Promotores de saúde param a cólera... 2 Trabalhar em conjunto para a mudança... 3 O que é que tornou esta organização de saúde tão bem-sucedida?...



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Transcrição:

Promotores de saúde param a cólera...................................... 2 Trabalhar em conjunto para a mudança.................................. 3 O que é que tornou esta organização de saúde tão bem-sucedida?........ 4 Como é que a visão de saúde ambiental se alargou........................ 5 Um monte sem árvores é como uma casa sem telhado.................... 6 Descobrir a causa do problema............................................ 7 Aprender a ser um promotor de saúde ambiental eficaz................... 8

SAÚDE PARA TODOS É claro o que significa melhorar a saúde de uma criança ou de uma família. Mas como é que se melhora a saúde do ambiente? Quando falamos de saúde ambiental, queremos dizer que a nossa saúde é afectada pelo mundo à nossa volta, e também nos referimos à maneira como as nossas actividades afectam a saúde do mundo à nossa volta. Se a nossa comida, água e ar estão contaminados, então eles podem fazer-nos ficar doentes. Se não temos cuidado com a forma como usamos o ar, a água e a terra, podemos ficar doentes e tornar o mundo à nossa volta doente. Ao proteger o nosso ambiente, protegemos a nossa saúde. Melhorar a saúde ambiental começa, muitas vezes, quando as pessoas reparam que um problema de saúde está a afectar não apenas uma pessoa ou grupo, mas que é um problema de toda a comunidade. Quando um problema é partilhado, é mais provável que as pessoas trabalhem juntas para mudar alguma coisa. Neste capítulo, contamos a história da organização de saúde de uma comunidade na vila de Manglaralto, Equador, onde os trabalhadores de saúde pararam uma epidemia de cólera. Depois disso, as pessoas da comunidade encontraram maneiras de trabalharem juntas para ultrapassarem igualmente outros problemas de saúde.

Na costa do Equador, durante 6 meses é muito seco e durante 6 meses é muito húmido. Isto faz com que seja difícil produzir alimentos. Há poucos mercados e o governo faz muito pouco para disponibilizar escolas, postos de saúde e outros serviços básicos como água limpa e esgotos. Quando a cólera atacou a área, em 1991, a maior parte das pessoas não estava preparada e muitas ficaram doentes. Dia após dia, as pessoas traziam os membros da família para o posto de saúde local na vila de Manglaralto. Elas estavam fracas, a tremer, com febre, tinham uma diarreia terrível e aguada e sofriam de (perda de demasiada água do corpo). Os promotores de saúde aperceberam-se de que isto era uma epidemia de cólera e de que muitas pessoas iriam morrer se não agissem rapidamente para parar a epidemia. Como a cólera contamina a água potável e passa facilmente de uma pessoa para outra, os promotores de saúde sabiam que não era suficiente tratar as pessoas doentes. Para impedir que a cólera se propagasse, eles teriam de descobrir uma forma de levar todas as pessoas em Manglaralto e das aldeias próximas a terem água limpa e casas de banho seguras. Os promotores de saúde começaram por organizar os habitantes das aldeias que ainda estavam saudáveis e pediram ajuda a grupos locais. Convenceram uma organização que tinha parceiros noutros países a dar dinheiro para iniciar um programa de emergência para disponibilizar água limpa e casas de banho. Tendo chamado ao seu projecto Saúde para o Povo, os promotores de saúde organizaram comités de saúde pública em cada aldeia. Os membros dos comités seleccionaram educadores sanitários das aldeias que foram formados para ensinar as pessoas sobre as questões da água e (construir e manter casas de banho e lavar as mãos para impedir que os micróbios se propaguem). Desta forma, os promotores de saúde permitiram que os próprios habitantes das aldeias assumissem responsabilidade em relação a partes importantes da luta contra a cólera e à saúde ambiental das suas aldeias. Ter dinheiro para fazer alguma coisa foi bom, mas não foi suficiente. Precisávamos de pessoas que tomassem medidas e fizessem o trabalho necessário para impedirem a cólera de se propagar.

A primeira coisa que os educadores sanitários das aldeias fizeram foi ensinar as pessoas sobre como é que a cólera e outras doenças se podem propagar (ver páginas 47 a 54). Depois ajudaram cada família e cada aldeia a garantir que o seu abastecimento de água era limpo (ver páginas 92 a 99). Também ensinaram as pessoas a saber como parar a desidratação, a principal causa de morte por diarreia, fazendo uma de açúcar e sal com água fervida e dando-a às crianças e a qualquer pessoa que tivesse diarreia (ver página 53). Ensinaram as pessoas nas escolas, igrejas, centros comunitários e lugares públicos a impedirem a cólera lavando as mãos e construindo casas de banho seguras. Algumas semanas depois, a cólera tinha praticamente desaparecido. Mas os promotores de saúde sabiam que tinham mais trabalho para garantir que a cólera não voltaria a atacar. Com a ajuda de engenheiros locais, as pessoas juntaram-se para construírem sistemas de água canalizada, para melhorarem as casas de banho em cada aldeia e para garantirem que cada família tinha água suficiente para tomar banho. Os próprios habitantes das aldeias fizeram o trabalho e aprenderam a limpar e a manter os sistemas de água e as casas de banho. Além disso, também garantiram que os animais estavam em locais com vedação (para manter os dejectos dos animais fora do sistema de abastecimento de água) e que os tambores de água estavam tapados para impedir que os mosquitos que transportam doenças se reproduzissem. À medida que este trabalho avançou, as pessoas de outras aldeias juntaram-se a eles. Começando com 22 aldeias, o projecto Saúde para o Povo chegou a 100 aldeias pouco tempo depois de ter iniciado. Rapidamente deixou de haver cólera em toda a região e foram também reduzidas outras doenças.

O projecto Saúde para o Povo foi bem-sucedido a parar a cólera e a resolver outros problemas. Isto aconteceu porque os promotores de saúde:. Os trabalhadores da Saúde para o Povo formaram pessoas casa a casa, ensinando-as a manter o seu abastecimento de água limpo. Isto ajudou as equipas de saúde a aprenderem sobre outros problemas e a ganharem a confiança da comunidade. Organizações locais, governo local, organizações não -governamentais (ONG) nacionais e internacionais e o Ministério da Saúde trabalharam em conjunto. Isto permitiu que todos os seus recursos e experiências estivessem disponíveis para ajudar a parar a epidemia. Como trabalharam juntos, evitaram o problema de uma organização fazer o mesmo trabalho que outra organização ou o problema de estarem a trabalhar uns contra os outros.. Eles não culparam os habitantes das aldeias pelos problemas de saúde e não dependeram apenas de ajuda de fora das comunidades. Em vez disso, usaram a própria experiência das pessoas para trabalharem por um objectivo comum. Usaram jogos, bonecos, canções, discussões e actividades de educação popular para juntar as pessoas e levá-las a partilhar os seus conhecimentos e capacidades. Estas actividades reforçaram a autoconfiança e a motivação dos habitantes, pois estes viram como o seu próprio conhecimento e participação resolviam problemas graves de saúde. A Saúde Comunitária depende de água limpa

Com o passar do tempo, os promotores de saúde também se aperceberam de que os insectos que transportavam doenças estavam a reproduzir-se no lixo e nas lixeiras. Fizeram reuniões comunitárias sobre a necessidade de limpar as ruas e melhorar as lixeiras. Cada aldeia formou um grupo de promotores de saúde ambiental que organizaram dias de trabalho para cada um apanhar o lixo. Com a ajuda de um engenheiro, os promotores de saúde ambiental transformaram as lixeiras em buracos seguros chamados (ver página 412). Nos anos seguintes, os promotores prepuseram em começar um programa de reciclagem (ver página 404) para reduzir a quantidade de lixo nos aterros. Quando uma agência internacional doou um grande camião para transportar lixo para o centro de reciclagem na cidade, eles conseguiram fazer isso mesmo. O dinheiro ganho com a reciclagem ajudou a pagar o combustível e os custos de manutenção do camião. Em 1996, o projecto Saúde para o Povo tinha construído centenas de casas de banho, instalado muitos sistemas de água canalizada, cavado 2 aterros sanitários, iniciado um programa de reciclagem e começado a ajudar as pessoas a plantarem hortas comunitárias. Centro de Reciclagem Depois, em 1997, a desgraça aconteceu. As tempestades de chuvas torrenciais conhecidas como El Niño atingiram a costa do Equador. Durante 6 meses, houve ventos fortes e chuva, quase todos os dias. Os ventos deitaram abaixo as árvores, a chuva transformou os montes em desabamentos de terras enlameadas e os vales encheram-se com a água dos rios, castanha e em fúria. Os rios transbordaram e mudaram de curso, destruindo aldeias inteiras. As casas de banho, as canalizações de água, e anos e anos de trabalho foram simplesmente levados pelas águas. À medida que os montes se desmoronavam, o trabalho do projecto Saúde para o Povo quase que se desmoronava também. Para compreender melhor porque é que isto aconteceu, temos de olhar para a história da região.

Antigamente, os montes e montanhas da costa do Equador estavam cobertos de florestas tropicais densas. Os mangues cresciam onde a água fresca dos rios se misturava com a água salgada do mar. Os mangues protegiam a costa contra as tempestades e eram a casa de muitos tipos de peixe e marisco. O bambu crescia ao longo dos rios, impedindo as suas margens de se desgastarem ou de serem levadas pela água. As florestas estavam cheias de árvores gigantes que davam sombra. As suas raízes profundas conservavam a água e o solo. Alfarrobeiras cresciam nas encostas inclinadas das montanhas, segurando o solo no lugar e impedindo as encostas de se desmoronarem. As folhas das árvores enriqueciam o solo quando caíam no chão. As florestas alojavam pessoas e também veados, pássaros, insectos, lagartos e muitos outros animais. As pessoas construíam as suas casas com bambu e folhas de palmeira. Havia animais para caçar, frutos silvestres para comer e água e solo rico para hortas e pequenas explorações agrícolas. Mas, ao longo dos últimos 100 anos, muitas árvores foram abatidas para fazer um caminho-de-ferro e construir casas. Depois, uma empresa do Japão veio e deitou abaixo a maior parte das restantes árvores, usando o caminho -de-ferro para transportar madeira para um porto na costa e enviá-la por navio para o Japão. Como as árvores da floresta tropical são muito fortes, foram vendidas a bom preço. Quando as árvores deixaram de existir, a empresa foi-se embora. O caminho -de-ferro entrou em degradação. Com o passar do tempo, foi abandonado. Agora, as montanhas da costa do Equador parecem um deserto. Os montes são castanhos e não têm sombra. Na época seca, o solo é levado e o ar está fica de poeira. Na época das chuvas, o solo transforma-se em lama e as encostas desmoronam-se. Quando as tempestades do El Niño vieram em 1997, não havia árvores para proteger os habitantes das aldeias contra a sua força destrutiva.

Quando viram o modo como as chuvas levaram aldeias inteiras arrancando os novos sistemas de água canalizada e as casas de banho os trabalhadores de saúde do projecto Saúde para o Povo aperceberam-se de que precisavam de fazer vários tipos de trabalhos para impedir desastres como estes no futuro. Construir sistemas de água e promover o saneamento seguro só resolviam uma parte do problema. Há um ditado nas aldeias: um monte sem árvores é como uma casa sem telhado. Isto significa que as árvores protegem os montes e impedem que eles sejam destruídos pelo vento e pela chuva, tal como um telhado protege as pessoas numa casa. Os trabalhadores de saúde começaram a ver que promover o plantio de árvores e proteger os recursos naturais era tão importante como promover a saúde porque eles são uma e a mesma coisa! Tendo isto em conta, os promotores de saúde começaram um projecto para plantar árvores. Mas alguns habitantes das aldeias não queriam plantar árvores. Um deles, chamado Eduardo, recusou-se a aderir ao projecto de plantio de árvores. Dá demasiado trabalho, dizia o Eduardo. Eles só querem que trabalhemos para nada. Convenceu outros habitantes a ficarem contra os promotores de saúde. Uma trabalhadora de saúde chamada Glória reuniu as pessoas na aldeia do Eduardo e organizou uma actividade chamada Mas porquê? para ajudar todos a olharem mais profundamente para o porquê de eles terem perdido as casas de banho e a água canalizada. Porque é que os nossos sistemas de água e saneamento foram destruídos? Porque foram levados pela tempestade. Mas porque é que foram levados pela tempestade? Porque a chuva transformou as encostas em lama e as aldeias escorregaram para os rios, partindo toda a canalização e casas de banho. Mas porque é que as encostas se desmoronaram? Porque todas as árvores foram cortadas e vendidas como madeira. Mas porque é que as árvores foram cortadas? Porque as pessoas precisavam de dinheiro.

Plantar árvores dá muito trabalho Ao perguntar Mas porquê?, quando não temos Glória ajudou os habitantes a culturas nem dinheiro. olharem para todas as formas Precisamos de alguma coisa que nos dê como os seus problemas de comida agora, não saúde estavam relacionados daqui a 10 anos! com o seu meio ambiente. No fim da discussão, a maior parte dos habitantes concordou que era importante plantar árvores para impedir a erosão e proteger o solo. Mas o Eduardo ainda não estava convencido. Glória voltou ao centro de saúde desanimada. Apesar de eles perceberem a importância das árvores, eles não querem trabalhar para as plantarem, pensou. Como é que posso convencê-los? Nesse preciso momento, uma abelha voou dentro da sala e assustou-a. Glória afastou-a com a mão e depois viu-a a voar para fora da janela e a aterrar na flor vermelha de uma alfarrobeira. Isso deu-lhe uma nova ideia. No dia seguinte, Glória juntou novamente os aldeãos. Colocou outra questão e o Eduardo foi o primeiro a responder. Vocês precisam de ganhar mais dinheiro para melhorarem as vossas vidas agora, não apenas daqui a 10 anos. Vocês também acreditam que é importante plantar árvores. Há alguma maneira de ganhar dinheiro com as árvores? Claro! Podemos cortá-las e vender a madeira. Mas isso vai levar dez anos, porque as árvores levam muito tempo a crescer.

Os outros habitantes pensaram muito e esta foi a conversa que tiveram: Podemos fazer almofadas com o algodão da árvore-da-lã e vendê-las. Podemos criar gado, que come as cascas da alfarrobeira. Podemos fazer artesanato, esculpindo os frutos da palmeira. Essas ideias são óptimas! E dão-nos ainda mais razões para plantarmos árvores. Tenho uma ideia que gostava de partilhar convosco. Alguém gosta de mel? Glória disse: Se cultivarmos árvores com flores de que as abelhas gostam, podemos começar um projecto de apicultura e vender o mel. Basta apenas um ano para as flores florirem. Os aldeãos gostaram desta ideia. Até o Eduardo concordou em plantar árvores se pudesse aprender a produzir mel. Eduardo chamou Glória quando esta ia a sair e disse-lhe: Quando o meu neto esteve doente com diarreia, fiz-lhe uma bebida a partir das alfarrobas da alfarrobeira. Curou-o melhor do que qualquer medicamento dado pelo médico. Penso que seria boa ideia plantar alfarrobeiras. Depois podemos fazer a bebida que cura e usar o mel que produzimos para adoçá-la. Glória regressou ao centro de saúde entusiasmada com estes novos projectos. Depois de pensar como é que os encontros tinham corrido, apercebeu-se de que nada resultaria se fosse ela a dizer aos aldeãos o que fazer. Se quisesse ser uma promotora de saúde ambiental eficaz, tinha que aprender a ouvir as suas ideias e a compreender as suas necessidades.