Solitário em seu mesmo quarto a vista da luz no candieyro porfia o poeta pensamentear exemplos de seu amor na barboleta.



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Transcrição:

ATIVIDADE DE FÉRIAS PARA OS ALUNOS DO 9º ANO ANÁLISE DE TEXO PROFESSOR LUCAS Solitário em seu mesmo quarto a vista da luz no candieyro porfia o poeta pensamentear exemplos de seu amor na barboleta. Ó tu do meu amor fiel traslado Mariposa entre as chamas consumida, Pois se à força do ardor perdes a vida, A violência do fogo me há prostrado. Tu de amante o teu fim hás encontrado, Essa flama girando apetecida; Eu girando uma penha endurecida, No fogo, que exalou, morro abrasado. Ambos de firme anelando chamas, Tu a vida deixas, eu a morte imploro Nas constâncias iguais, iguais nas chamas. Mas ai! que a diferença entre nós choro, Pois acabando tu ao fogo, que amas, Eu morro, sem chegar à luz, que adoro. Gregório de Matos, Obra Poética. Ed. de James Amado. Rio de Janeiro: Record, 1990. V.1, p. 425 As Mariposa Adoniran Barbosa As mariposa quando chega o frio Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá Elas roda, roda, roda, dispois si senta Em cima do prato da lâmpida pra discansá. Eu sou a lâmpida E as muié é as mariposa Que fica dando vorta em vorta de mim Todas as noites, só pra mi beijá. - Boa noite, lâmpida! - Boa noite, mariposa! - Pelmita-me oscular-lhe as alfácias? - Pois não, mas rápido porque daqui a pouco eles mi apaga. Página 1 de 8

em Demônios da Garoa - Trem das onze, Chantecler, CMG - 2294-2, 1964 1. A norma culta é uma variedade especial da língua que corresponde ao modo de falar das camadas mais prestigiadas socialmente. É essa modalidade que vem descrita nas gramáticas. O texto de Adoniran Barbosa reproduz a fala popular e foi composto "na língua certa do povo/porque ele é que fala gostoso o português do Brasil" (Manuel Bandeira, "Evocação do Recife"). Desconsiderando as diferenças de pronúncia, aponte um uso típico da fala popular que Adoniran Barbosa emprega em seu poema. O NOVO PLANETA DOS HOMENS 1 Uma recente pesquisa americana, concluída em 1985, busca apreender as reações e os sentimentos dos homens após vinte anos de emancipação feminina, para daí projetar a provável tendência futura da vida entre os sexos. O livro COMO OS HOMENS SE SENTEM, do jornalista Anthony Astrachan, aposta numa "revolução masculina irreversível, que teria se iniciado na década de 70, impulsionada por dez anos de avanço feminino. O autor faz uma minuciosa análise das consequências, para o homem, da entrada da mulher nos vários setores da sociedade: indústria, serviços, exército, mundo empresarial e profissões liberais. Ele conclui que a revolução feminina efetivamente gerou reformulações profundas nos papéis sociais e na identidade masculina, às custas de um alto preço efetivo e emocional. 2 Às reações negativas dos homens, desencadeadas pelas transformações no equilíbrio de poder entre os sexos, Astrachan oferece uma curiosa explicação: "É possível que os homens tenham reivindicado a liderança há muito tempo, e a tenham mantido através dos tempos para compensar a sua incapacidade de gerar filhos." Mas, observa o autor, ao mesmo tempo que o homem luta para não abandonar a fantasia do poder, continuando a lidar com a mulher emancipada a partir de antigos e conhecidos padrões, ao colocá-la no lugar de mãe, amante, esposa ou irmã e negar-lhe a competência profissional, tem aumentado o número de homens que incorporaram outras atitudes. O fenômeno apontaria para um homem realmente novo, capaz de usufruir e contribuir para uma síntese positiva entre os sexos. 3 Não tão otimista, a escritora e filósofa Elisabeth Badinter não vê ainda configurado um "novo homem". Para o homem, abordar o terreno feminino é "desvirilizante", ao passo que a mulher se valorizou ao adentrar o mundo masculino. Sem dúvida, segundo ela, a evolução maior depende da recolocação dos homens, mas esse projeto "é ainda um fenômeno muito marginal e se dá apenas numa minoria sofisticada". 4 Para a realidade brasileira, essas questões assumem diferentes contornos, matizadas por uma crise que, no limite, torna perigosas as prospecções. Poucos são os que se arriscam: "O homem está sendo obrigado a se adaptar à crise permanente com uma revolução permanente", diz o escritor Sérgio Sant'Anna. Ele vê, ainda, mudanças na família e nas relações do homem com a paternidade, mas sente que, no momento, "as pessoas estão muito inseguras, desprotegidas e tendem a voltar a padrões conservadores". Mas adverte: "Essa não é uma transformação que se dê ao nível ideológico e intelectual; os que a fizeram se deram mal. Ela supõe crises emocionais profundas." 5 A feminista Rose Marie Muraro, embora admita um retrocesso violento aos comportamentos machistas e convencionais na década de 80, prevê a vitória inconteste dos comportamentos libertários. Quanto à luta feminista, ela reconhece que os homens tiveram pouco tempo para incorporar as transformações da década de 70. Acreditando que a definição virá na próxima década, Rose finaliza: "Hoje a mulher não é mais a imagem do desejo alheio, (...) mas é sujeito de seu próprio desejo." Mas tudo isso não esconde uma mágoa: "(...) Tive um câncer e uma úlcera ao viver o mundo masculino, sendo mulher no setor público. Tive de me masculinizar, pois lá quem não mata, morre." Página 2 de 8

6 Sem rancores, mas não menos inquieta, a psicanalista Suely Rolnik assume toda sua crença na potência criativa do desejo humano: "O que eu vejo hoje é uma aliança entre homem e mulher. É uma história nascente de cumplicidade entre o homem e a mulher." (Yudith Rosenbaum, Revista LEIA, nº128, 1989, p. 36-38, com adaptações.) 2. Enquanto você me engomar eu te visto e te alimento; enquanto você resistir eu te engravido e respeito; enquanto você me honrar eu te pago dando um lar. ("Salve o dia do comércio", em SILÊNCIO RELATIVO, 1978.) A poetisa Leila Miccolis aborda, de forma concisa e direta, outros aspectos do tema do texto. Assinale a opção em que a interpretação dos recursos expressivos e do significado do poema NÃO esteja correta: a) A estruturação do poema de modo enumerativo enfatiza o discurso legislador e autoritário do homem face à mulher. b) O emprego da conjunção subordinativa "enquanto" introduz a crítica à relação entre homem e mulher calcada em sistema desigual de trocas. c) O uso dos pronomes EU e VOCÊ, aliado ao verbo no futuro do subjuntivo, indica o caráter amplo da questão, que não se limita a um caso particular, mas se refere a papéis sociais. d) Os verbos "engomar" e "honrar" designam atributos específicos da natureza da mulher: a submissão, apesar da força interior. e) O uso de "eu te pago" resume os versos anteriores quanto a um padrão de relacionamento em que afazeres domésticos são desconsiderados enquanto trabalho. Primeiro texto: Auto-retrato Juca Chaves Simpático, romântico, solteiro, autodidata, poeta, socialista. Da classe 38, reservista, de outubro, 22, Rio de Janeiro. Com a bossa de qualquer bom brasileiro, possuo o sangue quente de um artista, Sou milionário em senso de humorista, mas juro que estou duro e sem dinheiro. Há quem me julgue um poeta irreverente, mentira, é reação da burguesia, que não vive, vegeta falsamente, num mundo de doente hipocrisia. Página 3 de 8

Mas o meu mundo é belo e diferente: vivo do amor ou vivo de poesia... E assim eu viverei eternamente, se não morrer por outra Ana Maria. (1962, disco RGE In História da música popular brasileira, fascículo número 41, São Paulo, Abril Cultural, 1971.) Segundo texto: Retrato Próprio (Soneto LXXXI) Bocage Magro, de olhos azuis, carão moreno, bem servido de pés, meão na altura, triste de facha, o mesmo de figura, nariz alto no meio, e não pequeno: Incapaz de assistir num só terreno, mais propenso ao furor do que à ternura bebendo em níveas mãos por taça escura de zelos infernais letal veneno: Devoto incensador de mil deidades (digo, de moças mil) num só momento, e somente no altar amando os frades: Eis Bocage, em quem luz algum talento; saíram dele mesmo estas verdades num dia em que se achou mais pachorrento. (In Obras de Bocage, Porto, Lello & Irmão, 1968, p. 497.) Os dois textos pertencem a artistas bastante afastados entre si, no tempo. Trata-se de Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage - 1765-1805), poeta neoclássico português, e Juca Chaves (Jurandyr Chaves - 1938), compositor, intérprete e showman brasileiro. Ambos líricos e sentimentalistas, muitas vezes são ásperos em críticas e sátiras sociais. Lendo-se os poemas (o de Juca é letra de uma de suas canções), verificamos que apresentam pontos em comum, embora sejam inconfundíveis pelo estilo e atitudes. 3. Em dado momento, Juca Chaves faz um ataque a uma classe social. Bocage refere-se de maneira irreverente a uma instituição social. Identifique os versos em que ocorrem tais fatos e faça um breve comentário sobre o modo como cada um dos poetas se posiciona diante de seus respectivos objetos de crítica. LÍNGUA PORTUGUESA Olavo Bilac Página 4 de 8

Última flor do Lácio, inculta e bela És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela, que tens o trom e o silvo da procela E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! em TARDE (1919) LÍNGUA Caetano Veloso (a Violeta Gervaiseau) Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões. Gosto de ser e de estar E quero me dedicar A criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias Que encurtem dores E furtem cores como camaleões. Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa, E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade. E quem há de negar que esta lhe é superior? E deixa os portugais morrerem à míngua, "Minha pátria é minha língua" - Fala Mangueira! Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode Esta língua? em VELÔ (1984) 4. Explique a razão pela qual a palavra "portugais" aparece escrita com letra minúscula e não com maiúscula no verso: "E deixa os portugais morrerem à míngua". Página 5 de 8

"Vivemos mais uma grave crise, repetitiva dentro do ciclo de graves crises que ocupa a energia desta nação. A frustração cresce e a desesperança não cede. Empresários empurrados à condição de liderança oficial se reúnem em eventos como este, para lamentar o estado de coisas. O que dizer sem resvalar para o pessimismo, a crítica pungente ou a autoabsolvição? É da história do mundo que as elites nunca introduziram mudanças que favorecessem a sociedade como um todo. Estaríamos nos enganando se achássemos que estas lideranças empresariais aqui reunidas teriam a motivação para fazer a distribuição de poderes e rendas que uma nação equilibrada precisa ter. Aliás, é ingenuidade imaginar que a vontade de distribuir renda passe pelo empobrecimento da elite. É também ocioso pensar que nós, da tal elite, temos riqueza suficiente para distribuir. Faço sempre, para meu desânimo, a soma do faturamento das nossas mil maiores e melhores empresas, e chego a um número menor do que o faturamento de apenas duas empresas japonesas. Digamos, a Mitsubishi e mais um pouquinho. Sejamos francos. Em termos mundiais somos irrelevantes como potência econômica, mas ao mesmo tempo extremamente representativos como população. " ("Discurso de Semler aos Empresários", FOLHA DE S. PAULO, 11/09/91) 5. O ciclo de crises vivido pelo Brasil, segundo o texto, constitui: a) um componente instigante para vencer nossas dificuldades; b) fator conhecido e repetitivo, desimportante de nossa história; c) algo que não passa de invenção de pessimistas desocupados; d) recurso eficaz para chamar a atenção para a nossa realidade; e) outra forma de desgaste e de consumo de nossas energias. "A frase 'Leve-me para cima, Scotty' pode ter ajudado a fixar a série 'Jornada nas Estrelas' na cabeça de toda uma geração, mas o teletransporte do qual o seriado serviu como arauto nunca foi levado a sério. Aquilo que era uma brincadeira, porém, já deixou de ser simples fantasia. Seis físicos descobriram como teletransportar matéria à velocidade da luz. Num trabalho que será publicado no periódico 'Physical Review Letters', intitulado 'Teletransportando um estado quântico desconhecido por canais dual clássico e de Einstein- Podolsky-Rosen', Charles Bennett, da IBM em Nova York, e seus colegas descrevem um método de teletransporte de partículas de um lugar para outro. Bennett afirma que a teoria é válida, que parte dos equipamentos para realizar o teletransporte já existe e é provável que o resto possa ser desenvolvido. O grande problema do teletransporte sempre foi o princípio da incerteza de Heisenberg, que afirma ser impossível medir exatamente todas as propriedades de uma partícula subatômica. Por isso sempre pareceu impossível recriar uma cópia exata de uma partícula em outro lugar." (William Bown, OESP, 23.05.93) 6. Tendo em vista o texto, podemos afirmar: I. O transporte de matéria no espaço já é uma realidade. Página 6 de 8

II. Teoricamente, o teletransporte de matéria no espaço é viável. III. O teletransporte de matéria apresentado na série "Jornada nas Estrelas" é ficção e nunca tinha sido levado a sério. IV. Jamais o homem conseguirá desenvolver equipamentos capazes de tornar realizável o teletransporte. Verificamos que estão corretas: a) apenas I e II b) apenas III e IV c) apenas I e IV d) apenas II e III e) todas as afirmações O IMPÉRIO DA LEI 1 O desfecho da crise política deu uma satisfação a um anseio fundamental dos brasileiros: o de que a lei seja respeitada por todos. Estamos, agora, diante da imperiosa necessidade de dar prosseguimento ao processo de regeneração dos costumes políticos e da restauração dos princípios éticos na vida pública, que nada mais é do que se conseguir em novas bases um consenso em torno da obediência civil. 2 Existem reformas pendentes nas áreas política e econômica, lacunas constitucionais a serem preenchidas, regulamentações não realizadas, aprimoramentos da Carta que deverão ocorrer em datas já definidas. Mas estas tarefas não esgotam a pauta de urgências da cidadania. É indispensável inculcar no cidadão comum o respeito à lei. 3 Esta aspiração é antiga no Brasil. Capistrano de Abreu já sonhava com uma Constituição com dois únicos artigos: 1 - A partir, desta data, todo brasileiro passa a ter vergonha na cara; 2 - Revogam-se as disposições em contrário. Num país que combina o furor legiferante à tradição de impunidade, o historiador compreendeu que o problema era menos a ausência de leis do que a generalizada e permanente tendência em desobedecê-las. Simplificar e cumprir foram suas palavras de ordem. 4 O sociólogo americano Phillip Schmitter se confessou abismado pela naturalidade com que os brasileiros transgridem as leis em vigor. É de se duvidar se uma Constituição como a de Capistrano "pegaria" no Brasil. Uma vez adotado o "cumpra-se a lei", as normas vigentes não seriam suficientes? Caso não fossem que mecanismos garantiriam o imediato cumprimento da nova lei? Mais: a desobediência à nova lei não aprofundaria ainda mais a desconfiança nas instituições? São questões que surgem espontaneamente num país cuja cidadania ainda não internalizou a lei. Jornal do Brasil, 01/10/92, p.10 7. Da leitura do 40. parágrafo pode-se concluir que: a) As normas vigentes não são suficientes para que se tenha uma sociedade organizada no Brasil. b) O problema da sociedade brasileira, está não nas leis vigentes, mas na sua transgressão generalizada. c) O imediato cumprimento das leis aprofundaria a desconfiança nas instituições. d) Novos mecanismos, como a Constituição de Capistrano de Abreu, poderiam garantir o cumprimento das leis. e) Espontaneamente, surgem novas questões que seriam suficientes para aprofundar a cidadania. Página 7 de 8

Gabarito: Resposta da questão 1: "As mariposa (...) fica". Resposta da questão 2: [D] Resposta da questão 3: "e somente no altar amando os frades": crítica à Igreja. "é reação da burguesia,/ que não vive, vegeta falsamente,/ num mundo de doente hipocrisia": o poeta está fora da hipocrisia e "duro e sem dinheiro". Resposta da questão 4: Caetano transformou o substantivo próprio Portugal em um substantivo comum: "portugais"; dando a esse termo o sentido dos povos que falam a Língua Portuguesa. Resposta da questão 5: [E] Resposta da questão 6: [D] Resposta da questão 7: [B] Página 8 de 8