PROMOTORIA DE JUSTIÇA DO MEIO AMBIENTE, CULTURAL, HABITAÇÃO E URBANISMO DE BELÉM RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA Nº 001/2013-MP/2ºPJ/MA/PC/HU



Documentos relacionados
RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA CONJUNTA Nº 003/2013- MP/2ºPJ/MA/PC/HU/2ªPJCivDCCICO

Atribuições estaduais e municipais na fiscalização ambiental

Da Legislação Ambiental. Da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Harmonização da PNRS. Constituição Federal da República Federativa do Brasil

Ref.: Procedimento Preparatório nº RECOMENDAÇÃO Nº 0002/2014

POLUIÇÃO SONORA VERÔNICA MARIA MIRANDA BRASILEIRO

RECOMENDAÇÃO N o 04/2010

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E CIDADANIA. PROJETO DE LEI N o 1.024, DE 2003 (Apenso PL nº 2.156, de 2003)

A/C da Câmara Municipal da Estância Turística de Ribeirão Pires. Excelentíssimo Senhor Presidente e Ilustríssimos Senhores Vereadores,

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ NÚCLEO DE CIDADANIA E MEIO AMBIENTE 30ª Promotoria de Justiça

LEGISLAÇÃO APLICADA A AQUICULTURA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

LEGISLAÇÃO FEDERAL SOBRE POLUIÇÃO SONORA URBANA

O Licenciamento Ambiental Municipal

RECOMENDAÇÃO N. 02/2015

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA QUE CELE- BRAM O MINISTÉRIO PÚBLICO E O ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Municipalização das atividades de licenciamento ambiental: Estrutura administrativa municipal

RECOMENDAÇÃO Nº 01/2013

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador ARMANDO MONTEIRO

RESOLUÇÃO PGE Nº DE MARÇO DE 2015.

Gestão e Legislação Ambiental

PREFEITURA MUNICIPAL DE POUSO REDONDO CNPJ / Rua Antonio Carlos Thiesen, Pouso Redondo Santa Catarina

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO PROMOTORIA DE LAGOA GRANDE Curadoria do Meio Ambiente RECOMENDAÇÃO Nº 002/2014

LEGISLAÇÃO FEDERAL SOBRE POLUIÇÃO VISUAL URBANA

14/05/2010. Sistema Integrado de Gestão Ambiental SIGA-RS. Sistema Integrado de Gestão Ambiental SIGA-RS. Niro Afonso Pieper. Diretor Geral - SEMA

PROJETO DE LEI (Do Senhor Paulo Roberto)

RECOMENDAÇÃO MPF nº 08/2015. Assunto: Inscrição no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior -FIES

Art. 6 o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:

Responsabilidade dos bancos por riscos/danos ambientais Demarest & Almeida Advogados Associados

RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR E DEVERES DO ADMINISTRADOR

Ato Normativo nº. 473-CPJ, de 27 de julho de (pt. nº /06)

Ato Normativo nº. 428/ PGJ/CGMP, de 20 de fevereiro de 2006

11º GV - Vereador Floriano Pesaro PROJETO DE LEI Nº 371/2011

INSTRUÇÃO CVM Nº 539, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2013

Produção legislativa regional frente aos acordos setoriais

Competência dos Entes Federativos na Legislação Ambiental

Projeto de Lei nº 106/2010

FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL MUNICIPAL 18º ENCONTRO ANUAL DO CONDIMMA/RS

TERMO DE RECOMENDAÇÃO Nº 015/2012

RECOMENDAÇÃO N. 029/2015

PROJETO DE LEI Nº 372/2011 Deputado(a) Luciano Azevedo

RECOMENDAÇÃO Nº 001/2015/4OFCIVEL/PR/AM

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE CONSELHO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE - COEMA

RESOLUÇÃO N 83/TCE/RO-2011

INSTRUÇÃO CONJUNTA Nº 1, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008

INTRODUÇÃO AO DIREITO AMBIENTAL

Cria e regulamenta sistema de dados e informações sobre a gestão florestal no âmbito do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA.

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

RECOMENDAÇÃO MINISTERIAL Nº 002/2015

LEI COMPLEMENTAR Nº 1390/2006

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

Introdução. Gestão Ambiental Prof. Carlos Henrique A. de Oliveira. Introdução à Legislação Ambiental e Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA

O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO P NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

RESOLUÇÃO CONAMA n o 379, de 19 de outubro de 2006 Publicada no DOU nº 202, de 20 de outubro de 2006, Seção 1, página 175 e 176

DECRETO Nº 6.044, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2007.

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Lei nº 6.938, de 31 de agosto de Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu a sanciono a seguinte Lei:

CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988, CAPÍTULO VI - DO MEIO AMBIENTE

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PIRACICABA Estado de São Paulo Procuradoria Geral

Regulamentação e Licenciamento Ambiental. Oscar Graça Couto Lobo & Ibeas

Sumário. Prefácio... 1 Introdução...,... Primeira parte Fundamentos do Direito Ambiental Constitucional

Dispõe sobre a implantação do "Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso", e dá outras providências. A Câmara Municipal de São Paio DECR

PROGRAMA MUNICÍPIO ECOLEGAL: GESTÃO PARA O MEIO AMBIENTE

PORTARIA n 0175/ GAB

REDAÇÃO FINAL PROJETO DE LEI Nº D DE 2007

Estabelece os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais.

Diário Oficial. Poder Legislativo

ASSOCIAÇÃO DE OFICIAIS MILITARES ESTADUAIS DO RIO DE JANEIRO - AME/RJ

Legislação Tributária ARRECADAÇÃO. Início dos Efeitos 10057/ /02/ /02/2014

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL RESOLUÇÃO N.º 191, DE 10 DE NOVEMBRO 2005 DOU 17/11/2005

2º Debate sobre Mineração

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

GUIA DE ESTUDOS INSS NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO FÁBIO RAMOS BARBOSA

Marco legal. da política indigenista brasileira

Procedimento preparatório de inquérito civil nº / RECOMENDAÇÃO CONJUNTA N. 01/2016

NOTA TÉCNICA Nº 01/2012/GT PROJETOS DE LEI E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL/COMITE DE MEIO AMBIENTE CMA 1

DEPARTAMENTO DA POLÍCIA FEDERAL PORTARIA Nº 1.129, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1995

DIREITO AMBIENTAL NA LEGISLAÇÃO

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988

Secretaria de Meio Ambiente do Município de João Pessoa

GESTÃO E MANEJO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL

SEMANA DO MEIO AMBIENTE LICENCIAMENTO AMBIENTAL LEI COMPLEMENTAR Nº 140/2011. Ricardo Carneiro Junho/2014

Parágrafo único. A instalação dos equipamentos e mobiliários referidos no art. 2º desta Lei deverá respeitar o direito à paisagem.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

EDITAL nº 001/2013. Convocação de Audiência Pública

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE REDAÇÃO PROJETO DE LEI Nº 35, DE 1999

ESTUDO POLUIÇÃO SONORA


PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 22/2011

A Lei nº , de 25 de maio de 2012 e as competências florestais dos entes públicos Roberta Rubim del Giudice ÍNDICE

A observância da acessibilidade na fiscalização de obras e licenciamentos de projetos pelos municípios

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

RUÍDO URBANO E CONFORTO AMBIENTAL EM LOGRADOUROS DA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA, BRASIL

CONSIDERANDO o que o Sr. João Lima Goes relatou ao Conselho Tutelar de Alto Piquiri Paraná, cuja cópia segue em anexo;

Publicada no Diário Oficial do Amapá Nº de 07/12/2009.

Transcrição:

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DO MEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL, HABITAÇÃO E URBANISMO DE BELÉM RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA Nº 001/2013-MP/2ºPJ/MA/PC/HU ORIGEM: 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DO MEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL, HABITAÇÃO E URBANISMO DE BELÉM. OBJETO/FINALIDADE: À POLUIÇÃO SONORA. DEFESA DO MEIO AMBIENTE. COMBATE DESTINATÁRIO: DELEGADO-GERAL DE POLÍCIA CIVIL. MOTIVAÇÃO/FUNDAMENTAÇÃO: O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, por meio dos seu 2º PROMOTOR DE JUSTIÇA DO MEIO AMBIENTE E PATRIMÔNIO CULTURAL DE BELÉM infrafirmado, com amparo jurídico nos arts. 129, incisos II, III e IX, 225, 3º, da Constituição Federal, combinados com os arts. 25, inciso IV, alínea a, 26, inciso VII, 27, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, e art. 55, parágrafo único, inciso IV, da Lei Complementar Estadual n.º 057/06; Considerando que compete ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais (art. 127, caput, da C.F.); Considerando que é função institucional do Ministério Público zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância 1

pública aos direitos assegurados na Constituição Federal (art. 129, II, da C.F.); Considerando que a Magna Carta Constitucional Pátria erigiu à categoria de bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida o meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo o dever de defendê-lo e preservá-lo ao poder público e à coletividade (art. 225, caput, da C.F.); Considerando que, por força de comando constitucional, as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano causado (art. 225, 3.º, da C.F.); Considerando que o Ministério Público tem legitimidade para adotar medidas administrativas ou judiciais em defesa do meio ambiente (Lei Federal nº 8.625/93, in art. 27, incisos I usque IV); Considerando competir ao Ministério Público, no exercício de suas atribuições institucionais na defesa dos direitos assegurados na Magna Carta Constitucional, emitir RECOMENDAÇÕES dirigidas ao Poder Público, aos órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, aos concessionários e permissionários de serviço público e às entidades que exerçam função pública delegada ou executem serviço de relevância pública (art. 27, Parágrafo único, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93); 2

Considerando o aumento significativo do número de reclamações de uso abusivo de equipamentos de som, em casas de shows, bares, restaurantes, quiosques e similares, bem ainda, nos veículos automotivos, ao ponto de se registrar aumento significativo de reclamações de poluição sonora por ano, somente nesta capital; Considerando que estudos científicos demonstraram que o ruído, a partir de 55 db(a), provoca estresse leve, excitante, causando dependência e levando a durável desconforto, e que, a partir de 65 db(a), esse estresse se torna degradativo do organismo, com desequilíbrio bioquímico, aumentando o risco de infarte, derrame cerebral, infecções, osteoporose, etc.; Considerando que a poluição sonora é a perturbação que envolve maior número de incomodados e, diante dos graves danos causados à saúde humana, já ocupa a terceira prioridade entre as doenças ocupacionais; Considerando o que prescreve o Artigo 23, inciso VI, da Constituição da República, que reza ser competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas ; Considerando que a Constituição Federal prescreve ser a competência legislativa em matéria ambiental concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, cabendo à União a competência para legislar sobre normas gerais, e aos Estados e ao Distrito Federal a competência para suplementar as normas gerais editadas pela União, 3

conforme prescreve o Art. 24, da CF, Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição ; Considerando o disposto na RESOLUÇÃO DO CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) N.º 001, de 08 de março de 1990, em seu Inciso I, quando diz que A emissão de ruídos, em decorrência de qualquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política, obedecerá, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução, utilizando como norma aferidora da poluição sonora a NBR 10.152 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, e que, em seu Inciso VI, reza que Para os efeitos desta Resolução, as medições deverão ser efetuadas de acordo com a NBR 10.151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da ABNT ; Considerando o disposto, ainda, na RESOLUÇÃO CONAMA N.º 001, de 08 de março de 1990, em seu Inciso V, quando afirma que As entidades e órgãos públicos (federais, estaduais e municipais) competentes, no uso do respectivo poder de política, disporão de acordo com o estabelecido nesta Resolução, sobre a emissão ou proibição da emissão de ruídos produzidos por qualquer meios ou de qualquer espécie, considerando sempre os local, horários e a natureza das atividades emissoras, com vistas a compatibilizar o exercício das atividades com a preservação da saúde e do sossego público ; 4

Considerando a RESOLUÇÃO CONAMA N.º 002, de 08 de março de 1990, que institui o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora-Programa Silêncio, dispõe, em seu Art. 3º, que Sempre que necessário, os limites máximos de emissão poderão ter valores mais rígidos fixados a nível Estadual e Municipal. Considerando que o nível máximo de som permitido a autofalantes, rádios, orquestras, instrumentos isolados, bandas, aparelhos ou utensílios sonoros de qualquer natureza usados em residências, estabelecimentos comerciais e de diversões públicas, festivais esportivos, comemorações e atividades congêneres deve ser regulado pelas disposições da NBR 10.151 e da NBR 10.152, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); Considerando ter o Ministério Público constatado que a expedição de licenças ambientais de operação pela Secretaria Municipal de Meio ambiente tem sido feita com fundamento na Lei Municipal nº 7.990/00, apresentando como limite máximo medido no limite real da propriedade diurno - 70 decibéis, e noturno - 60 decibéis, limites esses estabelecidos pela lei municipal que se contrapõem frontalmente aos limites dispostos na legislação federal, haja vista estabelecerem padrões de emissão de ruídos mais permissivos que o disposto na norma federal; Considerando que esta incompatibilidade de parâmetros técnicos entre a lei federal e a lei municipal tem causado muitos problemas em razão da divergência de laudos e vistorias; 5

Considerando que a obrigação de preservar e defender o meio ambiente é dever de todos, competindo aos entes federativos legislar concorrentemente sobre meio ambiente; Considerando que, no caso de concorrência legislativa, em que os poderes da federação legislam conjuntamente, há a primazia da lei federal sobre estadual e a da lei estadual sobre municipal, como forma de se produzir solução em caso de conflito de normas concorrentes haja vista a hierarquia existente entre leis federais e estaduais e municipais (artigo 24, parágrafos 1º. ao 4º., CF); Considerando que o texto constitucional enuncia a forma de solucionar o problema da concorrência legislativa e que os parágrafos acima citados do artigo 24, da C.F., se perfazem em regras de convivência entre normas federativas; Considerando que o interesse predominantemente local terá de se amoldar ao previsto nas normas hierarquicamente superiores, como bem estabeleceu o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo: "Os princípios retores existentes no Código Florestal, que é Lei Nacional de interesse público primário e superior, devem prevalecer sobre interesses locais, mesmo que relevantes para o progresso municipal" (Apelação Cível com Revisão nº 171. 834. 5/ 8-00, relator Desembargador Guerrieri Rezende); Considerando que pelo Princípio da Prevenção, disposto no texto constitucional, e pela ideologia progressista do Direito Ambiental, não se pode, sob o argumento do interesse local, aplicar-se legislação mais 6

permissiva que venha a agredir o meio ambiente e a qualidade de vida de todos, mormente quando se trata da coibição da poluição sonora; Considerando o que dispõe o Artigo 255 da Constituição do Estado do Pará, determinando que compete ao Estado a defesa, conservação, preservação e controle do meio ambiente; Considerando os princípios e objetivos da Política Nacional e Estadual de Meio Ambiente, especialmente expressos nas Constituições da República e do Pará e nas Leis nº. 6.938/81 e 5.887/95, respectivamente; Considerando que a emissão de ruídos elevados podem provocar poluição, em níveis tais, que resultem em danos à saúde humana, e, em tese, sendo passível de configurar infração administrativa e crime ambiental, nos termos do Art. 225, 3, da CF e artigos 61 e 54, Caput, da Lei n. 9.605/98, além de ensejar a obrigação de reparar os danos causados; Considerando que, na hipótese de poluição sonora praticada em detrimento de número indeterminado de moradores de uma região da cidade, mais do que meros interesses individuais, há, no caso, interesses difusos a zelar, em virtude da indeterminação dos titulares e da indivisibilidade do bem jurídico protegido; Considerando o que a doutrina leciona que o Estado e o Distrito Federal não podem contrariar as normas gerais editadas pela União, da mesma forma que os Municípios devem se coadunar às normas gerais editadas pela União e pelos Estados no caso de omissão federal, não 7

podendo o Município estabelecer padrões de qualidade mais permissivos do que aqueles determinados pela União ou pelo Estado, ainda que seja perfeitamente possível o estabelecimento de níveis mais rígidos. Considerando que a Lei Municipal n. 7.790/00 estabelece padrões de poluição sonora mais permissivos que a legislação federal no âmbito do Município de Belém; Considerando que a Delegacia de Polícia Administrativa-DPA vem adotando os parâmetros da Lei Municipal supracitada no desenvolvimento de suas atividades, respaldando-se em parecer da Consultoria Jurídica dessa Instituição, o que vem prejudicando a harmonia e integração dos Órgãos afins, tais como: DEMA, CPC Renato Chaves, Ministério Público e Juizado Especial Criminal do Meio Ambiente, que adotam como parâmetro para medição da poluição sonora o disposto na Legislação Federal, desconsiderando o que reza a Legislação Municipal mais permissiva; Considerando, finalmente, que a Polícia Civil possui circunscrição e atribuição em todo o território paraense, não podendo ficar adstrita ao que diz a legislação de cada Município, sob pena de não se obter a uniformização e padronização de seus procedimentos, evitando-se, com isso, a utilização de diferentes parâmetros para cada Município onde atua, sendo este, portanto, um ato de gestão administrativa dentro da autonomia da Polícia Civil e em benefício de toda a sociedade, que estará mais protegida com essa medida; RESOLVE, nos termos das disposições do artigo 27, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº 8.625/93, bem como no contido no 8

art. 55, parágrafo único, inciso IV, da Lei Complementar Estadual nº. 057/06: RECOMENDAR ao Delegado-Geral de Polícia Civil, o seguinte: Que oriente a Delegacia de Polícia Administrativa - DPA a utilizar nas licenças e Alvarás por ela concedidos, bem como nas medições doravante realizadas, os critérios estabelecidos pelas normas NBR 10.151 e 10.152, da ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas, conforme dispõe a Legislação Federal, abstendo-se de adotar a Lei Municipal n. 7.790/00. Requisita-se, ainda, que seja informado ao Órgão do Ministério Público, 2ª Promotoria do Meio Ambiente, no prazo de 10 (dez) dias, contados a partir do recebimento desta, sobre o acatamento dos termos desta Recomendação. ADVERTIR a autoridade recomendada que o não atendimento, sem justificativa, da presente recomendação poderá importar na sua responsabilização, visando resguardar os bens ora tutelados, inclusive, com a propositura de ação competente. DETERMINAR, por fim, que seja encaminhada a presente Recomendação ao Delegado-Geral de Polícia Civil e, após, proceda ao arquivamento desta Recomendação em pasta própria da Promotoria. Observe-se o Recomendado a comunicação do recebimento da presente Recomendação, nos termos do art. 27, Parágrafo 9

único, inciso IV, da Lei nº 8.625/93. Circunscrito ao exposto, são os termos da Recomendação Administrativa do Ministério Público. Registre-se, Publique-se e Encaminhe-se ao destinatário. Belém /PA, 12 de Março de 2013. NILTON GURJÃO DAS CHAGAS 2 Promotor de Justiça de Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo de Belém 10