas polares, atmosfera, e no subsolo) e em três estados físicos (líquido, gasoso e sólido), a maioria da água doce contida na natureza se encontra no subsolo. Os aquíferos, juntamente com os rios, fornecem água para o consumo humano e também para os animais (domésticos e silvestres). A água é usada pelo homem para realizar a higiene corporal, residencial, além de servir para cozinhar os alimentos, beber e realizar atividades industriais. No subsolo a água se encontra em duas camadas. A primeira camada recebe o nome de zona não-saturada, nela se encontra oxigênio e água entre as rochas e solos. A segunda recebe o nome de zona saturada. Nesse caso, as lacunas dispostas entre os elementos rochosos se encontram repletas de água. Sobre as águas subterrâneas existem dois tipos básicos de lençóis: freático e artesiano. O primeiro se encontra na zona não-saturada, próximo da superfície, fator que facilita a extração pelo homem e também a contaminação. Já as reservas de água dos lençóis artesianos se acumulam em camadas profundas do subsolo, fazendo com que sua extração seja mais difícil. O lençol artesiano está na zona saturada, por isso, para a realização de sua extração, é necessária a construção de poços artesianos, pois a água se encontra armazenada por debaixo das rochas, as quais devem ser atravessadas.

15 A maneira pela qual a água se movimenta no nosso planeta, as características de cada local e outros fenômenos podem ser explicados pelo ciclo da água, ou ciclo hidrológico (EDUCAR, 2011) representados na figura 1. FIGURA 1 - Ciclo hidrológico Fonte: Educar, 2011. O termo ciclo hidrológico designa as transformações nos estados físicos da água que ocorrem no ambiente. A representação (Fig.1) desses processos em um ciclo é adequada, porque não é possível determinar o início ou o final do processo. Cada etapa é seguida de outra, sem que necessariamente exista uma ordem obrigatória. O fato é que a água raramente permanece muito tempo no mesmo lugar. Na forma de gelo, nas regiões muito frias da terra, ou em depósitos subterrâneos muito profundos, ela permanece por mais tempo, porque as trocas com o ambiente ocorrem mais lentamente. Mas, na atmosfera estima-se que o tempo médio de permanência de uma molécula de água seja de apenas 10 dias. Isso significa que a água que sai do nosso corpo pela transpiração e se mistura no ar, demora cerca de dez dias para passar a fazer parte das águas de rios, lagos, mares ou até mesmo de outro organismo (DAVID, 2009).

16 A energia fornecida pelo sol é a principal causa para os deslocamentos da água na terra. A energia solar transforma a água dos rios e mares em vapor, que se junta com a água perdida pelas plantas e animais por meio da transpiração e com a água de diversas origens, misturando-se na atmosfera. À medida que o vapor d'água se condensa no ar, formam-se as nuvens. As nuvens são formadas por gotículas de água espalhadas na atmosfera, que ao se juntarem, caem na forma de chuva. Se a atmosfera esfriar muito, as gotículas podem formar neve ou granizo. Parte da água da chuva infiltra-se no solo e outra parte escoa para os rios e mares. E assim, todo o ciclo recomeça e se repete indefinidamente. Entretanto, sabe-se que não chove a mesma quantidade de água que evapora e nem mesmo chove no mesmo lugar do qual a água evaporou. A água escoa de um lugar para outro, sendo transportada por rios e mares e também pelo vento. Sendo assim, o volume de água disponível varia no mundo, fazendo com que ao mesmo tempo em que ocorrem tempestades em determinada região, em outras ocorra secas. A variação do volume de água de uma região para outra depende do clima, e este, também varia de acordo com diversas interferências, incluindo algumas ações humanas (DAVID, 2009). Segundo Aprile (2011), algumas características da água fazem dela uma substância única e essencial para a vida no Planeta, como: Capacidade térmica: a água é capaz de absorver rapidamente o calor de um corpo que esteja em contato com ela. Se colocarmos um copo de papel com água dentro sobre uma chama, observamos que o papel não pega fogo e a temperatura da água aumenta. Isso acontece porque a água absorve o calor do papel. A capacidade dos vegetais de absorver a radiação solar sem se queimar também demonstra a capacidade térmica da água. Os vegetais, que têm água em sua composição, absorvem a energia solar e realizam a fotossíntese. Outro exemplo é a transpiração tanto dos vegetais quanto dos animais, que serve para resfriar o corpo, pois à medida que a água evapora, absorve grande quantidade de calor. Calor específico: é uma grandeza definida como a quantidade de calor necessária para aumentar em 1 C a temperatura de um grama de água. Solvente universal: a água é capaz de dissolver substâncias como açúcar ou sal, entre muitas outras. Por isso a água é considerada um solvente universal. Transporte: por causa da capacidade de dissolver diversas substâncias, ela pode também transporta-las. Essa propriedade da água é vital para os seres vivos, pois o sangue, que contém

17 aproximadamente 60% de água, transporta gás oxigênio, gás carbônico, hormônios, vitaminas e nutrientes para diferentes partes do corpo. Tensão superficial: é a força capaz de manter as moléculas de água unidas em sua superfície, de tal maneira que, objetos leves, tais como folhas e certos insetos, não conseguem romper a camada superficial da água e flutuam sobre ela. Segundo David (2009), água potável é aquela que pode ser consumida sem risco para a saúde. Para ser considerada potável, a água deve obedecer a determinados requisitos de natureza física, química e biológica descritos a seguir. Dentre os requisitos físicos da água potável cita-se: ser incolor (não ter cor); ser inodora (não ter cheiro); ter sabor indefinível, mas que permite distingui-la de qualquer outro líquido; dar sensação de frio ao tato, quando em temperatura ambiente e inferior a do corpo. Com relação aos aspectos físicos considerados, são chamadas de poluição todas as alterações que podem ser percebidas em sua cor, cheiro, sabor e também em sua temperatura. Essas alterações podem ter diversas causas. Quando a água apresenta alguma alteração em sua limpeza, dizemos que apresenta turvação ou turbidez, que pode ser causada pela presença de argila, algas ou matéria orgânica. As alterações de cheiro, cor e até na temperatura podem ser causadas pela decomposição de matéria orgânica. Entretanto, quando a água se apresenta muito escura ou leitosa, pode conter restos industriais. Já os requisitos químicos são: conter sais dissolvidos com pequena quantidade de cálcio e magnésio; não deve conter nenhum sal tóxico, principalmente os de metais pesados; deve conter oxigênio dissolvido em quantidade adequada. As alterações químicas são mais difíceis de serem percebidas, pois podem não alterar os aspectos físicos característicos da água potável. O excesso ou a ausência de sais minerais que, normalmente a água potável deve conter, prejudica a qualidade da água. Assim como a presença de elementos estranhos e tóxicos como, por exemplo, o arsênio, o chumbo e o mercúrio. Com relação aos requisitos biológicos é possível citar: não pode conter organismos patogênicos, ou seja, causadores de doenças. A contaminação por organismos patogênicos nem sempre pode ser percebida apenas pelos aspectos físicos, mas qualquer alteração na aparência da água é um indicativo de que uma investigação mais cuidadosa precisa ser feita. Tanto a qualidade da água quanto a sua quantidade e regularidade de fornecimento são fatores determinantes para o acometimento de doenças no homem (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

18 A água pode veicular um elevado número de enfermidades e essa transmissão pode se dar por diferentes mecanismos. O mecanismo de transmissão de doenças mais comumente lembrado é diretamente relacionado à qualidade da água é o da ingestão, por meio do qual um individuo sadio ingere água que contenha componente nocivo a saúde, e a presença desse componente no organismo humano provoca o aparecimento de doença. Um segundo mecanismo refere-se à quantidade insuficiente de água, gerando hábitos higiênicos insatisfatórios e, consequentemente, doenças relacionadas a inadequada higiene dos utensílios de cozinha, do corpo, do ambiente domiciliar. Outro mecanismo compreende a situação da água no ambiente físico, proporcionando condições propicias a vida e a reprodução de vetores ou reservatórios de doenças. Um importante exemplo é o da água empoçada, contaminada por esgotos, como habitat para o molusco hospedeiro intermediário da esquistossomose. Outro exemplo desse mecanismo é o da água como habitat de larvas de mosquitos vetores de doenças, como o mosquito Aedes aegypt (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Tabela 1 - Doenças relacionadas com a água Grupo de doenças Formas de transmissão Principais doenças Formas de prevenção Transmitidas pela via feco-oral (alimentos contaminados por fezes). Controladas pela limpeza com a água (associadas ao abastecimento insuficiente de água). Associadas à água (uma parte do ciclo da vida do agente infeccioso ocorre em um animal aquático). O organismo patogênico (agente causador de doença) é ingerido. A falta de água e a higiene pessoal insuficiente criam condições favoráveis para sua disseminação. O patogênico penetra pela pele ou é ingerido. 1. Diarréias e disenterias; como a cólera e a giardíase. 2. Febre tifóide e paratifóide. 3. Leptospirose. 4. Amebíase. 5. Hepatite infecciosa. 6.Ascaridíase (lombriga). Infecções na pele e nos olhos, como o tracoma e o tifo relacionado com piolhos, e a escabiose. Esquistossomose. 1. Proteger e tratar as águas de abastecimento e evitar uso de fontes contaminadas. 2. Fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal,doméstica e dos alimentos. Fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal e doméstica. 1. Evitar o contato de pessoa com águas infectadas 2. Proteger mananciais 3. Adotar medidas adequadas para a disposição de esgotos 4. Combater o hospedeiro Intermediário.

19 Continuação tabela 1... Transmitidas por vetores que se relacionam com a água. As doenças são propagadas por insetos que nascem na água ou picam perto dela. Fonte: Ministério da saúde - Secretária de Vigilância em Saúde, 2006. 1. Malária 2. Febre amarela 3. Dengue 4. Filariose (elefantíase). 1. Combater os insetos transmissores 2. Eliminar condições que possam favorecer criadouros 3. Evitar o contato com criadouros 4. Utilizar meios de proteção Individual. 3.2. Sistema de abastecimento de água Os sistemas de abastecimento de água (SAA) são obras de engenharia que, além de objetivarem assegurar o conforto as populações e prover parte da infraestrutura das cidades, visam prioritariamente superar os riscos a saúde impostos pela água (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Para se construir um sistema de abastecimento de água em uma cidade é necessário que se conheça as necessidades da população que será abastecida e também a taxa de crescimento populacional e industrial dessa cidade. A partir dessas informações é possível projetar um sistema de abastecimento de água tratada, que poderá servir àquela comunidade específica durante muitos anos (DAVID, 2009). Um sistema convencional de abastecimento de água é constituído das seguintes unidades: captação, adução, estação de tratamento, reservação, redes de distribuição e ligações domiciliares (DAVID, 2009). 3.2.1. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano como instrumento de proteção à saúde. Tanto o controle da qualidade da água, exercido pela entidade responsável pela operação do SAA, quanto a sua vigilância, por meio dos órgãos de saúde pública, são instrumentos essenciais para a garantia da proteção a saúde dos consumidores. É falsa a compreensão de que bastam a concepção, o projeto, a implantação, a operação e a

20 manutenção adequados para que um SAA esteja livre de riscos a saúde humana. Obviamente, essas etapas são essenciais, mas não suficientes, para garantir a necessária proteção à saúde. Fatores diversos podem atingir um SAA, por mais sanitariamente eficientes que estes sejam. As mais imprevisíveis e variadas situações podem ocorrer em um SAA, impondo riscos a saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.3. Tratamento da água de captação superficial David (2009) cita que o processo de tratamento da água leva em conta os requisitos físicos, químicos e biológicos e é feito em 8 etapas: coagulação, floculação, decantação, filtração, aeração, desinfecção, fluoretação e correção do ph (figura 2). Coagulação: ao chegar à estação de tratamento, a água bruta recebe duas substâncias: cal e sulfato de alumínio. Com a adição de CaO (cal), a água torna-se ligeiramente alcalina ou básica. Isto porque o óxido de cálcio ou CaO reage com a água produzindo o hidróxido de cálcio (Ca(OH) 2 ). Em seguida, com a adição do sulfato de alumínio, forma-se o hidróxido de alumínio (Al(OH) 3 ), que é insolúvel e tem um aspecto gelatinoso, formando uma espécie de coágulos na água. Floculação: a floculação é o que acontece depois da coagulação. Após a adição de cal e sulfato de alumínio (Al 2 (SO 4 ) 3 ), a água é misturada, permitindo que os coágulos de hidróxido de alumínio se espalhem e, assim, ao precipitar, carregue as partículas de sujeira em suspensão na água para o fundo do tanque de concreto. Decantação: os flocos formados pelo hidróxido de alumínio e as partículas de sujeira depositam-se no fundo por ação da gravidade. Assim, a água livre dos resíduos que fica por cima pode ser separada mecanicamente. Filtração: o processo de filtração serve para separar resíduos sólidos de um líquido. Nesse caso a água decantada passa por filtros formados por diversas camadas de areia e cascalho de diversos tamanhos. As impurezas que não foram sedimentadas durante os processos anteriores ficam retidas no filtro. Aeração: um dos requisitos para a potabilidade da água é que ela tenha certa quantidade de oxigênio dissolvido. Com objetivo de aerá-la, a água é aspergida no ar. A aeração, além de

21 conferir à água seu sabor característico, auxilia no processo de oxidação de substâncias orgânicas eventualmente presentes. Desinfecção: quando a água chega a esta etapa, ela já se encontra limpa. Do ponto de vista físico todos os requisitos já foram observados, mas a água poderá ainda conter microorganismos nocivos à saúde, por essa razão é feita a adição de hipoclorito de sódio (NaClO), e é isto que garante a qualidade da água nas redes de distribuição e nos reservatórios. Fluoretação: em algumas cidades brasileiras, além do tratamento de limpeza e desinfeção da água, ela é também fluoretada. A fluoretação consiste na aplicação de dosagens adequadas de iodeto de sódio ou potássio nas águas a serem distribuídas. A fluoretação previne e reduz a incidência de cárie dentária, especialmente no período de formação de dentes, que vai da gestação até a faixa de 14 anos de idade. Durante um período de 10 anos a aplicação do flúor provoca redução de 60% no índice de cáries dentárias. Correção do ph: a etapa final envolve novamente a adição de CaO (cal) afim de se obter ph adequado para a proteção das tubulações da rede de distribuição e das casas dos usuários. FIGURA 2 - Sistema convencional de tratamento de água Fonte: COPASA, 2011.

22 3.4. Redes de distribuição A rede de distribuição consiste na última etapa de um sistema de abastecimento de água, constituindo-se de um conjunto de condutos assentados nas vias públicas ou nos passeios, aos quais se conectam os ramais domiciliares. Dessa forma, a função da rede de distribuição e conduzir as águas tratadas aos pontos de consumo, mantendo suas características de acordo com o padrão de potabilidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.4.1. Tipos de redes Conforme a disposição dos condutos principais, pode ser definido basicamente dois tipos de redes: ramificadas e malhadas(ministério DA SAÚDE, 2006). 3.4.1.1 Redes ramificadas Nesse tipo de rede, os condutos são dispostos a partir de um conduto principal central. Em uma primeira alternativa, essa ramificação da rede assemelha-se a uma espinha de peixe. Esse esquema e típico de cidades de menor porte que apresentam desenvolvimento particularmente linear. Na figura 3 apresenta-se um desenho esquemático desse tipo de rede ramificada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). FIGURA 3 - Desenho esquemático de uma rede ramificada tipo espinha de peixe Fonte: Ministério da saúde - Secretária de Vigilância em Saúde, 2006.

23 Em uma segunda alternativa de traçado de redes ramificadas (figura 4), os condutos principais são paralelos e ligam-se em suas extremidades a outros condutos principais. Também neste caso os diâmetros das tubulações decrescem na direção do fluxo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). FIGURA 4 - Desenho esquemático de uma rede ramificada tipo grelha Fonte: Ministério da saúde - Secretária de Vigilância em Saúde, 2006. As redes ramificadas apresentam como principais limitações ao seu emprego a paralisação da quase totalidade do abastecimento por ocasião de eventuais manutenções dos condutos principais e também pela significativa redução das concentrações de cloro residual nas extremidades da rede (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.4.1.2 Redes malhadas Nesse caso, os condutos formam circuitos ou anéis que tem a disposição de anéis ou malhas, disposição esta muito mais empregada do que a de redes ramificadas. Diferentemente destas últimas, nas redes malhadas, graças à forma de circuitos, a interrupção do escoamento em qualquer trecho não necessariamente paralisa setores a jusante, pois o escoamento pode ocorrer segundo sentidos distintos aos condutos principais. Em relação a qualidade da água distribuída, as redes malhadas minimizam a possibilidade de redução significativa da

24 concentração de cloro residual, em virtude da inexistência de pontas secas nas extremidades. A figura 5 apresenta um desenho esquemático desse tipo de rede de distribuição (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). FIGURA 5 - Desenho esquemático de uma rede malhada Fonte: Ministério da saúde - Secretária de Vigilância em Saúde, 2006. Mesmo nas grandes cidades, o traçado das redes de distribuição consiste em uma mescla dos dois tipos. Enquanto nas regiões centrais ou mais adensadas predominam as redes malhadas, nas áreas periféricas ou em expansão as redes ramificadas são conectadas as primeiras e extensivamente empregadas. As redes de distribuição devem dispor de registros e dispositivos de descarga instalados em pontos adequados a fim de lhes facilitar a manutenção (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

25 3.5. Poluição de mananciais de abastecimento de água A poluição das águas pode ser conceituada como a ocorrência de fenômenos (adição de substâncias ou de formas de energia e modificações no meio) que direta ou indiretamente alteram a natureza de um corpo d água e assim prejudicam os usos que dele são feitos. E importante destacar que o prejuízo se refere aqui não apenas ao ser humano, mas também a biota aquática, as atividades sociais e econômicas em geral, aos recursos naturais e aos acervos históricos, culturais e paisagísticos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). De acordo com o Ministério da Saúde (2006), a poluição das águas pode ocorrer de três formas: introdução de substâncias artificiais e estranhas ao meio, como, por exemplo, o lançamento de agrotóxicos em rios ou a contaminação por organismos patogênicos; introdução de substâncias naturais e estranhas ao meio, como o aporte de sedimentos as águas de um lago, reduzindo seu volume útil; e alteração na proporção ou nas características dos elementos constituintes do próprio meio, como, por exemplo, a diminuição do teor de oxigênio dissolvido nas águas de um rio em decorrência da presença de matéria orgânica. A origem da poluição pode ser associada a duas causas primarias: o forte crescimento populacional e a expansão das atividades industriais. O intenso crescimento populacional observado nas últimas décadas tem conduzido ao incremento na geração de esgotos e a maior demanda de alimentos, o que por sua vez implica um crescente consumo de agrotóxicos e fertilizantes, agentes poluidores de grande magnitude. Essa explosão populacional ocorre fundamentalmente nos países mais pobres, que não dispõem de infraestrutura adequada de esgotamento sanitário e de controle de poluição, o que conduz ao estabelecimento de condições negativas para o uso dos ambientes aquáticos. A expansão das atividades industriais, também intimamente relacionada ao crescimento populacional, vem promovendo a transformação de matérias-primas em bens de consumo em escala cada vez maior, gerando, como consequência, grande quantidade de rejeitos, cujo destino final frequentemente é o ambiente aquático.

26 Os principais fenômenos causadores da poluição aquática são a contaminação, o assoreamento, a eutrofização, a acidificação e as alterações hidrológicas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.5.1. Contaminação Consiste na introdução de substâncias que provocam alterações prejudiciais ao uso do ambiente aquático, caracterizando assim a ocorrência da poluição. Os agentes contaminantes de maior importância são a matéria orgânica, os organismos patogênicos, os compostos organossintéticos e os metais pesados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.5.2. Assoreamento O assoreamento consiste no aporte de material mineral (areia, silte, argila) a um corpo d agua, diminuindo sua profundidade e seu volume útil e assim prejudicando diversos usos da água. A principal origem do assoreamento esta relacionada a movimentos de terra (abertura de loteamentos, construção de rodovias e exposição do solo, sem proteção, em áreas agrícolas) na bacia de drenagem do rio ou do lago. Quando ocorrem as chuvas, esse material é então carreado pelas águas do escoamento superficial até o corpo d agua mais próximo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.5.3. Eutrofização De todos os fenômenos poluidores da água, a eutrofização é aquele que apresenta as mais complexas características, em função de sua base essencialmente biológica. O conceito de eutrofização relaciona-se com uma superfertilização do ambiente aquático, em decorrência

27 da presença de nutrientes. Etimologicamente o termo eutrófico significa muito alimentado ou alimentado em excesso. A eutrofização é, portanto, o fenômeno que transforma um corpo d agua em um ambiente bastante fertilizado ou bastante alimentado, o que implica um crescimento excessivo de plantas aquáticas. Em razão da presença de nutrientes em excesso, os organismos vegetais encontram condições favoráveis ao seu crescimento, o qual pode atingir proporções intensas, caracterizando-se, assim, o estabelecimento da eutrofização (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.5.4. Acidificação A acidificação de ambientes aquáticos consiste no forte abaixamento do ph do meio, trazendo prejuízos a biota aquática e a alguns usos da água. A redução de ph no corpo d agua pode ter origem na precipitação pluviométrica com baixos valores de ph, fenômeno este conhecido como chuva ácida. A chuva ácida, por sua vez, é decorrente da poluição atmosférica, principalmente em grandes centros urbanos, particularmente pelo lançamento de gases formados por compostos de enxofre e de nitrogênio. Esses gases, bastante frequentes em regiões industriais, complexam-se com o vapor d agua presente na atmosfera, o que leva a formação de ácidos, notadamente o ácido sulfúrico e o ácido nítrico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 3.5.5. Alterações hidrológicas Caracterizado fundamentalmente pela retirada de água de rios, em geral para fins de irrigação, provocando prejuízos a utilização da água na região de jusante. Existem exemplos de rios que sofrem uma redução tão grande de vazão que chegam praticamente a secar durante a maior parte do ano. Essas alterações hidrológicas, além de afetar gravemente o aspecto da quantidade de água, também apresentam influências negativas sobrea qualidade, em decorrência do aumento das concentrações graças a diminuição da capacidade diluidora (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

28 4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS O estágio foi realizado no período de 03/10/2011 à 30/11/2011, correspondendo a seis (06) horas diárias, perfazendo um total de trinta (30) horas semanais. O mesmo foi desenvolvido junto a Secretária da Agricultura e Meio Ambiente de Santa Margarida do Sul RS, onde foi realizado o acompanhamento dos trabalhos relacionados ao abastecimento de água no Assentamento Novo Horizonte II (figura 6). 4.1. Levantamento de informações acerca da situação atual de abastecimento de água Primeiramente foram reunidos todos os dados sobre o assentamento Novo Horizonte II, principalmente os mapas disponíveis da área, para uma melhor identificação das moradias; rede de drenagem; rede de estradas; fontes de águas; pocilgas ou fontes de poluição; entre outras informações relevantes. De posse destas informações foram definidas as seis áreas que seriam visitadas para avaliação das fontes e aplicação de um questionário para a coleta de dados referentes ao abastecimento e a qualidade da água no assentamento. As áreas foram selecionadas devido à facilidade de acesso, e por possuir fontes dentro da propriedade. 4.2. Avaliação a campo do abastecimento de água Seguido da realização do levantamento e da obtenção de informações, realizou-se uma visita a campo para diagnosticar as formas de abastecimento de água no assentamento e fazer o apontamento da localização das fontes ilustradas nas figuras 6 e 7.

FIGURA 6 - Mapa do Assentamento Novo Horizonte II no município de Santa Margarida do Sul RS Fonte: Secretária da Agricultura e Meio Ambiente de Santa Margarida do Sul - RS, 2011. 29