INVESTIGAÇÃO DAS DIFICULDADES RELACIONADAS À TERAPIA ANTICOAGULANTE ORAL: EM FOCO, OS USUÁRIOS DO MEDICAMENTO
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- Benedicta Câmara Aranha
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1 INVESTIGAÇÃO DAS DIFICULDADES RELACIONADAS À TERAPIA ANTICOAGULANTE ORAL: EM FOCO, OS USUÁRIOS DO MEDICAMENTO Daiane Morilha Rodrigues¹ Ariana Rodrigues da Silva Carvalho² Luana Luiza Einzweiler ³ INTRODUÇÃO Os anticoagulantes orais (ACO), também conhecidos como antagonistas da vitamina K, são drogas eficientes na profilaxia de eventos tromboembólicos indicados em condições, tais como fibrilação atrial, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, trombofilias, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva, próteses de valva cardíaca e outras situações especiais (LIMA et al., 2010; PARRONDO, 2003; PRINS et al., 2009). Dentre os mais comuns em uso clínico estão a varfarina sódica e a femprocumona, cujos nomes comerciais mais conhecidos são, respectivamente, Marevan e Marcoumar. A varfarina sódica tem sido o ACO mais utilizado no Brasil e mundo, sen 1 do preferida por suas propriedades farmacológicas, por apresentar início e duração de ações previsíveis e por sua excelente biodisponibilidade (BATLOUNI, 1999; LIMA et al., 2010). O tempo do uso do ACO pode variar quanto a sua duração, dependendo da indicação do medicamento. Tal terapia consiste na administração do medicamento por via oral, sendo que a sua dosagem é alterada de acordo com a avaliação médica e os resultados dos freqüentes exames de coagulação sanguínea, podendo ser influenciada por alguns fatores que modificam a sua sensibilidade, dentre elas, as variações na ingestão de alimentos contendo vitamina K, a dieta rica em gorduras, interações medicamentosas, consumo de álcool, alterações no estado clínico, como a presença de hepatite, doenças virais do trato respiratório e hipotireoidismo (SULLANO, 2001; PARRONDO, 2003; 1 Acadêmica do 4º ano do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, daianemorilha@hotmail.com ; Fone: ; Endereço: Rua Universitária nº 1036 Bairro Faculdade Cascavel CEP ² Enfermeira, Doutora em Enfermagem Fundamental pela EERP/USP, Professor Adjunto do Colegiado do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. ³ Acadêmica do 4º ano do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTEcolaboradora da pesquisa.
2 GRINBERG, 2003; DAVIS et al., 2005; PRINS et al. 2009), podendo ultrapassar sua ação terapêutica e aumentar as chances de ocorrência de eventos hemorrágicos ou tromboembólicos. A hemorragia é a principal complicação desta terapia e está intimamente relacionada à intensidade da coagulação (ANSELL, et al., 2008). Pode ocorrer em cerca de 7 a 10% dos indivíduos que estão anticoagulados por mais de quatro meses, podendo levar à morte em aproximadamente 1% deles (GRINBERG, 2003; PRINS et al. 2009). A segurança da terapia anticoagulante oral depende fundamentalmente do controle frequente e cuidadoso, pois dessa forma poderão ser evitadas as complicações trombóticas e hemorrágicas, permitindo que o sujeito se beneficie dessa importante modalidade de tratamento. Uma das maneiras para prevenir essas complicações é o monitoramento laboratorial frequente da anticoagulação oral (ANDRADE, 2006). Para a realização da monitoração da coagulação sanguínea são utilizados testes laboratoriais como o tempo de tromboplastina parcial (TTP), tempo de protrombina (TP) expresso pela Razão Normalizada Internacional (RNI) e, em alguns casos, o tempo de trombina (TT) ou o nível de fibrinogênio (FRANCO, 2001). O intervalo para realização do controle laboratorial dos níveis de anticoagulação sanguínea é variável, com um intervalo de três a quatro dias após o início da terapia até intervalos mais longos, como oito semanas (PARRONDO, 2003; GRINBERG, 2003). Vários estudos foram realizados com o intuito de determinar o nível adequado de anticoagulação oral para as diversas situações clínicas presentes e seus autores recomendaram a redução na intensidade da anticoagulação para maior segurança dos pacientes (HIRSH, 1992; ANSELL, 2008). Uma anticoagulação de moderada intensidade (RNI=2,0-3,0) é efetiva para maioria das indicações. Contudo, há recomendações específicas de dosagens dos ACO e valores do RNI para diferentes indicações quando associadas a outras patologias. Em sujeitos com prótese cardíaca mecânica exceto idosos o intervalo terapêutico é mais elevado (RNI=2,5-3,5). Frente ao exposto, muitas são as razões que firmam a importância de estudos envolvendo a anticoagulação oral, dentre elas, destacam a grande utilização da varfarina em todo mundo; os cuidados que os usuários e os profissionais cuidadores precisam ter para o
3 controle da anticoagulação; a complexidade farmacológica do medicamento, podendo destacar a variação individual do tempo entre a ingestão do fármaco e seu efeito máximo; a interação com outros medicamentos, necessitando, por assim dizer, de freqüentes ajustes da anticoagulação oral, quando interrompidos ou iniciados novos medicamentos (GAGE; FIHN; WHITE, 2000). Isto posto, o presente estudo foi realizado com o intuito de investigar sobre as dificuldades que os usuários de ACO frequentadores do Ambulatório de Anticoagulação Oral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) apresentam relacionadas a essa terapia, pretendendo-se responder as seguintes questões: 1. Qual o perfil dos usuários de anticoagulante oral (ACO) frequentadores do Ambulatório de Anticoagulação Oral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP)? 2. Quais as dificuldades relacionadas à terapia dos usuários de ACO do Ambulatório de Anticoagulação Oral do HUOP? 3. Os usuários de ACO do Ambulatório de Anticoagulação Oral do HUOP receberam orientações prévias sobre essa terapia em algum momento do tratamento (o que é o ACO; para que serve; interações alimentares e medicamentosas; riscos de sangramento e tromboembolismo)? OBJETIVOS Geral Investigar sobre as dificuldades que os usuários de anticoagulante oral apresentam relacionadas a essa terapia. Específicos 1. Conhecer o perfil dos usuários de ACO freqüentadores do ambulatório de anticoagulação oral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP);
4 2. Investigar sobre as orientações recebidas no que tange a terapia anticoagulante oral entre os freqüentadores do ambulatório de anticoagulação oral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). MÉTODO Trata-se de um estudo observacional de caráter exploratório, prospectivo e com abordagem transversal para investigação das dificuldades encontradas pelos indivíduos em uso de anticoagulação oral, relacionadas à terapia. O estudo foi realizado no município de Cascavel, região Oeste do estado do Paraná, envolvendo o serviço público do Ambulatório de Anticoagulação oral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná HUOP, que atende a população de Cascavel, PR e região. Foi desenvolvido no período entre julho de 2010 e fevereiro de 2011, sendo que, a coleta de dados realizou-se entre os meses de outubro a dezembro de Foram incluídos na amostra indivíduos freqüentadores do Ambulatório de Anticoagulação oral do HUOP em uso de ACO, independente do tempo de tratamento, durante o período estimado para a realização da coleta de dados. Os critérios de inclusão para o estudo foram indivíduos maiores de 18 anos, que se apresentassem orientados no tempo e no espaço, que concordassem formalmente em participar do estudo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, totalizando 27 indivíduos. O estudo em questão foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná em sua reunião realizada em 31 de maio de 2010, tendo sido aprovado sob o parecer nº 201/2010 ata 004/2010 CEP, processo 567/2010. A coleta de dados foi realizada nos dias de atendimento do Ambulatório de Anticoagulação Oral do HUOP, às quintas-feiras no período da manhã, entre os meses de outubro a dezembro de Na abordagem pessoal dos sujeitos, estes foram orientados quanto ao objetivo da entrevista, tempo médio de duração da coleta de dados e que ao final seriam oferecidas algumas orientações sobre o ACO e cuidados que esta terapia exige, ficando a critério do sujeito a decisão em participar ou não da pesquisa. Os dados foram coletados por meio de
5 entrevistas individuais realizadas pelas pesquisadoras em local privativo, excetuando-se algumas em que foram realizadas na presença dos acompanhantes do sujeito. Os dados foram inseridos em uma planilha do programa Microsoft Office Excel for Windows 2007, posteriormente transportados para o programa Statistical Package for the Social Sciencies (SPSS) versão 15.0, no qual foram processados e analisados. Foram realizadas análises descritivas de frequência simples para as variáveis categóricas (sexo, nível de instrução, estado civil, renda mensal, número de pessoas que mora com o indivíduo, profissão e religião) e de medidas de tendência central (mediana e média) e de variabilidade (desvio-padrão) para as variáveis contínuas (idade, RNI, tempo de terapia de ACO). RESULTADOS Participaram do estudo 27 indivíduos usuários de anticoagulantes orais (ACO), que freqüentavam o Ambulatório de Anticoagulação Oral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), no período de outubro a dezembro de Com relação às características sociodemográficas dos participantes, foi possível notar a presença de um número maior de homens (59,3%), com idade média de 51,5 anos variando de 24 a 73 anos, da raça branca (51,9%), casados ou em união consensual (55,6%), católicos (81,5%), com um nível de instrução médio de cinco anos, variando de zero (não freqüentou) a 12 anos de estudo, considerando os anos que o sujeito frequentou o ensino formal. A renda média dos sujeitos do estudo foi de R$ 1.145,00 reais (2,3 salários mínimos nacionais), variando de R$ 500,00 a R$ 5.000,00 (0,98 a 9,8 salários mínimos), com uma média de três pessoas habitando a mesma casa que o participante do estudo. Quanto aos recursos utilizados para o tratamento com o ACO, 81,5% disseram que utilizavam seus próprios recursos (recursos particulares). Com relação à ocupação dos indivíduos do estudo 16 (51,8%) não praticavam atividades remuneradas e 11 (40,7%) sujeitos exerciam atividades com remuneração. Quanto às características dos usuários de ACO, segundo os dados clínicos, a maioria estava em uso de varfarina sódica, mais especificamente Marevan (24; 88,9%), sendo que 8 (29,6%) deles tinham como indicação terapêutica para o uso do ACO a
6 presença de trombose venosa profunda, seguida de fibrilação atrial (7; 25,6%). Em relação ao histórico patológico, os sujeitos apresentaram de uma a quatro morbidades, com média de duas morbidades associadas, inclusive aquela que indicou o uso do ACO, sendo que a mais frequente continuou sendo a trombose venosa profunda (40,7%), seguida de hipertensão arterial sistêmica (33,3%) e valvopatias (22,2%). Outras morbidades também foram citadas (18,5%), podendo ressaltar: a hipertensão pulmonar e acidente vascular cerebral. O número de coletas da RNI nos últimos três meses foi em média de cinco coletas e variou de zero a 10 coletas. Já o valor médio da RNI mais recente foi de 2,1, variando de 1,0 a 3,7. Quando questionados sobre a dose de ACO utilizada semanalmente, houve uma variação de 6,8 mg a 52,5 mg, com uma média de 30 mg por semana. Quanto ao número de medicamentos em uso além do ACO, foi verificado que os participantes do estudo utilizavam, em média, 3,8 medicamentos, variando de zero (nenhum medicamento, além do ACO) a dez, sendo os mais freqüentemente citados, os inibidores da enzima conversora de angiotensina (44,4%), os diuréticos (44,4%), seguidos dos betabloqueadores (37,0%). Ainda com relação aos medicamentos utilizados pelos indivíduos, questionados sobre o uso de medicamentos sem prescrição médica, grande parte (21; 77,8%) apontou que apenas utilizavam medicamentos quando indicado pelo médico. Sobre as informações recebidas logo que o sujeito iniciou o tratamento com ACO, 26 (96,3%) relataram que receberam informações sobre a importância de tomar o ACO. Também foram frequentes as informações quanto à possibilidade de sangramentos (20; 74,1%), interações alimentares (19; 70,4%) e interações medicamentosas (19; 70,4%) (Tabela 1). A presença de complicações foi verificada em 12 (44,4%) participantes, sendo que 9 (33,3%) sofreram eventos hemorrágicos e 3 (11,1%) deles sofreram complicações trombóticas. Dentre esses 12 sujeitos, 4 (14,8%) necessitaram de internação para tratamento da complicação, sendo que 3 internações foram decorrentes de complicação hemorrágica e apenas uma decorrente de complicação trombótica. Questionados se interromperam alguma vez o tratamento com ACO, 22 (81,5%) deles, disseram nunca ter interrompido o uso de
7 ACO, nos demais casos (5, 18,5) as interrupções se deram por conta de complicações (2; 7,4%), necessidade de procedimentos invasivos (2; 7,4%), ou por suspensão do medicamento sob orientação médica (1; 3,7%). Dentre os cinco casos de interrupção, todos (100%) foram com prescrição médica. Tabela 1 Análise descritiva dos dados dos 27 sujeitos do estudo referentes às informações sobre o anticoagulante oral e da terapia com ACO. Cascavel, 2010 Variáveis n(%) Informações sobre ACO Necessidade de uso do ACO 26 (96,3) Sangramento ACO 20 (74,1) Interação alimentar 19 (70,4) Interação medicamentosa 19 (70,4) Tromboembolismo/Coágulo 12 (44,4) Outras informações 3 (11,1) Complicações (sim) 12 (44,4) Tipo de complicação Hemorrágica 9 (33,3) Trombótica 3 (11,1) Internação por complicação (Sim) 4 (14,8) Interrupção do ACO (sim) 5 (18,5) Motivo da interrupção Necessidade de procedimentos invasivos 2 (7,4) Presença de complicações 2 (7,4) Suspensão da medicação 1 (3,7) Interrupção do ACO com orientação médica (sim) 5 (18,5) A terapêutica com ACO pode desencadear algumas alterações no estilo de vida do indivíduo, nesse sentido 20 (74,1%) mencionaram ter havido algum tipo de mudança na sua vida após o início da terapia com ACO, sendo que obteve maior destaque a mudança relacionada à alteração física (9; 33,3%) (Tabela 2). Quanto ao sentimento de medo relacionado à terapia com ACO, sete sujeitos (25,9%) relataram possuir tal sentimento relacionado aos riscos de complicações (2; 7,4),
8 risco de gravidez (2; 7,4), dentre outros (3; 11,1), como preocupação com os ciclos menstruais e serviços diários que exigem algum esforço (Tabela 2). Tabela 2 Análise descritiva das mudanças e sentimentos referentes à terapia de anticoagulante oral presentes na vida dos 27 participantes do estudo. Cascavel, 2010 Variáveis n(%) Mudança na vida após ACO (Sim) Tipo de mudança após ACO Nenhuma mudança Relacionada à alteração física Relacionada à alteração emocional Outras Relacionada ao tratamento Restrição alimentar após o ACO (Sim) Restrição de atividades após o ACO (Sim) Sentimento de medo após iniciar ACO (Sim) Tipo de medo após iniciar ACO Nenhum medo Relacionado ao risco de complicações Outros Relacionado ao risco de gravidez Incômodo com as coletas de sangue freqüentes (Sim) Motivo do incômodo das coletas de sangue Nenhum incômodo Relacionado ao controle do RNI Outros Incômodo após iniciar ACO Nenhum incômodo Relacionado ao tratamento Relacionado às alterações físicas Outros 21 (77,7) 6 (22,2) 9 (33,3) 5 (18,5) 4 (14,8) 3 (11,1) 6 (22,2) 12 (44,4) 7 (25,9) 20 (74,1) 2 (7,4) 3 (11,1) 2 (7,4) 8 (29,6) 19 (70,4) 1 (3,7) 7 (25,9) 15 (55,6) 8 (29,6) 2 (7,4) 2 (7,4) Durante toda terapia com ACO faz-se necessário fazer um controle rigoroso da coagulação sanguínea, para que se façam as adequações às doses, evitando possíveis complicações. Assim, as coletas frequentes de sangue podem gerar algum tipo desconforto
9 aos seus usuários. Entretanto, apenas 8 (29,6%) sujeitos mencionaram sentir-se incomodados com as coletas sanguíneas. Nesse caso, 7 (25,9%) citaram outros incômodos, devido ao tempo gasto para locomoção,coleta e resultado da RNI e um (3,7%) indivíduo sentia-se incomodado com o controle da RNI. Dentre os participantes, 15 (55,6%) deles referiram não ter nenhum incômodo após o início do tratamento com ACO, todavia, 8 (29,6%) sujeitos relataram sentirem-se incomodados com o próprio tratamento, referindo incômodos com a locomoção e controle da coagulação sanguínea, 2 (7,4%) sentiram-se incomodados com alterações físicas, dentre elas, mudanças na habilidade física, muitas vezes relacionada ao cansaço quando precisavam realizar algum esforço físico, além de outros 2 (7,4) indivíduos que mencionaram a ocorrência de outras mudanças como: alteração na alimentação e mudanças relacionadas a uma melhora no estado de saúde. DISCUSSÃO A intenção desse estudo foi investigar as dificuldades relacionadas à terapia anticoagulante oral (ACO), com enfoque nos usuários do medicamento, visto que essa terapia possui uma complexidade que pode interferir na aceitação e no seguimento dos indivíduos em uso do medicamento e, consequentemente, no sucesso do tratamento. Com embasamento na caracterização sociodemográfica foi possível conhecer um pouco mais sobre os frequentadores do Ambulatório de Anticoagulação Oral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. Em relação ao sexo, quando comparamos nosso resultado com os da literatura, notamos que não havia discrepância, pois a maior parte dos estudos abordava predominantemente, participantes do sexo masculino (LANCASTER et al., 1991; LOURENÇO et al., 1997; CABRAL et al., 2004). Outro estudo apresentou resultado diferente do nosso, com maior porcentagem de mulheres (CORBI, 2009). O grupo foi composto por adultos com idade média de 51,5 anos, variando de 24 a 73 anos, isso pode explicar o fato de que 55,6% dos indivíduos sejam casados e 22,2 são viúvos, pois se tem um grupo mais adulto do que jovem. O nível médio de instrução dos participantes foi de cinco anos, variando de zero a 12 anos de estudo, com mediana de 4 anos de estudo formal. Já em relação à renda obteve-
10 se uma média de 2,3 salários. Com relação ao suporte financeiro para aquisição do medicamento a maioria (81,5%) utiliza os próprios recursos para adquirir o fármaco, apesar de que um número relevante de participantes enquadra-se em atividades sem remuneração (51,8%), provavelmente por ser uma parte do grupo que está acima de 60 anos recebendo benefícios previdenciários. No presente estudo constatou-se que a varfarina sódica foi o anticoagulante mais prescrito (88,9%), o que corrobora com achados de outros autores (CORBI, 2009; PELEGRINO, 2009). Várias são as indicações terapêuticas para o uso do ACO, sendo que neste estudo houve prevalência de indicação pela presença de trombose venosa profunda (29,6%), seguida de fibrilação atrial (25,9%). Outros estudos mostraram dados distintos a esse, com maior número de sujeitos utilizando o ACO em decorrência da presença de prótese valvar cardíaca (HENN, 2008; CORBI, 2009), de fibrilação atrial (ESMÉRIO, 2009), de infarto agudo do miocárdio (SAMSA, et al., 2002) e de insuficiência cardíaca (SAWICKI, 1999). Quanto à presença de comorbidades associadas ao uso de ACO, obteve-se que as mais prevalentes foram: trombose venosa profunda, hipertensão arterial sistêmica e valvopatias. Essas condições também foram as mais prevalentes entre sujeitos de outro estudo (LOURENÇO et al., 1997), enquanto a diabetes mellitus foi a mais encontrada por Voller et al. (2004). Entre os participantes do estudo, o valor médio da última RNI foi de 2,1, variando de 1,0 a 3,7, podendo considerar uma média adequada quando comparada com os valores preconizados e discutidos por Ansell et al. (2008), indicando que, de maneira geral, uma anticoagulação de moderada intensidade (RNI=2,0-3,0) é efetiva na maioria das indicações. É interessante apontar também que os dados indicaram valores de RNI muito baixos (1,0), o que traz preocupação quanto às possíveis complicações que podem demandar disso. Corroborando com isso, alguns autores discutem que definir o intervalo alvo da RNI seja importante, é comum encontrar indivíduos com RNI abaixo da faixa terapêutica (ANSELL et al., 2008; GUYATT, 2008; GRINBERG, 2003). Prins et al. (2009) observaram estudos publicados nos últimos anos, tais como os de Samsa et al. (2002) e Waterman et al. (2004), em que a maioria dos indivíduos com indicação para uso de ACO não receberam o
11 tratamento de forma ideal, ou até mesmo, receberam doses menos efetivas ou com nenhum efeito terapêutico como um todo. Foi questionado aos participantes se eles haviam recebido alguma informação dos médicos que lhes prescreveram o medicamento, indicando que 96,3% citaram que receberam orientações quanto à necessidade do uso do medicamento, 74,1% sobre a possibilidade de sangramento, 70,4% sobre interações alimentares e 70,4% sobre interações medicamentosas. O destaque para essas respostas pode ser devido ao fato de que a base para o início do tratamento seria ser o esclarecimento da dúvida do sujeito sobre o motivo do uso do medicamento e o risco de sangramento por ser uma complicação muito temida entre os usuários, entretanto, menos da metade da amostra (44,4%) recebeu informações sobre formação de trombo/coágulo, sendo uma complicação tão perigosa quanto o risco de hemorragia. Frente a tantos desafios que a terapia anticoagulante oral impõe, além de complicações hemorrágicas e tromboembólicas, tal terapêutica pode desencadear mudanças no estilo de vida dos seus usuários. O presente estudo indicou que a maioria dos indivíduos (74,1%) em uso de ACO afirmou que houve algum tipo de mudança no seu cotidiano, após o início da terapia, enfatizando as alterações físicas (33,3%), as restrições de atividades da vida diária (44,4%), as restrições alimentares (22,2%), o sentimento de medo (principalmente a preocupação com os ciclos menstruais e serviços diários que exigem algum esforço) e os incômodos relativos à própria terapêutica anticoagulante (29,6%). Esse resultado foi semelhante à de outro estudo (ESMÉRIO et al., 2009). Em estudo realizado com usuários de ACO em um hospital público de São Paulo foi possível identificar que existem dificuldades por parte dos usuários em assimilar explicações, entender que há necessidade de mudança de hábitos alimentares, que há ausência de sintomas específicos de coagulação e que falta entendimento referente à terapêutica. Esses fatores levaram os indivíduos a terem seus tratamentos prejudicados permanecendo com RNI fora da faixa terapêutica. Assim, corroborando com tal estudo, as mudanças e os incômodos que ocorrem no decorrer e/ou após o tratamento podem dificultar no seguimento ideal da terapia, apontando para chances maiores dos sujeitos apresentarem valores da coagulação sanguínea fora da faixa terapêutica, sendo um risco potencial para
12 complicações. Deste modo, evidencia-se a necessidade de um acompanhamento sistemático dos usuários de ACO por meio de medidas educacionais realizadas por profissionais de saúde capacitados, na tentativa de proporcionar uma manutenção desejável dos níveis de coagulação (AYOUB; CAMPANILI, 2008; HENN, et al., 2008). CONCLUSÕES Segundo os objetivos propostos e os resultados obtidos no presente estudo envolvendo 27 indivíduos em uso de anticoagulante oral pode-se concluir que: maioria dos participantes foi do sexo masculino, com idade média de 51,5 anos, aposentados, com 1º grau incompleto, renda familiar média de R$1.145,00, morando, em média, com três pessoas e utilizando recursos particulares para o tratamento com ACO; a maioria faz uso de varfarina sódica devido à presença de trombose venosa profunda (29,6%) e fibrilação atrial (25,9%); a dose média semanal de ACO foi de 30 mg; os valores médios da RNI foi de 2,1; 33,3% apresentaram complicações do tipo hemorrágicas; maior número de participantes referiram não sentir-se incomodados após o início com o ACO, sendo que 74,1% dos sujeitos referiram mudança na vida após o início do tratamento, com destaque para: alteração física (33,3%), restrição de atividades (44,4%), restrição alimentar (22,2%) após o início da terapêutica; a maior parte referiu não possuir nenhum tipo de medo por estar em uso de ACO (74,1%) e não se sentiram incomodados com as coletas sanguíneas frequentes (70,4%); as dificuldades encontradas estiveram relacionadas ao medo de complicações (7,4%), ao risco de gravidez (7,4%), de realizar algum esforço físico (3,7%), ao controle da RNI (3,7%), ao tempo gasto para locomoção até o local de coleta e resultado da RNI (25,9%), as mudanças na dieta e nas atividades diárias (22,2% ; 44,4%); os usuários, em sua maioria (96,3%), receberam informações sobre a necessidade do uso do medicamento, seguido de informações sobre hemorragias (74,1%), interações alimentares (70,4%), interações medicamentosas (70,4%) e risco de tromboembolismo (44,4%). Avaliar as dificuldades relativas ao tratamento com o anticoagulante oral nos permite planejar uma assistência adequada ao usuário do medicamento, assim como conhecer as características do público que é usuário do ACO, através de avaliações que os indivíduos apresentam sobre essa terapia.
13 Algumas limitações do estudo estão relacionadas ao número da amostra, ao período de avaliação, outra limitação seria a baixa escolaridade dos participantes, que possivelmente pode prejudicar o seguimento da terapia e ter influenciado na compreensão dos indivíduos a responderem os instrumentos utilizados, entretanto, almeja-se continuar investigando os pontos que ficaram deficientes na realização do estudo para uma maior discussão sobre o assunto. Sugere-se a continuidade do estudo para que se possa investigar com maior pertinência como essas variáveis se apresentam, podendo assim traçar estratégias que facilite para um melhor resultado na terapêutica. REFERÊNCIAS ANDRADE, S.C.B.J. Influência dos fatores alimentares na hemostasia de pacientes sob terapia anticoagulante oral. Dissertação de mestrado Uberaba, (MG): Universidade Federal do Triângulo Mineiro UFTM, ANSELL, J. et al. Pharmacology and management of the vitamin k antagonists. American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). CHEST, v. 1, p , Supplement. AYOUB, A.C.; CAMPANILI, T.C.G.F. Warfarina: fatores que influenciam no índice de normatização internacional. Rev. Eletrônica de Enfermagem, v.10, n.4, BATLOUNI, M. Anticoagulantes Orais. In:Btlouni m, Ramires JAF. Farmacologia e Terapêutica cardiovascular. São Paulo (SP): Atheneu, p CABRAL, N.L. et al. Fibrilação atrial crônica, AVC e anticoagulação: Sub-uso de warfarina? Arquivos de Neuropsiquiatria, v.62, n.4, p , CORBI, I.S.A. Associação entre qualidade de vida relacionada à saúde, atitudes frente ao uso de anticoagulação oral e variáveis sociodemográficas e clínicas. [dissertação de mestrado], Ribeirão Preto, (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, p. DAVIS, N.J. et al. Impact of adherence, knowledge, and quality of life on anticoagulation control. The Annals of Pharmacotherapy, v. 39, p , ESMÉRIO, F.G. et al. Uso crônico de anticoagulante oral: Implicações para o controle de níveis adequados. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.93, n.5, p , 2009.
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