TABACO E TABAGISMO. Histórico do tabagismo

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1 TABACO E TABAGISMO Histórico do tabagismo A nicotina é uma droga estimulante do sistema nervoso central, a exemplo da cocaína e das anfetaminas. É extraída das folhas da planta Nicotiana, da qual existem cerca de 60 espécies diferentes. As espécies mais utilizadas são a rustica e a tabacum, ambas originárias das Américas, onde eram cultivadas pelos nativos locais, para serem usadas em rituais religiosos, e em ocasiões especiais. O uso da nicotina foi levado para a Europa pelo francês Nicot, por volta do ano 1560, como uma planta medicinal, uma espécie de planta milagrosa com a finalidade de curar inúmeras doenças, A partir da França, o uso da nicotina se expandiu para o mundo todo, sendo, naqueles tempos, um dos produtos de maior valor econômico para as potencias européias que mantinham colônias nas Américas. Hoje o tabaco é a droga lícita que mais mortes traz aos que a utilizam, e apesar disso, homens e mulheres cada vez mais fumam, sendo que as populações jovens dos países pobres são as que mais são atraídas por essa dependência. A China se transforma num dos países mais consumidores dos produtos oriundos do tabaco, e nela o número de fumantes cresce 2% ao ano desde 1985, e hoje já há no país cerca de 180 fábricas de cigarro. Uma pesquisa mostrou que apesar do seu baixo poder aquisitivo, os chineses chegam a gastar até cerca de 50% de sua renda pessoal na compra de cigarros. Estima-se que meio milhão de chineses morram anualmente vítimas do tabagismo. Há quase que uma transferência do eixo de consumo do tabaco, saindo dos países ricos e se transferindo para os países em desenvolvimento e para os países pobres. Este fato se deve em parte às denúncias que se faz, cada vez mais, nos países ricos, aos graves prejuízos que o tabaco e o tabagismo trazem aos fumantes e mesmo aos fumantes passivos. 1 / 14

2 Nas últimas décadas apesar das propagandas de cigarro continuarem vendendo uma imagem de saúde e esportividade, sempre mostrando esporte, esportistas, mulheres bonitas fumando, a verdade começou a aparecer. Todos reconhecem que o cigarro mata e destrói vidas e famílias. Nos Estados Unidos morrem cerca de fumantes por ano, e se gasta mais de 1 bilhão de dólares por semana para se tratar doentes por causa do uso de tabaco. Entre as mortes americanas por tabagismo, destacam-se: - Bronquite crônica e enfisema pulmonar, mortes/ano. - Câncer broncogênico, mortes/ano. - Infartos e doenças cardíacas, mortes/ano. - Outras doenças, (doenças cérebrovasculares, doenças cardiovasculares), cerca de mortes/ano. No Brasil, segundo estatísticas recentes, estima-se que o tabagismo mata cerca de pessoas/ano. Epidemiologia Estatísticas mostram que atualmente cerca de 22% dos americanos fumam ou usam produtos oriundos do tabaco. No Brasil, segundo dados do CEBRID de 2001, cerca de 9% da população 2 / 14

3 preenche os critérios de dependência ao tabaco, com 1,3 vezes mais uso de tabaco por homens que por mulheres. Apresentações do tabaco O tabaco é apresentado sob diversas formas, entre elas se destacando o cigarro industrializado, com os mais variados teores de nicotina e apresentações, chamados popularmente de cigarros fortes ou fracos. Os cigarros de palha, feitos a partir do fumo em corda, enrolados em palha de milho. Os charutos e cigarrilhas que são enrolados em folhas do mesmo fumo, e apresentam alto teor de nicotina, mas com menor teor de outros produtos. Os fumos especiais para cachimbos, também com altos teores de nicotina, mas que não são tragados. Finalmente existem dois outros tipos de tabaco, o tabaco mascado e o tabaco aspirado, chamado de rapé. A nicotina do cigarro é absorvida nos pulmões, e a indústria do tabaco sabiamente, para aumentar a sua absorção pelos pulmões, aumenta o ph da fumaça para valores maiores que 7, pois os pulmões possuem ph básico, ou seja, maior que 7. Quando se trata de charutos, cigarrilhas e fumo para cachimbos, suas indústrias produtoras diminuem o ph das fumaças para valores em torno de 3, para que a nicotina seja absorvida pelas mucosas da boca do fumante, que não as traga, mas apenas as deixa no boca. A boca do homem apresenta ph em torno de 3. Este fato faz com que caia por terra o mito que os fumantes adotam, que acreditam que charuto, cigarrilhas e cachimbos, não viciam. A nicotina e o cérebro A nicotina tem aproximadamente a forma química do neurotransmissor chamado acetilcolina, que age em vários circuitos de controle do corpo humano, entre eles, os movimentos musculares, a respiração, os batimentos cardíacos, parte do aprendizado e da memória. Assim, ao ser fumada, a nicotina age no corpo humano de forma a inibir a ação da acetilcolina 3 / 14

4 e ativa a produção da dopamina, neurotransmissor responsável pelo prazer e pela recompensa. A ação da nicotina no corpo humano se dá em questão de segundos, 15 segundos aproximadamente, e pode durar por alguns minutos. A dependência química à nicotina Os fumantes começaram, quase todos, a fumar na adolescência, não com a intenção tornarem dependentes, mas por curiosidade, por vontade de imitar os pais e avôs, ou mesmo por pressão de seus grupos sociais. Com o passar do tempo vão se tornando escravos do tabaco e, se não fumam, sentem rapidamente sintomas de abstinência. Os hábitos dos fumantes são muito parecidos, fumam diariamente de quinze a vinte cigarros, fumam mais pela manhã e pela noite, há cada 60 a 90 minutos. Há fumantes de até 100 cigarros por dia, mas são considerados como exceção. A principal causa destes ciclos entre um cigarro e outro, é o tempo de vida da nicotina nos corpos dos fumantes. Sabe-se que a nicotina produz efeitos, em média, durante 60 a 90 minutos no corpo do fumante. Acabados seus efeitos prazerosos e calmantes, o fumante já precisa acender e fumar outro cigarro. Para se avaliar o grau de dependência à nicotina, se aplica o teste de Fagestron ao fumante e seus resultados servem para determinar as estratégias que o terapeuta vai usar para enfrentar a dependência do paciente à nicotina. No final deste trabalho apresentamos o teste de Fagestron, para ser usado por interessados. Dependência da nicotina 4 / 14

5 Os efeitos psicoativos da nicotina no cérebro do homem, produzindo reforço no seu uso, são comparáveis aos da cocaína e ao dos opióides. Durante muitos anos se discutiu a capacidade da nicotina gerar dependência, sendo que em 1988 foi publicado nos Estados Unidos o relatório do Dr. Koop, que concluía que o uso do cigarro e de outras formas de tabaco gera dependência nos fumantes, e que a nicotina era a droga responsável pela dependência do tabaco.o DSM-IV incluiu a dependência e a síndrome de abstinência à nicotina como doenças. O abuso e a intoxicação à nicotina não são incluídos como dependência química por que clinicamente são raros os problemas psicossociais significantes decorrentes do uso de cigarros ou de produtos de tabaco, bem como, a inexistência de intoxicação proveniente do uso destes produtos. Critérios Diagnósticos para a dependência da nicotina Tolerância: necessidade de quantidades cada vez maiores da substância para obter intoxicação ou o efeito desejado (ex. a maioria dos fumantes usa 1 ou mais maços por dia, por volta dos 25 anos de idade) e, efeitos indesejados diminuídos com o uso continuado da mesma quantidade da substância (ex. ausência de náuseas, tonturas, tosse..) - Abstinência: apresentação de síndrome de abstinência com a presença de disforia ou humor deprimido, insônia, irritabilidade, craving, frustração ou raiva, ansiedade, dificuldade de concentração, inquietação, diminuição do ritmo cardíaco, aumento do apetite e ganho de peso, que aparecem após 24 horas após a interrupção ou redução do consumo (considerar a presença de quatro ou mais sintomas descritos sem uma relação com alguma condição clínica ou doença mental prévia). - Alívio de sintomas: a substância é utilizada para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência, sendo que muitos fumantes acendem um cigarro imediatamente após sair de uma área de não fumante. - Aumento da quantidade consumida: a substância geralmente é utilizada em quantidades maiores ou por períodos mais prolongados do que a era a intenção inicial do fumante - Uso persistente ou esforços mal sucedidos para interromper o uso: 77% dos fumantes já tentaram parar de fumar, sendo que 55% não conseguiram sucesso, apesar de tentativas repetidas, e só 5 a 10% dos que tentaram por conta própria conseguiram parar. - Gasto de tempo: muito tempo é gasto em atividades necessárias para obter a substância, para o seu uso ou para se recuperar de seus efeitos, (os fumantes deixam o local 5 / 14

6 de trabalho para fumar, várias vezes ao dia) - Perda de atividades sociais: desiste-se ou se reduz as atividades sociais, ocupacionais ou recreativas para usar a substância, como por exemplo, não aceitar um emprego no qual não se fume. - Uso apesar de problemas: continua-se a usar a substância, apesar de se ter conhecimento de que problema físico ou psicológico provavelmente foi causado ou exacerbado pelo uso de tabaco. - Critérios diagnósticos para a abstinência de nicotina Presença por 24 horas ou mais de pelo menos quatro dos seguintes sinais, sem outras causas médicas (de acordo com o DSM-IV). - Disforia ou humor deprimido. - Insônia. - Irritabilidade, frustração ou raiva. - Ansiedade. - Dificuldade de concentração. - Inquietação. - Diminuição da freqüência cardíaca. - Aumento do apetite ou ganho significativo de peso. Principais doenças atribuídas ao tabagismo São encontradas no cigarro industrializado mais de substâncias químicas, entre elas a nicotina que age no cérebro dos fumantes. Entre estas substâncias estão cerca de 400 substâncias nitidamente cancerígenas, como produtos o alcatrão, produtos clorados e fosfatados oriundos dos defensivos agrícolas, daí o alto índice de doenças que traz aos seus usuários. Assim: 6 / 14

7 Em curto prazo o tabagismo causa: - Tosse de fumante e hálito de tabaco - Amarelecimento dos dentes e dos dedos - Bronquites e doenças respiratórias Em longo prazo o tabagismo causa: - Enfisema pulmonar e bronquites crônicas. - Arteriosclerose e doenças arteriais coronarianas., - Infarto do miocárdio. - Cânceres de pulmão, boca, bexiga, estômago. - Doenças nas vias aéreas superiores. - No cérebro: o fumo triplica o risco de derrame. - No nariz: o alcatrão reduz a capacidade olfativa. - Na circulação: aumenta o risco de trombose, doença vascular periférica e inflamação de vasos. - Nos rins: o fumo provoca insuficiência renal. - Na bexiga: eleva em três vezes o risco de câncer. - Nos ossos: aumenta o risco de osteoporose nas mulheres. - Coração: taquicardia e infarto. - No aparelho digestivo: câncer de estômago, de pâncreas e de esôfago, além de gastrite e úlcera. - No sistema reprodutor: o fumo favorece o câncer do colo de útero, causa menopausa precoce, nos homens prejudica a fertilidade. Em troca do encerramento de 17 ações coletivas de fumantes e de seus descendentes, nas quais estes solicitavam indenizações milionárias dos fabricantes de cigarro, por mortes e doenças causadas pelo fumo aos fumantes, a indústria americana de tabaco concordou em aplicar US$ 368,5 bilhões em saúde pública nos próximos 25 anos. 7 / 14

8 Do ponto de vista psicológico o tabagismo causa: - Diminuição da concentração - Ansiedade - Confusão mental - Perturbações sensoriais Tabagismo e gravidez Como outras drogas psicoativas, a nicotina causa sérios problemas às mães que fumam e que engravidam. É consenso entre os especialistas em drogas que o feto fuma junto com a mãe. A nicotina provoca no bebê: - Aumento dos batimentos cardíacos. - Redução de peso ao nascer. - Menor estatura. - Possíveis alterações neurológicas. - Risco maior de abortamento. - Transmissão de substâncias tóxicas do cigarro ao bebê, ao ser amamentado. Tratamentos Para o tratamento psicológico de pacientes fumantes é necessário inicialmente motivá-los a aceitarem que precisam se tratar, pois o fumo tem sido danoso as suas vidas, e o terapeuta 8 / 14

9 deve se valer de Terapia Motivacional e de Terapia Cognitivo-Comportamental. Estas terapias são as que dão o melhor resultado na busca que o paciente faz para cessar seu hábito de fumar. Normalmente o terapeuta faz esta motivação em cerca de oito sessões de 50 minutos cada. A prevenção da recaída é muito importante para a manutenção do paciente em tratamento. Aproximadamente 20% dos que tentam parar de fumar recaem na primeira semana de tratamento e outros 30% recaem até o terceiro mês de tratamento. O tratamento medicamentoso, receitados por médicos psiquiatras ou clínicos gerais se compõe de: - Uso do antidepressivo bupropiona (Zyban, Wellbutrin ou Zetron). - Uso de adesivos nicotinados (Niquitin ou outros), chamado também de método de reposição de nicotina, durante cerca de 90 a 120 dias, nos valores de 21 mg, 14 mg e 7 mg, cerca de 30 a 40 dias para cada tipo de dosagem. Caso necessário, o paciente pode utilizar goma de mascar a base de nicotina, ou sprays de nicotina, por via nasal ou oral, o qual ainda não é comercializado no Brasil. O tratamento combinado de terapia psicológica e medicamentosa dá os melhores resultados na cessação de fumar. Uma vez que o fumante parou de fumar, ele irá encorajar aqueles que o cercam a segui-lo. A freqüência a grupos de apoio para fumantes é ainda pouca difundida no Brasil. 9 / 14

10 Comorbidades Cerca de 15 a 20% dos fumantes pesados mostraram ser abusadores de álcool e de drogas. Cerca de 25 a 40% dos fumantes que mostram desejos de parar com o uso do tabaco apresentam sintomas de depressão maior e de distimia. Cerca de 70% dos pacientes internados em hospitais e em ambulatórios médicos, portadores de transtorno bipolar e 90% dos pacientes esquizofrênicos, também internados nos mesmos tipos de instituições, são fumantes, e, não desejam parar de fumar. Cerca de 50% dos pacientes psiquiátricos internados em instituições psiquiátricas fumam de modo dependente. Cuidados com o peso corporal A maioria dos fumantes teme parar de fumar e aumentar de peso. Na realidade o que acontece é que a nicotina diminui o peso dos fumantes em cerca de 2 a 3 quilos, por agir diretamente no centro da fome do fumante. Alem disso, o tabaco diminui as sensações gustativas do fumante, e parar de fumar pode implicar em comer mais. É importante que o terapeuta que trata o fumante o informe sobre esses perigos de aumentar de peso, e o orientando a aumentar suas atividades físicas, melhorar sua alimentação e controlar seu peso. 10 / 14

11 Prevenção ao tabagismo Em primeiro lugar o Estado deveria demonstrar aos adolescentes e jovens todos os sérios inconvenientes que o tabaco traz aos fumantes, ao longo de suas vidas, de forma a poder enfrentar o lobby da indústria do fumo. Deve-se lembrar que o tabaco é um dos maiores provocadores de doenças na população mais idosa do país, e os gastos do Governo brasileiros com estes cuidados custam mais ao país do que este arrecada com os impostos e taxas sobre o fumo. Para se diminuir o uso de cigarros, o Governo deveria ainda: 1. Aumentar preços e impostos sobre o fumo, e usar este excesso de arrecadação para os tratamentos de fumantes em hospitais e rede de saúde pública. 2. Deveria também deixar claro a possibilidade de se desenvolver a dependência à nicotina. 3. O Governo deveria desenvolver novos tratamentos e terapias, para cuidar de fumantes que desejam parar de fumar e que não podem arcar com tratamentos particulares. 4. Provisão de verbas maiores a serem gastas em prevenção ao uso do tabaco, com os adolescentes e com os jovens, principalmente com as adolescentes, atualmente mais vulneráveis ao uso do tabaco do que os adolescentes masculinos. TESTE DE FAGESTRÖM PARA FUMANTES Teste aqui sua situação de fumante: 11 / 14

12 1. Quanto tempo após acordar você fuma seu primeiro cigarro? Dentro de 5 minutos pontos Entre 6 a 30 minutos pontos Entre 31 a 60 minutos ponto Após 60 minutos Você acha difícil não fumar em lugares proibidos como igreja, avião, biblioteca, cinema, etc? Sim ponto Não Qual cigarro do dia seria pior para você largar? O primeiro da manhã ponto Outros / 14

13 4. Quantos cigarros você fuma por dia? 10 ou menos a a ou mais Você fuma mais frequentemente nas primeiras horas da manhã do que no resto do dia? Sim Não Você fuma mesmo doente e quando precisa ficar de cama a maior parte do dia? Sim Não / 14

14 Resultados Escores acima de 7 indicam grau elevado de dependência à nicotina. 14 / 14