Agravo de Instrumento n Relator: Desembargador Stanley Braga

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1 Agravo de Instrumento n Relator: Desembargador Stanley Braga AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MATERIAIS AJUIZADA POR CONDOMÍNIO EM FACE DE CONSTRUTORA. JUSTIÇA GRATUITA INDEFERIDA NA ORIGEM. AGRAVANTE QUE JÁ TEVE DOIS PEDIDOS DE GRATUIDADE NEGADOS EM DUAS OUTRAS DEMANDAS, UMA DELAS MOVIDA CONTRA A PARTE AGRAVADA. EVIDÊNCIAS DE QUE AS DESPESAS DE UM NOVO PROCESSO ACARRETARÃO ÔNUS DEMASIADO PARA A COLETIVIDADE DE APENAS 17 (DEZESSETE) CONDÔMINOS REPRESENTADA PELO AGRAVANTE. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL QUE JUSTIFICA A CONCESSÃO DA BENESSE COM VISTAS À FACILITAÇÃO DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO (ART. 6º, VIII, DO CDC). DECISÃO REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n , da comarca de Palhoça (2ª Vara Cível) em que é agravante Condomínio Residencial Recanto do Sossego e agravada APHR Construtora e Incorporadora Ltda. EPP. A Sexta Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Custas legais. O julgamento, realizado nessa data, foi presidido pela Exma. Sra. Desa. Denise Volpato, e dele participaram o Exmo. Sr. Des. Monteiro Rocha e o Exmo. Sr. Des. André Luiz Dacol. Florianópolis, 14 de novembro de Desembargador Stanley Braga Relator

2 RELATÓRIO Condomínio Residencial Recanto do Sossego interpôs Agravo de Instrumento da decisão interlocutória que indeferiu o seu pedido de justiça gratuita e determinou o recolhimento das custas iniciais, sob pena de extinção da Ação de Indenização por danos materiais decorrentes de defeitos de construção que move contra a APHR Construtora e Incorporadora Ltda. EPP. Alegou, em síntese, que não possui condições de arcar com as despesas do processo. O efeito suspensivo foi deferido à fl Certificada a impossibilidade de intimação da agravada no primeiro endereço indicado pela agravante, foi determinada a intimação da agravada no novo endereço desta, porém não houve contrarrazões. Este é o relatório. 2

3 VOTO Da admissibilidade: Presentes os pressupostos legais, o recurso é conhecido. Do julgamento: Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo Condomínio Residencial Recanto do Sossego, no qual este se insurgiu contra o indeferimento da benesse da Justiça Gratuita. Preliminares: Não foram suscitadas preliminares. Mérito: O Magistrado a quo entendeu que, em razão da existência de saldo na conta bancária do Condomínio, nada impede o recolhimento das custas processuais, que podem ser rateadas entre os condôminos. Cediço que apenas "faz jus ao benefício de justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais" (Súmula 481 do Superior Tribunal de Justiça). Isso porque não têm em seu favor a presunção da hipossuficiência (TJDF, AG , rela. Desa. Nídia Corrêa Lima, j.: 1º ). Cumpre verificar se o agravante faz jus à benesse, no caso concreto. Saliente-se, de início, que, nos autos n , outra ação de indenização que o Condomínio propôs em face da mesma construtora, na 1ª Vara Cível da comarca de origem, verifica-se que a gratuidade foi inicialmente deferida ao Condomínio mas posteriormente revogada após, impugnação da demandada. Esta Corte, no Agravo de Instrumento n , de Palhoça, rel. Des. Lédio Rosa de Andrade, j , relativo a outra demanda, também originária da 1ª Vara Cível, 3

4 manteve o indeferimento da gratuidade em demanda que o Condomínio move contra a Ultragaz. A questão em debate, embora pareça simples, requer atenção. De acordo com o recorrente, a presente demanda tem por objeto discussão quanto a vícios de construção, cujos consertos pretende ver compensados. A apuração do valor da causa, simbolicamente estimado em R$ 1.000,00 (mil reais), certamente se sujeitará ao arbitramento de uma perícia em tordo na desvalorização do prédio, do custo dos reparos da edificação e das perdas e danos decorrentes de equipamentos irrecuperáveis. Como visto, o Condomínio já tem o ônus de suportar as custas de duas ações judiciais, o que implica pagamento das taxas judiciárias e dos honorários advocatícios dos advogados da parte contrária, na hipótese de sucumbência. Nos autos n , em que discute direito de indenização em face da construtora, verifica-se a partir da movimentação processual que o agravante também ficou com o dever de antecipar honorários de perito judicial. De acordo com a decisão que revogou a benesse naquele processo, o Residencial Recanto do Sossego II, situado na Rua Alexandria, 264, em Palhoça, é composto de apenas 17 unidades imobiliárias de padrão comum, com valor de venda no mercado, segundo pesquisa realizada na internet, em R$ ,00 (duzentos e sessenta mil reais). Colhe-se das fls do processo de origem (autos digitais n ), que o condomínio, ao menos de agosto de 2015 até janeiro de 2016, dois meses antes do ajuizamento desta ação, vinha tendo uma receita mensal média que não chegava a R$ 6.000,00 (seis mil reais). Suas despesas ordinárias, também variáveis, referentes àquele 4

5 período, oscilaram no mesmo patamar, o que significa que o agravante não dispõe de sobras para suportar os encargos processuais sem comprometer o seu funcionamento. Portanto, imputar-lhe mais uma despesa extraordinária, por força desta demanda (a qual já deu ensejo a custas e certamente importará despesas com perícia), tornará a vida dos condôminos mais onerosa. No contexto, a provável hipótese de ter de realizar uma arrecadação extraordinária evidencia isso. Impossível desconsiderar essa realidade diante do fato de que condomínios não visam ao lucro. Ora, não é somente a saúde financeira do Condomínio que está em jogo, mas também a dos proprietários de suas unidades, da qual, aliás, aquela depende. Saúde esta que se desconhece, especialmente a capacidade de suportarem, em um conjunto de poucas pessoas são apenas 17 unidades, insista-se, as despesas de mais um processo movido contra a construtora do edifício. Conforme demonstram inúmeros casos já apreciados nesta Corte, trata-se de caso que, não raro, também exige outras despesas, a exemplo da contratação de profissionais assistentes para se assegurar direitos em juízo. Logo, não se está a tutelar o agravante propriamente, mas a coletividade de proprietários que ele representa, todos consumidores perante a construtora, a merecerem a facilitação da defesa em juízo (art. 6º, VIII, do CDC). Nesse sentido, mutatis mutandis, esta Corte já decidiu: "aplicam-se as diretrizes do Código de Defesa do Consumidor às ações de reparação por vícios construtivos ajuizadas pelo condomínio, na representação dos proprietários das unidades [...]" (TJSC, Apelação Cível n , da Capital, rel. Des. João Batista Góes Ulyssea, j ). Por tais razões, diante das peculiaridades retratadas, a justiça gratuita deve ser deferida ao condomínio, em caráter excepcional, neste caso. 5

6 Conclusão: Ante o exposto, conhece-se do recurso e dá-se-lhe provimento, a fim de deferir a benesse da gratuidade à construtora no presente processo. Este é o voto. 6