AVALIAÇÃO DO ESTADO DE NUTRIÇÃO DE POMARES DE MACIEIRAS NAS PRINCIPAIS REGIÕES PRODUTORAS DE MAÇÃ
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- Guilherme Bacelar Martins
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1 AVALIAÇÃO DO ESTADO DE NUTRIÇÃO DE POMARES DE MACIEIRAS NAS PRINCIPAIS REGIÕES PRODUTORAS DE MAÇÃ INIA Estação Nacional de Fruticultura de Vieira Natividade Apartado 158, Alcobaça Tel.: ; Fax: ; Maria Luísa Saraiva Duarte, Investigadora Principal Razões para apresentar e executar o projecto As normas comunitárias apontam para a obtenção de frutos de qualidade a que não são alheias a aplicação de técnicas de produção integrada. A concretização de tal objectivo passa, obrigatoriamente, pela gestão integrada dos factores de produção a utilizar, tornando-os menos agressivos para o ecossistema pomar permitindo, assim, a manutenção do seu equilíbrio. Neste contexto, a fertilização desempenha papel relevante, pois dela depende parte importante dos objectivos a atingir. A preconização das doses de fertilizantes a fornecer aos pomares implica a avaliação do seu estado de nutrição mineral, visto este ser um dos factores determinantes na qualidade dos frutos e no seu poder de conservação, bem como da avaliação do estado de fertilidade dos seus solos. As recomendações de fertilização para pomóideas, praticadas entre nós, têm sido baseadas, de um modo geral, em resultados experimentais obtidos noutras condições edafo-climáticas, os quais raramente contemplam os simbiontes com expressão cultural no nosso País. Alguma informação disponível com base nos resultados de análise foliar e de frutos obtidos por Couto (1987), Calouro (1995), Calouro et al. (1992, 1996), Duarte (1989, 1992), Duarte et al. (1996), Jordão et al. (1992,1996), contemplando algumas cultivares de pomóideas, é manifestamente insuficiente para fundamentar a apreciação do estado de nutrição mineral de pomares de variedades que vieram sendo introduzidas em Portugal ou de outras que, pelo seu carácter regional, não mereceram a atenção devida. A actividade inerente ao projecto PAMAF 6129 Avaliação do Estado de Nutrição de Pomares de Macieiras nas Principais Regiões Produtoras de Maçã desenvolveu-se no sentido de avaliar o estado de nutrição mineral de pomares de macieira, com potencial expressão económica, com o objectivo de elevar a produção comercializável, melhorar a qualidade da fruta obtida e o seu poder de conservação, através da recomendação da aplicação de doses adequadas de fertilizantes. A constituição de um banco de dados, a partir do qual se possa fazer recomendações de fertilização com base nos resultados de análise de terras, de folhas e de frutos e do comportamento destes em conservação, foi o principal objectivo que norteou a apresentação da proposta de projecto que, após aprovação, foi desenvolvida. Actividades realizadas e resultados obtidos Caracterização do estado de nutrição de pomares de macieira. Embora tenham sido seleccionados, à partida, 10 pomares por variedade, no caso da variedade Casa Nova de Alcobaça, só foi possível seguir oito, em 1997, sete em 1998 e cinco em 1999, pois os pomares foram abandonados ou arrancados em virtude de serem velhos (plantação em 1967) e pouco rentáveis. Pelo facto de se tratar de uma variedade enxertada em franco e com porte vigoroso, o que obriga a que os compassos sejam muito largos, e em que a queda de frutos é muito acentuada, a sua manutenção, sob o ponto de vista económico, é inviável preferindo os fruticultores proceder à sua substituição por variedades que proporcionem maior produtividade. Os pomares, com excepção de um, eram de sequeiro. Actualmente, já se encontram instalados alguns pomares desta variedade em porta-enxertos semivigorosos e ananicantes, sujeitos a fertirrega, o que deverá ser objecto de estudo. LD 1
2 Excepção feita à variedade Casa Nova de Alcobaça, todas as outras variedades estudadas se encontram enxertadas em MM106. Os compassos dominantes são no caso dos pomares de Hi Early de (4,5 m x 1,5 m), nos de Jonagored e de Royal Gala de (4 m x 1,5 m), nos de Bravo de Esmolfe de (4,5 m x 1,5 m a 2,0 m). O sistema de rega dominante é o de gota-a-gota. Anualmente procedeu-se à elaboração da ficha informativa dos pomares, através das quais se pôde constatar que: a) a rega é feita de uma forma empírica, sendo as dotações praticadas desequilibradas, pecando nuns casos por excesso e noutros por defeito; b) as unidades de fertilizantes aplicadas por hectare são na generalidade elevadas no caso do azoto; c) a fertilização azotada excessiva está muitas vezes associada a elevadas dotações de rega. Os pomares estudados na região Oeste estão instalados, dominantemente, em solos cujo ph varia entre ácido e pouco alcalino, pobres em matéria orgânica, de textura ligeira a média, ricos em potássio e magnésio assimiláveis, em que o fósforo assimilável em cerca de 50% dos casos é muito alto na camada de 0 a 20 cm repartindo-se os restantes pelas outras classes de textura. Os pomares de Bravo de Esmolfe estão instalados em solos de ph ácido a pouco ácido, com teores de matéria orgânica baixos a médios, teores de fósforo assimilável dominantemente altos a muito altos, teores de potássio assimilável altos e muito altos e de magnésio assimilável e de boro extraível baixos e médios. Visto a maioria dos pomares serem regados, como já foi referido e embora não estivesse previsto, procedeu-se à colheita de amostras de água de rega. As análises revelaram que relativamente aos valores de ph, teores de bicarbonatos, de sódio e de cloretos, salinidade e degradação da permeabilidade do solo as restrições ao seu uso são nulas ou moderadas. Colheram-se amostras de folhas as quais se encontram já analisadas estando os dados em fase de tratamento estatístico. Embora a caracterização quantitativa (controlo total da produção de cada árvore e determinação ponderal das classes de calibre e respectivo número de frutos) tenha sido efectuada e feita a respectiva amostragem (10% da produção por calibre de cada árvore) só foram analisadas qualitativamente (determinação da percentagem de sólidos solúveis totais e acidez expressa em g.l -1 de ácido málico) 5121 amostras, as mesmas que foram preparadas para fazer a respectiva caracterização mineral. Constituição de um banco de dados a partir dos resultados obtidos e de outra informação recolhida sobre os factores de produção. Já parcialmente constituído. Processamento dos dados experimentais de acordo com diversos métodos de diagnóstico. Em execução. Estabelecimento de níveis críticos e de normas de referência para diferentes nutrientes das variedades consideradas. Estabeleceram-se os teores foliares de referência para interpretação dos resultados de análise foliar nas variedades Hi Early, Jonagored, Royal Gala e Bravo de Esmolfe e os teores foliares de ocorrência para a variedade Casa Nova de Alcobaça para a denominada época usual de colheita (90 a 110 DAPF). Tal como o nome indica os teores foliares de referência foram obtidos tendo em consideração as árvores com produção comercializável elevada. Elaboração de um programa de computador para diagnóstico do estado de nutrição dos pomares de macieiras e estabelecimento de um programa de fertilização a ser utilizado em rotina. Programa já parcialmente em execução no LQARS. Estudo das condições mais adequadas de conservação de maçãs Royal Gala e Casa Nova de Alcobaça. LD 2
3 Casa Nova de Alcobaça Não foi possível fazer colheitas escalonadas de frutos na variedade Casa Nova de Alcobaça. Pelo facto, optou-se por aumentar o número de pomares. Na campanha de 1998/99 não foram realizados quaisquer ensaios devido ao insuficiente número de frutos disponíveis por parte dos produtores. Os índices vulgarmente utilizados na avaliação do grau de maturação das maçãs no período de colheita são a dureza da polpa, o índice refractométrico, o grau de regressão do amido e o índice de Streif. No período de colheita, a taxa de regressão do amido e o índice de Streif provaram ser os melhores indicadores do grau de maturação da maçã Casa Nova de Alcobaça. Os benefícios da conservação em Atmosfera Controlada comparativamente aos da Atmosfera Normal foram mais evidentes em 1997 do que em 1999, sobretudo nos aspectos comercial e organoléptico. Royal Gala Apesar de os frutos visualmente aparentarem aspecto exterior idêntico nas várias colheitas efectuadas em cada pomar, tal semelhança nem sempre teve uma correspondência directa com o efectivo grau de maturação avaliado. O índice de Streif mostrou ser o parâmetro melhor indicador do grau de maturação dos frutos por ter revelado sensibilidade mais elevada, isto é, o que, relativamente aos restantes, acusou maior taxa de variação relativa, de colheita para colheita. Em qualquer dos anos, nos dois regimes de conservação e em ambos os pomares observados, não foi verificada a ocorrência de escaldão, podridões dignas de registo ou outras alterações de natureza fisiológica. No entanto, os frutos provenientes de colheitas mais tardias manifestaram maior sensibilidade à acção do frio, o que se traduziu pelo fendilhamento esporádico da epiderme. Quadro 1 - Concentrações foliares de referência das variedades (s/mm106) Hi-Early, Jonagored, Royal Gala e Bravo de Esmolfe obtidas nos 3 anos de estudo no período de colheita indicado e níveis foliares da variedade Casa Nova de Alcobaça ocorridos nos 3 anos de observação no período de colheita indicado. VARIEDADE Hi-Early Jonagored Royal Gala Bravo de Esmolfe Casa Nova de Alcobaça nutrientes DAPF N 2,84±0,33 2,51±0,22 2,35±0,22 2,70±0,24 2,63±0,29 P 0,20±0,02 0,15±0,02 0,16±0,03 0,16±0,02 0,18±0,06 K 1,48±0,29 1,54±0,29 1,19±0,22 1,66±0,32 1,61±0,56 % Ca 1,13±0,20 1,49±0,25 1,25±0,29 1,20±0,26 1,00±0,37 Mg 0,25±0,05 0,25±0,05 0,24±0,07 0,25±0,06 0,26±0,05 S 0,28±0,02 0,24±0,03 0,22±0,02 0,26±0,04 0,25±0,02 Fe 67±20 64±17 55±11 65±22 104±42 Mn 107±65 104±83 107±71 139±91 159±82 Zn mg.kg -1 29±24 24±11 12±3 24±14 30±26 Cu 12±3 11±3 8±3 12±4 15±7 B 39±6 30±6 29±5 30±5 30±7 Durante o ano em curso serão definidos os teores foliares de referência e ocorrência para as diferentes épocas de colheita e variedades. Quadro 2 - Características médias da produção das árvores de referência Variedade Calibre (mm) n.º de obs. Produção (kg/árv.) mínima Máxima média Hi-Early 60 a ±14,4 Jonagored 65 a > ±14,3 Royal Gala 55 a ±8,3 B.deEsmolfe 55 a , ,8±11,0 LD 3
4 Estabelecimento de relações entre a composição mineral dos frutos e a ocorrência de alterações fisiológicas, bem como o desenvolvimento de fungos. Esta actividade será desenvolvida após a conclusão das análises da composição mineral dos frutos. Publicações técnico-científicas e outros documentos Caracterização dos pomares de macieira em observação na região do Oeste, no âmbito do Projecto PAMAF - IED n.º Painel apresentado nas Jornadas de Divulgação do PAMAF - IED n.º 6129 INIA/ENFVN, Março Caracterização das águas de rega da região do Oeste: Principais factores de restrição ao seu uso. Painel apresentado nas Jornadas de Divulgação do PAMAF - IED n.º INIA/ENFVN, Março Caracterização do estado de fertilidade dos solos de pomares de macieira, na região do Oeste. Painel apresentado nas Jornadas de Divulgação do PAMAF - IED n.º INIA/ENFVN, Março Diagnóstico do estado de nutrição de macieiras: níveis foliares de ocorrência e valores de referência preliminares de macronutrientes e de boro para interpretação de resultados de análise foliar. Painel apresentado nas Jornadas de Divulgação do PAMAF - IED n.º INIA/ENFVN, Março Características da produção de algumas variedades de macieira na região do Oeste. Resultados preliminares Painel apresentado nas Jornadas de Divulgação do PAMAF - IED n.º 6129 INIA/ENFVN, Março Maçã Casa Nova de Alcobaça: Efeito da atmosfera controlada na qualidade. Painel apresentado nas Jornadas de Divulgação do PAMAF - IED n.º 6129 INIA/ENFVN, Março Maçã Royal Gala: Influência da data de colheita na qualidade e no poder de conservação em atmosfera normal e controlada. Painel apresentado nas Jornadas de Divulgação do PAMAF - IED n.º 6129 INIA/ENFVN, Março Avaliação do Estado de Nutrição de Pomares de Macieiras Bravo de Esmolfe. - Arminda Dias Lopes, responsável pela DRABL da componente do projecto, apresentou uma comunicação nas Jornadas de Fruticultura 1999, efectuadas na ESACB Influência das características do pomar, do ano e do calibre na composição mineral de maçãs da cv. Bravo de Esmolfe s/ MM L. Duarte, A. Lopes & F. Calouro. Painel apresentado no Encontro Anual da Sociedade Portuguesa de Ciência do Solo que decorreu de 2 a 7 de Setembro de 2002 em Ponte de Lima. Comentários e linhas de trabalho a prosseguirem Esperamos poder melhorar, e alargar a diferentes épocas do ciclo vegetativo, os valores foliares de referência para as variedades em estudo e em função dos resultados de que já dispomos. Para além daqueles, relacionar a composição foliar, em diferentes datas de colheita, com algumas características de qualidade da maçã e a sua composição mineral, bem como com as práticas culturais adoptadas ao longo do período de estudo. Tal permitir-nos-á elaborar mais rigorosamente recomendações de fertilização em função do diagnóstico do estado de nutrição dos pomares avaliado através da análise foliar. No que concerne aos estudos de pós-colheita, quer para a maçã Royal Gala quer para a maçã Casa Nova de Alcobaça considera-se fundamental dar continuidade aos ensaios, contemplando um maior número de pomares e de colheitas escalonadas, bem como a aplicação de novas condições ambientais na câmara frigorífica (temperatura e composição gasosa). A utilização de equipamento adequado à determinação de outros parâmetros fisiológicos permitiria monitorizar os processos metabólicos associados à maturação e senescência dos frutos, o que no caso presente não foi possível por insuficiência de meios. Como já tem vindo a ser repetido noutras ocasiões e noutros contextos, o período de execução destes projectos de IED (3 anos) é manifestamente insuficiente quando se pretende estudar espécies lenhosas. Também, porque não consideramos que os resultados obtidos neste projecto sejam suficientes para a criação do banco de dados a partir do qual se possam fazer as recomendações de fertilização para LD 4
5 pomóideas, no caso presente macieiras, está já em execução uma linha de trabalho denominada Estudos de fertilização e de nutrição de pomóideas nas regiões do Oeste, Beira Litoral e Beira Interior, linha de trabalho 17 (L17) inserida no Projecto 2 (P2): Valorização da qualidade e promoção da segurança alimentar e da preservação do ambiente na produção hortofrutícola do Programa de Apoio à Reforma das Instituições Públicas ou de Interesse Público de Investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e um projecto financiado pelo PIDDAC (n.º909) Desenvolvimento de um sistema informatizado de apoio à formulação de recomendações de fertilização para culturas arbóreas e arbustivas (pomares de pomóideas, olival e vinha). Equipa do Projecto 6129 Os fruticultores que disponibilizaram os pomares. ENFVN Luísa Duarte; Inocêncio Mourato; Carlos Matias; Luísa Avelar; Rui de Sousa; Dias Pablo; Terezinha Duarte; Celeste Casimiro Coelho; Maria Helena Leopoldino; Manuela Cordeiro 1. LQARS Pedro Jordão; Angela Vicente ;Maria da Encarnação Marcelo; Fátima Calouro (consultora); Ana Raposo (bolseira); Vítor Rocha (contratado a termo certo) 1, todo o pessoal do Departamento de Fertilidade do Solo, Fertilização e Nutrição das Culturas. 1 DRARO Luis Fialho de Almeida; Felisbela dos Santos; Paulo Monteiro. DRABL Cardoso Domingos; Arminda Lopes; António Carreira; Francisco de Matos Viegas e Casimiro AGRO Anabela Carvalho Nunes CGO Manuel de Almeida 1 Entidades Participantes INIA / ESTAÇÃO NACIONAL DE FRUTICULTURA VIEIRA NATIVIDADE (ENFVN) INIA / ex-laboratório QUÍMICO AGRÍCOLA REBELO DA SILVA (LQARS) DIRECÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA DO RIBATEJO E OESTE (DRARO) DIRECÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA DA BEIRA LITORAL (DRABL) ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES DAS CALDAS DA RAINHA (AGRO) CENTRO DE GESTÃO AGRÍCOLA DE ÓBIDOS (CGO) 1 Em itálico o pessoal anónimo sem o qual o projecto não tinha viabilidade LD 5
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