MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FLORES

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1 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FLORES EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE FLORES (PE) O MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO, por meio de sua representante legal, com fulcro no art. 74, inciso III, e art. 43 da Lei nº , de , vem, perante Vossa Excelência, propor AÇÃO PARA APLICAÇÃO DE MEDIDA DE PROTEÇÃO em favor dos idosos ARETUZA PEREIRA LACERDA, brasileira, casada, aposentada (NB ), portadora do RG nº SSP/PE, residente no Sítio Matolotagem, Município de Flores (PE); JOAQUIM LACERDA SOBRINHO, brasileiro, casado, aposentado (NB ), residente no Sítio Matolotagem, Município de Flores (PE); 1

2 ANTÔNIO BARBOSA DA SILVA, brasileiro, aposentado (NB ), residente no Sítio Riacho dos Barreiros, Município de Flores (PE); Em face de: BANCO BMC, com endereço comercial na Rua Antonio Lumack do Monte, 96, Edifício Empresarial Center II - 1º andar, CEP Recife, PE, Tel , Fax ; pelos motivos a seguir expostos: 1. DOS FATOS: De acordo com os documentos acostados à presente exordial, representantes do Banco BMC compareceram, no mês de janeiro de 2007, à residência dos idosos Aretuza Pereira Lacerda e Joaquim Lacerda Sobrinho, que são casados, perguntando se os mesmos possuíam algum empréstimo (doc. 01). O casal de idosos, analfabetos, após responder não possuir qualquer empréstimo, foram informados que o Presidente Lula estava dando um auxílio para todos os aposentados que não possuíam empréstimo. Em seguida, os representantes desconhecidos solicitaram a documentação de ambos para fazerem cópias, alegando ser necessária tal documentação para o recebimento da ajuda. Após terem copiado os documentos dos idosos, os representantes solicitaram que os mesmos colocassem suas 2

3 impressões digitais em alguns papéis, não sendo informados do teor desses papéis, nem que seria efetuado qualquer desconto no benefício previdenciário. É de se destacar, que os representantes do Banco BMC não se apresentaram como tais, mas sim como servidores do Governo Federal. Quando os idosos compareceram na agência bancária para o recebimento da suposta ajuda do Governo Federal, foram informados pelo gerente que havia sido realizado um empréstimo consignado nos benefícios previdenciários dos mesmos. Em razão dos aposentados terem sido erroneamente informados de que não seria possível cancelar os empréstimos efetuados, o Sr. Joaquim Lacerda Sobrinho retirou o dinheiro e gastou em sua propriedade. A Sra. Aretuza, por sua vez, retirou o dinheiro, e guardou-o, não gastando qualquer quantia. Ambos afirmam que não desejavam fazer empréstimos e que foram enganados e coagidos a colocar a impressão digital em papéis dos quais desconheciam o conteúdo. Ressalte-se que, para retirarem o valor do empréstimo, o casal de aposentados foi obrigado a gastar cerca de R$ 75,00 (setenta e cinco reais) em documentação. Os empréstimos realizados foram no valor de R$ 2.020,00 (dois mil e vinte reais), cada um, divididos em 36 (trinta e seis) 3

4 parcelas de R$ 101,16 (cento e um reais e trinta e seis centavos) (docs. 03 e 06). No que tange ao idoso Antônio Barbosa de Lima, o método empregado pelos representantes da instituição bancária foi semelhante ao anterior. Os mesmos chegaram à residência do idoso afirmando serem servidores do Governo Federal e que ele deveria colocar a impressão digital em alguns papéis e entregar a cópia de alguns documentos senão o governo iria cortar o 13º salário (doc. 08). Após tomar conhecimento por outras pessoas de que, em realidade, aquelas pessoas não eram representantes do Governo Federal, mas sim de uma instituição financeira, o idoso procurou esta Promotoria de Justiça. Resta constatado através do doc.09, que foi efetuado em seu benefício um empréstimo consignado no valor de R$ 2.125,00 (dois mil cento e vinte e cinco reais) dividido em 36 (trinta e seis) parcelas de R$ 104,76 (cento e quatro reais e setenta e seis centavos), cada uma. Interessante notar que, nas duas visitas, os idosos, todos analfabetos, não receberam cópia do contrato de empréstimo e não foram sequer informados que estavam contraindo um empréstimo, apenas recebendo um cartão de identificação da empresa terceirizada, contratada pelo Banco BMC para visitar os aposentados (doc. 11). 4

5 Em face dessa situação de privação de 1/3 de seus rendimentos mensais, os idosos apresentavam grande transtorno psicológico e emocional. Causa repúdio a conduta praticada de forma contumaz pelos representantes da instituição bancária, ora ré, não apenas no Município de Flores, mas em diversos Municípios da região, coagindo e enganando aposentados, na sua maioria analfabetos, com o intuito exclusivo de aumentar os seus lucros através de uma transação lucrativa e isenta de riscos. 2. DO DIREITO: A Instrução Normativa INSS/DC nº 121, de , que regula a realização de empréstimos consignados, em consonância com o Código do Consumidor, prevê uma série de requisitos a serem observados pelas Instituições Financeiras, dentre os quais encontra-se o pleno e total esclarecimento do cliente sobre o valor do empréstimo contraído, a quantidade de parcelas, o valor de cada parcela, o valor dos juros cobrados etc. Por outro lado, a Lei nº , de , conhecida como Estatuto do Idoso, assegura às pessoas com idade superior 60 (sessenta anos) direitos e garantias suplementares àqueles previstos nas demais normas do sistema jurídico pátrio. Com o intuito de resguardar o devido cumprimento dos direitos dos idosos, o Estatuto previu a possibilidade de aplicação de medidas de proteção. 5

6 Impende destacar, que o art. 45 do Estatuto do Idoso traz um rol meramente exemplificativo de medidas de proteção a serem aplicadas, sendo cabível a aplicação de qualquer medida que se mostre necessária para a garantia efetiva dos direitos do idoso: Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: (grifou-se) No caso em tela, resta clara a violação a diversos direitos da pessoa idosa, uma vez que a diminuição dos proventos poderá implicar riscos à alimentação, à moradia, à saúde, entre outros. Mostra-se essencial para a proteção dos idosos, que se encontram em situação de risco, a imediata suspensão da cobrança das parcelas e o posterior ressarcimento de todos os descontos efetuados, além de pagamento de indenização pelos danos materiais e morais sofridos. 3. DO PEDIDO: Diante do exposto, requer o Ministério Público de Pernambuco, por sua representante legal: a) o recebimento da ação no rito sumário, nos termos do art. 69 do Estatuto do Idoso, garantindo-se prioridade na tramitação do feito; 6

7 b) liminarmente, a determinação de suspensão imediata dos descontos nos benefícios previdenciários dos idosos; conciliação; c) a citação do réu para comparecer à audiência de c) a produção de todos os meios de prova permitidos em lei, dentre os quais: a intimação do réu para apresentar toda a documentação referente aos empréstimos efetuados; a intimação das testemunhas, ao fim nomeadas, e dos idosos, para serem inquiridos em audiência; d) a procedência do feito, com a aplicação de medida de proteção para que seja determinado: 1) o ressarcimento integral dos descontos efetuados nos benefícios dos idosos, acrescido e juros e correção monetária; 2) o pagamento do valor de 01 (um) salário mínimo como indenização pelos danos materiais; 3) o pagamento do valor de 50% (cinqüenta por cento) do valor do empréstimo efetuado a título de indenização pelos danos morais, nos termos do art. 45, caput, do Estatuto do Idoso. Nestes termos. Pede deferimento. Flores (PE), 20 de março de Rejane Strieder Promotora de Justiça 7

8 Rol de testemunhas: a) ROBSON RODRIGUES, residente na Travessa Presidente Castelo Branco, nº 50, Centro, Município de Delmiro Gouveia (BA); b) JAMYSON SANTOS MEDEIROS, residente na Rua 55, nº 409, Parque dos Faróis, Nossa Senhora do Socorro (SE); 8