Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador A pulsão em Freud e Lacan (parte II)

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador A pulsão em Freud e Lacan (parte II)"

Transcrição

1 Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador 2016 A pulsão em Freud e Lacan (parte II) Marcus do Rio Teixeira II - Os componentes da pulsão Dando continuidade ao estudo da pulsão, abordaremos nesta aula os seus componentes da forma que Freud os define no seu artigo metapsicológico, bem como os comentários de Lacan a partir do seu Seminário 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Vimos desde a abordagem inicial do conceito que Lacan não subscreve inteiramente a teoria freudiana das pulsões, mas tampouco a rejeita na sua totalidade. Sua releitura da pulsão pretende radicalizar a definição freudiana ressaltando seus pontos principais e recusando o termo de pulsão àquilo que pertence ao campo da necessidade. Campo da necessidade e campo pulsional A montagem da pulsão é uma montagem que, de saída, se apresenta como não tendo pé nem cabeça. Se aproximarmos os paradoxos que vimos de definir no nível do Drang ao do objeto, ao do fim da pulsão, creio que a imagem que nos vem mostraria a marcha de um dínamo acoplado na tomada de gás, de onde sai uma pena de pavão que vem fazer cócegas no ventre de uma bela mulher que lá está incluída para a beleza da coisa. 1 A imagem sugerida por Lacan, além de evocar sua antiga amizade com o grupo surrealista e acrescentar um elemento erótico, sublinha o caráter inatural da pulsão. Nela, não se trata de algo da ordem da natureza, do saber inato do instinto, mas, como demonstra a lista dos seus componentes, trata-se de uma composição de elementos heteróclitos que altera e distorce o que concerne ao funcionamento natural do organismo. Marc Darmon 2 destaca o quanto a pulsão se afasta do âmbito da necessidade: As características dos elementos da pulsão afastam de qualquer confusão com uma necessidade. Para Marie-Christine Laznik 3, a leitura de Lacan esclarece (...) um dos maiores pontos de contradição no texto freudiano, o da possível confusão entre o registro da pulsão e o da necessidade vital. A autora identifica nas aulas do Seminário 11, Os quatro conceitos fundamentais da 1 LACAN, J. O Seminário, Livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise [ ]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008 (2ª edição), p DARMON, M. Pulsions. In:. Essais sur la topologie lacanienne. Paris: Editions de l Association Freudienne, p p LAZNIK, M.-C. Por uma teoria lacaniana das pulsões. In:. A Voz da Sereia - O autismo e os impasses na constituição do sujeito. Salvador: Ágalma, p p. 89.

2 psicanálise, os trechos em que Lacan critica o primeiro dualismo da pulsões, proposto por Freud pela primeira vez em (...) as oposições das ideias são apenas expressão das lutas entre os instintos [Triebe] que servem à sexualidade, à obtenção do prazer sexual, e os outros, que têm por meta a autoconservação do indivíduo, os instintos do Eu [Ichtriebe]. Todos os instintos orgânicos que atuam em nossa alma podem ser classificados como fome e amor, nas palavras do poeta. 4 Freud mantém esse dualismo no seu artigo de 1915: Sugeri diferenciar dois grupos de tais pulsões primordiais: as pulsões do Eu, ou de autopreservação, e as pulsões sexuais. 5 Essa classificação é muito estranha, considerando as próprias características da pulsão estabelecidas por Freud. Laplanche e Pontalis comentam que: Freud nunca se dedicou a apresentar uma exposição de conjunto sobre as diversas espécies de pulsões de autoconservação; quando fala delas, fala a maioria das vezes de forma coletiva ou segundo o modelo privilegiado da fome. 6 Lacan questiona a aplicação do termo pulsão às pulsões de autoconservação/pulsões do eu [Selbsterhaltungstriebe/Ichtriebe]. Sua crítica parte da noção de estímulo interno empregada por Freud. Mas o Reiz, de que se trata, concerne à pulsão, é diferente de qualquer estimulação proveniente do mundo exterior, ele é um Reiz interno. O que quer dizer isto? Temos, para explicitá-lo, a noção de necessidade, tal como ela se manifesta no organismo, em níveis diversos e primeiro no nível da fome, da sede. Aí está o que Freud parece querer dizer ao distinguir a excitação interna da excitação externa. Muito bem! Que seja dito que, desde as primeiras linhas, Freud coloca, da maneira mais formal, que não se trata absolutamente, no Trieb, da pressão de uma necessidade, tal como Hunger, a fome, ou o Durst, a sede. Com efeito, para examinar o que é do Trieb, refere-se Freud a algo cuja instância se exerce no nível do organismo em sua totalidade? Em seu estado de conjunto, faz o real aqui sua irrupção? É o vivo que está interessado aqui? Não. 7 Vemos que, para Lacan, não se trata de forma alguma do organismo considerado enquanto totalidade; tampouco faz sentido falar de pulsões para se referir a processos orgânicos, sobretudo quando o próprio Freud define a pulsão como uma força constante, o que não se aplica à necessidade. A constância do impulso proíbe qualquer assimilação da pulsão a uma função biológica, a qual tem sempre um ritmo. (...) ela não tem subida nem descida. É uma força constante. 8 Como observa Colette Soler acerca do que ela denomina a insistência repetitiva da pulsão: (...) ela restaura sua perda e então é para tudo recomeçar, donde o caráter incessante do empreendimento 4 FREUD, S. Concepção psicanalítica do transtorno psicogênico da visão. In:. Obras completas, vol. 9 (tradução: Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras, p p (O tradutor optou pelo termo instinto para traduzir Trieb). 5 FREUD, S. As pulsões e seus destinos (tradução: Pedro Heliodoro Tavares). Belo Horizonte: Autêntica Editora, LAPLANCHE, J. e PONTALIS, J.-B. Pulsões de autoconservação. In:. Vocabulário da psicanálise. Santos: Martins Fontes, p p LACAN, J. O Seminário, Livro Op. cit., p Id., ibid. p. 163.

3 pulsional, que o distingue muito da necessidade. A necessidade, isso se acalma; isso recomeça, mas isso se acalma. 9 Tomemos o exemplo preferido de Freud: a fome. Ela se aplaca com a ingestão do alimento e ressurge após o processo de digestão. Nada disso se assemelha à constância da pulsão, como veremos mais adiante ao abordarmos a noção de satisfação. Essa diferença entre o campo pulsional e o campo das necessidades vitais leva Lacan a abandonar o dualismo freudiano pulsões de autoconservação/pulsões do eu e pulsões sexuais. Segundo Laznik: Constatamos que Lacan entende por pulsão somente as pulsões sexuais (parciais) e remete o que concerne à conservação do indivíduo o que Freud chamou as Ichtriebe, as pulsões do eu a um registro diferente do pulsional. Esses pontos se tornarão mais claros quando abordarmos o Drang da pulsão Drang (pressão, impulso) A tradução do Drang é um dos pontos de concordância entre os tradutores. Ainda que oscilem na sua preferência entre pressão e impulso, os dois termos são considerados em geral como opções satisfatórias e suas considerações acerca do campo semântico do termo na língua alemã convergem nesse sentido. Lembremos que na edição brasileira dos Seminários de Lacan os tradutores preferiram o termo impulso, mais próximo do francês poussée. Em alemão, o substantivo Drang significa tanto um ímpeto ou pressão para descarga corporal (necessidade/urgência) quanto uma forte aspiração ou ânsia. Abarca o arco entre a necessidade (algo de ordem mais fisiológica) e a ânsia (algo da ordem da vontade) 10 Drang: pressão, é também passível de tradução por ímpeto ou ânsia. (...) Em vários dicionários, Drang aparece como um sinônimo possível para Trieb, em sua acepção de força impelente. A partir do presente texto [As pulsões e seus destinos] fica claro o particular aspecto de uma somação de força que apresenta o decorrente aspecto pressionador da pulsão, seu fator motor. 11 Impulso : tradução para Drang, que também pode significar ímpeto, como na famosa expressão Sturm und Drang, Tempestade e Ímpeto, que designa o movimento pré-romântico na literatura alemã, na segunda metade do século XVIII. 12 Quanto à definição freudiana, esta é concisa e esclarecedora: 9 SOLER, C. L en-corps du sujet. Cours Paris (sem indicação editorial). Aula de 16/01/2001. p.49 (tradução para uso interno: Graça Pamplona). 10 HANNS, L. Dicionário comentado do alemão de Freud. Rio de Janeiro: Imago, p TAVARES, P. H. Notas do tradutor. In: FREUD, S. As pulsões e seus destinos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, p SOUZA, P. C. Nota do tradutor. In: FREUD, S. Os instintos e seus destinos. Obras completas, vol. 12. São Paulo: Companhia das Letras, p. 57n.

4 Por pressão de uma pulsão entendemos seu fator motor, a soma da força ou a exigência de trabalho que ela representa. Esse caráter de exercer pressão é uma propriedade universal das pulsões, na verdade, sua própria essência. Toda pulsão é uma parcela de atividade; assim, quando, de maneira menos rigorosa, falamos de pulsões passivas, estamos nos referindo a pulsões cuja meta [Ziel] é passiva. 13 Acerca da definição do Drang como a própria essência da pulsão, Lacan é taxativo: A pulsão não é o impulso. O Trieb não é o Drang (...) 14 Trata-se, para ele, de refutar a concepção energética da pulsão: Na pulsão, não se trata de modo algum de energia cinética, não se trata de algo que vai se regrar pelo movimento. A descarga em questão é de natureza completamente diferente, e se coloca num plano completamente diferente. 15 A precisão com que Lacan distingue a força constante da pulsão da energia cinética, a qual é submetida à variação da aceleração, é um dos melhores exemplos de como a sua releitura da teoria freudiana é um trabalho teórico atento e rigoroso sobre as teses de Freud, que se distancia de uma leitura intuitiva como aquela que emprega imprecisamente o termo energia. As variações fisiológicas, as variações profundas, as que se inscrevem na totalidade do organismo, estão submetidas a todos os ritmos, senão às descargas mesmas que se podem produzir na ocasião da pulsão. Contrariamente, o que caracteriza o Drang, o impulso da pulsão, é a constância mantida, que é, para retomar uma imagem que vale o que vale na medida de uma abertura, até certo ponto individualizada, variável. Quer dizer, as pessoas têm maior ou menor goela. 16 Colette Soler assim comenta esse trecho do Seminário de Lacan: O que ainda é interessante sublinhar é que, embora não haja energética da pulsão, em outras palavras, que esta não seja contável de alguma maneira, a permanência da pulsão obedece a certa quantificação. Isto é, Lacan indica, ela está sujeita a um mais ou a um menos, conforme os sujeitos. Ela é individualizada. O quantum de Drang é individualizado. Não é o mesmo para todos os sujeitos. (...) É tão verdade que, no fundo, quase poderíamos falar a cada vez que se menciona um caso clínico é bastante difícil de evocar, do peso pulsional do caso. Quando se apresenta um caso, estamos obrigados, nos aferramos às balizas significantes porque são objetiváveis, transmissíveis, porém o peso pulsional do caso é um dado ao mesmo tempo muito presente e do qual é sempre difícil dar a medida na apresentação de um caso. 17 Destaco no comentário de Soler o uso clínico que ela extrai da observação de Lacan acerca da variação do Drang para cada sujeito. Essa variação, esse peso pulsional, como ela o chama, apesar de ter um papel importante no caso clínico, não é expresso pelo analista por não ser objetivável. É importante notar que a autora não subscreve a opinião que é uma espécie de senso comum lacaniano 13 FREUD, S. Pulsões e destinos da pulsão. In:. Obras psicológicas de Sigmund Freud, vol. 1 - Escritos sobre a psicologia do inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 2004 (tradução: Luiz HANNS). p LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p Id. Ibid., p Id. Ibid., p SOLER, C. L en-corps du sujet, Op. cit., aula de 06/02/2002, p. 78.

5 de que uma clínica orientada pelo ensino de Lacan deveria ater-se exclusivamente ao que é expresso enquanto significante. Anos mais tarde, na sua entrevista para o canal de TV ORTF em 1973, Lacan retorna ao conceito de pulsão e comenta o Drang, distinguindo-o mais uma vez da energia e definindo-o enquanto gozo. A me seguir nisso, quem não sentirá a diferença que há entre a energia, constante sempre identificável do Um com que se constitui o experimental da ciência, e o Drang, ou ímpeto da pulsão, que, sendo gozo, decerto retira tão somente das bordas corporais cheguei a dar a fórmula matemática disso sua permanência? 18 Soler comenta essa observação de Lacan: O que é que Lacan desenvolve aí? Primeiramente, que o impulso da pulsão não é aquele de uma energia (...) Ele diz: ele é gozo, e o gozo não é energia; o que quer dizer que ele não se inscreve. Ele o diz textualmente nessas páginas. Contudo, ela (a pulsão no singular) tem sua permanência, que ela extrai das bordas corporais. 19 Chamo a atenção para dois aspectos dessa citação de Lacan: primeiro, o fato de que ele retoma a sua crítica à concepção energética que se depreende do texto freudiano, conforme já havia feito no Seminário 11. Em segundo lugar, a sua definição do Drang como gozo. Ao fazer isso ele não autoriza concluir que o conceito de pulsão pode ser assimilado ao gozo, uma vez que ele próprio já havia dito que: A pulsão não é o impulso. O Trieb não é o Drang (...). 20 O Drang é um dos componentes da pulsão. Assim sendo, a pulsão não pode ser reduzida ao gozo, pelo menos não segundo Lacan. Ziel (Alvo ou meta) Mais uma vez, é preciso conhecer a opinião dos tradutores. Diferente de finalidade (Zweck), a meta (Ziel) é um alvo mais imediato e se refere ao mecanismo pulsional fisiológico de escoamento ou remoção da energia e à obtenção psíquica de prazer; a finalidade se refere à função biológica ou psíquica. 21 Vejamos como Freud define a meta (Ziel) da pulsão: A meta de uma pulsão é sempre a satisfação [Befriedigung], que só pode ser alcançada pela suspensão do estado de estimulação junto à fonte pulsional [Triebquelle] LACAN, J. Televisão. In: Outros Escritos, p SOLER, C. L en-corps du sujet..., Op. cit., aula de 06/02/02, p LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p HANNS, L Notas do tradutor brasileiro. In: FREUD, S. Obras psicológicas de Sigmund Freud, vol. 1..., Op. cit., p FREUD, S. As pulsões e seus destinos..., Op. cit., p. 25

6 Acerca dessa noção de satisfação, é importante conhecer o que dizem os tradutores para evitarmos mais uma vez uma leitura intuitiva. Befriedigung tem em satisfação sua melhor tradução. Causa estranhamento, talvez, que a pulsão caracterizada como uma força constante possa ser satisfeita. Ocorre que no português formamos o vocábulo a partir da noção do que é suficiente (latim: satis). No alemão, por sua vez, a palavra é formada pelo radical fried- (Frieden: paz), podendo ser entendida, portanto, como um parcial e momentâneo apaziguamento. 23 Assim, poderíamos constatar que no texto de Freud a palavra Erfüllung (realização) e o termo Wunsch (desejo) são dois elementos de uma trama que se contrapõe às palavras vontade (Lust) e necessidade (Bedürfnis). Estas duas últimas, geralmente associadas à palavra satisfação (Befriedigung) (eventualmente alívio, gozo) contrapõem uma outra trama. 24 Esses comentários esclarecem a aparente contradição entre a noção de satisfação e a ideia de uma força constante. Lacan vai mais adiante nesse ponto. O que quer dizer isto, a satisfação da pulsão? Vocês vão me dizer Bom, é muito simples, a satisfação da pulsão é chegar ao seu Ziel, a seu alvo. (...) Há uma coisa que objeta a isto imediatamente é bastante notável que ninguém a destacou, desde os tempos em que ela está aí a nos propor um enigma (...) Freud nos diz que a sublimação é também satisfação da pulsão, sendo que ela é zielgehemmt, inibida quanto a seu alvo. 25 Esse enigma, como Lacan o denomina, só pode ser esclarecido com o hoje famoso grafo da pulsão que ele traça mais adiante nesse mesmo Seminário. Nesse grafo o Drang da pulsão é representado como uma seta que parte da borda de um orifício corporal em direção ao objeto (que Lacan escreve com seu a minúsculo) para contorná-lo e, em seguida, retornar ao seu ponto de origem, fechando o circuito na forma de um remate (boucle). 23 TAVARES, P. H. Notas do tradutor. In: FREUD, S. As pulsões e seus destinos..., Op. cit., p HANNS, L. Os critérios de tradução adotados. In: FREUD, S. Obras psicológicas de Sigmund Freud, vol. 1..., Op. cit., p p LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p. 163

7 Aqui vai se esclarecer o mistério do zielgehemmt, dessa forma que pode tornar a pulsão, por atingir sua satisfação sem atingir seu alvo no que ele será definido pela função biológica, pela realização do emparelhamento reprodutivo. Pois não é esse o alvo da pulsão parcial. Qual é ele? Suspendamos ainda a resposta, mas debrucemo-nos sobre esse tema do alvo e sobre os dois sentidos que ele pode apresentar. Para diferenciá-los, escolhi notá-los aqui numa língua em que são particularmente expressivos, o inglês. Aim alguém que vocês encarregam de uma missão, isso não quer dizer o que ele deve levar, isto quer dizer por qual caminho deve passar. The aim, é o trajeto. O alvo tem uma outra forma, que é o goal. O goal, isso não é também, no lançamento com arco e flecha, o alvo, não é a ave que vocês abatem, é ter acertado o tiro e, assim, atingido o alvo de vocês. 26 Lacan dá ao termo alvo um sentido diferente daquele a que estamos habituados. Dessa forma esclarece o enigma da sublimação. Vimos que a satisfação da pulsão não é nada mais do que a realização de um trajeto em forma de circuito que vem se fechar em seu ponto de partida. 27 É para isto que quero chamar a atenção de vocês veem aqui, no quadro, desenhado num circuito pela curva dessa flecha que sobe e torna a descer, que atravessa, Drang que ela é na origem, a superfície constituída pelo que lhes defini da última vez como a borda, que é considerada na teoria como a fonte, a Quelle, quer dizer, a zona dita erógena na pulsão. A tensão é sempre um fecho, e não pode ser dessolidarizada de seu retorno sobre a zona erógena. 28 O que nos leva ao próximo componente da pulsão, a fonte. Quelle (fonte) Em Freud: Por fonte da pulsão entendemos o processo somático que ocorre em um órgão ou em uma parte do corpo e do qual se origina um estímulo representado na vida psíquica pela pulsão. 29 Em Lacan: Trata-se então para nós, no Drang da pulsão, de algo que é, e que só é conotável em relação à Quelle, na medida em que a Quelle inscreve na economia da pulsão essa estrutura de borda. 30 Para Lacan a fonte da pulsão se localiza preferencialmente nas bordas dos orifícios do corpo. Por que as zonas ditas erógenas só são reconhecidas nesses pontos que se diferenciam para nós por sua estrutura de borda? Por que se fala de boca, e não do esôfago ou do estômago? Eles 26 LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p LAZNIK, M.-C. Por uma teoria lacaniana das pulsões. Op. cit., p LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p FREUD, S. Obras psicológicas de Sigmund Freud, vol. 1..., Op. cit., p LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p. 169.

8 também participam da função oral. Mas ao nível erógeno, falamos de boca, e não somente da boca, dos lábios e dos dentes, disso que Homero chama cerca dos dentes. 31 Limitei-me às duas bordas que estão interessadas no trato. Eu teria podido também lhes dizer que a borda remelenta de nossas pálpebras, nossa orelha, nosso umbigo são igualmente bordas também, e que há tudo isso nessa função de erotismo. Na tradição analítica, reportamo-nos sempre à imagem estritamente focalizada das zonas reduzidas à sua função de borda. 32 Vimos na aula anterior 33 a importância do investimento libidinal desses orifícios por meio de exemplos inversos, ou seja, exemplos em que podemos notar as consequências adversas para o sujeito quando tais investimentos não se dão. Marie-Christine Laznik descreve casos clínicos de autismo, nos quais as bordas dos orifícios corporais não desempenham adequadamente suas funções orgânicas. Charles Melman sublinha o fato de que nos seres da linguagem os orifícios corporais servem a uma dupla função: (...) é o mesmo orifício para as necessidades e para os desejos. 34 Ele também fornece exemplos de casos em que o não investimento desses orifícios altera o seu funcionamento, como na síndrome de Cotard, em que o sujeito faz um delírio de que o seu corpo não possui orifícios. Para concluir que Então, o que sustenta o corpo, o que faz sua consistência, é o esburacamento, é o fato de que ele seja esburacado. 35 Objekt (objeto) Chegamos finalmente ao componente da pulsão ao qual Lacan confere um destaque. Freud assim o define: O objeto de uma pulsão é aquele junto ao qual, ou através do qual, a pulsão pode alcançar sua meta. É o que há de mais variável na pulsão, não estando originalmente a ela vinculado, sendo apenas a ela atribuído por sua capacidade de tornar possível a satisfação. Não é necessariamente um objeto material [Gegenstand] estranho ao sujeito, podendo ser até mesmo uma parte do seu corpo. 36 O tradutor chama a atenção para a escolha feita por Freud de um termo da língua alemã que possui um caráter mais abstrato. Em alemão conta-se para a noção de objeto com o vocábulo germânico Gegenstand, geralmente numa acepção de objeto material, podendo o vocábulo de origem latina Objekt revestir-se de maior abstração, denotando também representações ou concepções. 37 Para Lacan, trata-se do seu objeto a, cuja formalização teórica ele nos deu no seu Seminário 10, A Angústia, ainda que suas primeiras referências datem de bem antes. 31 LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p Id., ibid., p TEIXEIRA, M. do R. A pulsão em Freud e Lacan (parte I). Disponível em: 34 MELMAN, C. A questão do corpo em psicanálise. In:. Formas clínicas da nova patologia mental e artigos inéditos. Recife: Centro de Estudos Freudianos do Recife, p p Id., p FREUD, S. As pulsões e seus destinos..., Op. cit., p TAVARES, P. H. Notas do tradutor. In: FREUD, S. As pulsões e seus destinos..., Op. cit., p. 67.

9 O objeto da pulsão, como é preciso concebê-lo, para que se possa dizer que, na pulsão, qualquer que ele seja, ele é indiferente? (...) a esse seio, na sua função de objeto, de objeto a causa do desejo, tal como eu trago sua noção devemos dar uma função tal que pudéssemos dizer seu lugar na satisfação da pulsão. A melhor fórmula nos parece ser esta que a pulsão o contorna. 38 Essa superposição do seu conceito de objeto a que ele considera sua invenção ao objeto da pulsão teorizado por Freud pode parecer forçar a barra para alguns. Sabemos que a teoria lacaniana desperta até hoje muitas resistências e que o objeto a é um conceito particularmente controverso. Mas Lacan, obviamente, não é um ingênuo: ele não pretende revelar aqui nenhuma verdade oculta da teoria freudiana, mas marcar uma posição, estabelecer os pontos em que a sua teoria se distingue desta, embora apoiando-se nela. Ao frisar que não se trata, na pulsão, de um objeto qualquer, mas do objeto a, que a pulsão não atinge, mas contorna, ele dá um novo tratamento ao tema da satisfação pulsional e ressalta a dimensão real desse objeto. 39 No ano anterior, no seu Seminário 10, A Angústia, ele já havia aproximado o objeto a dos objetos das pulsões parciais. Aqui ele superpõe teoricamente o objeto a à estrutura quádrupla da pulsão: oral, anal, escópica e invocante. Para Soler: O uma instância é a pulsão; ela é quádrupla porque há as quatro pulsões parciais. (...) Reencontramos o objeto a, é o singular, e as quatro substâncias episódicas. Poderíamos quase dizer: a instância quádrupla do objeto a. 40 Resta um problema teórico: que relação possui o objeto a, aqui considerado enquanto objeto da pulsão, com o objeto a enquanto objeto do desejo e objeto da fantasia? A resposta não pode limitarse a afirmar simplesmente que se trata do mesmo objeto. No Seminário 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, no final da aula XIV, respondendo a uma pergunta de J.A. Miller sobre a relação entre esses objetos, Lacan começa distinguindo o objeto da pulsão: O objeto da pulsão deve ser situado no nível do que chamei metaforicamente uma subjetivação acéfala, uma subjetivação sem sujeito, um osso, uma estrutura, um traçado, que representa uma face da topologia. 41 Ele frisa, portanto, que na pulsão não é preciso que haja um sujeito para que haja um objeto. Ora, quando ele fala em seguida da fantasia vemos que é exatamente o contrário: nela, o sujeito está radicalmente implicado: Na fantasia, frequentemente o sujeito é despercebido, mas ele está sempre lá, quer seja no sonho, no devaneio, em não importa quais formas mais ou menos desenvolvidas. O sujeito se situa a si mesmo como determinado pela fantasia. A fantasia é a sustentação do desejo, não é o objeto que é a sustentação do desejo. 42 Daí podemos compreender porque Charles Melman vai afirmar: Então, como é que esse objeto, causa das pulsões parciais, regido por uma força constante na medida em que não está na pulsão ao termo de um caminho metonímico, em que ele está posto de saída, imediatamente, como é que esse objeto é a causa de uma força que não exerceu 38 LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p Deixemos de lado, por enquanto, a dimensão imaginária de tal objeto, no sentido que ele confere ao imaginário no seu Seminário 22, RSI: aquilo que consiste. 40 SOLER, C. L en-corps du sujet..., Op. cit., aula de 06/02/02, p LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p Id., ibid, p. 181.

10 nenhuma escalada e ao mesmo tempo nenhum trajeto metonímico e, logo, ao mesmo tempo, nenhuma dialética? Ele está ali, é tudo! É da ordem da certeza. 43 * Vimos que Lacan identifica o seu objeto a ao objeto da pulsão, o qual, ainda que seja materializado em partes do corpo, mantém a sua característica de objeto perdido. (...) pois ao mesmo tempo ele falta sempre, uma vez que a cadeia é de tal forma vetorizada que, mesmo que ela o tivesse atingido, ele ainda estaria perdido e fora. 44 Essa tensão entre o caráter material e imaterial do objeto a encontrará uma expressão teórica no Seminário 16, De um Outro ao outro ( ) com o termo mais-degozar. Este, diferentemente da causa do desejo, permite pensar o objeto a enquanto positivado nas partes do corpo que servem ao gozo. Mas como o objeto muda de uma pulsão a outra? Lacan responde recusando a leitura desenvolvimentista das fases: Não há nenhuma relação de engendramento de uma das pulsões parciais à seguinte. A passagem da pulsão oral à pulsão anal não se produz por um processo de maturação, mas pela intervenção de algo que não é do campo da pulsão pela intervenção, o reviramento, da demanda do Outro. 45 É por esse tema da demanda que retomaremos nosso estudo da pulsão na próxima aula. 43 MELMAN, C. Conclusão do Seminário de Verão de 200. In: O Seminário de Lacan: travessia Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Freudiano, p p Id., ibid., p LACAN, J. O Seminário, Livro 11..., Op. cit., p. 177.

11

Corpo e Pulsão Marcus do Rio Teixeira

Corpo e Pulsão Marcus do Rio Teixeira Corpo e Pulsão Marcus do Rio Teixeira Antes de tudo, é necessário explicitar a que estamos aludindo ao falarmos de corpo, evitando dessa forma nos referirmos ao corpo no sentido do senso comum: um dado

Leia mais

Corpo, Pulsão, Gozo - Curso Campo Psicanalítico de Salvador A pulsão em Freud e Lacan (parte I)

Corpo, Pulsão, Gozo - Curso Campo Psicanalítico de Salvador A pulsão em Freud e Lacan (parte I) Corpo, Pulsão, Gozo - Curso Campo Psicanalítico de Salvador 2016 A pulsão em Freud e Lacan (parte I) Marcus do Rio Teixeira I - Introdução Construção do conceito de pulsão Se a teoria psicanalítica nos

Leia mais

Curso 2017: Os gozos na teoria e na clínica psicanalíticas. Aula 2 (24/8/2017)

Curso 2017: Os gozos na teoria e na clínica psicanalíticas. Aula 2 (24/8/2017) Curso 2017: Os gozos na teoria e na clínica psicanalíticas Aula 2 (24/8/2017) Marcus do Rio Teixeira I - Pulsão de vida e pulsão de morte: uma releitura lacaniana Na primeira aula do curso Os gozos na

Leia mais

FREUD E LACAN NA CLÍNICA DE 2009

FREUD E LACAN NA CLÍNICA DE 2009 FREUD E LACAN NA CLÍNICA DE 2009 APRESENTAÇÃO O Corpo de Formação em Psicanálise do Instituto da Psicanálise Lacaniana- IPLA trabalhará neste ano de 2009 a atualidade clínica dos quatro conceitos fundamentais

Leia mais

Sofrimento e dor no autismo: quem sente?

Sofrimento e dor no autismo: quem sente? Sofrimento e dor no autismo: quem sente? BORGES, Bianca Stoppa Universidade Veiga de Almeida-RJ biasborges@globo.com Resumo Este trabalho pretende discutir a relação do autista com seu corpo, frente à

Leia mais

Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador 2016

Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador 2016 Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador 2016 A pulsão em Freud e Lacan (parte III) Marcus do Rio Teixeira III Pulsão e linguagem Introdução Abordaremos nesta aula a relação entre pulsão

Leia mais

Referências Bibliográficas

Referências Bibliográficas 98 Referências Bibliográficas ALBERTI, S. Esse Sujeito Adolescente. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 1999. APOLINÁRIO, C. Acting out e passagem ao ato: entre o ato e a enunciação. In: Revista Marraio.

Leia mais

O CONCEITO DE PULSÃO NA TEORIA FREUDIANA

O CONCEITO DE PULSÃO NA TEORIA FREUDIANA O CONCEITO DE PULSÃO NA TEORIA FREUDIANA Ciro Silva Pestana 1 RESUMO: O presente artigo propõe analisar as primeiras formulações freudianas sobre o conceito de pulsão. Busca, através dessa análise, demonstrar

Leia mais

Por uma teoria lacaniana das pulsões

Por uma teoria lacaniana das pulsões Por uma teoria lacaniana das pulsões Tradução: Luís Alberto Tavares No Seminário 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Lacan faz uma longa retomada do texto de Freud de 1915, As pulsões

Leia mais

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO. Mical Marcelino Margarete Pauletto Renata Costa

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO. Mical Marcelino Margarete Pauletto Renata Costa ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO Mical Marcelino Margarete Pauletto Renata Costa Objetivo Investigar a Alienação e Separação, conceitos fundamentais para entender: CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO SUBJETIVIDADE EIXOS DE ORGANIZAÇÃO

Leia mais

O MASOQUISMO E O PROBLEMA ECONÔMICO EM FREUD. Esse trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado, vinculada ao Programa de

O MASOQUISMO E O PROBLEMA ECONÔMICO EM FREUD. Esse trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado, vinculada ao Programa de O MASOQUISMO E O PROBLEMA ECONÔMICO EM FREUD Mariana Rocha Lima Sonia Leite Esse trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado, vinculada ao Programa de Pós Graduação em Psicanálise da UERJ, cujo objetivo

Leia mais

6 Referências bibliográficas

6 Referências bibliográficas 6 Referências bibliográficas BARROS, R. do R. O Sintoma enquanto contemporâneo. In: Latusa, n. 10. Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Psicanálise Seção Rio, 2005, p. 17-28. COTTET, S. Estudos clínicos.

Leia mais

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA PSICANALÍTICA Deptº de Psicologia / Fafich - UFMG

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA PSICANALÍTICA Deptº de Psicologia / Fafich - UFMG 1 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA PSICANALÍTICA Deptº de Psicologia / Fafich - UFMG Disciplina: Conceitos Fundamentais A 1º sem. 2018 Ementa: O curso tem como principal objetivo o estudo de conceitos

Leia mais

O OBJETO OLHAR E SUAS MANIFESTAÇÕES NA PSICOSE: O DELÍRIO DE OBSERVAÇÃO

O OBJETO OLHAR E SUAS MANIFESTAÇÕES NA PSICOSE: O DELÍRIO DE OBSERVAÇÃO 1 O OBJETO OLHAR E SUAS MANIFESTAÇÕES NA PSICOSE: O DELÍRIO DE OBSERVAÇÃO Ricardo Monteiro Guedes de Almeida 1 A psicanálise lacaniana adota uma perspectiva estrutural da psicose. No texto intitulado De

Leia mais

Escritores Criativos E Devaneio (1908), vol. IX. Fantasias Histéricas E Sua Relação Com A Bissexualidade (1908), vol. IX. Moral Sexual Civilizada E

Escritores Criativos E Devaneio (1908), vol. IX. Fantasias Histéricas E Sua Relação Com A Bissexualidade (1908), vol. IX. Moral Sexual Civilizada E 6 Bibliografia ANDRÉ, S., A Impostura Perversa, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1995. BROUSSE, M. H., A Fórmula do Fantasma? $ a, in Lacan, organizado por: Gérard Miller, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,

Leia mais

Tempos significantes na experiência com a psicanálise 1

Tempos significantes na experiência com a psicanálise 1 Tempos significantes na experiência com a psicanálise 1 Cássia Fontes Bahia O termo significante está sendo considerado aqui em relação ao desdobramento que pode tomar em um plano mais simples e primeiro

Leia mais

O OBJETO A E SUA CONSTRUÇÃO

O OBJETO A E SUA CONSTRUÇÃO O OBJETO A E SUA CONSTRUÇÃO 2016 Marcell Felipe Psicólogo clínico graduado pelo Centro Universitário Newont Paiva (MG). Pós graduado em Clínica Psicanalítica pela Pontifícia Católica de Minas Gerais (Brasil).

Leia mais

MULHERES MASTECTOMIZADAS: UM OLHAR PSICANALÍTICO. Sara Guimarães Nunes 1

MULHERES MASTECTOMIZADAS: UM OLHAR PSICANALÍTICO. Sara Guimarães Nunes 1 MULHERES MASTECTOMIZADAS: UM OLHAR PSICANALÍTICO Sara Guimarães Nunes 1 1. Aluna Especial do Mestrado em Psicologia 2016.1, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Tipo de Apresentação: Comunicação

Leia mais

Um tipo particular de escolha de objeto nas mulheres

Um tipo particular de escolha de objeto nas mulheres Um tipo particular de escolha de objeto nas mulheres Gabriella Valle Dupim da Silva Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia(PPGP/UFRJ)/Bolsista CNPq. Endereço: Rua Belizário Távora 211/104

Leia mais

O Fenômeno Psicossomático (FPS) não é o signo do amor 1

O Fenômeno Psicossomático (FPS) não é o signo do amor 1 O Fenômeno Psicossomático (FPS) não é o signo do amor 1 Joseane Garcia de S. Moraes 2 Na abertura do seminário 20, mais ainda, cujo título em francês é encore, que faz homofonia com en corps, em corpo,

Leia mais

Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador O objeto da pulsão

Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador O objeto da pulsão Corpo, Pulsão, Gozo Curso Campo Psicanalítico de Salvador 2016 O objeto da pulsão Marcus do Rio Teixeira Dentre os conceitos elaborados por Lacan, o objeto a talvez seja o que apresenta a maior dificuldade

Leia mais

Toxicomanias: contra-senso ao laço social e ao amor?

Toxicomanias: contra-senso ao laço social e ao amor? Toxicomanias: contra-senso ao laço social e ao amor? Rita de Cássia dos Santos Canabarro 1 Eros e Ananke são, segundo Freud (1930/1987), os pais da civilização. De um lado, o amor foi responsável por reunir

Leia mais

Revista da ATO escola de psicanálise Belo Horizonte A economia pulsional, o gozo e a sua lógica Ano 4, n.4 p ISSN:

Revista da ATO escola de psicanálise Belo Horizonte A economia pulsional, o gozo e a sua lógica Ano 4, n.4 p ISSN: Revista da ATO escola de psicanálise Belo Horizonte A economia pulsional, o gozo e a sua lógica Ano 4, n.4 p. 1-152 2018 ISSN: 23594063 Copyrigtht 2018 by ATO - escola de psicanálise Comissão da Revista

Leia mais

A ESSÊNCIA DA TEORIA PSICANALÍTICA É UM DISCURSO SEM FALA, MAS SERÁ ELA SEM ESCRITA?

A ESSÊNCIA DA TEORIA PSICANALÍTICA É UM DISCURSO SEM FALA, MAS SERÁ ELA SEM ESCRITA? A ESSÊNCIA DA TEORIA PSICANALÍTICA É UM DISCURSO SEM FALA, MAS SERÁ ELA SEM ESCRITA? Maurício Eugênio Maliska Estamos em Paris, novembro de 1968, Lacan está para começar seu décimo sexto seminário. Momento

Leia mais

Coordenador do Núcleo de Psicanálise e Medicina

Coordenador do Núcleo de Psicanálise e Medicina O corpo e os objetos (a) na clínica dos transtornos alimentares Lázaro Elias Rosa Coordenador do Núcleo de Psicanálise e Medicina Com este título, nomeamos o conjunto de nossos trabalhos, bem como o rumo

Leia mais

Histeria sem ao-menos-um

Histeria sem ao-menos-um Opção Lacaniana online nova série Ano 6 Número 17 julho 2015 ISSN 2177-2673 1 Angelina Harari Abordar o tema da histeria a partir da doutrina do UM tem como antecedente o meu passe, muito embora não se

Leia mais

A resistência como potência

A resistência como potência A resistência como potência Arthur Figer O fenômeno da resistência na teoria e clínica psicanalíticas é marcado por diferentes conceitos e interpretações, muitas vezes ambíguos e contraditórios. Ao mesmo

Leia mais

Escola Secundária de Carregal do Sal

Escola Secundária de Carregal do Sal Escola Secundária de Carregal do Sal Área de Projecto 2006\2007 Sigmund Freud 1 2 Sigmund Freud 1856-----------------Nasceu em Freiberg 1881-----------------Licenciatura em Medicina 1885-----------------Estuda

Leia mais

AS DUAS VERTENTES: SIGNIFICANTE E OBJETO a 1

AS DUAS VERTENTES: SIGNIFICANTE E OBJETO a 1 AS DUAS VERTENTES: SIGNIFICANTE E OBJETO a 1 Luiz Carlos Nogueira e Helena Bicalho 2 Instituto de Psicologia - USP Jair Abe 3 Instituto de Estudos Avançados - USP Este trabalho trata da relação entre a

Leia mais

Pulsão, linguagem e constituição do sujeito

Pulsão, linguagem e constituição do sujeito Pulsão, linguagem e constituição do sujeito Gilson Mota Se a vida é lugar, na medida em que é ordem que funciona como instinto que resiste à morte, pode-se dizer que a pulsão é tempo que tende à morte.

Leia mais

O falo, o amor ao pai, o silêncio. no real Gresiela Nunes da Rosa

O falo, o amor ao pai, o silêncio. no real Gresiela Nunes da Rosa Opção Lacaniana online nova série Ano 5 Número 15 novembro 2014 ISSN 2177-2673 e o amor no real Gresiela Nunes da Rosa Diante da constatação de que o menino ou o papai possui um órgão fálico um tanto quanto

Leia mais

Um rastro no mundo: as voltas da demanda 1

Um rastro no mundo: as voltas da demanda 1 Um rastro no mundo: as voltas da demanda 1 Maria Lia Avelar da Fonte 2 1 Trabalho apresentado no Simpósio de Intersecção Psicanalítica do Brasil. Brasília, 2006. Trabalho Publicado no livro As identificações

Leia mais

PROJETO EDUCAÇÃO SEM HOMOFOBIA SEXUALIDADE E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

PROJETO EDUCAÇÃO SEM HOMOFOBIA SEXUALIDADE E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO PROJETO EDUCAÇÃO SEM HOMOFOBIA SEXUALIDADE E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO Débora Maria Gomes Silveira Universidade Federal de Minas Gerais Maio/ 2010 ESTUDO PSICANALÍTICO DA SEXUALIDADE BREVE HISTÓRICO Na

Leia mais

5 Referências bibliográficas

5 Referências bibliográficas 82 5 Referências bibliográficas BAKER, L. R. Attitudes in Action. Separata de: LECLERC, A.; QUEIROZ, G.; WRIGLEY, M. B. Proceedings of the Third International Colloquium in Philosophy of Mind. Manuscrito

Leia mais

Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais - Almanaque On-line n 20

Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais - Almanaque On-line n 20 Entre a cruz e a espada: culpa e gozo em um caso de neurose obsessiva Rodrigo Almeida Resumo : O texto retoma o tema do masoquismo e as mudanças que Freud introduz ao longo da sua obra, evidenciando sua

Leia mais

Incurável. Celso Rennó Lima

Incurável. Celso Rennó Lima 1 Incurável Celso Rennó Lima Em seu primeiro encontro com o Outro, consequência da incidência de um significante, o sujeito tem de lidar com um incurável, que não se subjetiva, que não permite que desejo

Leia mais

O amor e a mulher. Segundo Lacan o papel do amor é precioso: Daniela Goulart Pestana

O amor e a mulher. Segundo Lacan o papel do amor é precioso: Daniela Goulart Pestana O amor e a mulher O que une os seres é o amor, o que os separa é a Sexualidade. Somente o Homem e A Mulher que podem unir-se acima de toda sexualidade são fortes. Antonin Artaud, 1937. Daniela Goulart

Leia mais

UM RASTRO NO MUNDO: AS VOLTAS DA DEMANDA 1 Maria Lia Avelar da Fonte 2

UM RASTRO NO MUNDO: AS VOLTAS DA DEMANDA 1 Maria Lia Avelar da Fonte 2 UM RASTRO NO MUNDO: AS VOLTAS DA DEMANDA 1 Maria Lia Avelar da Fonte 2 O tema da identificação é vasto, complexo e obscuro. Talvez por isso Lacan a ele se refira como a floresta da identificação. Embora

Leia mais

Latusa digital N 12 ano 2 março de Sinthoma e fantasia fundamental. Stella Jimenez *

Latusa digital N 12 ano 2 março de Sinthoma e fantasia fundamental. Stella Jimenez * Latusa digital N 12 ano 2 março de 2005 Sinthoma e fantasia fundamental Stella Jimenez * A palavra sinthoma aparece na obra de Lacan relacionada às psicoses, quando ele toma James Joyce como seu exemplo

Leia mais

(www.fabiobelo.com.br) O Corpo na Neurose. Prof. Fábio Belo

(www.fabiobelo.com.br) O Corpo na Neurose. Prof. Fábio Belo (www.fabiobelo.com.br) O Corpo na Neurose Prof. Fábio Belo O Corpo na Psicanálise Alvo das excitações do outro: libidinização sexual e/ou mortífira; Superfície do narcisismo; Objeto de amoródio do outro:

Leia mais

O gozo, o sentido e o signo de amor

O gozo, o sentido e o signo de amor O gozo, o sentido e o signo de amor Palavras-chave: signo, significante, sentido, gozo Simone Oliveira Souto O blá-blá-blá Na análise, não se faz mais do que falar. O analisante fala e, embora o que ele

Leia mais

Latusa digital ano 2 N 13 abril de 2005

Latusa digital ano 2 N 13 abril de 2005 Latusa digital ano 2 N 13 abril de 2005 A clínica do sintoma em Freud e em Lacan Ângela Batista * O sintoma é um conceito que nos remete à clínica, assim como ao nascimento da psicanálise. Freud o investiga

Leia mais

Curso de Extensão: LEITURAS DIRIGIDAS DA OBRA DE JACQUES LACAN/2014

Curso de Extensão: LEITURAS DIRIGIDAS DA OBRA DE JACQUES LACAN/2014 Curso de Extensão: LEITURAS DIRIGIDAS DA OBRA DE JACQUES LACAN/2014 Prof. Dr. Mario Eduardo Costa Pereira PROGRAMA - Io. SEMESTRE Março/2014 14/03/2014 CONFERÊNCIA INAUGURAL : Contextualização do seminário

Leia mais

8. Referências bibliográficas

8. Referências bibliográficas 8. Referências bibliográficas ABRAM, J. (2000). A Linguagem de Winnicott. Revinter, Rio de Janeiro. ANDRADE, V. M. (2003). Um diálogo entre a psicanálise e a neurociência. Casa do Psicólogo, São Paulo.

Leia mais

7 Referências Bibliográficas

7 Referências Bibliográficas 81 7 Referências Bibliográficas ARRIVÉ, M. Linguagem e psicanálise: lingüística e inconsciente. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1999. BAUMAN, Z. Vida líquida. (2009). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

Leia mais

Latusa digital N 10 ano 1 outubro de 2004

Latusa digital N 10 ano 1 outubro de 2004 Latusa digital N 10 ano 1 outubro de 2004 Política do medo versus política lacaniana Mirta Zbrun* Há três sentidos possíveis para entender a política lacaniana 1. Em primeiro lugar, o sentido da política

Leia mais

Imaginário, Simbólico e Real. Débora Trevizo Dolores Braga Ercilene Vita Janaína Oliveira Sulemi Fabiano

Imaginário, Simbólico e Real. Débora Trevizo Dolores Braga Ercilene Vita Janaína Oliveira Sulemi Fabiano Imaginário, Simbólico e Real Débora Trevizo Dolores Braga Ercilene Vita Janaína Oliveira Sulemi Fabiano Roteiro: 1) Breve relato sobre a primeira concepção de inconsciente em Freud - o corte epistemológico.

Leia mais

Título : A concepção do corpo a partir da psicanálise

Título : A concepção do corpo a partir da psicanálise Autora: Lísia Maria Filgueiras Rodrigues Wheatley Nota curricular: Mestranda em Pesquisa e Clínica em Psicanálise, Universidade do Estado do Rio de janeiro, Instituto de Psicologia, Rio de janeiro; atualmente

Leia mais

6 - Referências Bibliográficas

6 - Referências Bibliográficas 6 - Referências Bibliográficas AUSTER, Paul. (1982) A Invenção da Solidão. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. BERGÈS, Jean e BALBO, Gabriel. (1997) A Criança e a Psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas,

Leia mais

O real no tratamento analítico. Maria do Carmo Dias Batista Antonia Claudete A. L. Prado

O real no tratamento analítico. Maria do Carmo Dias Batista Antonia Claudete A. L. Prado O real no tratamento analítico Maria do Carmo Dias Batista Antonia Claudete A. L. Prado Aula de 23 de novembro de 2009 Como conceber o gozo? Gozo: popularmente, é traduzido por: posse, usufruto, prazer,

Leia mais

O lugar da terapêutica na psicanálise: Freud e Lacan *

O lugar da terapêutica na psicanálise: Freud e Lacan * O lugar da terapêutica na psicanálise: Freud e Lacan * The place of therapeutical in psychoanalysis: Freud and Lacan El lugar del terapéutico en psicoanálisis: Freud y Lacan Ednei Soares ** A psicanálise

Leia mais

A teoria das pulsões e a biologia. A descrição das origens da pulsão em Freud

A teoria das pulsões e a biologia. A descrição das origens da pulsão em Freud www.franklingoldgrub.com Édipo 3 x 4 - franklin goldgrub 6º Capítulo - (texto parcial) A teoria das pulsões e a biologia A descrição das origens da pulsão em Freud Ao empreender sua reflexão sobre a origem

Leia mais

A estranheza da psicanálise

A estranheza da psicanálise Antonio Quinet A estranheza da psicanálise A Escola de Lacan e seus analistas Rio de Janeiro Prefácio: Ex-tranha Não ficaria surpreso, diz Freud, em ouvir que a psicanálise, que se preocupa em revelar

Leia mais

recomendações Atualização de Condutas em Pediatria

recomendações Atualização de Condutas em Pediatria Atualização de Condutas em Pediatria nº 55 Departamentos Científicos da SPSP, gestão 2010-2013. Departamento de Endocrinologia Descompensação diabética Pais e bebê: interface entre Pediatria e Psicanálise

Leia mais

Componente Curricular: Psicoterapia I Psicanálise Professor(a): Dalmir Lopes Período: 8º TURNO: Noturno Ano:

Componente Curricular: Psicoterapia I Psicanálise Professor(a): Dalmir Lopes Período: 8º TURNO: Noturno Ano: CRÉDITOS Componente Curricular: Psicoterapia I Psicanálise Professor(a): Dalmir Lopes Período: 8º TURNO: Noturno Ano: 2015.2 TOTAL DE AULAS(h/a) CARGA HORÁRIA ATIVIDADES EM ESPAÇOS DIVERSIFICADOS CARGA

Leia mais

Daniel Sampaio (D. S.) Bom dia, João.

Daniel Sampaio (D. S.) Bom dia, João. Esfera_Pag1 13/5/08 10:57 Página 11 João Adelino Faria (J. A. F.) Muito bom dia. Questionamo- -nos muitas vezes sobre quando é que se deve falar de sexo com uma criança, qual é a idade limite, como é explicar

Leia mais

Referências bibliográficas

Referências bibliográficas Referências bibliográficas BEZERRIL, C. (relatora). Imagens da letra. Opção Lacaniana Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, n. 41, 2004. COTTET, S. La belle inertie. Note sur la depression en

Leia mais

Carta 69 (1897) in:... volume 1, p Hereditariedade e a etiologia das neuroses (1896) in:... volume 3, p Mecanismo Psíquico do

Carta 69 (1897) in:... volume 1, p Hereditariedade e a etiologia das neuroses (1896) in:... volume 3, p Mecanismo Psíquico do 104 Bibliografia: BORING, E. G. & HERRNSTEIN, R. J. (orgs.) Textos Básicos de História da Psicologia. São Paulo: Editora Herder, 1971. CAMPOS, Flavia Sollero. Psicanálise e Neurociência: Dos Monólogos

Leia mais

Curso 2017: Os gozos na teoria e na clínica psicanalíticas. Aula 4 (28/9/2017)

Curso 2017: Os gozos na teoria e na clínica psicanalíticas. Aula 4 (28/9/2017) Curso 2017: Os gozos na teoria e na clínica psicanalíticas Aula 4 (28/9/2017) Marcus do Rio Teixeira Na aula passada estudamos a construção da primeira aula do Seminário 20, Mais, ainda. Vimos que Lacan

Leia mais

6 Referências bibliográficas

6 Referências bibliográficas 6 Referências bibliográficas ABREU, T. Perversão generalizada. In: Agente: Revista digital de psicanálise da EBP-Bahia, n. 03. Salvador: EBP-Bahia, 2007. Disponível em: .

Leia mais

Do enigma ao cômico. Celso Rennó Lima

Do enigma ao cômico. Celso Rennó Lima O eixo deste trabalho pode ser dado a partir da afirmação de J-A. Miller em SILET: a toda falha simbólica responde uma inserção imaginária. Ao dizer isto, Miller trabalhava o caso, descrito por Lacan no

Leia mais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA VERSÃO CURRICULAR 2009/1 DISCIPLINA: Psicanálise I CÓDIGO: PSI

Leia mais

Instituto Trianon de Psicanálise

Instituto Trianon de Psicanálise Instituto Trianon de Psicanálise CLaP Centro Lacaniano de Pesquisa em Psicanálise Aula de 22.09.2009 Estádio do Espelho e Esquema Óptico Antonia Claudete Amaral Livramento Prado O corpo e o psíquico em

Leia mais

Latusa digital ano 4 N 31 novembro de 2007

Latusa digital ano 4 N 31 novembro de 2007 Latusa digital ano 4 N 31 novembro de 2007 Pedaços que faltam (sobre a origem do objeto a) Angela Cavalcanti Bernardes ** Tem mais presença em mim o que me falta. Manoel de Barros A construção do objeto

Leia mais

Como a análise pode permitir o encontro com o amor pleno

Como a análise pode permitir o encontro com o amor pleno Centro de Estudos Psicanalíticos - CEP Como a análise pode permitir o encontro com o amor pleno Laura Maria do Val Lanari Ciclo II, terça-feira à noite O presente trabalho tem por objetivo relatar as primeiras

Leia mais

8 Referências bibliográficas

8 Referências bibliográficas 8 Referências bibliográficas ANDRÉ, S. A impostura perversa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. BARANDE, R. Poderemos nós não ser perversos? Psicanalistas, ainda mais um esforço. In: M UZAN, M. et al.

Leia mais

ISSO NÃO ME FALA MAIS NADA! 1 (Sobre a posição do analista na direção da cura)

ISSO NÃO ME FALA MAIS NADA! 1 (Sobre a posição do analista na direção da cura) ISSO NÃO ME FALA MAIS NADA! 1 (Sobre a posição do analista na direção da cura) Arlete Mourão Essa frase do título corresponde à expressão utilizada por um ex-analisando na época do final de sua análise.

Leia mais

As Implicações do Co Leito entre Pais e Filhos para a Resolução do Complexo de Édipo. Sandra Freiberger

As Implicações do Co Leito entre Pais e Filhos para a Resolução do Complexo de Édipo. Sandra Freiberger As Implicações do Co Leito entre Pais e Filhos para a Resolução do Complexo de Édipo Sandra Freiberger Porto Alegre, 2017 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE PSICOLOGIA CURSO: INTERVENÇÃO

Leia mais

7. Referências Bibliográficas

7. Referências Bibliográficas 102 7. Referências Bibliográficas ANSERMET, François. Clínica da Origem: a criança entre a medicina e a psicanálise. [Opção Lacaniana n 02] Rio de Janeiro: Contra capa livraria, 2003. ARAÚJO, Marlenbe

Leia mais

VERSÕES DA HOMOSSEXUALIDADE NA PSICANÁLISE Luciana Marques 1

VERSÕES DA HOMOSSEXUALIDADE NA PSICANÁLISE Luciana Marques 1 VERSÕES DA HOMOSSEXUALIDADE NA PSICANÁLISE Luciana Marques 1 Após todos os movimentos que ao longo dos anos assistimos contra a patologização da homossexualidade, e apesar de todo o esforço de Freud ao

Leia mais

ANALISTAS E ANALISANDOS PRECISAM SE ACEITAR: REFLEXÕES SOBRE AS ENTREVISTAS PRELIMINARES

ANALISTAS E ANALISANDOS PRECISAM SE ACEITAR: REFLEXÕES SOBRE AS ENTREVISTAS PRELIMINARES ANALISTAS E ANALISANDOS PRECISAM SE ACEITAR: REFLEXÕES SOBRE AS ENTREVISTAS PRELIMINARES 2014 Matheus Henrique de Souza Silva Psicólogo pela Faculdade Pitágoras de Ipatinga-MG. Especializando em Clínica

Leia mais

O NÃO LUGAR DAS NÃO NEUROSES NA SAÚDE MENTAL

O NÃO LUGAR DAS NÃO NEUROSES NA SAÚDE MENTAL O NÃO LUGAR DAS NÃO NEUROSES NA SAÚDE MENTAL Letícia Tiemi Takuschi RESUMO: Percebe-se que existe nos equipamentos de saúde mental da rede pública uma dificuldade em diagnosticar e, por conseguinte, uma

Leia mais

PEDAGOGIA. Aspecto Psicológico Brasileiro. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Parte 4. Professora: Nathália Bastos

PEDAGOGIA. Aspecto Psicológico Brasileiro. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Parte 4. Professora: Nathália Bastos PEDAGOGIA Aspecto Psicológico Brasileiro Parte 4 Professora: Nathália Bastos FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES Consiste no modo de funcionamento psicológico tipicamente humano. Ex: capacidade de planejamento,

Leia mais

O ATO PSICANALÍTICO NO CAMPO DO GOZO. verificação e comprovação. Sendo esse o tema de nosso projeto de mestrado,

O ATO PSICANALÍTICO NO CAMPO DO GOZO. verificação e comprovação. Sendo esse o tema de nosso projeto de mestrado, O ATO PSICANALÍTICO NO CAMPO DO GOZO Liliana Marlene da Silva Alves Sérgio Scotti O ato psicanalítico é fonte de interrogação e instrumento de autorização para todo aquele que se propõe seguir uma prática

Leia mais

Otítulo deste trabalho faz referência a dois pensadores: Freud e Hegel,

Otítulo deste trabalho faz referência a dois pensadores: Freud e Hegel, DIALÉTICA DA PULSÃO André Oliveira Costa Otítulo deste trabalho faz referência a dois pensadores: Freud e Hegel, os quais puderam se encontrar através de um terceiro, Jacques Lacan. Este trabalho tem como

Leia mais

Prof. Me. Renato Borges

Prof. Me. Renato Borges Freud: Fases do desenvolvimento Prof. Me. Renato Borges Sigmund Freud Médico Nasceu em 1856 na República Tcheca e viveu em Viena (Áustria). Morreu em Londres em 1839, onde se refugiava do Nazismo. As três

Leia mais

O estatuto do corpo no transexualismo

O estatuto do corpo no transexualismo O estatuto do corpo no transexualismo Doris Rinaldi 1 Lacan, no Seminário sobre Joyce, assinala a estranheza que marca a relação do homem com o próprio corpo, relação essa que é da ordem do ter e não do

Leia mais

Referências bibliográficas

Referências bibliográficas Referências bibliográficas ABRAHAM, K. (1918) Contribution a la psychanalyse des névroses de guerre in Oeuvres Complètes II 1915/1925. Paris: Payot, 2000. ANZIEU, D. O Eu-pele. São Paulo: Casa do Psicólogo,

Leia mais

OS TRABALHOS ARTÍSTICOS NÃO SÃO PRODUTOS DO INCONSCIENTE 1

OS TRABALHOS ARTÍSTICOS NÃO SÃO PRODUTOS DO INCONSCIENTE 1 OS TRABALHOS ARTÍSTICOS NÃO SÃO PRODUTOS DO INCONSCIENTE 1 (Pontuações do livro de Collete Soler A Psicanálise na Civilização ) Sonia Coelho 2 Lendo essa afirmativa Os trabalhos artísticos não são produtos

Leia mais

AS DEPRESSÕES NA ATUALIDADE: UMA QUESTÃO CLÍNICA? OU DISCURSIVA?

AS DEPRESSÕES NA ATUALIDADE: UMA QUESTÃO CLÍNICA? OU DISCURSIVA? Anais do V Seminário dos Alunos dos Programas de Pós-Graduação do Instituto de Letras da UFF AS DEPRESSÕES NA ATUALIDADE: UMA QUESTÃO CLÍNICA? OU DISCURSIVA? Amanda Andrade Lima Mestrado/UFF Orientadora:

Leia mais

OS QUATRO DISCURSOS DE LACAN E O DISCURSO DA CIÊNCIA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS

OS QUATRO DISCURSOS DE LACAN E O DISCURSO DA CIÊNCIA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS OS QUATRO DISCURSOS DE LACAN E O DISCURSO DA CIÊNCIA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS Henrique Riedel Nunes Miguel Fernandes Vieira Filho Daniel Franco Abordaremos aqui algumas das diversas relações entre

Leia mais

O amor de transferência ou o que se pode escrever de uma análise

O amor de transferência ou o que se pode escrever de uma análise O amor de transferência ou o que se pode escrever de uma análise Palavras-chave: Amor de transferência; Escrita; Literatura; Relação Sexual. Márcia de Souza Mezêncio O amor é transferência " Amor será

Leia mais

Quando o inominável se manifesta no corpo: a psicossomática psicanalítica no contexto das relações objetais

Quando o inominável se manifesta no corpo: a psicossomática psicanalítica no contexto das relações objetais Apresentação em pôster Quando o inominável se manifesta no corpo: a psicossomática psicanalítica no contexto das relações objetais Bruno Quintino de Oliveira¹; Issa Damous²; 1.Discente-pesquisador do Deptº

Leia mais

Repetição, com Estilo 1.

Repetição, com Estilo 1. O artista é aquele que saiu da trincheira e não cedeu quanto à sua marca diferencial. (Jorge Forbes) Repetição, com Estilo 1. Repetição e o Artista Raymond Queneau, escritor francês, contemporâneo de Lacan,

Leia mais

A política do sintoma na clínica da saúde mental: aplicações para o semblante-analista Paula Borsoi

A política do sintoma na clínica da saúde mental: aplicações para o semblante-analista Paula Borsoi Opção Lacaniana online nova série Ano 2 Número 5 Julho 2011 ISSN 2177-2673 na clínica da saúde mental: aplicações para o semblante-analista Paula Borsoi 1. A política e a clínica A saúde mental é definida

Leia mais

A pulsão como faca ou instrumento epistemológico de desnaturalização do corpo

A pulsão como faca ou instrumento epistemológico de desnaturalização do corpo A pulsão como faca ou instrumento epistemológico de desnaturalização do corpo Autora: Thessa Guimarães, mestranda no departamento de Psicologia Clínica e Cultura Universidade de Brasília, membro-fundador

Leia mais

Desejo do analista e a intervenção analítica

Desejo do analista e a intervenção analítica Desejo do analista e a intervenção analítica A função do escrito não constitui então o catálogo, mas a via mesma da estrada de ferro. E o objeto (a), tal como o escrevo, ele é o trilho por onde chega ao

Leia mais

CEP CENTRO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

CEP CENTRO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS CEP CENTRO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS As pulsões e suas repetições. Luiz Augusto Mardegan Ciclo V - 4ª feira manhã São Paulo, maio de 2015. Neste trabalho do ciclo V apresentamos as análises de Freud sobre

Leia mais

Profa. Dra. Adriana Cristina Ferreira Caldana

Profa. Dra. Adriana Cristina Ferreira Caldana Profa. Dra. Adriana Cristina Ferreira Caldana PALAVRAS-CHAVE Análise da Psique Humana Sonhos Fantasias Esquecimento Interioridade A obra de Sigmund Freud (1856-1939): BASEADA EM: EXPERIÊNCIAS PESSOAIS

Leia mais

Os 100 anos de "Pulsões e seus destinos"

Os 100 anos de Pulsões e seus destinos Os 100 anos de "Pulsões e seus destinos" Temática A montagem da pulsão e o quadro do fantasma André Oliveira Costa Através de dois textos de Freud, Pulsão e destinos da pulsão (1915) e Uma criança é batida

Leia mais

52 TWEETS SOBRE A TRANSFERÊNCIA

52 TWEETS SOBRE A TRANSFERÊNCIA 52 TWEETS SOBRE A TRANSFERÊNCIA S. Freud, J. Lacan, J-A Miller e J. Forbes dialogando sobre a transferência no tweetdeck A arte de escutar equivale a arte do bem-dizer. A relação de um a outro que se instaura

Leia mais

IDEOLOGIA E DESEJO. Fernando HARTMANN Universidade Federal do Rio Grande do Sul

IDEOLOGIA E DESEJO. Fernando HARTMANN Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1 IDEOLOGIA E DESEJO Fernando HARTMANN Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ao relacionarmos duas ou mais teorias, visando criar uma terceira, devemos levar em conta a estrutura significante de modo

Leia mais

APRENDIZAGEM COMO EFEITO DO CORTE PELA PALAVRA. no que diz respeito ao trabalho de psicologia e orientação escolar quanto ao trabalho

APRENDIZAGEM COMO EFEITO DO CORTE PELA PALAVRA. no que diz respeito ao trabalho de psicologia e orientação escolar quanto ao trabalho APRENDIZAGEM COMO EFEITO DO CORTE PELA PALAVRA Lélis Terezinha Marino Nanette Zmeri Frej Maria de Fátima Vilar de Melo Reconhecer a possibilidade de atravessamento na escola, pela psicanálise, tanto no

Leia mais

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

NORMAS DE PUBLICAÇÃO NORMAS DE PUBLICAÇÃO Normas de Publicação As normas de publicação da Revista da ATO deverão estar de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), obedecendo à seguinte estrutura: Apresentação

Leia mais

Referências bibliográficas

Referências bibliográficas Referências bibliográficas BARTHES, R. (1980) A Câmera Clara. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1984. BARROS, R. R. (2004 a) O medo, o seu tempo e a sua política. In: A política do medo e o dizer

Leia mais

O Corpo Falante. Sobre o inconsciente no século XXI. Apresentação do tema e do cartaz por seu diretor. Marcus André Vieira

O Corpo Falante. Sobre o inconsciente no século XXI. Apresentação do tema e do cartaz por seu diretor. Marcus André Vieira O Corpo Falante Sobre o inconsciente no século XXI Apresentação do tema e do cartaz por seu diretor Marcus André Vieira Nosso corpo não para de nos dizer coisas. Para os médicos, seus sinais indicam o

Leia mais

silêncio e de ruído. Falar de música é então falar de prazer e falar de prazer depois de Freud é falar de pulsão. O que é a pulsão?

silêncio e de ruído. Falar de música é então falar de prazer e falar de prazer depois de Freud é falar de pulsão. O que é a pulsão? 130 8 Conclusão No doutor Fausto de Thomas Mann, o Diabo, esse que o autor chama de Outro, aparecendo ao compositor Adrian Leverkhun, lhe diz: a música é a mais cristã das artes, ainda que às avessas,

Leia mais

Medicina e psicanálise: elogio do mal-entendido 1

Medicina e psicanálise: elogio do mal-entendido 1 Opção Lacaniana online nova série Ano 5 Número 3 março 204 ISSN 277-2673 Medicina e psicanálise: elogio do malentendido François Ansermet Enquanto a psiquiatria tende a fechar suas portas à psicanálise,

Leia mais

A PULSÃO ESCÓPICA E A ÓPTICA DO PSIQUISMO Cintia Rita de Oliveira Magalhães e Maria Isabel de Andrade Fortes

A PULSÃO ESCÓPICA E A ÓPTICA DO PSIQUISMO Cintia Rita de Oliveira Magalhães e Maria Isabel de Andrade Fortes A PULSÃO ESCÓPICA E A ÓPTICA DO PSIQUISMO Cintia Rita de Oliveira Magalhães e Maria Isabel de Andrade Fortes O cotidiano das relações humanas demonstra-nos que é possível olhar sem ver e ouvir sem escutar.

Leia mais

A angústia e o analista

A angústia e o analista A angústia e o analista Clínica Psicanalítica A angústia e o analista Maria Pompéia Gomes Pires Resumo A autora refere-se à angústia enquanto afeto que se manifesta na fronteira entre o desejo e o gozo.

Leia mais