CRIAÇÃO DE SURUBINS Pseudoplatystoma spp. EM SISTEMA DE TANQUES-REDE SUBMETIDOS A DIFERENTES DENSIDADES DE ESTOCAGEM

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1 CRIAÇÃO DE SURUBINS Pseudoplatystoma spp. EM SISTEMA DE TANQUES-REDE SUBMETIDOS A DIFERENTES DENSIDADES DE ESTOCAGEM Letícia Emiliani Fantini 1, Cristiane Meldau de Campos 2 1 Bolsista UEMS. Acadêmica do Curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana; letícia.emiliani@hotmail.com; 2 Professor Orientador e Docente do curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana, UEMS/Aquidauana. Doutora em Aquicultura;. cmeldau@uems.br Ciências Agrárias/Zootecnia Resumo O experimento foi desenvolvido na Fazenda Aurora, município de Ipezal- MS, no período de janeiro a março de 2010, com o objetivo de avaliar o desempenho zootécnico de surubins híbridos Pseudoplatystoma spp., submetidos diferentes densidades de estocagem, mantidos em sistema de tanques-rede. Foram adquiridos da unidade de reprodução da Empresa Mar&Terra juvenis de surubins híbridos, com peso médio inicial de 23,8 ± 4,84 g, e comprimento médio inicial de 15,5 ± 1,14 cm. Adotou-se o delineamento inteiramente casualisado, com três tratamentos (densidade de estocagem) e três repetições. As densidades de estocagem foram de 300, 200 e 100 peixes/m³, o experimento compreendeu 60 dias, os peixes foram alimentados com ração contendo 38% de PB, oferecida duas vezes ao dia. A quantidade de ração, com granulometria de 2 a 4 mm, foi baseada em 5% da biomassa total dos tanques-rede, para peixes até 70 g; peletes de 6 a 8 mm, com base em 4% da biomassa foram oferecidos para peixes acima de 100 g. As variáveis limnológicas analisadas: oxigênio dissolvido, temperatura, ph, transparência e dureza da água, encontravam-se adequadas para a criação dos surubins.as densidades de estocagem influenciaram estatisticamente (P>0,05) na criação dos surubins. Os resultados mostraram que a melhor densidade de estocagem na fase inicial de criação de surubins híbridos Pseudoplatystoma spp.em tanque-rede é de 300 peixes/m³, no qual foram encontrados os melhores valores para ganho de biomassa, ganho de peso, CAA, e taxa de sobrevivência. Palavras-chave: ganho de peso. produção. conversão alimentar. biomassa. desempenho. crescimento. Introdução Devido a necessidade de se incrementar a produtividade nos sistemas aqüícolas, a crescente demanda por pescado tem gerado um grande interesse pelo cultivo de peixes (Resende et al., 2007). O uso de tanques-rede é bastante difundido no mundo para produção de peixes em regime de criação intensiva, em escala industrial (Liao et al., 2004) e é excelente alternativa para o aproveitamento racional de corpos hídricos que apresentam dificuldades para a prática da piscicultura convencional. O princípio básico é a renovação contínua da água, podendo ser pela corrente natural existente no ambiente onde estão instalados, ou pela movimentação gerada pelos próprios animais (Beveridge, 1996). Este sistema de produção possui várias vantagens, entre elas o baixo custo de implantação e o fato de exigir um mínimo de infra-estrutura. Ayroza et al. (2000) e Ono (2005)

2 verificaram que, no Brasil a criação em tanques-rede se expandiu de forma expressiva devido a adaptações dos resultados de pesquisas internacionais às nossas condições; utilização de altas densidades de peixes por unidade de área ou volume; início da oferta de rações completas e utilização de tanques ou gaiolas de diferentes formas e dimensões, durante o processo de recria e engorda. Este experimento foi realizado com objetivo de obter dados zootécnicos da fase inicial da criação de surubins em regime intensivo submetidos a diferentes densidades de estocagem. A escolha do Pseudoplatystoma spp. conhecido como surubim, faz parte de uma orientação nacional para que na Região Centro-Oeste trabalhos de pesquisa em piscicultura sejam voltados para esses bagres surubins. Material e Métodos O experimento foi desenvolvido na fazenda Aurora, município de Ipezal- MS, no período de janeiro a março de Foram adquiridos surubins híbridos Pseudoplatystoma spp. da unidade de reprodução da Empresa Mar&Terra. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualisado, com três tratamentos (densidade de estocagem) e três repetições. As densidades de estocagem foram de 300, 200 e 100 peixes/m³, totalizando nove tanques-rede de 5m³ com malha de 20 mm, revestidos, com malha de 13 mm, posicionados em linha, para aproveitar a corrente de água, para a movimentação da mesma (Figura 1). Os juvenis de surubins híbridos treinados para receber o alimento seco apresentavam peso médio inicial de 23,8 ± 4,84 g, e comprimento médio inicial de 15,5 ± 1,14 cm. Os peixes foram alimentados, durante 60 dias, com ração comercial extrusada para peixes carnívoros, com 38% de PB, 12% EE, 2,3% FB e 8% de umidade, duas vezes ao dia, no inicio da manhã e no final da tarde. A quantidade de ração, com granulometria de 2 a 4 mm, foi baseada em 5% da biomassa total dos tanques-rede, para peixes até 70 g; peletes de 6 a 8 mm, com base em 4% da biomassa foram oferecidos para peixes acima de 100 g. Biometrias foram realizadas em 10% do total de animais no início do experimento e com intervalo de 30 dias (Figura 1). Parâmetros de qualidade de água, como ph, temperatura e oxigênio dissolvido dos tanques-redes e do viveiro foram coletados diariamente. Os resultados obtidos foram comparados entre as densidades por uma análise de variância e teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão 2

3 Os parâmetros limnológicos aferidos neste trabalho apresentaram resultados adequados para a criação de surubins híbridos Pseudoplatystoma spp. (Tabela1). Tabela 1- Dados médios dos parâmetros limnológicos aferidos fora dos tanques-rede durante os 60 dias de criação dos surubins híbridos Pseudoplatystoma spp. submetidos a diferentes densidades de estocagem. Meses ph Temperatura OD(mg/L) Transparência Alcalinidade Dureza (ºC) (cm) janeiro 6,8 29,3 5, fevereiro 7,0 29,5 5, março 6,7 28,7 5, O ganho de peso médio final apresentou tendência decrescente com o aumento da densidade de estocagem, já o ganho de biomassa cresceu à medida que se aumentou a densidade de estocagem inicial, causando uma diminuição no crescimento individual (Tabela 2). Segundo Turra et al. (2009) a identificação da ótima densidade de estocagem para uma espécie é um fator crítico no delineamento ou na definição de um eficiente sistema de produção em tanques-redes. Tabela 1- Valores médios (± desvio padrão) das variáveis de desempenho de surubim Pseudoplatystoma spp. criados em tanques-rede submetidos a diferentes densidades de estocagem durante 60 dias de cultivo. Tratamentos T1 T2 T3 Densidade de estocagem (peixes/m 3 ) Número inicial de peixes Peso médio final (g) 112,23±13,09 109,47±13,09 115,87±19,75 Comprimento médio final (cm) 24,83±0,93 25,03±1,46 25,13±0,80 Biomassa média final (kg) 112,23 109,47 115,87 Ganho de peso médio final (g) 54,32±12,54 46,24±8,50 39,58±11,75 Ganho de biomassa (kg) 81,48±18,81 a 46,24±8,50 b 19,79±5,88 b Conversão alimentar (CAA) 1,32± 0,32 b 1,66±0,26a b 2,41±0,52 a Taxa de sobrevivência (TS %) 98,33±0,43 a 97,86±0,55 a 94,86±0,58 b detukey a 5%. Médias na mesma linha, seguidas de letras iguais não diferem (P>0,05) significativamente pelo teste O maior valor de peso médio final observado para os surubins híbridos submetidos a diferentes densidades de estocagem foi 115,87 ± 19,75 g, correspondente ao tratamento de menor densidade de estocagem (100 peixes/m³). Os resultados estão compatíveis com aos apresentados por Turra (2000) que trabalhando com surubins em tanques-rede criados sob três densidades de estocagem (35, 70 e 105 peixe/m 3 ) durante 105 dias, com peso médio inicial de 3

4 50,0 g encontrou o melhor peso médio final e 197,4,g e 1,49 para a menor densidade de estocagem inicial. A fase de estocagem do presente estudo compreendeu a fase inicial de criação, não havendo diferença significativa (P>0,05) para biomassa final, sendo que os valores que o menor valor correspondeu ao tratamento com densidade intermediária (200 peixes/m 3 ). Esses dados corroboram com Resende et al. (2007) onde avaliando o desenvolvimento do surubim pintado, Pseudoplatystoma coruscans em tanque-rede de pequeno volume na fase de engorda não encontraram diferenças significativas para biomassa final. Figura 1- Vista panorâmica dos tanques-redes utilizados no experimento de criação de surubins híbridos Pseudoplatystoma spp. submetidos a diferentes densidades de estocagem, instalados na Fazenda Aurora (A); Tanques-rede revestidos com malha de 13 mm para evitar escape dos surubins (B); Biometria dos surubins realizada com auxílio do ictiômetro (C). Em relação à conversão alimentar aparente, os valores variaram ao longo do período, havendo diferença significativa (P<0,05) entre as densidades de 300 e 100 peixe/m 3, e 200 e 100 peixe/m 3, as densidades de 300 e 200 peixe/m 3 não diferiram estatisticamente entre si, apresentando as melhores conversões alimentar aparente (Tabela 2). Nos tanques de maiores densidades os surubins converteram melhor a ração alcançando uma CAA de 1,32:1 e 1,66:1 quando comparado ao tanque de densidade menor. O aumento na densidade de estocagem geralmente piora a CAA, uma vez que reduz a disponibilidade de alimento natural por peixe e acelera a degradação da qualidade da água devido aos níveis maiores de arraçoamento exigido, entretanto o presente estudo mostra que não houve competição por alimento, uma vez que os níveis de arraçoamento e a quantidade de ração fornecida, foram suficientes para uma boa produção, além disso o outro fator qualidade da água não foi afetado quando os peixes foram submetidos a altas densidades de estocagem como mostra na Tabela 1. Brandão et al. (2004), ao avaliar a CAA para juvenis de tambaqui, e para juvenis de matrinxã (Brandão et al., 2005), durante a fase recria em tanque-rede, não encontrou diferenças significativas entre as densidades. 4

5 O presente trabalho mostra-se promissor por ter obtido boas sobrevivências (Tabela 2), esta situação é similar a de muitos pequenos produtores rurais que, aproveitando uma represa na sua fazenda, cultivam os peixes em ambientes com características parecidas as deste trabalho. Inadequadas densidades de estocagem de peixes podem trazer complicações. A possibilidade de se utilizarem altas densidades de estocagem no cultivo de uma espécie determina maiores produções para a criação (TURRA et al., 2009). Agradecimentos Os autores agradecem ao senhor Paulo Soveral proprietário da Fazenda Aurora, localizada no município de Ipezal MS, por ter disponibilizado o local para o experimento. Referências Bibliográficas Ayroza, L.M.; Romagosa, E.; Scorvo Filho, J.D. & Frascá-Scorvo, C.M.D. Desempenho da tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus, em tanques-rede, em empresa rural. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AQUICULTURA, , Florianópolis. Anais... Florianópolis: SIMBRAQ, CD-ROM Beveridge, M.C.M. Cage aquaculture ed. Surrey, England: Fishing News Books, 346p. Brandão, F.R.; Gomes, L.C.; Chagas, E.C. & Araújo, L.D Densidade de estocagem de juvenis de tambaqui durante a recria em tanques-rede. Pesquisa agropecuária Brasileira, Brasília, v. 39, n. 4, p Brandão, F.R.; Gomes, L.C.; Chagas, E.C.; Araújo, L.D. & Silva, A.L.F Densidade de estocagem de matrinxã (Brycon amazonicus) na recria em tanque-rede, Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 40, n. 3, p Liao, I C.; Huang, T.S.; Tsai, W.S.; Hsueh, C.M.; Chang, S.L. & Leaño, E.M Cobia Culture in Taiwan: Current Status and Problems. Aquaculture, v. 237, p Ono, E.A. Criação de Peixes em Tanques Rede. In: ZOOTEC. 2005, Campo Grande, Anais...Campo Grande: ZOOTEC, p Resende, S.R.; Cavalcante, J.L.; Melo, J.P.H. & Padua, D.M.C. Desenvolvimento do surubim pintado, Pseudoplatystoma corruscans em tanque-rede de pequeno volume. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, , Jaboticabal. Anais... Jaboticabal:Unesp, p Turra, E.M Desempenho do Surubim Pseudoplatystoma spp.,em tanques-rede sob diferentes densidades de estocagem. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 31p. Turra, E.M.; Queiroz, B.M.; Teixeira, E.A.; Faria, P.M.C.; Crepaldi, D.V. & Ribeiro, L.P Densidade de estocagem do surubim Pseudoplatystoma spp. cultivado em tanque-rede, Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 10, n. 1, p