UM OLHAR SOBRE O ENSINO DE BIOLOGIA ATRAVÉS DO ESTAGIO SUPERVISIONADO
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- Ilda Minho Klettenberg
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1 RESUMO UM OLHAR SOBRE O ENSINO DE BIOLOGIA ATRAVÉS DO ESTAGIO SUPERVISIONADO Rafaela Almeida da Silva (Universidade Estadual de Santa Cruz UESC) Miríades Augusto da Silva (Departamento de Ciências Biológicas UESC) O estágio supervisionado é um passo crucial na formação dos professores, porque é através dele que os alunos têm a oportunidade de vivenciar metodologias de ensino, comparando-as e analisando os pontos positivos e negativos, buscando-se aperfeiçoar com foco na aprendizagem dos estudantes e na própria formação para a docência. Os relatos mais marcantes foram mencionados por acreditarem na relevância que essas experiências têm na escolha profissional dos futuros docentes, para tal, buscou retratar a inserção, o planejamento, as observações, as regências, as avaliações e as oficinas realizadas na escola. A turma investigada foi do 1 ano do Ensino Médio de um Colégio estadual, no município de Coaraci-Ba, entre outubro e dezembro em Palavras chave: Estágio curricular. Ensino de Biologia. Aulas práticas. Prática docente. INTRODUÇÃO De acordo com Santos (2005), o Estágio Supervisionado curricular é um espaço de construções significativas no processo de formação de professores e deve ser entendido como uma oportunidade de formação contínua da prática pedagógica. O objetivo do estágio é proporcionar que o estudante se aproxime com um cotidiano que futuramente irá atuar. O estagiário, participando das atividades de uma escola, deve ter consciência de que a finalidade é a sua formação como professor. A junção dos conhecimentos obtidos nas disciplinas teóricas desenvolvidas na licenciatura serve como alicerce para a construção significativa do Estágio Supervisionado Curricular. Segundo Tardif (2002), a profissão de um professor se constrói tendo quatro pilares como base que são: os saberes da formação profissional, os saberes disciplinares, os saberes curriculares e os saberes experienciais que são construídos no decorrer do seu cotidiano. Dá-se muita importância a prática do professor, porém, para isso, o coletivo da escola muito contribui, pois se há parceria entre os profissionais o sucesso é garantido, já que a interação entre as pessoas proporciona um fazer pedagógico melhor, o que normalmente parte sempre de discussões em grupo e, neste caso, possíveis erros são corrigidos antecipadamente. 6636
2 O estágio é o momento de escolha, se de fato é isso mesmo que quer seguir: ser um professor. Por isso, em momento algum, deve-se subestimá-lo, mas, sim, aproveitar cada momento seja em sala de aula, nas preparações de planos de aula, na busca pelo novo, pela criatividade na realização de jogos didáticos, enfim. E, é nessa questão que entra a disciplina de estágio: formar alunos com uma nova visão de ensino, criar opções dentro da sala de aula que despertem o interesse dos alunos. Quanto às vivências durante regência, elas possibilitam a construção de um material de reflexão que produzem memórias positivas, tornando assim o estágio mais relevante. A utilização de metodologias diferenciadas é fundamental para que o profissional em formação aumente as possibilidades de ensino e encare a sala de aula mais otimista. Os alunos se deparam na maioria das vezes com um sistema de ensino ainda muito impregnado nas formas tradicionais de ensino e isso se torna um desafio a propor novas soluções. Nessa perspectiva, a regência constituiu um momento de grande aprendizado profissional e principalmente pessoal, pois permitiu olhar aqueles alunos em uma concepção diferente, fez perceber que cada um tem suas limitações que por ventura possa estar relacionada a problemas familiares, sociais ou econômicos. Cabe ao professor, portanto, tentar superar esses obstáculos para que de fato se efetive uma relação de aprendizagem entre aluno e professor. Este trabalho objetiva relatar as experiências em sala de aula a respeito da regência de classe, a partir de percepções e vivências durante o estágio supervisionado. O ESTÁGIO SUPERVISIONADO: CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO O momento de estágio contribui com o fazer profissional do futuro professor. É um espaço de construções significativas que permite o aluno pôr em prática suas ideias e conhecimento teórico obtidos durante o curso. O contato e as trocas estabelecidas entre o professor em formação inicial e a realidade escolar, juntamente com o processo de ensinoaprendizagem no âmbito da escola-campo, permitem a aproximação da condição docente às situações nas quais o sujeito se torna professor (ROCHA et.al. 2010). Permite também que haja uma (re)significação da identidade e valorização profissional do professor. Há necessidade de os estagiários vivenciarem a prática docente em escolas de educação básica. Segundo Pimenta (1999): É imprescindível, assim, a imersão nos contextos reais de ensino, para vivenciar a prática docente mediada por professores já habilitados, no caso, os orientadores dentro das universidades em parceria com os professores que já 6637
3 atuam nas salas de aula, essa é a maneira mais efetiva de proporcionar aos estagiários um contato com o ambiente em que irão atuar. Os estagiários em suas práticas pedagógicas levam consigo para sala de aula várias crenças, atitudes e preconceitos acumulados desde o início de suas vidas escolares, influenciados também, pela família e sociedade, perdurando até o momento em que seus paradigmas são confrontados com a realidade escolar. É necessário que esses conflitos sejam solucionados para que esse momento de estágio não se torne frustrado e desmotivado frente à prática pedagógica e isso influencie negativamente na prática de ensino. Essas experiências que o estagiário leva consigo servem como alicerce na construção do saber, e isso permite uma maior diversidade e complexidade de ideias estabelecidas nas aulas, que mutuamente são trocadas com o conhecimento dos alunos. É portanto, o Estágio, uma importante parte integradora do currículo, a parte em que o licenciando vai assumir pela primeira vez a sua identidade profissional e sentir na pele o compromisso com o aluno, com sua família, com sua comunidade com a instituição escolar, que representa sua inclusão civilizatória, com a produção conjunta de significados em sala de aula, com a democracia, com o sentido de profissionalismo que implique competência - fazer bem o que lhe compete. (ANDRADE, 2005, p. 2). Toda essa diversidade de valores é permitida graças a interação entre universidades e escolas. Segundo Rocha et.al. (2010), a parceria entre a universidade e a escola-campo, gera processos teórico-práticos que permitem aos estagiários construir conhecimentos do campo de ensino-aprendizagem ou daqueles específicos das ciências biológicas, e o desenvolvimento de procedimentos, atitudes e valores humanos. Para Krasilchik (2008), a relação entre universidade e escolas não pode caracterizar como cobrança ou fiscalização das ações educativas, mas uma ação cooperativa, visando a melhoria do ensino. A escola é considerada um ambiente complexo e, o professor de biologia ainda enfrenta barreiras ao abordar os conteúdos da disciplina, muitas vezes de forma tradicional, onde vários conteúdos abstratos são de difícil compreensão, e os professores se sentem desafiados em buscar metodologias atrativas para suas aulas. E para os estagiários não seria diferente. É nesse momento, que eles devem ser mais ainda inventivos, criativos, inovadores, para assim ir desmitificando a ideia tradicionalista nas aulas de biologia. Embora, durante o curso, várias disciplinas pedagógicas e práticas no ambiente escolar possam contribuir para que o estagiário não se assuste ao entrar em sala de aula, para realização das suas atividades. 6638
4 Também deve ser levada em consideração que aprender a ensinar é uma tarefa que deverá ser estendida durante toda a vida dos professores e, não somente nos poucos anos de sua formação inicial. Aprender a ensinar também pode ser considerado como um sinônimo de ajustes, ou checagem radical, dentre outros fatores, no sistema de crenças educacionais dos futuros professores (SOUZA; GONÇALVES, 2012). METODOLOGIA Esse artigo é um relato de experiência que descreve aspectos vivenciados por uma discente do curso de Graduação em licenciatura - Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na oportunidade de um Estágio Curricular Supervisionado III. O relato de experiência é uma ferramenta da pesquisa descritiva que apresenta uma reflexão sobre uma ação ou um conjunto de ações que abordam uma situação vivenciada no âmbito profissional de interesse da comunidade científica. O estágio que resultou na redação deste relato aconteceu no período entre 29 de outubro a 07 de dezembro de 2015, com alunos do 1º ano do ensino médio de um Colégio Estadual, município Coaraci-BA. A turma era composta por 21 alunos com faixa etária entre 15 à 45 anos, sendo 15 do sexo feminino e 6 do masculino. O número de participantes (n=21) mostrou-se adequado para o desenvolvimento das atividades, uma vez que possibilitou a emergência das emoções, a troca de experiências, e a partilha dos materiais e formação dos grupos. Antes da regência do estágio, realizou-se um contato preliminar com a direção do colégio como também com a professora regente da turma. A partir de encontros para o planejamento das aulas com a professora regente, foram escolhidos os conteúdos bem como a seleção, elaboração e organização dos materiais que subsidiaram as atividades durante as aulas. Para o desenvolvimento das aulas foram trabalhados os principais assuntos presentes no currículo da disciplina utilizando metodologias diferenciadas com o objetivo de aproximar-se ao cotidiano e vivência dos alunos e assim facilitar a compreensão. As principais estratégias de ensino que foram utilizadas durante o estágio serão mostradas a seguir em sequência cronológica. USO DE SITUAÇÕES PROBLEMAS Fez-se uso de problematização, com situações do cotidiano que tinham relação a Histologia. A temática Câncer de pele foi abordada, de forma que buscassem relacioná-la ao tecido epitelial. Nessa etapa, os alunos foram divididos em grupos para que discutissem e respondessem os processos que ocorriam naquelas situações. É de suma importância a 6639
5 contextualização para que os alunos possam compreender efetivamente a ligação dos conteúdos trabalhados em sala com seu dia-a-dia. Segundo Hartwigd et al. (2008), embora a metodologia e as estratégias adotadas tenham grande influência no êxito da resolução de um problema e, mesmo que um problema possua relevância, seja social, econômica, ou política, os alunos se debruçarão em sua resolução somente se tal problema for suficientemente significativo. Os estudantes devem ser desafiados a ponto de sentirem necessidade pela busca de respostas, destacando neste fato a importância da problematização. MODELOS DIDÁTICOS Foram dispostos modelos didáticos (Figuras 1 e 2), confeccionados de isopor, sobre mitose e meiose. Nessa aula foram elucidados a semelhanças e diferenças entre essas divisões celulares de forma lúdica e dinâmica, pois permitiu que os alunos pudessem visualizar e compreender com clareza esses fenômenos, que em seus próprios livros didáticos não estavam tão explicativos. Figuras 1. Exposição dos modelos didáticos Figura 2: Exposição dos modelos didáticos Outra atividade realizada envolvendo modelos foi com massa de modelar onde os estudantes confeccionaram e apresentaram seus cartazes sobre as fases da mitose e meiose. Setúval e Bejarano (2009) apontam os modelos como uma articulação entre o conteúdo e metodologia, como também entre empiria/experimento; neste relacionando, respectivamente, a proposições e imagens, inferindo nestas articulações um conceito de modelos como processo representacional utilizando-se de imagens, analogias e metáforas, para auxiliar alunos e cientistas 6640
6 a visualizarem e compreenderem um conteúdo, que pode se apresentar de difícil compreensão, complexo e abstrato. Figura 3 Confecção dos cartazes sobre divisão celular Figura 4 Confecção dos cartazes sobre divisão celular Figura 5. Apresentação dos cartazes sobre divisão celular Figura 6. Apresentação dos cartazes sobre divisão celular Na aula sobre Histologia, foram dispostos modelos didáticos que apresentam os principais níveis de organização do corpo humano (Figuras 7 e 8). Para tal, as carteiras ficaram em semi-círculo e à medida que a estagiária explanava o assunto fazia-se uso dos modelos para exemplificar o conteúdo. 6641
7 Figura 7. Aula lúdica sobre histologia animal Figura 8. Aula lúdica sobre histologia animal JOGO DIDÁTICO Foi aplicado um jogo didático sobre os tecidos animais (Figuras 9, 10, 11 e 12). Cada tecido era representado por uma caixa que, dentro de cada uma (1), continham perguntas relacionadas ao tema. A turma, que foi dividida em duas equipes, escolhia a caixa que queria responder as perguntas. A cada acerto, tinha o direito de eliminar os concorrentes. Ganhava a equipe em que eliminassem todos da outra equipe. Figura 9: Caixas representativas dos tecidos Figura 10: Jogo de verdadeiro ou falso 6642
8 Figura 11. Alunos participando do jogo Figura 12. Confraternização e recebimento do prêmio Todas as etapas vivenciadas nesse período permitiu compreender a importância que tem o estágio supervisionado para a formação do docente, pois ele possibilitou (re)significar os saberes, as reflexões sobre a conduta e a postura que se deve tomar. De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006, p. 28): O jogo oferece o estímulo e o ambiente propícios que favorecem o desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos e permite ao professor ampliar seu conhecimento de técnicas ativas de ensino, desenvolver capacidades pessoais e profissionais para estimular nos alunos a capacidade de comunicação e expressão, mostrando-lhes uma nova maneira, lúdica, prazerosa e participativa de relacionar-se com o conteúdo escolar, levando a uma maior apropriação dos conhecimentos envolvidos. Durante a aplicação do jogo, os alunos foram muito participativos, competitivos e se mostraram interessados em estudar e aprender. O jogo é uma atividade interativa, social, cultural e construtiva na formação do indivíduo, tornando-o capaz de tomar decisões, descobrir, escolher, pensar e experimentar novas situações de aprendizagem. Essas experiências permitiram a constatação de que as teorias estudadas nas salas de aula da universidade podem sim ser utilizadas dentro da escola. Porém, às vezes, essas práticas divergem bastante das observadas nas salas de aula da escola ao observar professores apáticos, sem interesse pelo novo, fadados na monotonia e tradicionalismo do ensino. Com a realização desse estágio, foi possível enriquecer o aprendizado referente à prática docente, a vontade de inovar, fazer diferente e a certeza da carreira como educadora. 6643
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na oportunidade, pode-se avaliar o Estágio Supervisionado como uma experiência que permite o estagiário vivenciar o ambiente escolar, mas, especificamente a dinâmica na sala de aula. Percebeu-se que os alunos ficaram muito tranquilos e participativos. Destacou-se também a potencialidade de cada aluno, fazendo suas atividades sempre no tempo proporcionado. Os trabalhos no grupo foram dinâmicos, produtivos e motivadores. O feedback foi muito positivo principalmente ao analisar o retorno que era dado quando faziam perguntas, participavam ativamente das atividades, eram atenciosos e empenhados atendendo, assim, as expectativas do estágio, embora as notas da avaliação teórica foram inferiores ao esperado. A utilização de situações que buscassem a contextualização no cotidiano desses alunos teve o objetivo de aproximar a disciplina de biologia, muitas vezes fragmentada e distante da realidade, com os seus cotidianos. Para isso, fez-se uso de músicas, reportagem, charges, situações do dia-a-dia para promover essa aproximação. Foi perceptível o quanto essa metodologia foi eficiente. A utilização de jogo com finalidade didática foi muito interessante, pois, permitiu tanto para a estagiária quanto para os alunos em buscar a criatividade, aguçar novas ideias e ações, e a olhar o conteúdo de forma diferente. Ser professor definitivamente não é tarefa fácil, requer compromisso, atualização profissional constante e, principalmente, criatividade. O curto período de tempo proporcionado no estágio, pôde-se de fato perceber a responsabilidade que acarreta. Estar com os alunos em sala, perceber a importância que o professor tem para eles, que muitas vezes passa despercebido a muitos professores pela jornada de trabalho elevada, ou pela remuneração baixa. Mas, ser professor é ir além, é ser um intermediador do conhecimento e perceber a influência que terá na vida de cada aluno. REFERÊNCIAS ANDRADE, A. M. A. O Estágio Supervisionado e a Práxis Docente. In: SILVA, M. L. S. F. (Org.). Estágio Curricular: Contribuições para o Redimensionamento de sua Prática. Natal: EdUFRN, Disponível em: acesso em: BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, HARTWIGD, D. R. FRANCISCO JUNIOR,W. E; FERREIRA, L.H. A dinâmica de resolução de problemas: analisando episódios em sala de aula. Ciências & Cognição, v. 13 (3):
10 KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4ª ed. São Paulo: Editora da USP, PIMENTA, S. G. Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, ROCHA, T. L.; PARANHOS, R. D.; MORAES, F. A. Estágio supervisionado na Licenciatura em Ciências Biológicas: relato de experiência do estágio e do projeto de intervenção sobre relações de gênero e música. Polyphonía, v. 21/1, jan./jun TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, SANTOS, H.M. O estágio curricular na formação de professores: diversos olhares. In 28ª Reunião Anual da ANPED, GT8 Formação de Professores. Caxambu, SETÚVAL, F. A. R.; BEJARANO, N. R. R.; Os modelos didáticos com conteúdos de genética e a sua importância na formação inicial de professores para o ensino de ciências e biologia. In: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Anais... VII Enpec, Florianópolis: SOUZA, M. D. A; GONÇALVES, A. E. C. Relato de experiências vivenciadas durante o estágio supervisionado no ensino de ciências em uma escola de educação básica em Itapipoca-Ce. Fórum internacional de Pedagogia. Campina Grande, Realize Editora,
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