A RELAÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS EM UM CURSO DE GRADUAÇÃO COM O CAMINHO PROFISSIONAL VISLUMBRADO POR PROFESSORES DE LI EM FORMAÇÃO.

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1 A RELAÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS EM UM CURSO DE GRADUAÇÃO COM O CAMINHO PROFISSIONAL VISLUMBRADO POR PROFESSORES DE LI EM FORMAÇÃO. Hilda Simone COELHO (UFV) Flavia Marina FERREIRA (UFV) ABSTRACT: This work presents part of the results of a research with undergraduate students from the Letters Departament. The aim of the study was to verify previous experiences and experiences lived during their Language classes and to relate them with the future experiences that they wish to have. The analysis was done according to the experience framework proposed by Miccoli (2010) and written narratives, semi-open questionnaires and interviews were used for data collecting. The results show the relation between past experiences and future experiences and points out the importance of reinforcing the experiences of practice during undergraduation period. RESUMO: Este estudo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa realizada com estudantes do departamento de Letras. Objetivo deste trabalho era verificar as experiências prévias e as experiências vivenciadas durante as aulas de Língua Inglesa, relacionando-as com suas experiências futuras. A análise deste trabalho foi realizada de acordo com a categorização de experiências proposta por Miccoli (2010) e teve como método de investigação o uso de narrativas escritas, questionários semiabertos e realização de entrevistas. Os resultados mostram a relação existente entre experiências vivenciadas e experiências futuras e aponta a importância de reforçar as experiências de prática durante o período de graduação. PALAVRAS-CHAVE: Experiência;Emoção;Formação de Professores. Introdução Desde a última década é notório o aumento no número de pesquisas na área da Linguística Aplicada (LA) envolvendo experiências de estudantes no contexto de ensino e aprendizagem de Língua Inglesa (LI) (MICCOLI, 2009; COELHO 2011; ZOLNIER, 2011). A exemplo destes, o trabalho apresentado aponta a importância das experiências na vida acadêmica dos estudantes e o enlace existente entre as experiências anteriores e futuras. Aporte Teórico Nesta seção exploraremos conceitos relacionados a experiências. Pesquisadora na área da Linguística Aplicada (LA), e uma das pioneiras em relação aos estudos sobre experiências no Brasil, Laura Miccoli, atualmente professora associada da FALE (Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais), realizou e orientou pesquisas envolvendo professores e alunos e suas experiências no contexto da sala de aula (como por exemplo, BAMBIRRA, 2009; COELHO, 2011; CUNHA, 2005). Miccoli (2012) compilou as categorias de tipos de experiências de alunos no processo de ensino e aprendizagem de Línguas, identificadas em seus estudos, em um framework de fácil compreensão. Esta categorização é utilizada em nosso trabalho. Experiências O tema experiências tem sido fonte de pesquisas na área da Linguística Aplicada (LA), no cenário nacional (CUNHA, 2005; MASTRELLA 2007; BAMBIRRA 2009). O grande intuito da maioria das pesquisas desenvolvidas relativas às experiências de professores ou estudantes é propiciar aos participantes reflexões em relação às experiências atuais e as que poderão viver futuramente.

2 Estudar experiências pode ser considerado como um algo árduo e complexo por estarmos diante de uma questão que envolve diversos fatores do contexto da sala de aula. Logo em primeira estância, já é importante observar que as experiências não podem ser investigadas e analisadas somente como se fizessem parte exclusiva da realidade individual do ser humano. As experiências estão estritamente relacionadas às dimensões socioculturais e emocionais (Miccoli,2010) do indivíduo. Experiências, definidas como um experimento realizado ou como tentativas práticas adquiridas com a vida (Miccoli, 2010), são categorizadas por Miccoli (2010), em modo geral, como experiências diretas ou indiretas e coletivas ou individuais. As experiências diretas são as oriundas do contexto de sala de aula e as indiretas são aquelas não pertencentes a esse contexto. As experiências individuais são as que fazem parte do estudante ou professor em sua individualidade, sendo as coletivas aquelas comuns a um grupo. De acordo com a classificação proposta por Miccoli (2010) dentre as experiências diretas se encontram as experiências: cognitivas, Sociais e Afetivas, e dentro das indiretas as: Pessoais, Conceptuais e Futuras. As experiências cognitivas se referem às atividades que acontecem em sala de aula e à percepção dos estudantes e dos professores acerca do processo de ensino e aprendizagem. As sociais englobam as interações existentes dentro da sala de aula, sejam elas entre relacionamento professor e aluno ou aluno e aluno. A última categoria das experiências diretas, a afetiva, inclui o lado afetivo ou emocional presente em sala de aula. Dentre as categorias descritas existem outras ramificações que especificam os diferentes tipos de experiências que podem ser vivenciadas pelos estudantes. As experiências pessoais são as referentes à vida pessoal do estudante: nível socioeconômico, aprendizagem anterior, vida pessoal fora do contexto de sala de aula e experiência de trabalho e estudo ao mesmo tempo. As experiências conceptuais são as que expressam no contexto de sala de aula as concepções, conceitos e crenças dos alunos. As experiências futuras têm como principal característica fazer referência a ações futuras dos estudantes sejam elas intenções, vontades, necessidades ou desejos futuros. A tabela abaixo resume a categorização descrita acima.

3 In MICCOLI, L.S. Ensino e aprendizagem de inglês: desafios e possibilidades. Campinas: Pontes Editores, Esta categorização foi escolhida para ser usada nesta pesquisa pelo fato de acreditarmos que engloba de modo completo as experiências que podem ser vivenciadas por estudantes ou professores no contexto de sala de aula. Porém a própria pesquisadora salienta em seus artigos que a classificação proposta esta aberta a adaptações, pois as salas de aulas e as relações entre professores e alunos são espaços e situações únicos e dinâmicos. Metodologia Esta pesquisa qualitativa se caracteriza como um estudo de caso por se tratar de questões sociais, particulares, culturais e históricas dos participantes envolvidos, e não tem por objetivo a quantificação de dados e sim a obtenção de resultados reais para a vida acadêmica de cada participante. Assim como outras pesquisas de cunho qualitativo na área da LA (COELHO 2005, 2011; ZOLNIER, 2011, ARAGÃO, 2008) este trabalho utilizou como um de seus instrumentos de investigação a escrita de narrativas pelos participantes. Para este trabalho categorizamos e analisamos apenas a narrativa de um participante. Uma segunda pesquisadora foi solicitada a fazer a categorização das experiências encontradas na narrativa a fim de contrastarmos com aquelas por nós classificadas. Assim, garantindo maior credibilidade a este estudo. Contexto e perfil do participante Esta pesquisa foi realizada com estudantes de uma Universidade Federal localizada na Zona da Mata Mineira. Os participantes são estudantes do curso de Licenciatura em Letras, habilitação Português/Inglês, do sétimo período, ou seja, prestes a se formarem, uma vez que o curso é composto de nove períodos. No início do primeiro semestre de 2012, durante uma aula de Língua Inglesa, quatorze estudantes foram convidados a participar deste estudo, porém apenas seis aceitaram o convite. O participante apresentado neste trabalho foi escolhido de modo aleatório e será chamado de Participante Número I. Apresentamos na tabela abaixo o perfil do participante. PSEUDÔNIMO PARTICIPANTE DO IDADE EXPERIÊNCIAS COM A LÍNGUA INGLESA ANTERIORES A GRADUAÇÃO Participante Número I 21 anos Além do colégio, estudou também em um curso de idiomas. MOTIVO PELO QUAL O FEZ OPTAR PELO CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS Gostava de Inglês e não sabia qual curso escolher. Decorremos agora para a explanação sobre o instrumento de coleta de dados utilizado durante este trabalho. Instrumento de coleta de dados O participante foi requisitado escrever uma narrativa relatando suas experiências em relação á Língua Inglesa durante o curso, suas experiências com professores e alunos e suas experiências futuras projetadas para serem realizadas após o término da graduação. Foi escolhido o uso de narrativas nesta pesquisa pelo fato de ser uma ferramenta eficaz em trabalhos de cunho qualitativo. A narrativa também possibilita ao participante narrar sua

4 história e suas opiniões em relação ao seu processo de aprendizagem de acordo com o seu próprio ponto de vista. Apresentação e discussão dos dados Após o participante entregar à narrativa (ANEXO I), verificamos todas as experiências e as categorizamos de acordo com o framework proposto por Miccoli (2010). Temos, assim, a seguinte tabela: EXPERIÊNCIAS sempre estudei em escola pública pois gostava da maioria dos meus professores a língua inglesa esteve presente no meu ensino escolar de quinta a oitava série do ensino fundamental. Não posso dizer que aprendi só o verbo to be nessa trajetória mas realmente o ensino era bem limitado por diversos fatores que estamos cansados de saber Chegou a hora do vestibular e eu ainda não tinha certeza do que queria. Fiz inscrição no vestibular de Viçosa para Letras, pois eu sempre gostei de português e queria dar continuidade no inglês que tinha começado no cursinho. CATEGORIZAÇÃO PROPOSTA POR MICOLLI Experiência indireta, pessoal, anterior. Experiência direta, afetiva de sentimentos. Experiência direta, cognitiva de aprendizagem. Experiência direta, cognitiva de aprendizagem. Experiência direta, cognitiva de percepção de ensino. Experiência indireta, pessoal anterior. Experiência indireta, pessoal anterior. Então optei por fazer Letras devido a diversos fatores, dentre eles o fato de ser em uma Universidade Federal. Desde o início sempre tive uma boa relação com os colegas e professores. Sou um pouco tímida e isso me atrapalha no desenvolvimento da competência linguística mas no último ano notei que houve uma melhora. principalmente depois que comecei a dar aulas. As disciplinas de literatura ajudam muito nas habilidades, em especial leitura e escrita. Não tenho certeza se quero continuar dando aula. Experiência indireta, pessoal anterior. Experiência direta, social de interação e relações interpessoais. Experiência direta, social, como estudante. Experiência direta, social, como estudante. Experiência direta, cognitiva, experiências paralelas ás atividades de sala de Aula. Experiência direta, cognitiva, paralela ás atividades de sala de aula. Experiência indireta, futura, intenções.

5 com certeza tentarei fazer um mestrado para conseguir algo melhor. Caso eu desista, acho que vou começar outra faculdade assim que me formar. Experiência indireta, futura, intenções. Experiência indireta, futura, intenções. Não acho que o curso foi em vão. Experiência direta, cognitiva, de aprendizagem. mas ainda estou muito incerta do que fazer. Experiência indireta, futura, intenções. Verificamos que este aluno não ingressou no curso de Licenciatura em Letras com desejo de lecionar futuramente, e sim, para aprender LI, ou até mesmo apenas por se tratar de um contexto de universidade federal, como revela o seguinte excerto, Chegou a hora do vestibular e eu ainda não tinha certeza do que queria. Fiz inscrição no vestibular de Viçosa para Letras, pois eu sempre gostei de português e queria dar continuidade no inglês que tinha começado no cursinho. Então optei por fazer Letras devido a diversos fatores, dentre eles o fato de ser em uma Universidade Federal. O participante Número I relata em sua narrativa que além de não ter certeza sobre o curso que gostaria de cursar, optou pelo curso de Licenciatura em Letras pelo fato de ser uma Universidade Federal, o que demonstra uma experiência conceptual em relação às instituições federal, deixando implícito a superioridade desta em relação às instituições de ensino superior particulares. Esta incerteza em relação ao curso de Letras pode estar atrelada à desvalorização da profissão docente em nossa sociedade e às diversas dificuldades enfrentadas atualmente no cotidiano escolar. Esses fatores podem contribuir para que os estudantes que irão prestar exames para o ingresso nas universidades não se sintam motivados a se tornarem professores futuramente. Esta incerteza em relação ao curso de Licenciatura em Letras, sentida pelo participante, e sua indecisão em relação ao seu futuro profissional, são observados até mesmo após três anos e meio de estudos na área da docência. Não tenho certeza se quero continuar dando aula, mas se essa for a minha escolha, com certeza tentarei fazer um mestrado para conseguir algo melhor. Caso eu desista, acho que vou começar outra faculdade assim que me formar. Não acho que o curso foi em vão, mas ainda estou muito incerta do que fazer. Por causa de sua incerteza em relação à profissão docente o participante cogita a possibilidade de cursar outro curso. Através da imagem mostrada abaixo apresentamos a relação entre as experiências e o futuro almejado pelo participante.

6 O estudante não teve um bom contato com a LI durante o ensino fundamental e médio e considera a aprendizagem como limitada (Experiência direta cognitiva de aprendizagem) O participante não sabia qual curso gostaria de cursar (Experiência indireta pessoal anterior) Possivelmente, as experiências vivenciadas durante o curso não foram suficientes para o participante se identificar com a profissão docente. Escolheu o curso de letras por ser uma Universidade Federal. (Experiência indireta pessoal anterior) O participante demonstra incerteza em relação à seu futuro profissional, e cogita até mesmo a possibilidade de cursar outro curso após a graduação. (Experiência indireta futura intenções) Considerações Através da análise desta narrativa podemos afirmar, corroborando Miccoli (2010), a grande influência das experiências anteriores ao ingresso no curso juntamente com as experiências vividas durante o curso nas futuras escolhas profissionais (experiências futuras) dos estudantes, como é possível percebemos no participante apresentado. Esta pesquisa trouxe diversas implicações para o curso de Licenciatura em Letras, como o ensino de LI oferecido aos estudantes, a não inserção dos estudantes na pesquisa acadêmica além da relação professor e aluno. Com isso, acreditamos que é importante refletirmos sobre como os estudantes escolhem ingressar no curso de licenciatura. Uma vez que a seleção para a licenciatura não exige nenhuma prova específica (como os cursos de música, dança, educação física) é difícil perceber a vocação para tal, além disso, a graduação deveria estar comprometida com maior intensidade para além da formação das competências teórica e aplicada (ALMEIDA FILHO, 1999) do professor, visando, também, desenvolver sua metacompetência profissional ao longo de suas experiências de docência no curso (como por exemplo, estágios e docência em projetos de extensão).

7 Referências ALMEIDA FILHO. J.C.P. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. Editora Pontes, BAMBIRRA, M.R.A. Experiências de desenvolvimento de autonomia na aprendizagem de Inglês como língua estrangeira. Exame de qualificação (Doutorando em Estudos Lingüísticos) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, COELHO, H. S. H. É possível aprender inglês em escolas públicas? Crenças de professores e alunos sobre o ensino de inglês em escolas públicas. Dissertação (Mestrado Estudos Lingüísticos). UFMG, Belo Horizonte, COELHO, H.S.H. Experiências, Emoções e Transformações na Educação Continuada: Um estudo de caso. Tese de Doutorado. FALE/UFMG. Belo Horizonte, CUNHA, N. B. Experiências de aprendizagem: um estudo de caso sobre as experiências de estudo fora da sala da aula de alunos de Letras/Inglês em uma instituição particular de ensino superior Dissertação (Mestrado em Estudos Lingüísticos) - Universidade Federal de Minas Gerais. MASTRELLA, M. R. Inglês como língua estrangeira: entre o desejo do domínio e a luta contra a exclusão. Tese de doutorado. Faculdade de Letras, UFG MICCOLI, L. Experiências de professores de Língua Inglesa em escolas públicas municipais e estaduais no interior de Minas Gerais: narrativas que emocionam. Estudos Anglo-Americanos, v , p , MICCOLI, L.S. Ensino e aprendizagem de inglês: desafios e possibilidades. Campinas. Pontes Editores, SWAIN, M & Miccoli, L. Learning in a context-based, collaboratively structured course: the experience of an adult ESL learner, TESL Canada Journal, 1 (1), p , ZOLNIER, M. C. A. P. Educação continuada de professores de inglês: uma trajetória entre histórias de vida, reflexões sobre a prática e mudanças de crenças sobre a aprendizagem na escola pública. Tese de doutorado. FALE/UFMG. Belo Horizonte, Anexo

8 Anexo I Narrativa Participante Número I