Amazônias: DESAFIOS E POTENCIALIDADES PARA A AMAZÔNIA DO SÉCULO XXI

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1 III Seminário Internacional Amazônias: DESAFIOS E POTENCIALIDADES PARA A AMAZÔNIA DO SÉCULO XXI Discutindo as Oportunidades Econômicas para o Desenvolvimento da Amazônia. Mesa 5 Possibilidades do Aproveitamento da Biodiversidade Problemas do Aproveitamento Econômico de Recursos da Biodiversidade da Amazônia Márcia Jucá Teixeira Diniz (PPGEconomia - UFPA) Marcelo Bentes Diniz (PPGEconomia UFPA)

2 Por uma Definição Econômica da Biodiversidade O ponto de partida para a exploração econômica da biodiversidade é o desenvolvimento da biotecnologia e, sua aplicação pode ter cinco finalidades mais usuais: i) emprego com fins terapêuticos no tratamento de doenças e, portanto com exploração pela indústria de fármacos e medicamentos; ii) utilização para fazer produtos de higiene pessoal e beleza, com destinação para indústria de cosméticos (e afins); iii) desenvolvimento de novas variedades agrícolas e animal, e, desse modo relacionada a utilização pelo setor agropecuário (agroindústria de alimentos de origem vegetal e animal). Aqui, inclusive, insere-se a utilização de produtos naturais (óleos essenciais) como substituto a defensivos e agrotóxicos sintéticos; iv) uma quarta finalidade, mas que não deixa de ser derivada do desenvolvimento de seu uso na agricultura está relacionada à utilização da biomassa para fins energéticos; e v) recuperação e tratamento de resíduos orgânicos.

3 Produtos potenciais oriundos da utilização da biotecnologia. Quadro 1 - Produtos de origem biotecnológica, por setor Setores Bens e serviços Agricultura adubo composto, pesticidas, silagem, mudas de plantas ou de árvores, plantas transgênicas Alimentação pães, queijos, picles, cerveja, vinho, proteína unicelular, aditivos, etc. Química butanol, acetona, glicerol, ácidos, enzimas, metais, etc Eletrônica Biosensores Energia etanol, biogás Meio Ambiente recuperação de petróleo, tratamento do lixo, purificação da água Pecuária Embriões Saúde antibióticos, hormônios e outros produtos farmacêuticos, vacinas, reagentes e testes para diagnóstico, etc. Fonte: SBBiotec Sociedade Brasileira de Biotecnologia

4 Escala Temporal de Aproveitamento de Recursos da Biodiversidade Escala Temporal: no tempo presente Uso Conhecido do Recurso da Biodiversidade Privado: Empresarial Desenv. Científico e Tecnológico Atual Público: Universidades; Inst. de Pesquisa Cosméticos Defensivos Agrícolas Produtos Médico/Farmacêuticos Alimentos Ponto de Vista Privado: valor de uso Sistema de preços de mercado Retorno Esperado: diferenciação do produto + patentes Definição do valor do recurso: Ponto de Vista Social: valor de uso + valor de uso indireto Sistema de preços não é suficiente como referência de valor. Agregam-se características de bem-público. Escala Temporal: no tempo futuro Uso Conhecido do Recurso da Biodiversidade Uso Potencial do Recurso da Biodiversidade Privado: Empresarial P&D, Desenv. Científico e Tecnológico Público: Universidades; Inst. de Pesquisa Cosméticos Defensivos Agrícolas Produtos Médico/Farmacêuticos Alimentos Ponto de Vista Privado: valor de uso Sistema de preços de mercado Retorno Esperado: diferenciação do produto + patentes Definição do valor do recurso: Ponto de Vista Social: valor de uso + valor de uso indireto + valor de opção (valor de quase-opção) Sistema de preços não é suficiente como referência de valor. Agregam-se características de bem-público.

5 Problema 1: dificuldade de estimar o valor de certos recursos da biodiversidade rentabilidade futura. Apropriação dos Benefícios e Custos Maior agregação de valor e Define a apropriação de valor ao longo da cadeia produtiva: maior escala de valor e benefícios funciona como oligopolísta e oligopsônio Baixa agregação de valor e preços definidos pela empresa líder tomador de preços; custos relativos elevados; baixo nível tecnológico (produtividade) M ultinacionais (Países Lideres) (Países Seguidores) (nível empresarial incipiente fornecedores de insumo Desenvolvimento Científico e Tecnológico Problema 2: descompasso entre a dotação dos recursos e a o desenvolvimento científico e tecnológico, que condiciona a apropriação dos benefícios Problema 3: Embora com a Convenção sobre Diversidade Biológica CDB (1992), tenha se estabelecido um novo regime global e um novo código de conduta internacional relativa à conservação dos recursos genéticos e biológicos, inclusive, reconhecendo a autoridade dos Estados-Nações com a coleta e o uso desses recursos, não há transferência de tecnologia (empresas privadas).

6 Mercado Local Mercado Nacional/internacional A Cadeia Produtiva Fornecimento de Matéria-prima: características extrativistas Intermediário Direto a empresa Indústria de beneficiamento primário baixa agregação de valor. Em geral, filial da matriz externa Laboratórios/Farmáci as de Manipulação Produção Artesanal Problema 4: a cadeia produtiva, quando constituída em todos os seus elos, faz-se criando uma dependência as necessidades das empresas externas ou nacionais, que ditam a dinâmica da atividade produtiva.

7 Características do Aproveitamento Econômico dos Recursos da Biodiversidade Altos Investimentos Iniciais X prazos de maturação. Tabela 1: Algumas Características Econômicas do Aproveitamento de Recursos da Biodiversidade Comparação da Duração e Custo dos Programas de P&D em Diferentes Setores Industriais Setor Anos para desenvolver Custo (em milhões de US$) Farmacêutico Fitofármacos <2-5 0,15-7 Comercial de sementes agrícolas ,5 Transgênicos Proteção agrícola controles biológicos Enzimas industriais Cosméticos e cuidados pessoais <2-5 0,15-17 Fonte: Kate; Laird (1999).

8 A produção de um novo medicamento exige cifras que chegam a US$500 milhões, além de um tempo de maturação de pesquisa entre 10 a 15 anos, incluindo todo o tempo necessário para que este seja testado e aprovado. A opção por fitofármacos, por suas características exige, em média, a metade do tempo, com um custo mais de 100 vezes menor, na mesma proporção que o é o desenvolvimento de produtos para a indústria de cosméticos e cuidados pessoais. Entretanto, ainda sim, o custo inicial do investimento e o pay back é relativamente alto em quaisquer das opções em o uso da biotecnologia possa redundar no lançamento de novos produtos para atender a indústria em diferentes segmentos de mercado. Esta característica já cria por si mesmo uma barreira à entrada, dando, em muitos casos um perfil de uma estrutura oligopolizada aos mercados que desenvolvem e exploram estes tipos de produtos. O desenvolvimento permanente de uma base científica/tecnológica, está relacionado diretamente a garantia de vantagens competitivas duradouras.

9 Potencial de Mercado para Alguns Produtos da Biodiversidade Tabela 2 - Estimativas para os mercados anuais para várias categorias de produtos derivados de recursos genéticos Setor Mercado (em bilhões de US$) Farmacêutico Fitomedicamentos Comércio de sementes Cosméticos e cuidados pessoais 2,8 Fonte: Kate; Laird (1999). Estima-se que os produtos farmacêuticos apresentam um movimento anual de US$ 250 bilhões no mundo inteiro e que o consumo de matérias-primas para esses produtos represente 10% deste valor. Além do mais, estima-se que o mercado mundial de medicamentos derivados de plantas gire em torno de US$30 bilhões a US$ 40 bilhões/ano, enquanto que especificamente o mercado mundial de fitoterápicos chegue a US$22 bilhões/ano (KAPLAN; FIGUEIREDO 2006). Por fim, como assinalam Enríquez et al. (2003), a exploração pela lógica do extrativismo oferece ao produtor local uma renda muito baixa, seja na venda in natura dos produtos extrativos, como na forma de sementes, raízes e frutos, seja na forma de óleo, que mal assegura a sua sobrevivência. Investimentos relacionados ao aproveitamento da biodiversidade requerem a constituição de uma mãode-obra qualificada e em constante formação, bem como, de uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico. Aqui inclui, também, a formação de uma capacidade empresarial.

10 Fragilidade Institucional dos mecanismos de promoção e de indução da ciência, tecnologia e inovação. Comparações Regionais: alguns indicadores Distribuição de Pesquisadores que participam de Grupos de Pesquisa CNPQ Acre Amapá Amazonas Pará Rondônia Roraima Tocantins Maranhão , , , Mato Grosso , , , Amazônia Rio de Janeiro Minas Gerais São Paulo Fonte: CNPq - Diretório do Grupo de Pesquisa

11 Total dos Investimentos Relizados em Bolsas e no Fomento à Pesquisa, segundo a Região e UF Região/UF(1) - Percentual de Investimentos Norte 2,01 2,33 2,58 2,96 2,27 3,17 2,90 3,12 3,94 3,38 4,99 5,00 Acre 0,05 0,06 0,06 0,10 0,08 0,11 0,12 0,13 0,12 0,10 0,14 0,20 Amazonas 0,66 0,78 0,79 0,99 0,79 1,14 0,87 1,23 1,42 1,23 2,15 1,80 Amapá 0,00 0,00 0,03 0,04 0,04 0,06 0,05 0,02 0,04 0,03 0,06 0,13 Pará 1,16 1,32 1,42 1,51 1,17 1,62 1,58 1,52 2,05 1,56 2,04 2,04 Rondonia 0,04 0,05 0,15 0,19 0,12 0,12 0,17 0,11 0,14 0,17 0,30 0,40 Roraima 0,01 0,02 0,03 0,05 0,02 0,04 0,06 0,04 0,08 0,07 0,07 0,10 Tocantins 0,09 0,11 0,10 0,08 0,04 0,07 0,05 0,07 0,09 0,22 0,22 0,32 Nordeste 10,1 12,1 13, ,1 14,9 13,5 12, ,8 15,1 17,4 Sudeste 65,7 62,9 61,3 59,9 60,1 57,4 57,9 59,3 56,9 58,3 57,3 54,5 Sul 14,7 14,9 15,3 15,9 16,9 17,8 18,2 18,1 16,9 16, ,8 C. Oeste (2) 7,5 7,7 7,5 7,2 6,6 6,8 7,6 6,8 7,2 7,1 6,6 6,3 Soma Fonte: CNPq/AEI.

12 Incubadoras no Brasil por Estado da Amazônia Legal Estados Acre Amapá Amazonas Maranhão Mato Grosso Pará Rondonia Roraima Tocantins Total Amazonia Legal Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Total Brasil Fonte: MCT/indicadores

13 Pedidos Depositados de Patentes até Acre Amazonas Amapá Pará Roraima Rondônia Tocantins Maranhão Mato Grosso Espírito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo Total Amazônia Total SE e NO Total Brasil Fonte: MCT/indicadores

14 Investimentos dos Governos Estaduais em C&T, por Regiões (R$ mil correntes) Anos Amazônia Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Regiões , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,00 Total , , , , , ,70 Fonte: MCT/indicadores (1) Em orçamento executado e pós-graduação. Referente a Pesquisa e Desenvolvimento - P&D e Atividades Científicas, Técnicas e Correlatas - ACTC Problema 5: as diferenças interregionais quanto a distribuição de indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação, acabam por reforçar a lógica de exploração das empresas de caráter nacional e os produtores locais. Ao mesmo tempo, não se criam elementos endógenos para quebrar esse processo.

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