EMENTA ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. TRABALHADOR RURAL EM LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR. EXPOSIÇÃO A CALOR EXCESSIVO.

Transcrição

1 Em 16 de outubro de 2011 a Laurentiz sociedade de advogados em sede de recurso de revista obteve êxito em condenação de Usina a pagar adicional de insalubridade a trabalhador rural. Vejamos a decisão: A C Ó R D Ã O (8ª Turma) GMMEA/rh EMENTA ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. TRABALHADOR RURAL EM LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR. EXPOSIÇÃO A CALOR EXCESSIVO. O empregado que se encontra exposto ao calor excessivo decorrente do trabalho a céu aberto na lavoura de cana-deaçúcar faz jus ao adicional de insalubridade em grau médio, sendo inaplicável, no caso, o disposto na Orientação Jurisprudencial 173 da SBDI-1 do TST, porque não se trata de simples exposição aos raios solares, mas sim a calor excessivo, tendo em vista que a cultura da cana-de-açúcar dificulta a dissipação do calor em relação a outras lavouras. Recurso de Revista conhecido e provido. HORAS EXTRAS. Consignado no acórdão que o Reclamante não tinha interesse em recorrer da sentença, no que se refere ao pagamento das horas extras acrescidas dos adicionais, porque tal pedido já fora deferido, não há falar em ofensa aos artigos 5º, XXXVI, e 7º, XVI e XXVI, da Constituição Federal, 468 da CLT, contrariedade à Súmula 264 do TST e à OJ 275 da SBDI-1 do TST. Recurso de Revista não conhecido. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. A decisão regional está em consonância com a Súmula 219 do TST. Desse modo, não se pode falar em violação literal de disposição de lei federal, afronta direta e literal à Constituição Federal ou divergência jurisprudencial, nos termos do artigo 896, 4º, da CLT e da Súmula 333 do TST. Recurso de Revista não conhecido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n TST-RR , em que são Recorrentes USINA AÇUCAREIRA DE JABOTICABAL S.A. E OUTRAS e BERNARDO AMORIM CARDOSO e Recorridos OS MESMOS. O TRT da 15ª Região, pelo acórdão de fls. 618/638, manteve a sentença de origem que rejeitou a prescrição arguida e condenou as Reclamadas ao pagamento de horas extras relativas ao tempo de intervalo intrajornada suprimido e deu provimento parcial ao Recurso Ordinário do Reclamante para acrescer à condenação a indenização relativa ao intervalo intrajornada e ao intervalo

2 entrejornadas suprimidos, acrescidas do adicional de 50%, mantendo, contudo a sentença quanto ao indeferimento dos honorários advocatícios. Inconformados, Reclamadas e Reclamante interpõem Recurso de Revista. As Reclamadas, às fls. 640/658, insistem na prescrição quinquenal e insurgem-se contra a condenação ao pagamento de horas extras a título de intervalo intrajornada e interjornadas. O Reclamante, às fls. 675/696, insurge-se contra a condenação ao pagamento de apenas 45 minutos por dia trabalhado, a título de intervalo intrajornada, quanto à forma de apuração das horas extras e no que diz respeito ao indeferimento dos pedidos de restituição dos descontos de contribuição previdenciária, adicional de insalubridade e honorários advocatícios. 698/699. Os recursos foram admitidos pelo despacho de fls. Contrarrazões das Reclamadas às fls. 700/708 e do Reclamante às fls. 710/728. Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, de acordo com o art. 83 do Regimento Interno do TST. É o relatório. V O T O 3 - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. TRABALHADOR RURAL. EXPOSIÇÃO A CALOR EXCESSIVO Sustenta o Recorrente que faz jus ao adicional de insalubridade, ao argumento de que foi constatado no laudo pericial o labor em condições insalubres, exposição a calor excessivo e radiação solar. Indica violação dos artigos 7º, XXIII, da CF, 192 e 195 da CLT e divergência jurisprudencial com os arestos transcritos. Pede que o referido adicional seja calculado sobre o salário normativo, nos termos das Súmulas 17 e 228 do TST. O Regional negou provimento ao Recurso do Reclamante no que diz respeito ao adicional de insalubridade, consignando: ADICIONAL DE INSALUBRIDADE Sem razão o recorrente.

3 Por intermédio de perícia técnica, restou constatado que o reclamante desempenhava suas funções a céu aberto, em atividades relacionadas ao plantio e corte da cana-deaçúcar, concluindo o expert pela presença da insalubridade, em grau médio, por estar exposto ao agente físico calor (proveniente da luz solar), exceto nos dias chuvosos e nublados, além da insalubridade em grau máximo, em virtude da exposição, nas safras especificamente, a agentes químicos, oriundos de hidrocarbonetos aromáticos e outros compostos de carbono (fls. 434/460). Com efeito, para a caracterização da insalubridade é imprescindível a classificação da atividade na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho, conforme disposto no artigo 190, da CLT. Nesse sentido a Orientação Jurisprudencial n.º 4, item I, da SDI- 1, do C. TST, com a redação dada pela Res. n.º 129/2005, DJU de 20/04/2005. Especificamente quanto à controvérsia instaurada a respeito da exposição a raios solares, a matéria também já se encontra pacificada no C. TST, por intermédio da Orientação Jurisprudencial n.º 173, também da SDI-1, in verbis: 'ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. RAIOS SOLARES. INDEVIDO. Em face da ausência de previsão legal, indevido o adicional de insalubridade ao trabalhador em atividade a céu aberto'. Por outro lado, quanto aos agentes químicos, a despeito de o perito ter afirmado que, com a queima incompleta das palhas da cana-de-açúcar forma-se fuligem que, por sua vez, classifica-se como hidrocarboneto aromático, esse produto químico não se encontra inserido no rol do Anexo 13 da NR-15 da Portaria n.º 3.214/1978. Enfim, diante da ausência de norma do Ministério do Trabalho e Emprego de classificação quanto à exposição à fuligem, as atividades desenvolvidas pelo trabalhador rural nessas condições também não ensejam o pagamento do adicional de insalubridade. Mantenho, pois, o decidido.- (fls. 633/634) O Regional não acolheu a conclusão do perito de que o Reclamante fazia jus ao adicional de insalubridade por desempenhar suas funções a céu aberto, em atividades relacionadas ao plantio e corte da cana-de-açúcar, estando exposto ao agente físico calor (proveniente da luz solar). Nas atividades pesadas, como o corte de cana, o limite de tolerância ao calor é de 25 (NR 15, Anexo 3, Quadro I). O laudo pericial de fls. 434/460 (mencionado no acórdão regional) apurou que no local de trabalho do Reclamante a temperatura varia entre 27ºC à 32ºC, razão porque concluiu pela existência de insalubridade, em grau médio. Dessa forma, no caso dos autos, não se trata de simples exposição aos raios solares, o que afasta a aplicação da Orientação Jurisprudencial 173 da SBDI-1 do TST, mas sim de calor excessivo, tendo em vista que a cultura da cana-de-açúcar dificulta a dissipação do calor em relação a outras lavouras, em razão da rama da planta e

4 agravada pela própria vestimenta utilizada pelos trabalhadores. Esta Corte tem decidido, em situações como a descrita nos presentes autos, em que há exposição ao calor excessivo decorrente do trabalho a céu aberto na lavoura de cana-de-açúcar, pela inaplicabilidade da Orientação Jurisprudencial 173 da SBDI-1 do TST. Precedentes: 3. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. EXPOSIÇÃO A CALOR EXCESSIVO. LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR. ANEXO 3 DA NR 15 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Dos fundamentos expostos pela Corte a quo, não há como entender violados os arts. 5º, II, da CF e 190 e 195 da CLT, tendo em vista que o perito constatou que a atividade desenvolvida pelo reclamante se enquadrava em hipótese de insalubridade prevista em norma regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego. Ademais, não se trata de aplicação da OJ nº 173 da SBDI-1 do TST, conforme precedentes desta Corte. Recurso de revista não conhecido. (...)- (RR , Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DJ 02/09/2011). ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. CORTADOR DE CANA-DE-ACÚCAR. EXPOSIÇÃO AO CALOR. Na hipótese, a condição insalubre a que estava submetido o empregado - excesso de calor - encontra-se devidamente prevista nas normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho (NR 15 Anexo 3). Assim, não procede a alegação de contrariedade ao entendimento consubstanciado na Orientação Jurisprudencial n.º 173 da SDI-I do Tribunal Superior do Trabalho, visto que o adicional de insalubridade foi deferido com base no excessivo calor, e não em face da exposição a raios solares. Frise-se que a conclusão do laudo pericial, no sentido de que 'o IBUTG medido no local de trabalho chegou a 31,2 C, sendo que o máximo permitido é 25 C', respalda o entendimento sufragado pela Corte de origem. Incólumes, portanto, os dispositivos invocados. De outro lado, não se prestam à demonstração de dissenso jurisprudencial, nos termos do artigo 896, a, da Consolidação das Leis do Trabalho, arestos provenientes de Turmas deste Tribunal Superior. De igual modo, resultam inservíveis arestos inespecíficos, consoante disposto na Súmula n.º 296, I, do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de revista não conhecido. (...)- (RR , Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, DJ 02/09/2011). ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. EXPOSIÇÃO A CALOR EXCESSIVO DECORRENTE DO TRABALHO A CÉU ABERTO Não obstante o disposto na Orientação Jurisprudencial nº 173 da SDI/I deste c. Tribunal, o entendimento da c. Turma firmou-se no sentido de ser devido o adicional de insalubridade quando o

5 empregado se encontra exposto a calor excessivo decorrente trabalho a céu aberto. Ressalva de entendimento pessoal do Ministro Relator. Recurso de revista não conhecido. (...)- (RR , Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, DJ 26/08/2011) ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. EXPOSIÇÃO AO CALOR EXCESSIVO. CARACTERIZAÇÃO. BASE DE CÁLCULO. No caso, o laudo do expert verificou a presença do agente calor em níveis excessivos. Assim, ainda que decorra da exposição direta aos raios solares, com essa não se confunde, constituindo condição de trabalho em condição mais penosa e que justifica o pagamento do sobresalário. Constatou, ainda, o enquadramento legal no Anexo 3, da NR 15, da Portaria nº 3.214/1978 do Ministério do Trabalho, efetuando as medições do calor conforme determina a norma regulamentar, que não distingue entre calor de ambiente natural ou artificial. Precedente. Não conhecido. (...)- (RR , Rel. Min. Emmanoel Pereira, 5ª Turma, DJ 19/08/2011). 2 - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - EXPOSIÇÃO AO TEMPO. O TRT, com base no laudo pericial, consigna que o Reclamante faz jus ao adicional de insalubridade em razão de sua exposição a calor acima dos limites de tolerância, nos termos dos quadros 1 a 3 do Anexo 3 da NR n. 15. Consigne-se que a OJ n.º 173 da SDI-1-TST não se aplica ao caso, pois pressupõe a ausência de previsão legal para o não pagamento de adicional de insalubridade. Recurso não conhecido. (...)- (RR , Rel. Min. Carlos Alberto Reis de Paula, 8ª Turma, DJ 29/04/2011). Assim, o acórdão regional, ao manter o indeferimento do pedido de adicional de insalubridade sob o fundamento de que a atividade insalubre não está classificada em norma do Ministério do Trabalho e Emprego, viola o disposto no artigo 192 da CLT, considerando que o Reclamante estava submetido a calor excessivo, condição insalubre prevista em norma regulamentar do Ministério do Trabalho (NR 15 Anexo 3). Conheço do Recurso de Revista por ofensa ao artigo 192 da CLT. Processo: RR