IMPORTÂNCIA DAS PRÁTICAS NA APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA DE ALUNOS DOS SURDOS NO ENSINO MÉDIO

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1 IMPORTÂNCIA DAS PRÁTICAS NA APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA DE ALUNOS DOS SURDOS NO ENSINO MÉDIO NOGUEIRA, Bárbara Gabriele de Souza PUCPR GONÇALVES, Guilherme Machado PUCPR MENEZES, Raquel Vizzotto de PUCPR COSTA, Reginaldo Rodrigues da PUCPR Eixo Temático: Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: Capes Resumo O estudo sobre a importância das práticas no aprendizado dos surdos consistiu no desenvolvimento de atividades em laboratório visando analisar o envolvimento dos alunos com o conhecimento científico. Os objetivos do estudo foram: avaliar a importância das aulas práticas para o aprendizado dos discentes surdos respeitando assim as suas especificidades e necessidades educacionais especiais, bem como, estimular a utilização do laboratório de Biologia para o melhor aprendizado dos alunos surdos. Foram realizadas atividades práticas em laboratório como culminância de uma saída de campo. Notou-se que a aprendizagem visual não é suficiente para a aquisição do conhecimento que necessitam. É preciso retomar em vários outros momentos com práticas similares, destacando os conteúdos relevantes. Pela característica da forma de comunicação, o conhecimento se dispersa com muita facilidade. Torna-se difícil mantê-los atentos por longos períodos e interpretar todas as colocações coletivamente, nem sempre acontece, dificultando generalizações. Palavras-chave: Aulas práticas. Biologia. Surdez. Introdução O estudo sobre a importância das práticas no aprendizado dos surdos consistiu no desenvolvimento de atividades em laboratório visando analisar o envolvimento dos alunos com o conhecimento científico. A pesquisa aconteceu no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto - IEPPEP, localizado na região central de Curitiba/PR. Esta

2 12177 Instituição foi uma das selecionadas pelo PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) que visa o contato dos acadêmicos com a rotina escolar. Dessa forma, o objetivo deste trabalho era avaliar a importância das aulas práticas para o aprendizado dos discentes surdos respeitando assim as suas especificidades e necessidades educacionais especiais, bem como, estimular a utilização do laboratório de Biologia para o melhor aprendizado dos alunos surdos. Na instituição de ensino na qual foi realizada a pesquisa há um significativo número de alunos surdos inclusos no ensino médio. Alguns em salas regulares, mas outros em turmas específicas para pessoas surdas. A interação acontece no espaço escolar como um todo. Apesar de haver uma boa interação surdos/ouvintes, ainda não é muito difundida a cultura e a identidade dos surdos e confunde-se muito a surdez com a deficiência auditiva. Mas na verdade, segundo Sá (2006) é na autodefinição de surdo que reside a sua identidade e é o que a determina. O fato da não utilização com a freqüência desejada dos espaços para estudos na área de biologia, na instituição, como por exemplo, o laboratório, levou a questionar se não estava sendo desperdiçada a oportunidade de melhorar o processo de ensino-aprendizagem deste grupo de alunos. Neste sentido, para o melhor aprendizado dos discentes, tornou-se relevante explorar o espaço de aulas práticas para o ensino de biologia. A própria área favorece estudos práticos e pesquisas diversas para o desenvolvimento do conhecimento científico, sendo fundamental promover o uso do espaço de forma adequada às necessidades do grupo de alunos. Segundo Danesi, a cultura surda é multicultural porque os surdos possuem etnias variadas, vivem em localidades diferentes, conhecimentos diversos constituindo assim diversas identidades culturais. A identidade surda é expressa através da identidade nacional, porque os surdos participam da cultura nacional (2007, p. 113). Neste sentido, se faz necessário respeitar as especificidades do grupo social de surdos no espaço escolar, possibilitando um currículo adequado às suas características. As aulas práticas, no ensino de Biologia, são um exemplo de respeito às necessidades deste grupo. Capeletto (1992) e Moraes (1998) frisam que as aulas práticas auxiliam na aprendizagem, pois na experimentação existe uma fundamentação pedagógica e psicológica, que estimula o aluno a exercitar suas habilidades de cooperação, concentração, organização, manipulação de equipamentos, além de ser um diferencial que atrai a atenção do aluno. A preparação dos experimentos em torno de hipóteses ou problemas possibilita relacionar os conhecimentos prévios com conteúdo a ser aprendido. Pois o laboratório não é

3 12178 apenas outro local de aprendizado e sim um local de desenvolvimento do aluno como um todo (MORAES, 1998). Mas esses fatores mencionados não querem dizer que deva substituir as aulas teóricas pelas práticas, mas tudo isso expressa que as aulas práticas servem como catalisador para adquirir o verdadeiro aprendizado (CAPELETTO, 1992). Metodologia A pesquisa iniciou com vários momentos de observação participante para haver uma maior interação com a turma de alunos e conhecimento de suas características, dificuldades, habilidades e interesses. Foram aplicados dois instrumentos para levantamento de dados. O primeiro foi um teste de conhecimentos específicos da biologia para série. O segundo foi um questionário para levantar os interesses de estudo para posteriormente realizar os planejamentos das práticas. Com a tabulação dos dados e respectivas análises, iniciou-se a preparação para as atividades com os discentes. Uma primeira proposição foi uma saída de campo para explorar os problemas ambientais relacionados à problemática da água e os biomas locais relacionado com os conhecimentos de sala de aula. Antes da saída foi realizada uma aula teórica utilizando recursos visuais e com a presença da interprete sobre os assuntos acima citados e que seriam abordados na saída. Esse momento visou possibilitar um melhor aproveitamento das informações que seriam apresentadas em campo. Após a aula de campo, foram realizadas as aulas práticas com o objetivo de aprofundar os conhecimentos adquiridos. A primeira aula prática foi sobre plantas medicinais e a segunda foi a montagem de um minhocário. Os temas foram selecionados por chamar a atenção dos alunos durante a saída de campo. Em ambas as aulas, os alunos manusearam equipamentos, os seres vivos (plantas e minhocas) e materiais reciclados. Discutiram sobre a relação dos seres vivos com o ambiente em que estão inseridos, sobre a importância da reciclagem, sobre as características e os cuidados referentes às plantas medicinais, entre outros. Com a manifestação do interesse observada, decidiu-se, em concordância com a professora de biologia da turma, realizar mais uma atividade prática. Essa atividade foi a extração do DNA de três frutas diferentes (banana, morango e kiwi) como complementação dos conteúdos já trabalhos nas aulas de biologia. Resultados

4 12179 Nos primeiros contatos já foi possível identificar alguns aspectos próprios da identidade da pessoa surda, ou seja, a curiosidade e acolhimento. Logo tentam interagir e se apegam com as pessoas com quem convivem. Com esse contato próximo com a professora, a interprete e o grupo de surdos houve a possibilidade de conhecer a cultura surda pelos próprios surdos. Sua forma de agir, pensar, se relacionar, dúvidas, forma de identificação, entre outros. No levantamento de dados sobre os interesses surgiram comentários como falta mais experiências no laboratório, conhecer e ter contato com o laboratório. Percebe-se que na rotina escolar, alguns alunos nem conheciam o espaço do laboratório, sabiam de sua existência e importância, mas não eram oportunizadas aulas no local. Durante a saída de campo observou-se grande interesse e organização por parte deste grupo de alunos. A presença e a necessidade da interprete podem justificar este comportamento. Mas, independente desta condição, possuem certa autonomia e muita curiosidade para reconhecer os novos espaços e compreendê-los. Em relação às aulas práticas, a mesma postura foi observada. Não houve indícios de indisciplina durante o trabalho desenvolvido. Em todos os momentos participaram ordenadamente e fazendo muitas contribuições por meio de colocações de suas experiências vivenciadas, questionamentos, manifestação de interesse constante. As atividades desenvolvidas vêem ao encontro da necessidade de se romper com uma postura tradicional muito presente no ensino de Biologia no ensino médio, que é a de caráter informativo. É preciso dar mais vida ao seu ensino que vai além da esfera estritamente biológica, que contempla as experiências e a realidade do aluno (ZUANON e DINIZ, 2004). Notou-se que a aprendizagem visual não é suficiente para a aquisição do conhecimento que necessitam. É preciso retomar em vários outros momentos com práticas similares, destacando os conteúdos relevantes. Pela característica da forma de comunicação, o conhecimento se dispersa com muita facilidade. É cansativo mantê-los atentos por longos períodos e interpretar todas as colocações coletivamente, nem sempre acontece, dificultando generalizações. Outra situação observada foi a interpretação literal do que é falado. Ou seja, se solicitar x cm de uma medida, até não alcançá-la, os surdos não segue adiante na atividade prática. Neste sentido, exigem muita atenção e acompanhamento individual para garantir o aprendizado.

5 12180 Finalmente, é possível considerar que as aulas práticas no ensino de biologia são essenciais para melhoria da qualidade do ensino dos alunos surdos. Sua condição de aprendizagem pela característica de comunicação exige muito mais contato com situações práticas, percepções táteis e visuais que normalmente se esperaria de uma turma regular de ensino. A intervenção realizada com o grupo de alunos surdos provocou o interesse de outros grupos do ensino regular para o uso do espaço. A movimentação realizada por eles instigou professores à dinamização do espaço. É necessário enfatizar que este tipo de atuação exigiu dos alunos bolsistas ações pedagógicas de planejamento, reflexão sobre o modo de atuar e, principalmente, uma ação coletiva que pudesse dar soluções para aprendizagem de biologia de forma desafiadora para o futuro professor. Ainda, a relação estabelecida entre professor-aluno é um componente essencial para o sucesso na aprendizagem. Considerando o contexto de atuação dos futuros professores de Biologia, o respeito, o compromisso e a preocupação podem fazer a diferença para aquela aula que seria monótona e cansativa, tornando mais interessante e atraente (ZUANON e DINIZ, 2004). Outro aspecto a ser considerado e necessário para a aprendizagem é o componente científico. Dessa forma os bolsistas tiveram que conhecer as forma de tratamento pelos cientistas dos problemas presentes no campo biológico, exercitando a habilidade, como professor, de transformar o senso comum em um conhecimento mais elaborado, crítico, analítico e reflexivo. Contudo, é preciso destacar a contribuição deste trabalho desenvolvido no âmbito do projeto PIBID-PUCPR do caráter social percebido pelos bolsistas, ou seja, da necessidade de um trabalho descentralizado, ao acolhimento de sugestões e idéias. O trabalho se mostrou ainda, fecundo, pelo caráter interativo dos alunos e futuros professores nas aulas de campo e também de laboratório. REFERÊNCIAS CAPELETTO, A. Biologia e Educação Ambiental: roteiros de trabalho. São Paulo: Ática, DANESI, M. C. O admirável mundo dos surdos. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

6 12181 MORAES, R. O significado da experimentação numa abordagem construtivista: o caso do ensino de ciências. In: BORGES, R.M.R,; MORAES, R. (org.). Educação em Ciências de séries iniciais. Porto Alegre: Sagra Luzzato, SÁ. N. R. L. Cultura, poder e educação de surdos. São Paulo: Paulinas, 2006 ZUANON, Á. C. A. DINIZ, R. E. da S. O ensino de Biologia e a participação dos alunos em atividades de docência : uma proposta metodológica. In: NARDI, R. BASTOS, F. DINIZ, R. E. da S. Pesquisas em ensino de Ciências: contribuições para a formação de professores. 5ª Ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2004.