Gênero Treponema. Características gerais. Fisiologia e Estrutura
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- Natan Dias Igrejas
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1 Departamento de Microbiologia Instituto de Ciências Biológicas Universidade Federal de Minas Gerais Gênero Treponema Características gerais Esse gênero de bactérias gram-negativas da ordem Spirochaetales; O gênero Treponema apresenta quatro principais patógenos geneticamente relacionados e que infectam apenas seres humanos. Essas espécies: - T. pallidum subespécie pallidum (causadora da sífilis venérea); - T. pallidum subespécie endemicum (causadora da sífilis endêmica ou bejel); - T. pallidum subespécie pertenue (causadora da bouba); - T. carateum (causadora da pinta). Essas espécies são morfologicamente idênticas e produzem a mesma resposta sorológica nos seres humanos; Distinguem-se por suas características epidemiológicas e pelas manifestações clínicas das doenças produzidas; Fisiologia e Estrutura T. pallidum é um espiroqueta fino e espiralado, incapaz de crescer em culturas isentas de células e dotados de uma bainha externa de glicosaminoglicano; A célula da espiroqueta tem um cilindro protoplástico central ligado por uma membrana plasmática e uma parede celular gram-negativa típica Múltiplos flagelos periplasmáticos orientados axialmente localizados entre a parede celular e a bainha externa estão presentes. Embora ainda não tão bem elucidado, é provável que esses flagelos axiais propelem a célula bacteriana de modo semelhante a um saca-rolhas, assim como rotam os flagelos externos de outras bactérias móveis; Por terem pequena espessura, não são observados à microscopia óptica em amostras coradas pelo método de Gram ou pelo Giemsa; Formas móveis podem ser visualizadas por iluminação em campo escuro ou por coloração com anticorpos antitreponêmicos específicos marcados com corantes fluorescentes; Os treponemas se reproduzem por divisão transversa e podem utilizar a glicose oxidativamente; A superfície externa da espiroqueta é muito pobre em proteínas, e o organismo é apenas fracamente antigênico; T. pallidum é um microrganismo microaerofílico, que sobrevive melhor em 1-4% de oxigênio; 1
2 Distribuição geográfica/sazonal - T. pallidum subespécie pallidum - ocorrência mundial; - T. pallidum subespécie endemicum - regiões de deserto e temperadas da África do Norte, Oriente Médio e Norte da Austrália; - T. pallidum subespécie pertenue - regiões tropicais ou de deserto da África, América do Sul e Indonésia; - T. carateum - áreas tropicais das Américas Central e Sul; Nenhuma tem incidência sazonal. Patogenia Espiroquetas virulentas possuem: Proteínas de membrana externa promovem aderência das bactérias às células hospedeiras; O T. pallidum subespécie pallidum possui hialuronidase, que degrada o ácido hialurônico na substância fundamental do tecido e que presumivelmente aumenta a capacidade de invasão do microrganismo; Fibronectina da célula hospedeira recobrindo-o, o que confere proteção contra fagocitose. Imunidade A destruição e lesões teciduais observadas na sífilis são consequências primárias da resposta imunológica do paciente à infecção; A evolução clínica da sífilis prossegue em três fases: Inicial ou primária (caracterizada por lesões cutâneas cancro no local de penetração do microrganismo), fase secundária (aparecem os sinais clínicos com lesões cutâneas proeminentes) e uma fase tardia da doença em que praticamente todos os tecidos podem ser afetados; Cada uma dessas fases representa a multiplicação localizada dos espiroquetas e a destruição tecidual; Apesar de a replicação ser lenta, verifica-se a presença de numerosos microrganismos no cancro inicial, bem como nas lesões secundárias após disseminação dos espiroquetas na corrente sanguínea. Síndromes Clínicas - Sífilis primária: Presença de cancro com grandes quantidades de espiroquetas, podendo estas, disseminarem por todo corpo do paciente através do sistema linfático e da corrente sanguínea. A lesão começa com uma pápula e evolui para uma úlcera indolor com bordas elevadas. A maioria dos pacientes desenvolve linfadenopatia regional indolor dentro de 1 a 2 semanas após o aparecimento do cancro, representado um foco de proliferação de espiroquetas; 2
3 - Sífilis secundária: Evidência clínica de disseminação da doença. O paciente apresenta uma síndrome semelhante à gripe, com dor de garganta, cefaleia, febre, mialgias, anorexia, linfadenopatia e exantema mucocutâneo generalizado. Esses sintomas são seguidos, em poucos dias, por lesões cutâneas disseminadas. Gradualmente, o paciente entra em um estágio latente da doença; - Sífilis tardia: Presença de inflamação crônica difusa que pode causar destruição devastado ra de praticamente qualquer órgão ou tecido do corpo (por exemplo, artrite, demência, cegueira). Lesões gramulomatosas (gomas) podem aparecer nos ossos, na pele e em outros tecidos. Pouco pacientes evoluem para o estágio terciário da sífilis; - Sífilis congênita: As infecções in utero podem resultar em doença fetal grave, resultando em morte do feto, malformações de múltiplos órgãos ou infecções latentes. Diagnóstico Laboratorial O diagnóstico laboratorial da sífilis e a escolha dos exames laboratoriais mais adequados deverão considerar a fase evolutiva da doença. Na sífilis primária e em algumas lesões da fase secundária, o diagnóstico poderá ser direto, isto é, feito pela demonstração do treponema. A utilização da sorologia poderá ser feita a partir da segunda ou terceira semana após o aparecimento do cancro, quando os anticorpos começam a ser detectados; - Provas diretas: Demonstram a presença do T. pallidum e são consideradas definitivas, pois não apresentam resultados de falso-positivo. É indicado na fase inicial da enfermidade. O diagnóstico de sífilis primária, secundária ou congênita pode ser estabelecido através do exame de campo escuro (apresenta sensibilidade que varia de 74 a 86% e a especificidade pode alcançar 97%), pela pesquisa direta com material corado (os métodos utilizados são Fontana-Tribondeau, com adição de prata; método de Burri, com uso de tinta de nanquim; Giemsa e Levaditi) e pela imunofluorescência direta (Exame altamente específico e com sensibilidade maior que 90%); - Cultura: é o método mais eficaz no diagnóstico de sífilis, que deve ser realizada in vivo, porque os Treponemas não crescem em culturas artificiais, porém é um procedimento dispendioso e demorado; - Provas sorológicas: a sífilis é diagnosticada na maioria dos pacientes através dessas provas. Os testes sorológicos podem ser divididos em dois grupos por possuírem características distintas e serem utilizados para diferentes fins. Os testes não-treponêmicos são biologicamente inespecíficos e são mais úteis com provas de rastreamento; os testes treponêmicos são específicos e devem ser usados com testes confirmatórios. Transmissão Seres humanos constituem o único hospedeiro; Sífilis venérea é transmitida por contato sexual ou congenitamente, embora infecções congênitas sejam raras; Outras infecções por Treponema são transmitidas por contato das mucosas com lesões infecciosas. 3
4 Grupos de alto risco Sífilis venérea: adolescentes e adultos sexualmente ativos; crianças nascidas de mães com doença ativa; Outras infecções por Treponema: crianças ou adultos em contato com lesões infecciosas. Tratamento, Prevenção e Controle Não existe vacina contra a sífilis; A penicilina é o fármaco de escolha em infecções por T. pallidum. Se o paciente for alérgico à penicilina, administra-se tetraciclina, eritromicina ou cloranfenicol; Tratamento dos parceiros sexuais dos pacientes infectados; A sífilis endêmica, a bouba e a pinta podem ser eliminadas através de medidas sanitárias organizadas (tratamento, educação), todavia, estas medidas têm sido implementadas inconsistentemente; A prevenção depende de um diagnóstico precoce e de um diagnóstico precoce e de um tratamento adequado, bem como de uso de preservativos, administração de antibióticos após uma exposição suspeita e monitoramento sorológico dos indivíduos infectados e de pessoas próximas; As medidas de controle da sífilis dependem do tratamento imediato e adequado dos casos diagnosticados; do acompanhamento das fontes de infecção e dos contatos, de modo que possam ser tratados; e da prática sexual segura com preservativos. 4
5 Literatura sugerida AVELLEIRA, João Carlos Regazzi; BOTTINO, Giuliana. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. An. Bras. Dermatol. vol.81 no.2 Rio de Janeiro Mar./Apr [Versão eletrônica]. JAWETZ, Ernest. Microbiologia Médica. 22ª Ed. Rio de Janeiro. Editora McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda HARVEY, Richard A.; CHAMPE, Pamela C.; FISHER, Bruce D. Microbiologia Ilustrada. 2ª Ed. Porto Alegre. Editora Artmed KONEMAN. Diagnóstico Microbiológico. 6ª Ed. Rio de Janeiro. Editora Guanabara LEVINSON, Warren; JAWERTZ, Ernest. Microbilogia Médica e Imunologia. 7ª Ed. Porto alegre. Editora Artmed, MURRAY, Patrick R; ROSENTHAL, Ken S; PFALLER, Michael A.. Microbiologia médica. 5ª Ed. Rio de Janeiro. Editora Elsevier, 2006.
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