SENTENÇA. A ré apresenta defesa escrita, contestando articuladamente os pedidos da exordial.

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1 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO 2ª VARA DO TRABALHO DE PORTO ALEGRE ACC AUTOR: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM PROCESSAMENTO DE DADOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL RÉU: COMPANHIA DE PROCESSAMENTO DE DADOS DO MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE - PROCEMPA SENTENÇA Vistos, etc. SINDICATO DOS TRABALHADORES EM PROCESSAMENTO DE DADOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, devidamente qualificado, ajuíza, em 26/03/2018, ação civil coletiva em face de COMPANHIA DE PROCESSAMENTO DE DADOS DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE - PROCEMPA, igualmente qualificada, postulando, pelos fundamentos expostos na inicial, as verbas elencadas no rol de pedidos. Atribui à causa o valor de R$ ,00. É deferida antecipação de tutela para manutenção das condições do plano de saúde vigente dos empregados da ré e seus dependentes até o julgamento do mérito ou até novo acordo coletivo. A ré apresenta defesa escrita, contestando articuladamente os pedidos da exordial. É produzida prova documental. Sem mais provas, é encerrada a instrução, com razões finais por memoriais pelas partes. As propostas conciliatórias, oportunamente ofertadas, restaram inexitosas. É o relatório. DECIDO: DA ALTERAÇÃO NO PLANO DE SAÚDE O sindicato-autor afirma que a reclamada possui plano de saúde mantido por convênio junto à empresa operadora de plano de saúde com vigência até 30/04/2018 (plano anterior). Aduz que a 125ª cláusula do Acordo Coletivo de Trabalho 2017/2018 garante que sua vigência vigora até a renovação de um novo Acordo Coletivo, inclusive quanto aos termos do plano de saúde. Narra, ainda, que a cláusula 33ª do mesmo Acordo impõe um desconto mensal de R$ 14,77 de cada empregado, além de estabelecer que qualquer alteração nas condições do benefício necessariamente deve passar por uma Comissão de Trabalhadores da reclamada. A despeito destas regras, o sindicato-autor alega que a reclamada publicou Edital de Pregão Eletrônico para contratação de nova operadora de plano de saúde com a previsão de diminuição da abrangência de atendimento, de nacional para regional, cobrança de coparticipação dos empregados por evento, além de diminuição no número consultas e de hospitais credenciados. Pretende o sindicato-autor, diante da alegada alteração contratual lesiva, suspensão definitiva da licitação para contratação de nova prestadora de plano de saúde e a proibição de licitação que vise alteração nas condições de prestação plano de saúde anterior, sem apreciação da Comissão de Trabalhadores e sem prévia negociação coletiva. A reclamada aduz que não houve alterações lesivas aos direitos incorporados aos contratos de trabalho de seus empregados. Alega que a contratação de nova operadora de plano de saúde é oriunda dos Número do documento: Num. 1f452a0 - Pág. 1

2 apontamentos do Tribunal de Contas do Estado, das advertências do Ministério Público Estadual, da otimização dos recursos financeiros e da readequação das coberturas com as regras de mercado. Informa, ainda, que as cláusulas editalícias foram devidamente encaminhadas à Comissão de Empregados e que as discordâncias apontadas por esta foram devidamente acolhidas ou contrapostas pelo departamento jurídico da empresa. Argumenta que a manutenção do plano anterior com o fornecedor é inviável, diante da origem do faturamento da companhia, qual seja, 95% de contratos com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, e do reajuste estipulado pela operadora. Por fim, refere ao cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal e pugna pela improcedência do pedido. A cláusula 33ª do Acordo Coletivo de Trabalho prevê que: "A PROCEMPA dará cobertura médico/hospitalar/odontológica aos trabalhadores, aposentados e dependentes, através de convênio com empresa/sistema de atendimento médico conceituada. 1º - O empregado contribuirá mensalmente com o valor de R$ 14,77 (quatorze reais e setenta e sete centavos) para a manutenção do seu plano médico/hospitalar. O valor será descontado na folha de pagamento e será reajustado pelo último índice total de correção dos salários nas ocasiões em que for revisado o preço do contrato mantido com a empresa contratada. (...) 10º- Os editais de licitação de Planos de Saúde serão apreciados pela Comissão de Trabalhadores da PROCEMPA pelo prazo de 5 (cinco) dias úteis a contar do recebimento do expediente administrativo, o que deverá ocorrer antes da publicação do instrumento convocatório, assegurada a não divulgação dos termos do edital a fim de garantir o princípio da igualdade entre concorrentes." Tal Acordo Coletivo ainda está em vigor, conforme cláusula 125, até a renovação por um novo Acordo Coletivo. Em que pesem os termos da norma, a reclamada publicou Edital de Pregão Eletrônico com a finalidade de contratação de um novo plano privado de assistência médico-hospitalar. São incontroversas nos autos as seguintes alterações nos critérios para contratação: (i) quanto à modalidade de custeio do plano de saúde com a contratação de novo fornecedor, a partir de maio de Neste sentido, o item 8.7, do Anexo I, do Edital do Pregão Eletrônico, documento de ID. 533e60f - Pág. 54, prevê a cobrança de coparticipação dos beneficiários: "Será devida a cobrança de coparticipação aos titulares do plano de saúde apenas nas consultas médicas eletivas e de urgência/emergência, próprias e de seus dependentes e agregados"; (ii) quanto à abrangência de cobertura e o número de hospitais a serem disponibilizados, sendo o anterior de abrangência nacional e o novo contratado de abrangência regional, conforme item 5.6, do Anexo I, do Edital do Pregão Eletrônico, documento de ID. 533e60f - Pág. 19. Nos termos do art. 468 da CLT: "Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia." O princípio da inalterabilidade contratual lesiva se expressa pelo aforismo pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos). Este princípio informa que as convenções firmadas entre as partes não podem ser unilateralmente modificadas no curso do prazo de sua vigência, impondo-se ao cumprimento fiel pelos pactuantes. E ainda, a noção de inalterabilidade torna-se sumamente rigorosa caso contraposta a alterações desfavoráveis ao trabalhador. (DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr. 2012, p e p. 1026). À vista do Acordo Coletivo de Trabalho 2017/2018, ID. 4f72216, verifico que sua cláusula 33ª prevê apenas a mensalidade R$ 14,77 de cada empregado. Não assiste razão à reclamada ao afirmar que cumpre Número do documento: Num. 1f452a0 - Pág. 2

3 o Acordo Coletivo por continuar cobrando mensalidade com o mesmo valor, pois na prática com o com cobrança a título de coparticipação, obviamente, o gasto do empregado com cobertura médica será muito superior ao pago com o plano anterior. Do exposto, é inegável que a alteração dos critérios de contribuição causou prejuízos aos empregados da reclamada, caracterizando-se como uma alteração unilateral lesiva. Quanto à extensão do plano, à vista dos gráficos, ID. ef25c95 - Pág. 3, verifico que no ano de 2017 foram realizados diversos atendimentos aos beneficiários fora da Cidade Porto Alegre. Além cidades como Santa Maria, Pelotas, Taquari, destaco os atendimentos realizados fora do Estado do Rio Grande do Sul, em Curitiba. Os empregados que precisam viajar para esta cidade a trabalho, serão seriamente prejudicados, pois o valor máximo de R$ 5.000,00 por pessoa em despesas médicas, previsto na apólice de seguro, ID E, não se coaduna com os mais de R$ ,00 gastos com consultas e tratamentos em Curitiba pelos dependentes em Acrescento, ainda, que a assistência médica oferecida por seguros de viagem funcionam pelo mecanismo de reembolso. Ou seja, o empregado teria que pagar do próprio bolso as despesas médicas no momento do infortúnio e posteriormente reunir a documentação e enviá-la para a seguradora. Esta situação redunda em uma diminuição na qualidade do serviço se comparada com o plano de saúde anterior. Além disso, os mesmos gráficos demonstram que os hospitais (Moinhos de Vento e Mãe de Deus) fizeram a maior parte dos atendimentos aos beneficiários (responsáveis por cerca de 42% dos atendimentos). Contudo, a reclamada, conhecedora desta informação, deliberadamente excluiu, por meio do Edital do Pregão Eletrônico, os dois hospitais da rede de credenciados. Entendo que esta redução nos hospitais credenciados resulta em uma clara precarização do benefício oferecido ao empregado que, como bem ponderado pela representante sindical em audiência, se trata de uma conquista dos trabalhadores após muitos anos de negociação. Cabe, também, afastar a pretensão do reclamado acerca da discricionariedade dos atos da empresa pública, com a possibilidade de revogação a qualquer tempo dos benefícios dos empregados. Isto porque, ao se investir na figura do empregador, mesmo a empresa pública deve observar as disposições que regem o contrato de trabalho, ficando parcialmente mitigadas as disposições que regem o Direito Administrativo. Celebrado contrato de trabalho sob a égide da CLT, devem ser observadas integralmente suas disposições, não cabendo ao reclamado eleger quais dispositivos se aplicam aos contratos de trabalho por ele celebrados. A alegada adstrição à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de igual sorte, não socorre a demandada, o documento de ID b - Pág. 1, indica que a empresa pública obtém por ela mesma os recursos necessários ao próprio custeio, o fato de ter como principais clientes a administração pública não a caracteriza como uma empresa dependente direta de repasses dos entes públicos. Ainda que estivesse submetida à LRF, não serve de argumento para legitimar a arbitrariedade perpetrada, pois a LRF prevê como medidas para reequilíbrio das finanças a não concessão de novas vantagens ou reajustes, diferente dos autos, que se trata de retirada de benefícios. Quanto aos apontamentos realizados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 2012, 2014 e 2016, a despeito da duvidosa correlação entre gastos da Prefeitura com a saúde do cidadão e o custo do plano pago aos empregados da reclamada feita pelo TCE, o próprio Tribunal observa que o conjunto de elementos apresentados por ele não pretende servir de justificativa para precarizar a relação trabalhista existente. Neste sentido, os princípios da economicidade e eficiência e até mesmo a crise econômica não dão salvo-conduto à reclamada para alterações desfavoráveis ao trabalhador. Sinalo que durante o processo negocial coletivo as partes ponderam e chegam a um acordo pautando suas condutas nos princípios da boa-fé e transparência. Obviamente, os envolvidos avaliam nesta negociação sua situação objetiva e subjetiva. O que é lógico presumir, no caso dos autos, que o sindicato-autor, ao selar um acordo, deixe de reivindicar um reajuste salarial maior ou alguma outra vantagem em virtude da manutenção do benefício de assistência à saúde dos empregados nos moldes já previstos nos acordos anteriores. Da mesma forma, não é crível que a demandada não tivesse uma previsão do custo da manutenção e reajuste do plano de saúde (mantido há pelo menos 04 anos). Ademais, este custo se insere Número do documento: Num. 1f452a0 - Pág. 3

4 no contexto dos riscos do empreendimento, que exclusivamente devem ser suportados pelo empregador. Assim, o descumprimento da cláusula de assistência à saúde por parte da demandada, sem nenhuma alteração fática nas condições em que se deram o acordo beira à deslealdade. Por fim, completamente equivocada a interpretação da ré, de que a oferta de assistência médica, por mera liberalidade, não estaria incorporada aos contratos de trabalho por não ter natureza salarial. A concessão de vantagem ao empregado, por liberalidade do empregador, adere ao contrato de trabalho, como se lá estivesse escrita, não podendo haver sua supressão ou alteração lesiva, nos termos do art. 468 da CLT. A própria vantagem (e não apenas as de natureza salarial), incorpora-se ao patrimônio jurídico do empregado, estando eivada de nulidade a contratação de nova assistência médica em patamar inferior ao plano com vigência até abril de Dessa forma, verifico que a existência do plano de saúde nas condições mais benéficas aderiu ao contrato de trabalho dos substituídos, sendo a alteração no custeio, por meio de coparticipação, a redução na área de abrangência e a redução no número de hospitais proposta pela empregadora lesiva aos trabalhadores admitidos até abril de 2018, nos termos do art. 468 da CLT. Determino o restabelecimento do plano de saúde UNIMED, nos moldes anteriores (mesma forma de custeio e abrangência, mesmo número de consultas e hospitais credenciados), inclusive quanto à Cláusula 33 do Acordo Coletivo de Trabalho 2017/2018, a todos os beneficiários, até que seja realizada prévia negociação coletiva alterando os termos do acordo anterior. Defiro, ainda, a antecipação de tutela, por presentes os requisitos do artigo 300 do CPC, para que o restabelecimento seja providenciado no prazo de 30 dias, sob pena de pagamento de multa diária de R$20.000,00 (vinte mil reais) em favor do sindicato-autor. Em que pese o manifesto descumprimento da antecipação de tutela anteriormente concedida, deixo de aplicar multa, diante da ausência de cominação expressa na decisão anterior. DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA Conforme preconizam os artigos 790, parágrafo 4º, da CLT c/c art. 14 da Lei n /70, o benefício da justiça gratuita pode ser concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo. Considerando a extinção da obrigatoriedade da contribuição sindical com o advento da reforma trabalhista, ratificada recentemente pelo STF no julgamento da ADI 5794, é fato notório, nos termos do art.374, I, do CPC, a situação de penúria econômica enfrentada pelos sindicatos. Desta forma, entendo comprovada a insuficiência de recursos do sindicato-autor em arcar com os custos processuais. Portanto, concedo-lhe os benefícios da gratuidade de justiça, com fulcro no parágrafo 4º, do art. 790 da Consolidação das Leis do Trabalho e nos demais dispositivos legais invocados. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Nos termos do artigo 791-A da CLT, defiro os honorários advocatícios no percentual de 15% sobre o valor bruto da condenação. DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA E DOS RECOLHIMENTOS FISCAIS Não são devidos, diante da natureza da parcela. Número do documento: Num. 1f452a0 - Pág. 4

5 DISPOSITIVO EM FACE DO EXPOSTO, nos autos da presente ação civil coletiva ajuizada por SINDICATO DOS TRABALHADORES EM PROCESSAMENTO DE DADOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL em face de COMPANHIA DE PROCESSAMENTO DE DADOS DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE - PROCEMPA, decido, nos termos da fundamentação, julgar PARCIALMENTE PROCEDENTE a reclamação para determinar que a reclamada restabeleça o do plano de saúde UNIMED, nos moldes anteriores (mesma forma de custeio e abrangência, mesmo número de consultas e hospitais credenciados), inclusive quanto à Cláusula 33 do Acordo Coletivo de Trabalho 2017/2018, a todos os beneficiários, até que seja realizada prévia negociação coletiva alterando os termos do acordo anterior. Defiro, ainda, a antecipação de tutela, por presentes os requisitos do artigo 300 do CPC, para que o restabelecimento seja providenciado no prazo de 30 dias, sob pena de pagamento de multa diária de R$20.000,00 (vinte mil reais) em favor do sindicato-autor. Condeno, ainda, a reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, acrescidos por juros e correção monetária, no percentual de 15% sobre o valor bruto da condenação, acrescido de juros e correção. Concedo ao sindicato-autor os benefícios da Justiça Gratuita. Custas pela reclamada, no importe de R$ 400,00, equivalente a 2% sobre o valor atribuído à causa de R$ ,00. Intimem-se as partes e o Ministério Público do Trabalho. Cumpra-se. PORTO ALEGRE, 7 de Agosto de 2018 GABRIELA LENZ DE LACERDA Juiz do Trabalho Substituto Número do documento: Num. 1f452a0 - Pág. 5