INCIDÊNCIA DE CAUDAIS DE ÁGUAS PLUVIAIS EM REDES DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS -Dois casos de estudo em Municípios do Norte de Portugal-
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1 INCIDÊNCIA DE CAUDAIS DE ÁGUAS PLUVIAIS EM REDES DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS -Dois casos de estudo em Municípios do Norte de Portugal- Solange S. ALMEIDA Engª Civil, UTAD, Quinta de Prados, Vila Real, , Paulo S. MONTEIRO Professor auxiliar, FEUP, R. Dr. Roberto Frias, , Porto, , Resumo: Os caudais excedentes resultantes, directa ou indirectamente, da precipitação são um dos principais factores considerados prejudiciais no âmbito de uma boa operação dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais domésticas. O reconhecimento dos problemas relacionados com os caudais excedentes em redes de drenagem de águas residuais e estações de tratamento, associados à constante procura de critérios cada vez mais exigentes no domínio da gestão e operação destes sistemas, são razões suficientes para considerar os caudais excedentes como um motivo de actual preocupação e assunto de crescente investigação nos últimos anos. A caracterização e a quantificação de caudais excedentes representam os primeiros passos em estudos que visam uma melhor compreensão sobre a incidência destes caudais em redes de drenagem e em estações de tratamento de águas residuais. A compreensão da natureza e amplitude destes caudais constitui a base para desenvolver metodologias operacionais que se destinem a melhorar a eficiência hidráulica dos sistemas de drenagem e de tratamento e, consequentemente, do ambiente em geral. No âmbito desta comunicação apresentam-se os estudos realizados em duas bacias subsidiárias de estações de tratamento em municípios do Norte de Portugal. Com base nos dados disponíveis de registos de caudais nas estações de tratamento e de precipitação fez-se a separação e quantificação das componentes resultantes de escoamento superficial e de infiltração que constituem os caudais excedentes afluentes às respectivas estações de tratamento. Palavras-chave: águas residuais, caudais excedentes, escoamento superficial, infiltração, estação de tratamento.
2 1 INTRODUÇÃO A monitorização das estações de tratamento de águas residuais recentemente construídas tem revelado que existe uma forte relação entre a ocorrência de eventos pluviométricos e o aumento do volume dos efluentes nas etar. Este facto, não sendo inédito, é actualmente motivo de preocupação por parte das entidades gestoras dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais, uma vez que estes caudais podem revelar-se prejudiciais no âmbito de uma boa operação dos sistemas. Estes caudais tem como principal causa, directa ou indirecta, a precipitação. A incidência dos caudais excedentes sobre a rede de drenagem, os equipamentos operacionais da estação de tratamento e, por último, sobre o meio receptor depende fundamentalmente do volume gerado e da sua distribuição ao longo do tempo. Os efeitos mais relevantes prendem-se com, a frequente entrada em carga dos colectores quando ocorre precipitação intensa, a diminuição generalizada da eficiência dos órgãos de tratamento motivado por alteração das cargas hidráulicas e da carga de poluentes em resultado do acréscimo dos caudais afluentes, abaixamento da temperatura da massa líquida nos tanques de arejamento e ainda o transporte e arrasto de biomassa para os tanques de decantação primária e secundária nas estações de tratamento. Desta forma, é habitual o lançamento no meio receptor de efluentes tratados inadequadamente de que resulta frequentemente a acumulação de sólidos suspensos e sedimentos junto dos locais de descarga, a redução das concentrações de oxigénio da massa líquida e, por último, a criação de condições propícias para o desenvolvimento de fenómenos de eutrofização que certamente podem vir a comprometer a qualidade da água no próprio meio receptor. Do ponto de vista económico é importante salientar também a influência que o aumento de volumes tratados, devidos aos caudais excedentes, podem representar na gestão de sistemas de tratamento. Geralmente, os custos de operação envolvidos podem revelar-se bastante superiores aos valores esperados. No âmbito da presente comunicação foi realizado um estudo sobre caudais excedentes em duas bacias de drenagem urbana com características fisiográficas, pluviométricas e demográficas distintas. Uma localiza-se em Mirandela e a outra na região do Porto. Os resultados obtidos permitem compreender melhor a incidência dos caudais de águas pluviais em redes de drenagem de águas residuais, designadamente a sua origem e magnitude e podem, assim, contribuir para melhorar a eficiência da gestão tanto ao nível das redes de drenagem como nas próprias etar. 2 ORIGEM E NATUREZA DOS CAUDAIS EXCEDENTES Os caudais excedentes que afluem à rede de drenagem de águas residuais domésticas podem subdividir-se em dois grupos fundamentais. Em geral, a distinção entre os diversos tipos de caudais excedentes faz-se tendo em consideração o modo distinto como estes se relacionam com a ocorrência de eventos pluviométricos. Assim, existe um grupo de caudais excedentes que apresenta uma relação directa e relativamente imediata, no tempo, com a precipitação. Existe ainda outro grupo que, embora dependa também da precipitação, não se manifesta de uma forma directa, no tempo, após a ocorrência da precipitação. A especificidade de cada uma das parcelas implica diferentes abordagens, quer ao nível da sua quantificação, quer ao nível de eventuais intervenções preventivas ou correctivas na rede de drenagem e na estação de tratamento de águas residuais. 2.1 Caudais resultantes directamente da precipitação Os caudais resultantes directamente da precipitação podem distinguir-se em escoamento directo e drenagem rápida.
3 Os caudais resultantes de escoamento directo representam uma reacção, relativamente curta no tempo, da bacia de drenagem a um evento pluviométrico. Geralmente estes caudais aparecem quando chove e dissipam-se pouco tempo depois da precipitação cessar. A sua existência pode variar de alguns minutos a algumas horas após o início de uma chuvada. Uma vez que esta parcela resulta directamente da ocorrência de precipitação apresenta uma distribuição temporal aleatória. O escoamento directo deve-se, fundamentalmente, a ligações domiciliárias indevidas de ramais de descarga de águas pluviais a colectores separativos de águas residuais domésticas. Os pontos de entrada na rede destes caudais são pontuais e, por isso, facilmente identificáveis na rede. Os caudais de ponta que ocorrem em colectores e estações de tratamento resultam, em boa parte, da parcela resultante do escoamento directo. A drenagem rápida representa uma resposta rápida e directa a eventos pluviométricos e resulta, essencialmente, da percolação da água através do solo que é drenada pelos colectores antes de contribuir para a recarga de aquíferos. O tempo de resposta a uma precipitação pode durar algumas horas ou mesmo alguns dias dependendo fundamentalmente, do estado hídrico do solo, das condições geológicas locais e também das características da precipitação. Os caudais que resultam de drenagem rápida atingem o colector essencialmente pelas juntas ou por fissuras existentes na rede ou ainda através das câmaras de visita. Estes caudais podem ser bastante significativos, principalmente, durante longos períodos de precipitação. As parcelas de escoamento directo e drenagem rápida constituem uma contribuição temporária de caudais excedentes em sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais uma vez que surgem quando chove e dissipam-se pouco tempo depois da precipitação cessar. Geralmente são estes caudais, não obstante a sua curta duração no tempo, os responsáveis pelos elevados caudais de ponta verificados nas estações de tratamento em época de chuva. No âmbito desta comunicação o escoamento directo e a drenagem rápida são designados por escoamento superficial. 2.2 Caudais resultantes de infiltração Os caudais de infiltração resultam da drenagem das águas freáticas e representam uma relação indirecta com os eventos pluviométricos. Estes caudais dependem da posição do nível freático em relação ao nível do colector. As águas de infiltração atingem o colector essencialmente pelas juntas ou por fissuras existentes na rede e constituem, por isso, contribuições difusas no espaço. Esta parcela caracteriza-se por ser pouco influenciada por eventos pluviométricos isolados, contudo tem tendência a manter-se relativamente persistente ao longo do tempo apresentando uma variação essencialmente sazonal. 3 SEPARAÇÃO DAS COMPONENTES DE CAUDAL AFLUENTES À ETAR Nos caudais que afluem aos sistemas distinguem-se as parcelas de origem doméstica e de caudais excedentes anteriormente referidos. De um modo geral, a separação é feita com base nas características particulares que distinguem cada parcela. Factores como a origem e a variação ao longo do tempo são fundamentais para o estabelecimento de critérios a utilizar para identificar e separar cada uma das fracções de caudais. Os métodos e técnicas conhecidos são vários dependendo a escolha, essencialmente, do tipo de registos de que se dispõe, quer de precipitação quer de caudais na etar, e também do grau de especificidade requerido no estudo.
4 3.1 Caudais de origem doméstica A avaliação dos caudais de origem doméstica foi realizada com base nos registos de caudais medidos na etar. De um modo geral, os caudais de origem doméstica apresentam uma forte variabilidade ao longo do dia, da semana e até ao longo do ano. Quando se desconhecem as características de consumo ao longo do dia a separação da fracção doméstica baseia-se no método das diferenças diárias. Este método consiste na selecção de caudais diários relativos a períodos de tempo seco durante a época estival. Desta forma admite-se que não há influência de precipitação, através das suas componentes de escoamento directo e drenagem rápida, assim como, do nível freático, através da componente de infiltração, no caudal afluente à etar. Nestas condições assume-se que o caudal afluente à rede tem origem exclusivamente doméstica. No sentido de prevenir possíveis influências de precipitação nos limites dos intervalos seleccionados estes deverão ser escolhidos por forma a estarem afastados 2 dias após o fim da precipitação [(BELHADJ (1994)]. A análise dos caudais representativos nos intervalos de tempo com as características referidas permite estimar o caudal médio diário em período seco, ou seja, o caudal de origem doméstica. 3.2 Caudais excedentes A separação das várias componentes do caudal afluente à etar foi feita utilizando o método do triângulo [HALLER et al. (21)]. Este método consiste na organização de séries cronológicas em séries de caudais classificados aplicado aos caudais afluentes às estações de tratamento de águas residuais. A utilização de uma curva de caudais classificados possibilita a quantificação dos volumes gerados por cada uma das parcelas, no final de uma série temporal, mediante a separação das áreas na curva de caudais classificados que são equivalentes aos volumes de infiltração e de escoamento superficial. A utilização deste método implica a ordenação e representação dos caudais diários, registados nas etar, por ordem crescente de grandeza e em percentagem do valor máximo verificado no período considerado no estudo. Considera-se que a componente de origem doméstica se mantém constante ao longo do tempo. A área que se situa abaixo da linha característica do caudal de origem doméstica corresponde ao volume anual de água residual doméstica. Por outro lado, a área compreendida entre a curva de caudais e a horizontal relativa ao caudal médio de origem doméstica é equivalente ao volume anual excedente que aflui à etar resultante de escoamento superficial e infiltração. A separação das componentes de escoamento superficial e de infiltração obtém-se assumindo que a componente de infiltração atinge o seu máximo depois de períodos chuvosos. Por outro lado, admite-se que a infiltração é tanto menor, podendo mesmo admitir-se nula, quanto maior for a componente devida directamente a precipitação porque nestes casos pode ocorrer também exfiltração. Da análise dos registos de caudais nas etar e da precipitação contabilizam-se os dias em que ocorre precipitação bem como os dias seguintes em que a sua influência se faz sentir. No diagrama de caudais classificados estes dias são marcados, em percentagem, da direita para a esquerda e o ponto de intersecção da respectiva abcissa com a curva de caudais totais corresponde ao início da linha de separação. O final desta linha corresponde à intersecção, à direita, com a linha horizontal da componente doméstica onde esta intersecta a abcissa dos 1%. As áreas definidas acima e abaixo desta linha de separação correspondem, respectivamente, aos volumes devidos ao escoamento superficial e infiltração.
5 4 APLICAÇÃO A DOIS CASOS DE ESTUDO DO NORTE DE PORTUGAL 4.1 Breve descrição dos sítios O estudo de caudais excedentes foi realizado nas bacias subsidiárias das etar de Mirandela e do Freixo, localizadas em municípios do Norte de Portugal. As bacias subsidiárias das etar apresentam características fisiográficas, pluviométricas e demográficas distintas. A etar de Mirandela situa-se na cidade de Mirandela, em Trás-os-Montes, e serve toda a população da cidade e duas aldeias limítrofes que no total representam, actualmente, cerca de 125 habitantes. A etar de Mirandela entrou em funcionamento em 1997 e foi projectada para tratar, no final de suficiência da obra que corresponde ao ano 23, o caudal máximo de 35 m 3 /dia. A etar do Freixo situa-se na cidade do Porto e serve uma parte da cidade. O sistema de drenagem e tratamento de águas residuais da cidade do Porto compreende dois subsistemas: o subsistema ocidental que drena para a etar de Sobreiras, e o subsistema oriental que drena para a etar do Freixo. O subsistema oriental serve toda a zona leste da cidade e ainda parte da zona sul e uma pequena parte da zona norte, designadamente, as freguesias de Campanhã, Bonfim, Santo Ildefonso, Sé e Vitória, que no conjunto e de acordo com os dados censitários de 21 representam cerca de 85 habitantes. A etar do Freixo entrou em funcionamento em Julho de 2 e foi projectada para servir no horizonte de projecto, no ano 22, 17 habitantes equivalente. Os dados disponíveis das bacias subsidiárias das etar de Mirandela e do Freixo referem-se a valores diários de caudais e a registos de precipitação, também diários, relativos às estações pluviométricas de Mirandela e da Serra do Pilar, respectivamente. Os dados referem-se ao ano de 1999 em Mirandela e ao ano de 22 no Freixo.
6 4.2 Bacia subsidiária da ETAR de Mirandela A representação cronológica dos registos pluviométricos e de caudais diários afluentes à etar de Mirandela, no ano de 1999 encontra-se representada na figura 1. Durante este ano verificaram-se algumas lacunas em registos de caudais na etar pelo que, o intervalo de estudo restringe-se a 34 dias. Neste intervalo de tempo o volume afluente à etar foi de m 3. 6 Caudal (m 3 /dia) Precipitação diária (mm) 1-Jan Abr- 1-Mai Jan Fev Mar 99 Abr 99 Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 1 Figura 1 Diagrama cronológico de caudais medidos na etar de Mirandela e da precipitação registada durante o ano de (caudal eixo inferior; precipitação eixo superior). Da análise do diagrama cronológico de caudais e precipitações diários verifica-se que existe uma clara correspondência do aumento de caudal com as precipitações mais elevadas. Os dias em que o caudal tende a ser mais elevado são antecedidos por um período de precipitação mais longo. É ainda possível observar um decaimento generalizado dos caudais na forma de uma curva de esgotamento, nos dias que se seguem ao fim da precipitação. Este decaimento pode ter interpretação no efeito da drenagem rápida na rede. O caudal médio diário de origem doméstica foi estimado a partir da média dos caudais registados em 91 dias em tempo seco durante a época estival, cujo valor foi estimado em cerca de 1332 m 3 diários. Com base neste valor, que se considera constante, e nos registos cronológicos dos caudais brutos afluentes construi-se a curva de caudais classificados. As parcelas relativas a escoamento superficial e infiltração obtém-se de acordo com a metodologia apresentada no ponto 3.2 cuja representação se mostra na figura 2.
7 Figura 2 Aplicação do método do triângulo para a separação das parcelas de origem doméstica, infiltração e escoamento superficial Etar de Mirandela, A área correspondente ao escoamento superficial é relativamente superior à área associada à infiltração pelo que, em termos gerais, a contribuição do primeiro é mais significativo do que a do segundo no conjunto dos caudais excedentes. Em termos globais o volume devido a caudais excedentes por infiltração e escoamento superficial, representaram cerca de 13,1% do volume total tratado na etar durante o ano (ver ponto 5). Este tipo de análise resulta numa avaliação global cujos resultados permitem apenas uma quantificação geral em termos médios no período em estudo. Contudo os problemas mais graves que se conhecem em sistemas de drenagem e de tratamento surgem para caudais que são atingidos num curto espaço de tempo, ou seja, os caudais de ponta. Frequentemente os elevados caudais de ponta, gerados por precipitações intensas, ultrapassam as capacidades hidráulicas quer da rede de drenagem quer da estação de tratamento. O aumento súbito de caudal é a principal causa para a perda, parcial ou total, de biomassa que ocorre em estações de tratamento quando chove. Assim, importa conhecer também a amplitude que estes caudais podem atingir em resultado de eventos pluviométricos. Deste modo, fez-se também a avaliação do acréscimo diário de volume afluente à etar, admitindo o volume diário de origem doméstica estimado atrás como o caudal esperado. O diagrama está representado na figura 3 e a sua análise é feita no ponto 5.
8 25 1 Incremento do volume médio de origem doméstica (%) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Figura 3 Incremento percentual do volume de origem doméstica ao longo do tempo em relação ao seu valor médio (incremento do volume médio de origem doméstica eixo inferior; precipitação eixo superior). Dados correspondentes à etar de Mirandela, Bacia subsidiária da ETAR do Freixo (Porto) A representação cronológica dos caudais afluentes à etar e da precipitação apresenta-se na figura 4. Caudal (m 3 /dia) Jan Jan31-Jan Fev2-Mar Mar1-Abr Abr1-Mai Mai31-Mai Jun3-Jun Jul 3-Jul Ago29-Ago Set 28-Set Out28-Out Nov27-Nov Dez27-Dez Figura 4 Diagrama cronológico de caudais medidos na etar do Freixo e da precipitação durante o ano de 22 (caudal eixo inferior; precipitação eixo superior) Precipitação diária (mm) Precipitação diária (mm)
9 Da análise dos dados projectados verifica-se que existe um comportamento entre a precipitação e o caudal afluente à etar de um modo geral semelhante ao que se passa para a situação de Mirandela. Exclui-se o incremento de caudal verificado no mês de Abril por não estar associado a eventos pluviométricos. O caudal de origem doméstica foi estimado com base em 86 dias de registo em tempo seco em período estival cujo valor é da ordem de m 3. Existe uma lacuna na medição de caudal desde o dia 9 de Dezembro e que se prolonga até ao fim do mês. O volume total afluente à etar nos 34 dias considerados foi de m 3. Aplicando o método do triângulo aos dados disponíveis e seguindo a metodologia anteriormente exposta obtém-se o gráfico da figura 5. Figura 5 Aplicação do método do triângulo para a separação das parcelas de origem doméstica, infiltração e escoamento superficial Etar do Freixo, 22. Relativamente às áreas definidas no gráfico da figura 5 associadas aos caudais excedentes a área relativa ao escoamento superficial é significativamente superior à área correspondente à infiltração, pelo que, globalmente, é aquele que mais contribui para o caudal excedente afluente à etar do Freixo. A contribuição global anual do volume devido aos caudais excedentes, por infiltração e escoamento superficial, é cerca de 1% do volume anual tratado na etar.
10 Em seguimento do mesmo critério estabelecido para o caso de Mirandela fez-se também a avaliação do incremento do volume de origem doméstica ao longo do tempo que se apresenta na figura 6 e se discute no ponto Aumento sobre o volume médio diário de origem doméstica (%) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Figura 6 Incremento percentual do volume de origem doméstico ao longo do tempo em relação ao seu valor médio (incremento do volume médio de origem doméstica eixo inferior; precipitação eixo superior). Dados correspondentes à etar do Freixo, Precipitação diária (mm) 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS Em geral, os resultados que se obtiveram pela aplicação do método do triângulo vem confirmar que as redes transportam caudais adicionais devidos a escoamento superficial e infiltração. Os resultados encontram-se resumidos no quadro 1. Quadro 1 Resumo da aplicação do método do triângulo para a separação de caudais nas etar de Mirandela e do Freixo (Porto). ETAR Médio diário Origem doméstica Total % do volume total Total Volume Infiltração Acréscimo percentual sobre o efluente doméstico Excedente Escoamento superficial Acréscimo percentual Total sobre o efluente doméstico Total % do volume total Mirandela 1332 m m 3 86,9% m 3 7,1% m 3 7,9% 13,1% Freixo m m 3 9,% m 3 3,2% m 3 7,9% 1,%
11 Deste quadro pode concluir-se que dos volumes afluentes às etar de Mirandela e Freixo as parcelas devidas à existência de caudais excedentes representaram, respectivamente, 13,1 e 1,% do volume total tratado. Enquanto que a componente resultante de escoamento superficial apresenta, nas duas estações de tratamento, valores da mesma ordem de grandeza, 7,9% de acréscimo sobre o efluente doméstico, a contribuição da componente de infiltração é, em Mirandela, relativamente maior que no Freixo. Neste caso, o acréscimo do efluente doméstico situa-se, em Mirandela, na ordem de 7,1% enquanto que no Freixo representa apenas 3,2%. As características fisiográficas das bacias e aspectos de ordem construtiva poderão explicar as diferenças entre os níveis de infiltração verificadas nas duas bacias. O carácter mais urbano da bacia subsidiária do Freixo resulta num maior índice de impermeabilização que pode condicionar a infiltração. Por outro lado, os métodos utilizados no tratamento das juntas, em grande parte da rede, também podem explicar os baixos índices de infiltração. No que se refere à avaliação do aumento diário do volume, de um modo geral, em ambos os casos, verifica-se que existe uma forte correspondência entre a ocorrência de precipitação e o aumento do caudal. Geralmente, o incremento de volume tende a ser maior quando a precipitação é mais intensa e prolongada. Este é o caso que se verifica, por exemplo, nos meses de Maio e Novembro em Mirandela e nos meses de Março, Outubro, Novembro e Dezembro no Freixo. Em Mirandela, durante o período considerado houve cinco dias em que foram registados volumes excedentes que ultrapassaram o volume doméstico em pelo menos 1%, o que representa um caudal afluente pelo menos igual ao dobro do volume esperado. O valor máximo representou um acréscimo da ordem de 23%, representando o triplo do volume esperado. No Freixo, durante o último mês, à excepção dos primeiros dias, os volumes excedentes quase sempre representaram acréscimos que excederam os 4%. O valor máximo foi atingido no dia 24 com o valor de 81,2%, o que representa cerca de 1,8 vezes o volume esperado. Em síntese, os resultados permitem concluir que ambas as redes separativas domésticas são fortemente influenciadas por caudais que resultam da precipitação. 6 CONCLUSÕES Actualmente as redes construídas em Portugal são essencialmente do tipo separativo. Na prática, são muitos os casos em que as redes funcionam como pseudo-separativas porque, em época de chuva, transportam também caudais pluviais. O trabalho aqui apresentado pretendeu ser um diagnóstico sobre o funcionamento dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais, fundamentalmente, no sentido de averiguar o grau de sensibilidade da cada um dos sistemas aos caudais pluviais. Os desafios que se colocam ao nível do saneamento básico tem tendência a modificar-se e a evoluírem à medida que novos problemas vão surgindo. A problemática que envolve os caudais excedentes em redes separativas domésticas é uma matéria de enorme actualidade e importância. Os efeitos conhecidos assim como os custos associados à existência destes caudais são razões suficientes para dar continuidade à investigação nesta matéria. O desenvolvimento de meios capazes de eliminar ou controlar a afluência dos caudais excedentes a redes separativas domésticas são os objectivos que se propõem no futuro. BIBLIOGRAFIA BELHADJ N. Variations par temps de pluie des débits dans les réseaux d'eaux usées de type séparatif: identification des composantes et modélisation des infiltrations. Nantes (França), Ecóle Nationale des Ponts et Chaussées, 1994.
12 BELHADJ N., JOANNIS C., RAIMBAULT G. - Modelling of rainfall induced infiltration into separate sewerage. Water Science and Technology, Vol. 32, n 1, pp , BREIL P. - Drainage des eaux claires parasites par les reseaux sanitaires. Mecanismes et approche quantitative. Montpellier (França), Université des Sciences et Techniques du Languedoc,199. DECRETO REGULAMENTAR Nº 23/95 Regulamento geral dos sistemas públicos e prediais de distribuição de água e de drenagem de águas residuais. Diário da República, 1ª Série, nº 194/95, de 23 de Agosto. DUPASQUIER B., JOANNIS C., RAIMBAULT G., ZIMMER D. - Modélisation hydrologique et hydraulique de l infiltrations d eaux parasites dans les réseaux séparatifs d eaux usées. Novatech 98, Lyon (França) 4-6 Maio1998, Sessão A3, Vol. 1, pp MATOS M. R. S. - Diagnóstico de sistemas de drenagem de águas residuais. Lisboa (Portugal), LNEC, MATOS M. R. S. Gestão integrada de águas pluviais em meio urbano Visão estratégica e soluções para o futuro. Lisboa (Portugal), LNEC, 2. RAIMBAULT G. - L infiltration des eaux pluviales. Génie urbain, Setembro / Outubro 2, pp WEIB G.; BROMBACH H.; HALLER B. Infiltration and Inflow in Combined Sewer Systems: Long- Term Analysis. Water Science and Technology, Vol 45, Nº 7, 22, pp
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