TRANSMISSÃO E DISSEMINAÇÃO DE DOENÇAS EM AVICULTURA A RESPONSABILIDADE HUMANA
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- Benedicto Assunção Diegues
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1 Nº 219 TRANSMISSÃO E DISSEMINAÇÃO DE DOENÇAS EM AVICULTURA A RESPONSABILIDADE HUMANA A produção avícola industrial tem crescido de modo considerável em todo o mundo nos últimos 20 a 30 anos. A dimensão das explorações aumentou bastante, ao mesmo tempo que se assistiu a um aumento da concentração animal em zonas geograficamente restritas. Apesar das novas tecnologias de produção, a maior dimensão implica uma grande complexidade das operações de exploração, assim como um aumento dos fluxos de pessoas que com elas contactam directa ou indirectamente. A selecção de microorganismos com resistência acrescida aos fármacos antibacterianos, ao mesmo tempo que as fortes limitações legislativas relativas ao seu uso deste tipo de produtos, são também factores que potenciam o risco. A produção está hoje assente numa verdadeira bomba relógio, que pode explodir a qualquer momento. A possibilidade de aparecimento de doenças está sempre presente. E quando elas aparecem, raramente são resultado de um factor isolado. É o somatório de pequenos incidentes que no seu conjunto abrem a porta à catástrofe. Nestas circunstâncias, a higiene e a biossegurança são os meios mais eficazes de prevenção. O objectivo deste pequeno trabalho é chamar à atenção do papel que o Homem desempenha em todo este processo, e o que deve ser feito para reduzir, o mais possível, os efeitos deste potencial factor de risco. 1
2 FACTOR HUMANO O PRINCIPAL CULPADO As pessoas que contactam directa ou indirectamente com as aves são a fonte principal de introdução e disseminação de doença nas explorações avícolas. Está provado que 90% das quebras da biossegurança são o resultado da falta de cuidado da actividade humana, por desconhecimento ou negligência. Logo, se focarmos as nossas atenções nos movimentos das pessoas, estamos certamente a reduzir de modo significativo o risco do aparecimento das doenças. VISITAS À EXPLORAÇÃO O transporte de microorganismos patogénicos por visitantes de uma exploração para outra tem tanto de perigoso como de frequente. É possível visitar uma exploração (potencialmente contaminada) de manhã, e à tarde estar presente numa outra exploração, muitas vezes até numa região ou país diferente (a actual rapidez na mobilidade assim o permitem). Por outro lado, a grande capacidade de sobrevivência de muitos microorganismos fora do hospedeiro também é determinante. A título de exemplo, o vírus da Doença de Newcastle pode sobreviver durante vários dias na mucosa respiratória de pessoas que com ele contactem. Logo um aviso aos viajantes. OS PATRÕES E A BIOSSEGURANÇA Os responsáveis e proprietários de explorações e instalações pecuárias em geral, são por vezes os primeiros a quebrar as regras de biossegurança que, teoricamente, exigem aos seus subordinados - fui só lá dentro num instante, é o que sempre dizem. Os microorganismos não reconhecem os estatutos, e as exigências devem ser iguais para todos, independentemente da sua posição na cadeia hierárquica. 2
3 Assim, a necessidade de tomar um banho, o uso de vestuário protector exclusivo da exploração, botas, luvas, toucas, etc. são obrigações de todos. Todas as explorações devem possuir nas zonas de entrada, algum material protector descartável. Pode ser útil para estas e outras emergências. EQUIPAS DE TRABALHO Existe um perigo acrescido quando se contratam trabalhadores à tarefa para executar determinada função específica dentro da exploração. Poderão ser pessoas de outras áreas, menos treinadas face aos funcionários da própria exploração. Pode também tratar-se de pessoas que executam essas mesmas tarefas em várias explorações, potenciais transmissoras de processos patológicos de um lado para o outro. Pela sua eventual pior preparação e treino específico, corre-se o risco que importantes medidas de biossegurança possam ser descuradas, ou mesmo não cumpridas. O melhor é ter um grupo de colaboradores residentes bem treinados, restringindo ao mínimo as intervenções de pessoal exterior. EXPLORAÇÕES VIZINHAS A existência de explorações na vizinhança é uma ameaça constante. Em produção avícola os vizinhos devem estar permanentemente de relações cortadas. Explico melhor: limitar ao máximo as visitas entre explorações, sobretudo se existir algum risco sanitário. Mesmo perante bandos aparentemente saudáveis, nada nos garante que não possa existir uma patologia sub-clínica, ou numa fase de incubação ainda sem sintomatologia apreciável, mas que é fonte de contágio. 3
4 É também muito importante, principalmente em zonas com grande densidade avícola, que existam boas barreiras sanitárias. É fácil restringir a passagem de pessoas, mas já não se passa o mesmo em relação às aves silvestres, pequenos mamíferos e répteis. Qualquer exploração deve ter permanentemente em prática medidas de protecção, como se o seu vizinho estivesse contaminado. AVES DE CAPOEIRA OU ORNAMENTAIS EM EXPLORAÇÕES INDUSTRIAIS Não é raro que nas traseiras de uma qualquer exploração avícola, exista uma capoeira onde são mantidas algumas aves para consumo caseiro dos funcionários ou do proprietário. Este tipo de promiscuidade não pode ser tolerado. Por muito inocentes que meia dúzia de galinhas ou frangos possam parecer, o risco de serem um reservatório de microorganismos é bem real. Têm tudo para se tornarem portadores assintomáticos de um vasto leque de patologias. Por estes mesmos motivos, todas as pessoas que contactam com os pavilhões também não devem possuir aves ornamentais (periquitos, canários, papagaios, etc.), mesmo em suas próprias casas. HIGIENE Um acto tão simples como lavar as mãos é fundamental na prevenção. Em qualquer exploração deve ser regra a lavagem periódica das mãos com um detergente com características antissépticas, sobretudo após a manipulação dos animais. Devem existir pontos de lavagem em locais estratégicos e este procedimento deve ser encorajado, fazendo parte do programa de formação dos operadores. FORMAÇÃO Ao falar de formação, esta tem de ser uma realidade em qualquer exploração. Formação no dia-a-dia, complementada por sessões com carácter periódico (a definir), 4
5 sempre de cariz prático mas com um mínimo de informação teórica, indispensável para a compreensão de muitos processos. É importante que se explique o que se faz, como se faz e porque se faz. Muitas vezes, as acções de formação têm mais impacto quando são efectuadas por técnicos exteriores, e não com a prata da casa. MEDICINA NO TRABALHO Fala-se muito sobre o tema Salmonella em avicultura, mas ninguém refere o papel que os manipuladores de alimentos podem ter na transmissão da doença. Tal como nos animais, e para além da doença em si, existem portadores humanos sãos, que podem disseminar a bactéria pelos locais com que contactam. Neste caso a Salmonella serve de exemplo já que existem situações semelhantes com outros microorganismos (exemplo: Staphylococcus, entre outros). É um assunto que merece mais atenção e mais estudo. MEDIDAS PREVENTIVAS PONTOS A RETER Não entrar nos pavilhões, a não ser que seja absolutamente necessário; Todos os visitantes fazem aumentar o risco de propagação de doença; Ter sempre um livro de visitas onde fique registada a entrada de pessoas e veículos dentro da exploração; Indagar se algum visitante esteve em contacto com outras explorações nos dias anteriores. Se sim, não permitir a sua entrada ou reforçar as medidas de biossegurança; 5
6 A situação ideal de protecção para alguém que visita uma exploração passa por tirar a roupa de rua, tomar um duche completo e usar vestuário fornecido pela exploração ou descartável de uso único. Não esquecer nunca as botas, toucas e luvas. Estes procedimentos são comuns durante a ocorrência de um qualquer surto, mas infelizmente quando este termina rapidamente são esquecidos; Todos devem desinfectar as botas e lavar as mãos quando entram ou saem de um pavilhão, mesmo dentro do mesmo núcleo. Não utilizar qualquer tipo de materiais que não sejam facilmente laváveis e desinfectáveis; Não poupar nos pontos de desinfecção rodilúvios, pedilúvios e pontos de lavagem de mãos. Que sejam efectivamente utilizados e não elementos decorativos; Não permitir que os funcionários possuam em suas casas qualquer tipo de aves; Dentro do mesmo núcleo visitar sempre os bandos mais novos em primeiro lugar, excepto se neles existir algum tipo de patologia. Neste caso, inverter a ordem, não esquecendo as medidas de protecção; Proibir as visitas a explorações vizinhas; Estabelecer um programa de treino e formação para os funcionários; 6
7 Para terminar e como reflexão final, refiro uma definição de Biossegurança de autoria de K. Gooderham: Procedimentos que visam prevenir que vírus, bactérias, fungos, protozoários, parasitas, insectos, roedores e aves silvestres (e pessoas estranhas este ponto é da minha autoria) entrem e sobrevivam na exploração, infectando e/ou pondo em perigo o bemestar do bando. Nota final: Apesar deste trabalho estar focado na actividade avícola, praticamente todos os pontos analisados são aplicáveis à produção de outras espécies pecuárias. Referências bibliográficas disponíveis a pedido Aveiras de Cima, 27 de Setembro de 2012 SERVIÇOS TÉCNICOS AL/SN 7
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