A Linha do Tua, Bragança e o caminho de ferro
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- Edson Casado Soares
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1 A Linha do Tua, Bragança e o caminho de ferro Caros amigos, Permitam-me, estando ausente, saudar mais esta iniciativa do Movimento Cívico Pela Linha do Tua, com a qual estou inteiramente solidário e em plena concordância. Mais do que preconizar a manutenção da Linha do Tua no troço actualmente activo, afigura-se de igual importância defender o seu regresso à cidade de Bragança, actualmente uma das duas capitais de distrito do Continente sem via férrea. Em outras iniciativas do Movimento, em que tive oportunidade de participar, ficou bem definido um
2 conjunto de ideias, segundo as quais, um território onde poucas oportunidades de negócio e criação de emprego existem para além do sector do Turismo, não pode prescindir de activos materiais e imateriais que o diferenciam de qualquer outro. É assim com a Paisagem Protegida do Alto Douro. E assim será, igualmente, com a paisagem única e insubstituível do Vale do Rio Tua, onde a via férrea de bitola métrica que nele se inscreve, é parte integrante e inalienável. A potenciação das actividades turísticas ao longo do Vale do Tua, não pode, todavia, cingir-se ao actual término da linha em Carvalhais, mas deve antes prolongar-se até à capital de distrito, aproveitando o imenso potencial existente nas imediações, onde se destaca o Parque de Azibo, e características de trajecto únicas, possuindo pontos singulares como a estação de Rossas, localizada a
3 mais de 850m de altitude, e constituindo, até 1992, o ponto de cota mais elevada da rede ferroviária de Portugal. Como é possível, nos dias de hoje, conceber uma Bragança vivendo para sempre sem transporte ferroviário? Que perspectivas se colocam a esta cidade no final da próxima década, quando em quase todo o restante território de Portugal, as acessibilidades forem medidas em minutos passados a viajar nas linhas de Alta Velocidade (Madrid-)-Caia-Évora-Lisboa-Porto-Vigo, assim como nos trajectos convencionais modernizados, que com as mesmas vão interactuar, por intermédio de comboios híbridos (de bitola variável), através dos quais, sítios como Peso da Régua, distarão de Lisboa menos de três horas? Daqui a alguns anos, veremos decerto reeditada, com a Auto-Estrada da Justiça, a
4 mesma decepção que constituiu o messiânico IP4, ao qual chegaram a apelidar de salvação do Nordeste. O que restará a uma Bragança para se afirmar no mapa de Portugal Continental? Um serviço aéreo de ligação a Lisboa, transportando anualmente algumas centenas de passageiros, e que custa ao contribuinte somas nunca atribuídas em subsídios, aos transportes públicos locais, no Nordeste Transmontano? Ou assentar a sua articulação com o resto de Portugal através de território de Espanha, onde brevemente, a linha de alta velocidade Madrid- Zamora-Vigo, com uma estação em Puebla de Sanabria, colocará Bragança a uma distância-tempo do Porto ou Lisboa inferior à proporcionada por qualquer outro transporte terrestre? Deveremos concluir que o progresso possível para Bragança passa inexoravelmente pela sua desintegração funcional do restante território Português?
5 Que enquadramento logístico é equacionável para uma Bragança sem caminho de ferro, numa época em que a camionagem de longo curso será sujeita à aplicação de taxas ambientais, a cobrar por cada quilómetro percorrido? Pouco mais de 150 Km separam Bragança da Costa Cantábrica, onde nas linhas férreas de bitola métrica da FEVE, em tudo semelhantes à Linha do Tua, circulam composições de contentores, plenamente intermutáveis com a rede ferroviária convencional, ou transporte marítimo. Como é possível subestimar o potencial logístico de uma via férrea como o Tua, para integrar Bragança no futuro sistema inter-modal do Portugal Logístico? Não vos inquietarei com mais perguntas, deixando aqui apenas a minha apreensão ao notar, a nível da maior parte
6 dos decisores políticos locais, um quase alheamento da valorização da Linha do Tua em particular, e do caminho de ferro em geral, como condições necessárias e incontornáveis para o desenvolvimento de Bragança e do Nordeste Transmontano. Conto que esta iniciativa, e outras mais que lhe seguirem, constituam um marco ímpar na projecção e valorização da reabertura da totalidade da Linha do Tua, conferindo-lhe o lugar cimeiro na agenda política da Região, que inequivocamente merece. Faço votos ao Movimento Cívico Pela Linha do Tua para que continue com o seu excelente trabalho. Faro, 14 de Janeiro de 2009 Manuel Margarido Tão
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